Arroz
Armazenamento
Autores
Eduardo da Costa Eifert - Embrapa Cerrados
Rodrigo Sergio e Silva - Embrapa Arroz e Feijão
Moacir Cardoso Elias - Universidade Federal de Pelotas
Daniel Fernandez Franco - Consultor
Daniel de Brito Fragoso - Embrapa Pesca e Aquicultura
Jose Alexandre Freitas Barrigossi - Embrapa Arroz e Feijão
O arroz pode ser armazenado em sacaria no sistema convencional ou a granel, em silos ou em armazéns graneleiros. Atualmente também se armazena em big bags.
Para o armazenamento em sacaria, chamado de convencional, deve-se manter boa ventilação nas pilhas. Além disso, para possibilitar a circulação do ar também por baixo das pilhas, os sacos devem ser dispostos em estrados de madeira com altura mínima de 12 cm. Sempre que possível, deve-se limitar a altura das pilhas em 4,5 m.
A armazenagem a granel é mais adequada para grandes quantidades. Num silo metálico (Figura 1) ou num graneleiro (Figura 2), grãos relativamente pequenos, como os de arroz, exibem comportamento diferente do de outras espécies de cereais de grãos maiores, principalmente por apresentarem maior tendência à compactação e oferecerem maior resistência à passagem do ar durante a aeração. Problemas decorrentes dessa característica são contornados por meio de intrassilagem parcial ou total da carga do silo e/ou de transilagens periódicas durante o armazenamento, a cada período de 60 ou, no máximo, 90 dias. Para o armazenamento seguro, recomenda-se que o produto seja guardado com teor de umidade dos grãos ao redor de 13%.
Foto: Eduardo da Costa Eifert | Foto: Eduardo da Costa Eifert |
Figura 1. Silo metálico. | Figura 2. Silo armazenador a granel. |
Nos estados da região Central do Brasil, é comum o arroz entrar no armazém com teor de umidade de 13% e, cerca de 6 meses após, apresentar teor de umidade em torno de 9%. Nesses estados, as condições de temperatura encontradas nos armazéns são de 30 °C, ou mais altas, e a umidade relativa é de 40%, ou mais baixa. Para essas condições, 30 °C e 40% de umidade relativa, o grão de arroz em casca atinge o equilíbrio higroscópico na faixa de 9,0% a 9,6% de teor de umidade.
Recomenda-se o carregamento dos silos quando os grãos estiverem resfriados, ou parcialmente resfriados após a secagem, e mantê-los sob temperaturas as mais baixas possíveis, no máximo 18 °C, por aeração, com o objetivo de remover ou distribuir a umidade e o calor acumulados.
Independentemente do sistema utilizado, o armazenamento do arroz por um período de um ano não altera o sabor ou odor do produto, contudo, quando malconservado em ambientes não controlados, principalmente sob umidade relativa alta, acima de 65%, pode haver aumento da taxa respiratória dos grãos, ocorrência de processos de fermentação, ataque de insetos e desenvolvimento de fungos, que refletem negativamente na qualidade do produto, com alteração do sabor, inviabilizando assim o consumo.
Para preservar a qualidade do arroz e prevenir perdas desnecessárias, é importante que as condições de estocagem atendam aos cuidados para um armazenamento seguro. Para verificar a umidade e a temperatura dentro do armazém, recomenda-se, como opção, o uso de sensores e controle computadorizado da massa de grãos (Figura 3).
Foto: Eduardo da Costa Eifert |
Figura 3. Central de controle da qualidade da massa de grãos. |
Manejo integrado de insetos-praga do armazenamento
Os grãos armazenados são atacados por pragas, roedores, insetos e ácaros que causam sérios prejuízos qualitativos e quantitativos. A presença de insetos geralmente está associada à preexistência de focos de infestações, daí a importância da higienização de silos e armazéns antes do armazenamento. Várias espécies de insetos podem atacar a massa de grãos de arroz, tanto em casca como beneficiado, porém dois grupos são considerados importantes: os coleópteros, carunchos e besouros (Figura 4), e os lepidópteros, traças.
