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09/08/22 |   Produção vegetal  Segurança alimentar, nutrição e saúde  Manejo Integrado de Pragas

Plantas de cobertura são hospedeiras do fungo causador da fusariose da bananeira

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Foto: Léa Cunha

Léa Cunha - A pesquisa pode contribuir para otimizar as estratégias de manejo de bananais afetados pela fusariose, além de ajudar a conter a disseminação do patógeno nas plantações

A pesquisa pode contribuir para otimizar as estratégias de manejo de bananais afetados pela fusariose, além de ajudar a conter a disseminação do patógeno nas plantações

  • Estudo em São Paulo detectou que plantas de cobertura são potenciais hospedeiras do fungo causador da fusariose da bananeira.
  • Popularmente conhecida como mal-do-Panamá, é a pior doença da bananeira no mundo, capaz de causar perdas de até 100% nos bananais.
  • Nas últimas décadas, tem sido chamada de “pandemia da banana”, pois a raça 4 tropical, que ainda não ocorre no Brasil, já atinge mais de 20 países.
  • A descoberta abre um novo precedente para o manejo das plantas no campo de forma a conter a disseminação do patógeno.
  • O manejo atual não considera hospedeiros alternativos, como as plantas de cobertura.
  • A banana é cultivada em todos os estados brasileiros, mas as doenças são um fator limitante ao crescimento da atividade no País.

 

Pesquisa desenvolvida na região do Vale do Ribeira, SP, identificou três espécies de plantas de cobertura que atuam como potenciais hospedeiras do fungo Fusarium oxysporum f. sp. Cubense (Foc), causador da fusariose da bananeira, também conhecida como mal-do-Panamá, doença mais destrutiva dessa cultura no mundo. Das seis espécies avaliadas, crotalária, nabo forrageiro e feijão de porco foram apontadas como potenciais hospedeiras do patógeno. A descoberta pode contribuir para otimizar as estratégias de manejo de bananais afetados pela fusariose, além de ajudar a conter a disseminação do patógeno nas plantações. 

O estudo faz parte de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), realizado por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP), Embrapa Agricultura Digital (SP), Instituto Agronômico (IAC), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) do Vale do Ribeira, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral  (Cati), Alliance of Bioversity International e o International Center for Tropical Agriculture (Ciat), e foi tema da dissertação de mestrado de Maria Laura Nascimento, defendida na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e desenvolvida nos laboratórios e áreas experimentais da Embrapa Meio Ambiente.

Os resultados trazem uma nova vertente científica para controlar o avanço da doença. “O manejo atual não considera a existência de hospedeiros alternativos. É mais direcionado para a própria cultura e o solo, ou a área em si, como a destruição de plantas doentes, desinfestação de ferramentas, controle do tráfego de máquinas, pessoas e animais na área, e manejo do solo”, explica Nascimento.

A utilização de plantas de cobertura é uma prática comum no controle de ervas daninhas, pragas e doenças. As espécies que atuam como hospedeiras, ao serem infectadas pelo Foc, podem servir como fonte de crescimento do fungo e favorecer a ocorrência da doença no campo.

No estudo, colônias de Fusarium foram isoladas em raízes e parte aérea de ervas daninhas, coletadas próximas a bananeiras afetadas pela fusariose, para verificar o potencial delas como hospedeiras alternativas. Hoje, pouco se sabe sobre a atuação dessas plantas como uma possível fonte de dispersão e persistência da doença no campo.

A pesquisa aponta que a escolha adequada de plantas de cobertura em áreas infestadas é relevante e deve levar em consideração a sua capacidade como hospedeiras de Foc, de forma a não contribuir para o aumento de estruturas reprodutivas desse fungo no campo.

O trabalho avaliou também o potencial da broca-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), como vetor da doença. Ao analisar a dinâmica da interação entre a broca-da-bananeira e o fungo causador da fusariose em casa-de-vegetação, foi observada maior intensidade da doença em plantas infestadas com o fungo e com a presença dos insetos. Foi possível também isolar colônias do fungo associadas ao exoesqueleto de insetos adultos coletados em bananais.

Entretanto, ao testar a patogenicidade para a bananeira, nenhum dos isolados reproduziu sintomas característicos da doença nas plantas. “Os resultados avançam no entendimento da interação entre o fungo e o inseto e reforçam a necessidade do manejo da broca-da-bananeira no campo”, destaca Jeanne Prado, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.

 

Espécies vegetais avaliadas

De acordo com Nascimento, as principais espécies de plantas coletadas na região foram a braquiária, capim-amargoso, grama seda, guanxuma, maria pretinha, serralha, trapoeraba e trevo.

Ela explica que foram realizados dois estudos para verificar possíveis hospedeiros alternativos, um com plantas daninhas e outro com coberturas vegetais. Para plantas daninhas, o isolamento foi feito a partir de material coletado em campo em áreas adjacentes a bananeiras infectadas com fusariose. “Como estavam próximas e o fungo se encontra disperso no solo, caso fossem hospedeiras, haveria a possibilidade de também terem sido colonizadas por Foc”, constata.

