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23/04/24 |   Pesca e aquicultura  Produção animal  Segurança alimentar, nutrição e saúde

Pesquisa desenvolve mesa flutuante de baixo custo para cultivo de ostra nativa

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Foto: Jefferson Legat

Jefferson Legat - A Mesa Ostranne permite o acesso às ostras independentemente da amplitude da maré e possibilita o deslocamento da estrutura de cultivo a fim de proteger os moluscos de problemas que comprometem a produção

A Mesa Ostranne permite o acesso às ostras independentemente da amplitude da maré e possibilita o deslocamento da estrutura de cultivo a fim de proteger os moluscos de problemas que comprometem a produção

  • A Mesa Móvel Flutuante Realocável para o Cultivo de Ostras (Mesa Ostranne) é um equipamento simples, de baixo custo e pode ser construído pelo próprio produtor.
  • Destina-se à criação da Crassostrea gasar, principal espécie de ostra nativa cultivada no Nordeste do Brasil.  
  • A atividade vem crescendo naquela região e também no Norte do País, mas ainda enfrenta desafios para sua maior competitividade.
  • O equipamento permite o acesso às ostras independentemente da amplitude da maré e o deslocamento da estrutura de cultivo, se necessário, protegendo moluscos de intempéries e outros fatores que comprometem a criação.
  • Validada em Sergipe e no Maranhão, a nova tecnologia favoreceu o crescimento dos moluscos – 91% alcançaram tamanho mínimo comercial. Apenas 14% daqueles criados nas tradicionais mesas fixas tiveram o mesmo desempenho.
  • Publicação técnica com instruções para a construção do equipamento está disponível de forma gratuita na internet.
  • O equipamento será lançado no dia 25 de abril, durante as comemorações dos 51 anos da Embrapa.

 

Pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) desenvolveram uma nova mesa flutuante para criação da Crassostrea gasar, a principal espécie de ostra nativa cultivada no Nordeste do Brasil. A Mesa Móvel Flutuante Realocável para o Cultivo de Ostras (Mesa Ostranne) é um equipamento simples e de baixo custo (veja quadro) e pode ser construído pelo próprio produtor. Permite o acesso às ostras independentemente da amplitude da maré, reduzindo a carga de trabalho. Possibilita, ainda, o deslocamento da estrutura de cultivo e da criação inteira para a margem e locais alternativos de manejo, a fim de proteger os moluscos de problemas que comprometem a produção, a exemplo da alta salinidade, fortes correntes, contato prolongado com o ar quente e outras intempéries.

A malacocultura – cultivo de moluscos – vem crescendo em águas quentes das Regiões Nordeste e Norte do País, mas ainda enfrenta desafios para se firmar de forma competitiva. Estudos conduzidos em locais de cultivo apontam que ostras cultivadas em mesas flutuantes apresentam maiores taxas de crescimento e sobrevivência, independentemente da necessidade de realocação, quando comparadas a indivíduos criados em estruturas tradicionais fixas. A nova mesa confirma essa tendência. No parque aquícola norte de Sergipe, um dos locais onde foi validada, 91% dos moluscos cultivados alcançaram tamanho mínimo comercial. Apenas 14% dos criados em mesas fixas tiveram o mesmo desempenho. 

A tecnologia resulta do projeto Bases tecnológicas para a produção sustentável de ostras nativas no Norte e Nordeste do Brasil (Ostranne), liderado pela pesquisadora da Embrapa Angela Legat. Ela cita dois fatores que explicam as maiores taxas de crescimento e sobrevivência de ostras cultivadas em estruturas flutuantes. “O primeiro é a proteção dos animais contra as altas temperaturas enquanto se encontram submersos. A exposição ao ar em altas temperaturas prejudica estruturas internas das ostras, afetando o crescimento e a sobrevivência. O segundo é a permanência constante das ostras na camada entre 20 cm e 30 cm de profundidade, independentemente da amplitude da maré. Essa camada superficial da água favorece a alimentação das ostras, uma vez que concentra a maior quantidade de microalgas”.

