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Leguminosas: potencial de produção e mercado promissor
Como reconhecimento da importância do papel exercido pelas leguminosas na promoção da segurança alimentar em todo o mundo, elas foram declaradas símbolos do ano de 2016 pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A Declaração de 2016 como Ano Internacional das Leguminosas colocou em destaque esses alimentos, representados - dentre outros - pela ervilha, a lentilha e o grão-de-bico, colocados em relevância por parte de instituições que, ao lado de outras iniciativas, buscam associar o seu consumo ao combate à desnutrição, considerada a mais grave ameaça mundial da saúde pública.
No âmbito da Embrapa Hortaliças, o tema escolhido pela FAO veio reforçar o entendimento sobre a importância das atividades de pesquisa para o desenvolvimento de novos materiais, principalmente de grão-de-bico, e que envolvem ensaios conduzidos nos campos experimentais da Unidade, assim como serviu de inspiração para a promoção de ações de fomento a discussões relacionadas à produção de leguminosas. Esse foi o caso, por exemplo, do I Seminário sobre Hortaliças Leguminosas, que reuniu nos dias 18 e 19 de agosto último um público formado por representantes da cadeia produtiva dessas leguminosas, de empresas processadoras e de universidades (professores e estudantes).
Além de promover o debate sobre as dificuldades enfrentadas pelos produtores de leguminosas e por empresas processadoras, o evento deu vez e voz para que diversos atores envolvidos no processo colocassem em pauta não apenas possíveis alternativas de enfrentamento dos problemas de produção e comercialização, como também experiências bem-sucedidas que vêm sendo conduzidas, a exemplo do produtor Osmar Artiaga.
Na única área comercial de grão-de-bico no Brasil, localizada no município goiano de Cristalina, o produtor tem obtido excelentes resultados, o que estimulou o aumento da área plantada: de 17 hectares em 2014 passou para 250 hectares em 2015. Segundo o produtor, parceiro da Embrapa Hortaliças nos testes de desempenho da cultura, o consumo de grão-de-bico no Brasil gira em torno de oito mil toneladas/ano, importadas na sua totalidade. "A ideia é investir na produção e começar, com pequenos lotes, a participar desse mercado, que acena com perspectivas altamente promissoras", assinala Artiaga.
No contexto de um mercado que tem sido suprido com material importado, o cenário apontado pelo produtor vem ganhando novos contornos com o desenvolvimento de materiais adaptados às nossas condições edafoclimáticas, de acordo com o pesquisador e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia Warley Nascimento.
Segundo ele, já existem no Brasil tecnologias disponíveis para a produção de leguminosas e, nesse quesito, o destaque vai para o grão-de-bico cultivado na região do Distrito Federal e entorno. "Na região, com altitudes acima de 800 metros, em plantios realizados de abril a maio, os resultados têm sido bastante satisfatórios - a produtividade tem variado entre duas a três toneladas por hectare, bem mais expressiva que a média mundial de 900 quilos por hectare", salienta o pesquisador.
CARRO-CHEFE
No Brasil, o consumo de grão-de-bico ainda é considerado limitado, mas aumentam as apostas para o seu crescimento a partir de novas cultivares que estão prontas para entrar no mercado, com potencial para substituir as importações. É o caso da cultivar BRS Aleppo, que veio de longe, e que apresenta características que pode torná-la uma
alternativa às importações da leguminosa. O histórico da cultivar começou a ser construído a partir do projeto "Recursos genéticos e melhoramento de hortaliças leguminosas visando o fornecimento de proteínas de origem vegetal e elementos funcionais', apresentado por Nascimento e aprovado em 2010 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Como desdobramento à aprovação do projeto, o pesquisador viajou para a cidade de Aleppo, na Síria, onde recebeu do Centro Internacional de Pesquisa Agrícola em Áreas
Secas (International Center for Agricultural Research in the Dry Areas) os materiais de grão-de-bico para serem testados no Brasil.
Entre aqueles submetidos a testes de seleção, conduzidos pela Embrapa Hortaliças em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), o destaque ficou com a cultivar batizada de BRS Aleppo (em homenagem à sua cidade de origem), que apresentou tolerância às principais doenças provocadas pelo fungo de solo Fusarium, aliada à ótima qualidade dos grãos e boa produtividade, "importantes diferenciais quando comparada com a cultivar Cícero, lançada em 1994".
"Nos índices de produtividade, em uma última avaliação realizada em 2013, a BRS Aleppo apresentou 3.048 quilos por hectare, bem superiores aos 970 quilos por hectare do grão-de-bico Cícero", exemplifica Nascimento. Atualmente, a BRS Aleppo está sendo preparada para figurar em edital da Embrapa Produtos e Mercado, com o objetivo de selecionar interessados em produzir sementes para atender a cadeia produtiva.
ERVILHA
Já os caminhos percorridos pela ervilha, nos últimos tempos, apontam para um retorno à década de 80, quando milhares de hectares foram plantados na região. As causas da redução gradativa do plantio nos anos subsequentes posteriores têm sido atribuídas tanto às maiores facilidades de importação (câmbio favorável) como à produção insuficiente de sementes. Por outro lado, uma agricultura com alto padrão tecnológico, com registros de altos índices de produtividade, é apontada como uma das responsáveis pelos claros sinais de um ressurgimento do cultivo de ervilha.
"Diversas empresas processadoras já manifestaram interesse em investir na leguminosa e têm procurado a Embrapa Hortaliças para obter informações sobre os materiais disponíveis", acentua Nascimento.
Na estante
Livro: Hortaliças Leguminosas
Editor Técnico: Warley M. Nascimento
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Declaração da FAO inspira seminário e lançamento de livro
O primeiro seminário sobre hortaliças leguminosas também foi cenário para o lançamento da publicação "Hortaliças Leguminosas", uma coletânea de informações registradas em edições técnicas elaboradas nos anos 80/90, e nos experimentos de pesquisas mais recentes. Editor técnico do livro, o pesquisador Warley Nascimento assinala que a Declaração da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), instituindo 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas, fortaleceu a ideia da realização de um seminário e o lançamento do título. O pesquisador chama a atenção para a escassez de informações sobre as leguminosas, "uma lacuna que o livro procura preencher".
Anelise Macedo (MTB 2.749/DF)
Embrapa Hortaliças
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