Nascimento explica que para as plantas de cobertura, a metodologia adotada foi diferente. Ao invés de coletar plantas naturalmente infectadas, as sementes foram plantadas em solo artificialmente infestado em ambiente controlado. Cerca de 80 dias depois, fragmentos de raízes e parte aérea de cada planta foram analisados a fim de verificar se haviam sido colonizadas ou não pelo fungo.

"Das seis espécies avaliadas, foi possível isolar pelo menos uma colônia do fungo em cada uma das espécies de Crotalaria ochroleuca, nabo forrageiro, feijão de porco e Crotalaria spectabilis. Já a aveia preta e o milheto não mostraram potencial como hospedeiras alternativas”, acrescenta.

O pesquisador da Alliance of Bioversity International and the International Center for Tropical Agriculture (Ciat) Miguel Dita explica que a habilidade do Foc para sobreviver no interior de outras espécies de plantas sem causar a doença já foi constatada, mas é preciso colocar essas informações no contexto do manejo em campo, como, por exemplo, no uso de plantas de cobertura. O pesquisador ressalta que essas pesquisas são importantes porque, além de ajudarem no manejo da fusariose da bananeira, que já ocorre no País, preparam o Brasil para a eventual chegada da raça 4 tropical, uma variante do fungo ainda mais destrutiva, que ainda não ocorre no território nacional. 

 

Banana e a sua importância para a segurança alimentar

A banana é uma das frutas mais produzidas e consumidas no mundo, com grande relevância social e econômica. Trata-se de um alimento básico e importante para a segurança alimentar. Em 2019, a produção mundial de bananas atingiu cerca de 115 milhões de toneladas.

No Brasil, é a fruta mais consumida. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017/2018, o brasileiro consome em média 25 quilos de banana per capita/ano.

No que se refere à produção, o País possui características climáticas favoráveis para o cultivo da banana, fazendo com que seja produzida em todos os estados durante o ano todo. Segundo a estimativa do IBGE, a produção nacional em 2021 foi de 7 milhões de toneladas em uma área de 465,9 mil hectares. O Brasil é o quarto maior produtor de banana do mundo, atrás apenas da Índia, China e Indonésia.

Mas, apesar de extremamente atrativa, pois permite um retorno rápido do capital e fluxo contínuo de produção, a bananicultura enfrenta fortes limitações devido à ocorrência de doenças, entre as quais se destaca a fusariose, com perdas que podem alcançar 100%.

 

Foto: Léa Cunha

 

Fusariose: a “pandemia da banana”

A fusariose da Bananeira ou mal-do-Panamá, causada pelo fungo de solo Fusarium oxysporum f. sp. cubense (Foc), é a doença mais destrutiva da bananeira. A raça-1 de Foc foi responsável pela epidemia que causou grande impacto à indústria bananeira de exportação das Américas na metade do século passado. A doença foi constatada no Brasil, em 1930, no município de Piracicaba, estado de São Paulo, onde destruiu cerca de um milhão de pés de banana em cerca de quatro anos. 

O patógeno está disseminado em todas as regiões do Brasil e, desde que o fungo entrou no país, a banana Maçã, altamente susceptível, tem sido substituída pelas variedades resistentes do subgrupo Cavendish. A raça 4 tropical desse patógeno ainda não existe no Brasil, mas já foi constatada a vulnerabilidade das principais variedades presentes no País, a Prata, a Maçã e a Nanica.

 Os sintomas típicos da doença são: amarelecimento, murcha, rachadura do feixe de bainhas e quebra do pecíolo. As folhas mais velhas apresentam amarelecimento, que, posteriormente, também é observado nas folhas jovens. Esse sintoma inicia-se pelos bordos do limbo foliar, que vai evoluindo até atingir a nervura principal. 

Além do amarelecimento, ocorre também a murcha, levando à quebra do pecíolo junto ao pseudocaule, atribuindo à planta a aparência de guarda-chuva fechado. Internamente ao pseudocaule ou rizoma nota-se a existência de pontuações pardo-avermelhadas e mais externamente ao pseudocaule verifica-se a descoloração vascular, apresentando o centro claro. (fonte: Manual de Fitopatologia, volume 2, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Esalq/USP)

Na última década, a epidemia da raça 4 tropical se acelerou repentinamente, espalhando-se da Ásia para Austrália, Oriente Médio, África e, mais recentemente, América Latina, de onde procedem a maioria das bananas enviadas para supermercados no Hemisfério Norte.

Atualmente, a raça 4 tropical está presente em mais de 20 países, provocando temores de uma "pandemia da banana" e uma escassez da fruta mais consumida do mundo. (fonte: BBC News Brasil).

 

Foto: Maria Laura Urbano

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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Tradução em inglês: Alessandra Marin, supervisionada por Mariana Medeiros (13044/DF)
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