O pesquisador da Embrapa Jefferson Legat, que coordenou o desenvolvimento da tecnologia, ressalta que os resultados obtidos corroboram estudos anteriores realizados pela Empresa em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tais estudos comprovaram que ostras de um mesmo lote, cultivadas em áreas tropicais, apresentaram melhor desempenho zootécnico quando cultivadas com maior tempo de submersão e menor tempo de exposição ao ar e ao sol.

Legat relata que o cultivo de moluscos bivalves, a exemplo das ostras, é considerado a forma mais ambientalmente correta e sustentável para a produção de proteína animal. “Esse molusco se alimenta de microalga, o que já elimina os custos e impactos do plantio de algo que vai ser transformado em ração e reduz a pegada ambiental da indústria de processamento e transporte de rações, além de evitar resíduos no ambiente de cultivo.” Moluscos bivalves são aqueles que possuem o corpo formado por uma concha de duas partes, chamadas de valvas.

Lançamento

A Mesa Móvel Flutuante Realocável para o Cultivo de Ostras (Mesa Ostranne) é uma das tecnologias que a Embrapa lança no dia 25 de abril, durante as comemorações dos seus 51 anos da Embrapa. É esperada  a presença do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, na solenidade.

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Fácil e de baixo custo

As novas mesas flutuantes para cultivo de ostras podem ser confeccionadas com tubos de aço galvanizado (25 mm), tubos de CPVC (54 mm) ou de PVC soldável (50 mm). As instruções e as vantagens e desvantagens de cada tipo de material são apresentadas nesta publicação técnica, de autoria de Jefferson e Angela Legat, entre outros. O acesso a ela é gratuito.

As estruturas tubulares, uma vez cortadas e montadas conforme as instruções da circular técnica, servirão de base para acomodar e sustentar os ‘travesseiros’, estruturas retangulares com telas específicas que acomodam as conchas. O sistema é preso ao solo submerso da área de maré com uso de poitas (pesos de fundo) e cordas de fixação. A flutuação de toda a estrutura é garantida pelo uso de bombonas (boias) de 30 litros de volume.

 

 

Mesa flutuante para criação de ostras em áreas de clima quente

 

 

Cenários

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicados em 2022 e reproduzidos na publicação técnica de autoria dos pesquisadores da Embrapa, os moluscos ocuparam a segunda posição na produção mundial de animais aquáticos cultivados em 2020, representando 20% da aquicultura e 53% da maricultura.

No Brasil, a malacocultura teve início na década de 1970, mas ainda apresenta características artesanais, mesmo com os seus avanços nas últimas décadas e com a existência de empreendimentos em quase todos os estados costeiros. Exceção a esse cenário é Santa Catarina, que concentra cerca de 97% da produção nacional de moluscos cultivados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também de 2022.

Angela legat aponta que o desenvolvimento da malacocultura catarinense está associado ao maior nível de organização da cadeia produtiva, à maior concentração de profissionais e instituições de pesquisa e ao maior investimento na estruturação de instituições públicas e privadas do estado. “Além disso, desde a década de 1990, Santa Catarina investe em pesquisas para desenvolver técnicas e tecnologias, adequando os sistemas de produção de moluscos às condições locais.”

Sistemas convencionais

Ainda de acordo com a publicação técnica, muitos estados brasileiros continuam adotando práticas implementadas na década de 1970 e desenvolvidas para países de clima temperado, com pouca ou nenhuma adaptação às condições ambientais e climáticas das áreas de cultivo situadas em águas costeiras tropicais.

A maioria dos sistemas convencionais adotados no Norte e Nordeste Brasil - cultivo de fundo confinado; sistema fixo suspenso próximo ao fundo do tipo mesa ou rack; e o sistema fixo suspenso próximo ao fundo do tipo varal - não permite a realocação das estruturas e a possibilidade de flutuação conforme o nível da água. Isso obriga o criador a ajustar sua rotina de trabalho aos horários das marés e a ficar exposto ao sol durante o manejo.