Foto: Evane Ferreira |
Figura 4. Gorgulho-do-arroz (Sitophilus oryzae). |
Carunchos e besouros
Sitophilus oryzae Linn., 1763 (Coleoptera, Curculionidae)
Sitophilus zeamais Mots., 1865 (Coleoptera, Curculionidae)
Rhyzopertha dominica Fabr., 1792 (Coleoptera, Bostrichidae)
Tribolium castaneum Herb., 1797 (Coleoptera, Tenebrionidae)
Importância e dano
São insetos de tamanho inferior a 1 cm, porém de alto potencial biótico. As duas primeiras espécies são popularmente conhecidas como carunchos, que são facilmente identificadas pelo aparelho bucal em forma de bico (rostro) cilíndrico que se prolonga para a frente da cabeça. Tanto as formas larvais como adultas se alimentam da massa de grãos e causam perdas quantitativas e na qualidade do produto final. As outras duas espécies de besouros atacam grãos defeituosos resultantes do mau fechamento da casca ou decorrentes de danos mecânicos durante a colheita.
Traças
Sitrotroga cereallela Oliv., 1819 (Lepidoptera, Gelechiidae)
Plodia interpunctella Hubn., 1813 (Lepidoptera, Pyralidae)
Importância e dano
Essas pragas podem atacar o arroz ainda no campo, quando os grãos se encontram na maturidade fisiológica ou quando estão secando. Em silos ou graneleiros, o ataque se dá nas camadas superficiais dos grãos, e as larvas destroem os grãos, diminuindo a massa, a qualidade e o seu valor nutritivo.
Controle
Como forma preventiva, é importante a eliminação de focos existentes na unidade armazenadora, tanto no interior como no exterior. Assim, recomenda-se a pulverização das instalações antes do armazenamento com produtos relacionados nas Tabelas 1 e 2, em Insumos, na Pré-produção. O conteúdo de água do grão é outro fator importante como tática de controle, sendo recomendável que sempre esteja inferior a 12% e que se utilize sistema de aeração como mecanismo de controle da umidade e temperatura na massa de grãos. Se o arroz for permanecer armazenado por um período de tempo superior a três meses, recomenda-se fazer tratamento preventivo com inseticidas líquidos registrados para as espécies acima mencionadas.
Aparecendo pragas, como gorgulhos e traças, deve-se fazer o expurgo (Figura 5) ou fumigação, que tem por finalidade eliminar insetos, tanto na forma adulta como na de pupa, larva ou ovos. Os prejuízos para o arroz são verificados na qualidade alimentícia e no poder germinativo, além da depreciação do valor comercial devido à presença de insetos mortos, ovos e excrementos. A operação de expurgo deve ser feita de acordo com o receituário agronômico e sob a orientação e supervisão de um engenheiro-agrônomo.
Foto: Sebastião Araújo |
Figura 5. Expurgo do arroz com lona e detalhe da base tampada com madeira. |
Quando o arroz é armazenado em silos, o produto químico para o expurgo é aplicado durante a operação de enchimento do silo, no momento da transilagem ou por meio de sondas. Em grãos ensacados, o expurgo pode ser feito com lençóis plásticos que permitem a fumigação de cada pilha separadamente. O período de expurgo não deverá ser inferior a 120 horas de exposição.
Geralmente, utilizam-se produtos à base de fosfina, na forma de comprimidos (0,6 g) e de pastilhas (3 g). Quando o arroz estiver armazenado em sacos, a dose recomendada é de um comprimido para cada 3 a 4 sacos de 60 kg de grãos ou uma pastilha para cada 15 a 20 sacos. No caso de armazenamento a granel, em silos verticais, a aplicação desse produto deve ser feita dosando-se os comprimidos nos transportadores de cargas com posterior vedação das aberturas superiores. Em silos horizontais ou graneleiros, recomenda-se a introdução dos comprimidos na massa de grãos, por meio de uma sonda, cobrindo-se com lona plástica. O tempo de permanência do arroz sob a ação de gases deve ser de, no mínimo, 5 dias. O produto deve ser manuseado por pessoas treinadas e equipadas com máscaras e luvas, pois a fosfina é altamente tóxica e pode levar a morte. Em caso de novas infestações, a operação deve ser repetida.
Quando necessário, o controle de pragas pode ser complementado com pulverização com produtos relacionados nas Tabelas 1 e 2, em Insumos, na Pré-produção. Para isso, deve-se verificar o período de carência, tomar cuidados especiais na aplicação, ler o rótulo e seguir as instruções recomendadas.