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BRS Rúbia e BRS Catarina: novas variedades de mandioquinha-salsa ampliam as opções de cultivo da hortaliça nos estados de MG, ES, DF e GO
Dependendo da região, ela é chamada de mandioquinha-salsa, mandioquinha, batata-baroa, batata-salsa, batata-fiúza, cenoura-amarela, batata-aipo, entre outros nomes menos conhecidos. Mas seja qual for a denominação, trata-se de uma hortaliça bastante apreciada no Brasil, notadamente pelas suas qualidades culinárias e nutricionais. É um alimento essencialmente energético, com altos teores de carboidratos de fácil digestão, sendo fonte de vitaminas e minerais. Dentre as vitaminas, ressaltam-se as do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina e piridoxina) e a provitamina A, e com relação aos minerais, destaque para a presença de cálcio, magnésio, fósforo e ferro.
A produção encontra-se abaixo da demanda, fato atribuído à existência de algumas condicionantes para o seu cultivo, sendo a mais importante a exigência em clima ameno o ano inteiro. Assim, o cultivo é recomendado em regiões com altitude superior a 1.000 metros. Oferecer alternativas de novas cultivares e, dessa forma, favorecer o aumento da produtividade, tem sido o ponto central dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa Hortaliças com a mandioquinha-salsa.
O programa de melhoramento que vem sendo conduzido na Unidade desde 1985 resultou no lançamento, em 1998, da variedade Amarela de Senador Amaral. Em um trabalho coordenado à época pelo pesquisador Fausto dos Santos, a cultivar foi desenvolvida por meio da seleção de clones originários de sementes botânicas do material tradicionalmente cultivado (Amarela de Carandaí ou Amarela Comum), coletadas no município de Senador Amaral, sul de Minas Gerais, junto a produtores locais. Por sua alta produtividade (superior a 25 toneladas por hectare), qualidade e uniformidade de raízes e precocidade (7-8 meses contra 10-12 meses da Amarela Comum) tem sido, desde o seu lançamento, a mais plantada no País.
A boa notícia é que os produtores vão poder contar em breve com duas novas alternativas, cujo desempenho permite antever o fortalecimento e uma possível ampliação das áreas hoje cultivadas. As variedades de mandioquinha-salsa BRS Rúbia 41 e BRS Catarina 64 (ou como os agricultores vêm dizendo, simplesmente Rúbia e Catarina) receberam sinal verde durante a avaliação participativa no sul de Minas Gerais, durante os dias de campo realizados em março último nos municípios de Caldas e Munhoz. Para o pesquisador Nuno Madeira, que coordena o Programa de Melhoramento de Mandioquinha-Salsa na Embrapa Hortaliças desde 2002, a pesquisa visando novas variedades tem a ver com a necessidade de a cadeia produtiva da hortaliça contar com mais opções.
"Hoje, 95% dos cultivos são da variedade Amarela de Senador Amaral, o que pode acarretar certa fragilidade no abastecimento do mercado, em caso de surtos de insetos-pragas, doenças, nematoides ou da ocorrência de intenso calor ou frio, com geadas sucessivas, como ocorreu em 2013, no Paraná", observa o pesquisador. Segundo ele, a maior vantagem das novas cultivares refere-se aos níveis de produção, 60 a 80% maiores que a variedade Amarela de Senador Amaral: "Onde o produtor colhia 100 caixas, passa a colher com as novas variedades até 180 caixas e esse aumento pode tornar o preço final mais acessível, pois reduz os custos de produção".
Características
Alguns atribuem à Amarela de Senador Amaral a origem das cultivares BRS Rúbia 41 e BRS Catarina 64. No entanto, elas são resultado de policruzamentos entre 10 variedades, dentre elas a Amarela de Senador Amaral, cujas sementes foram coletadas em Santa Catarina e em Brasília. "Os testes realizados mostraram, curiosamente, uma adaptabilidade maior das duas variedades na região do Distrito Federal e bem melhor nos experimentos conduzidos em Minas Gerais." Elas fazem parte de uma coleção com 60 novos clones, dentre os quais quatro se mostraram bastante promissores. "Apresentamos dois resultados – BRS Rúbia 41 e BRS Catarina 64 – e temos perspectivas de lançar mais dois, dentro de um prazo de cinco anos, mais ou menos", prevê Madeira.