Outra desvantagem é que, sem flutuação, alguns desses sistemas acabam alojando as ostras cultivadas, dependendo do nível da maré em cada horário, em diferentes patamares da lâmina d’água, ou mesmo fora dela. Esses patamares nem sempre são ideais no que se refere às condições ambientais para o melhor desenvolvimento dos animais, como temperatura, salinidade e concentração de alimento.

 

Trabalho conjunto com produtores

A Mesa Ostranne foi validada em campo conjuntamente a produtores de ostras do Maranhão e de Sergipe.  Um dos produtores parceiros da Embrapa na pesquisa e desenvolvimento de soluções tecnológicas para o cultivo de moluscos, o ribeirinho Adriano da Hora está entre os pequenos produtores que decidiram investir na malacocultura nas águas quentes do Nordeste.

Ele cria ostras na região da foz do Rio São Francisco, em Brejo Grande, Sergipe, há mais de dez anos, junto com a sua e mais outras duas famílias, e pôde avaliar e atestar, em primeira mão, os benefícios da tecnologia. “Já fomos mais de sete famílias no passado, mas muitas desistiram”, conta.

Quase toda a sua produção, de cerca de 20 mil ostras, era vendida a restaurantes e consumidores finais da Grande Aracaju. Mudanças ambientais na área, como o avanço das águas do mar sobre o rio, as correntes mais fortes e a maior salinidade, têm gerado ostras de menor tamanho. Hoje, boa parte é vendida a atravessadores, com ganhos bem mais limitados.

Para Adriano da Hora, a chegada da Embrapa à região representa um avanço para as famílias produtoras. “A partilha de conhecimentos e informações por parte do pesquisador Jefferson Legat tem sido importante para a melhoria da nossa produção”, relata. “Antes, toda a nossa criação era na forma de travesseiros. Com a mesa flutuante as ostras crescem mais e ficam mais redondas porque se alimentam melhor. É, definitivamente, o melhor método de cultivo que já usamos aqui”, constata.

 

Foto: Jefferson Legat

 

Instituições parceiras

Para recomendar o uso de estruturas de cultivo mais adequadas às condições climáticas e ambientais das águas tropicais brasileiras, a Embrapa e instituições parceiras conduzem, desde 2018, projetos voltados à avaliação das estruturas tradicionais e ao desenvolvimento de novas estruturas de cultivo.

Nesses projetos, as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação contaram com a parceria da Associação dos Moradores do Torto (MA), da Associação Quilombola de Carapitanga (SE), da Associação dos Agricultores e Aquicultores de Nova Olinda (PA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto Sueco de Pesquisa Ambiental (IVL), e das empresas Aquatrix Consultoria e Projetos Ltda. e Aqua Inspiration and Innovation.

Os primeiros estudos foram conduzidos com o objetivo de desenvolver as novas estruturas de cultivo flutuantes, passíveis de realocação em situações de estresse salino e conforme outras necessidades.

“O desenvolvimento, a avaliação e a adaptação de diferentes sistemas e estruturas de cultivo para ambientes tropicais são fundamentais à melhoria do desempenho zootécnico dos animais cultivados e à otimização do trabalho dos produtores durante a realização do manejo”, defende Jefferson Legat.

Sustentabilidade

A agenda da Embrapa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Agenda 2030 das Nações Unidas. As ações de pesquisa e desenvolvimento voltadas ao cultivo de ostras contemplam os ODS 1 - Erradicação da Pobreza; 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável; 13 - Ação contra a mudança global do clima; 14 - Vida na Água; 15 - Vida Terrestre; e 18 - Trabalho Decente e Crescimento Econômico.

Cada um dos ODS contemplados se desdobra em metas e contribuições e impactos.

 

 

Saulo Coelho (MTb 1.065/SE)
Embrapa Tabuleiros Costeiros

Contatos para a imprensa

Telefone: (79) 4009-1381

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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