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04/10/21 |   Produção vegetal

Hortas orgânicas democratizam acesso e servem estudantes no Estado de SP

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Ações que democratizam o acesso a alimentos orgânicos no Estado de São Paulo estão em pleno desenvolvimento por iniciativas públicas e privadas. Um exemplo são hortas escolares de Jundiaí, que servem alunos de 70% da rede municipal e estadual do ensino fundamental da cidade.

Projetos como esses permitem que parte da população tenha acesso a produtos diferenciados, o que tem sido estimulado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio de ações de fomento à produção e ao consumo de alimentos orgânicos. Depois de lançar, em todo o Brasil, a 17ª Campanha Anual de Promoção do Produto Orgânico, em julho, o Mapa vem multiplicando as atividades de incentivo nos estados, por meio das comissões estaduais de produção orgânica, as chamadas CPOrg.

De acordo com Mariane Antunes Lopes, agente de inspeção e ponto focal da Superintendência Federal de Agricultura de São Paulo (SFA-SP) em Orgânicos, o ministério fomenta a produção e o consumo de orgânicos por meio do fornecimento de informações técnicas, da inserção de produtores em redes, da promoção de eventos, da formulação de políticas públicas, da pesquisa agropecuária e da própria fiscalização, que gera segurança a um mercado cada vez maior e mais competitivo.

Uma das políticas públicas já implementadas no país é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que permite às prefeituras pagarem até 30% a mais por produtos orgânicos – embora elas não sejam obrigadas a isso. “Tudo depende de uma negociação prévia”, explica Rodrigo Cortez, chefe da Divisão de Desenvolvimento Rural da SFA-SP.

Horta Vale Verde

A pouco mais de uma hora do centro de São Paulo, em Jundiaí, está instalada a horta Vale Verde, um projeto da prefeitura que obteve a certificação orgânica há cerca de 13 anos. Ali fica uma grande horta de plantas alimentícias não convencionais (Panc), com cerca de 4 mil metros quadrados, que recebeu ações de transferência de tecnologia da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), empresa de pesquisa agropecuária vinculada ao Mapa.

De acordo com Maria Ângela Delgado, diretora do Departamento de Alimentação e Nutrição da Prefeitura de Jundiaí, a produção abastece 70% dos alunos das 110 escolas municipais e de 40 escolas estaduais, com as quais a prefeitura mantém convênio. Em mais de 80 escolas municipais foram instaladas hortas que recebem mudas da Vale Verde. “Não é só um espaço de produção. Com o passar do tempo nós entendemos que essa horta seria produtiva também em relação à educação. É um espaço de visita para as crianças”, contou Ângela.

A iniciativa envolve parceria com a Escola Técnica Estadual Benedito Storiani, do Centro Paula Souza, que cedeu o espaço. O Instituto Kairós também está envolvido com o projeto, conduzindo a horta e incrementando ações de treinamento do capital humano e de educação das crianças.

Guilherme Ranieri faz parte da equipe do Kairós e fez seu mestrado em Ciência Ambiental sobre levantamento etnobotânico de plantas alimentícias em quintais urbanos. Curioso desde sempre sobre plantas, ele pesquisa não apenas o uso alimentício de algumas delas, mas também como se dá a transmissão do saber entre a população que cultiva Panc em casa. É com orgulho que Guilherme apresenta a diversidade de plantas alimentícias da horta de Jundiaí. “A gente envia para as escolas, ao longo do ano, entre 25 e 35 espécies, fora as plantas aromáticas e condimentares. A gente faz essa ponte entre essa horta e as hortas das escolas”, comentou.

A capacitação envolve as cozinheiras, zeladores, professores e alunos. Além de informações funcionais e nutricionais, há um cuidado para contextualizar cada planta, mostrar de onde veio, como deve ser cuidada. “É preciso criar um encantamento. O argumento nutricional não faz sentido para as crianças. A gente tenta criar um valor afetivo para que elas se interessem”, explicou. Segundo Guilherme, a horta é usada também para trabalhar habilidades do currículo, como autocuidado e cuidado com os outros, observação, paciência, respeito à diversidade e até disciplinas, como matemática. “É uma sala de aula a céu aberto.”

Embrapa

O pesquisador Nuno Madeira, da Embrapa Hortaliças, esteve em Jundiaí em 2018 para capacitar em fitotecnia os agentes que iriam trabalhar no manejo da horta. “A horta Panc do Vale Verde é um tesouro, um patrimônio incalculável, sendo uma das mais biodiversas hortas que conheço, possivelmente a maior do país juntamente com nosso campo de coleção de hortaliças Panc da Embrapa Hortaliças”, disse ele.

Além disso, continua, “a horta aplica técnicas agroecológicas para potencializar a produção e a disponibilização de alimento de verdade, de qualidade, contribuindo para a segurança e soberania alimentar e nutricional das escolas que atende. E, para além da produção de alimentos, é um espaço de produção e difusão de conhecimento relacionados às hortaliças Panc, devendo ser preservado, incentivado e fortalecido”, afirmou Nuno.

O pesquisador também é idealizador do HortPanc (Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais), um evento técnico que começou em Brasília em 2017, migrou para São Paulo em 2018, Paraná em 2019 e acontecerá em novembro deste ano na Bahia, de forma virtual em função da pandemia de coronavírus.

Lives

Esse e outros casos de sucesso de produção orgânica estão sendo contados em lives promovidas pela CPOrg-SP entre setembro e novembro, como parte da campanha estadual de Promoção do Produto Orgânico.

A experiência das hortas escolares de Jundiaí foi incluída na programação, que conta ainda com conteúdo sobre nutrição, equipamentos e ferramentas, mercado de leite orgânico, protocolo de transição agroecológica do Estado de São Paulo, entre outras. Os vídeos ficam disponíveis no canal da CPorg-SP no YouTube.

Ana Maio
Assessoria SFA-SP

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