Com mais dois materiais disponíveis, e a perspectiva de outras duas variedades em médio prazo, aumentam as opções para o produtor e a disponibilidade para o consumidor. Nesse cenário promissor, o pesquisador chama a atenção para as condições necessárias para o cultivo da mandioquinha-salsa, "seja qual for a variedade". Segundo Madeira, "pelas suas características, tendo por origem a Cordilheira dos Andes, do Peru a Colômbia, entre 1500 a 2500 metros de altitude, a mandioquinha-salsa não produzirá satisfatoriamente em regiões de clima quente como, por exemplo, no Vale do São Francisco ou no Oeste Paulista". Ele lembra ainda que a tendência é de restrição em áreas onde antes era comum seu plantio, por conta do aquecimento global, resultado das mudanças climáticas, e cita como exemplo o Distrito Federal onde seu cultivo é cada vez mais complicado e onde já se recomenda como ideal pelo menos 1200 metros de altitude.
Por esse motivo, as cultivares são recomendadas para plantio em Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal e Goiás, "sempre acima de 1000 metros de altitude". "No Distrito Federal, a BRS Rúbia 41 e a BRS Catarina 64 têm mostrado um melhor desempenho que a Amarela de Senador Amaral, que já era mais produtiva que a Amarela Comum, e só produzia em região muito fria".
Os problemas climáticos ocorridos no Sul do Brasil foram apontados como causas do insucesso, à época dos testes, iniciados em 2011, do plantio das variedades no Paraná. Madeira lembra que, em 2011, foram muitas e intensas geadas, com temperaturas de até -8,5ºC, e em 2013 ocorreu neve e fortes geadas na região, o que acabou prejudicando a avaliação. "Elas estavam indo bem, mas essas condições climáticas interferiram muito".
Propagação
Falar em sementes em se tratando de mandioquinha-salsa, que tem propagação vegetativa, isto é, sem o uso de sementes verdadeiras ou sementes botânicas, pode suscitar certa estranheza. O pesquisador explica que, normalmente, das plantas de mandioquinha-salsa nascem cormos (também chamados filhotes, dedos, propágulos ou rebentos) na coroa, ou seja, na parte aérea da planta. Quando submetidos a estresse hídrico, esses propágulos podem emitir hastes florais e, na sequência, frutos (do tipo diaquênio), cada um com duas sementes. A partir da propagação dessas sementes regeneram-se novas plantas, buscando-se selecionar aquelas com boas características produtivas. Selecionadas essas novas plantas, elas são multiplicadas pelo método convencional de propagação vegetativa e avaliadas em condições de campo, chegando-se após cerca de cinco anos, enfim, ao desenvolvimento de novas variedades.
A disponibilização dessas novas variedades será feita por meio de um edital lançado nos meses de abril e maio últimos pela Embrapa Produtos e Mercado. Às empresas que se adequaram às normas previstas na licitação será repassado entre setembro e outubro um lote de sementes básicas. "Nesses meses, essas empresas deverão proceder à multiplicação das sementes para serem comercializadas, já que o próximo plantio compreende o período de março a junho de 2016".
Aos produtores que querem multiplicar a sua própria semente para plantio da hortaliça em sua propriedade, o pesquisador informa não haver qualquer problema, pois as novas variedades foram somente registradas e não protegidas.
Custo x benefício
O cultivo da mandioquinha-salsa constitui-se em uma boa alternativa para pequenos e médios produtores, especialmente dentro do conceito de agricultura familiar, em razão da considerável demanda por mão de obra, notadamente nas fases de plantio e colheita.
De acordo com o pesquisador, é interessante ressaltar, também, a possibilidade de adequação da hortaliça ao cultivo agroecológico, levando-se em conta a sua rusticidade, o que vai atender à crescente demanda por produtos ecologicamente racionais, com qualidade superior em termos de segurança alimentar, pela ausência de resíduos de agrotóxicos.
Anelise Macedo (MTB 2749/DF)
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