Solo

Conteúdo atualizado em: 28/08/2023

Autores

Humberto Gonçalves dos Santos - In memoriam

Mauricio Rizzato Coelho - Embrapa Solos

Jesus Fernando Mansilla Baca - Embrapa Solos

Mário Luiz Diamante Áglio - Consultor autônomo

Elaine Cristina Cardoso Fidalgo - Embrapa Solos

 

No Brasil, o arroz irrigado por inundação e o de terras altas é cultivado em uma grande diversidade de classes de solos. Conhecer quais classes de solos ocorrem nos locais ou potenciais locais de seu cultivo, conhecer seus atributos e como se distribuem na paisagem, favorece tanto o uso e manejo racional e eficiente do solo, da água, de corretivos e fertilizantes, como a preservação dos recursos naturais. A fim de contribuir para o aumento de conhecimento sobre os solos do País e aqueles adequados ao cultivo de arroz, esta seção oferece noções sobre a extensão e a distribuição das principais classes de solos no Brasil, assim como uma breve descrição dos atributos dos solos de maior ocorrência e adequados para plantio em sistema de cultivo de terras altas e irrigado por inundação. 

 

Extensão e distribuição das principais classes de solos no Brasil

Como não poderia ser diferente, um país de dimensões continentais, como o Brasil, apresenta uma grande diversidade de classes de solos (Figura 1); diversidade essa que é resultado da interação e variações de clima e organismos vivos atuando em diversos materiais de origem (rochas e sedimentos) dos solos, com as diferentes formas e tipos de relevo, que também podem variar de local para local, exercendo ação modificadora nas paisagens naturais; todos (clima, organismo, material de origem e relevo) podendo ainda atuar por diferentes períodos de tempo, desde que suficientes para a ação dos processos de formação do solo.

Figura 1. Mapa de solos do Brasil considerando apenas o primeiro componente das unidades de mapeamento de solo dos mapas de solos da base cartográfica, classificados até o segundo nível categórico segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.

Fonte: IBGE (2019); Santos et al. (2018).

 

Apesar dessa diversidade, predominam no Brasil as classes Latossolos e Argissolos, que ocupam aproximadamente 57% de sua área (Tabela 1). Em geral, são solos profundos, bem drenados, muito antigos e intemperizados. Em decorrência disso, são geralmente ácidos, de baixa fertilidade natural e, em muitos casos, saturados por alumínio, cujo conteúdo pode interferir na produtividade das culturas se não corrigido.

Tabela 1. Extensão e distribuição das classes de solos do Brasil considerando até o quinto componente das unidades de mapeamento de solos do mapa de solos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) e classificados até o primeiro nível categórico, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).

Classe

Área absoluta (km2)

Área relativa (%)

Argissolos

2.276.994,7

26,80

Cambissolos

548.171,2

6,45

Chernossolos

42.268,7

0,50

Espossolos

118.176,6

1,39

Gleissolos

319.538,0

3,76

Latossolos

2.577.377,3

30,34

Luvissolos

166.067,8

1,95

Neossolos

1.253.655,5

14,76

Nitossolos

113.263,4

1,33

Organossolos

14.927,3

0,18

Planossolos

2112.614,7

2,50

Plintossolos

527.569,9

6,21

Vertissolos

25.194,1

0,30

Afloramentos de rocha, corpos d`água e outros

299.562,1

3,53

Brasil

8.495.381,2

100,00

Fonte: IBGE (2018); Santos, et al. (2018).

 

Solos de média e alta fertilidade também ocorrem em todo o território nacional, mas em menores proporções em todo o território nacional. Suas maiores áreas contínuas concentram-se nas regiões Nordeste e Sul do País (Figura 1). Em geral, são rasos ou pouco profundos em decorrência de seu baixo grau de intemperismo. As principais classes representativas desses solos são os Cambissolos, Chernossolos, Luvissolos, Neossolos, Nitossolos e Planossolos.

 

Descrição dos solos de maior ocorrência e adequados para plantio

A seguir, são descritos os solos de maior ocorrência no País e com potencial para o plantio de arroz em sistema de cultivo em terras altas e irrigado por inundação.

 

Sistema de cultivo em terras altas

Em termos gerais, os Latossolos, Argissolos, Chernossolos e Luvissolos de textura média tendendo a argilosa ou de textura argilosa compreendem as classes mais adequadas ao cultivo de arroz em terras altas. Essas classes de textura favorecem a maior retenção de água em relação as mais arenosas, o que é de grande importância para o arroz de terras altas por ser totalmente dependente da precipitação atmosférica. Os Nitossolos são outras classes de solos bem adequadas ao cultivo de arroz em terras altas. Por definição, são todos de textura argilosa ou muito argilosa. As características dessas classes de solos e de algumas de suas variações com maior potencial para serem utilizadas no Brasil com arroz de terras altas são descritas a seguir.

 

  • Latossolos Vermelhos distroférricos e eutroférricos

Solos bem drenados derivados de rochas básicas, contendo teores elevados em óxidos de ferro (Fe2O3), óxido de manganês (MnO) e, normalmente, dióxido de titânio (TiO2), com forte atração magnética. Foram classificados anteriormente como Latossolos Roxos. Em geral, esses solos estão intimamente associados na paisagem. São muito profundos, friáveis ou muito friáveis quando úmidos, argilosos ou muito argilosos e de boas condições físicas. A principal limitação, no entanto, é a baixa fertilidade natural nos Latossolos Vermelhos distroférricos e a elevada retenção de fósforo para ambas as classes, embora ambos sejam bem providos de micronutrientes, o que não acontece com a maioria das outras classes de Latossolos. São bastante resistentes à erosão laminar devido às suas características físicas de boa permeabilidade e porosidade quando em condições naturais ou quando bem manejados. Quanto submetidos aos cultivos intensivos pela aração ou sucessivas gradagens em condições de umidade excessiva, podem sofrer uma compactação subsuperficial (pé-de-arado ou pé-de-grade) com favorecimento ao encrostamento superficial, que aumenta consideravelmente a susceptibilidade à erosão e diminui a produtividade do arroz. Em condições avançadas de manejo inadequado, desenvolvem-se ravinas e pequenas voçorocas com facilidade.

 

  • Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos distróficos

Compreendem solos minerais com teores médios de Fe2O3 nos Latossolos Vermelhos, sobretudo os de textura argilosa ou muito argilosa, e normalmente baixos nos solos de textura média e nos Latossolos Vermelho-Amarelos. Anteriormente, os Latossolos Vermelhos eram classificados como Latossolos Vermelho-Escuros, enquanto os Vermelho-Amarelos sempre mantiveram esse nome nas edições anteriores a Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Em geral, são solos muito profundos, bem drenados, friáveis ou muito friáveis, de textura pouco variável em profundidade, mas bastante variável entre diferentes locais, de média a muito argilosa, podendo ser arenosa em superfície. As excelentes condições físicas aliadas ao relevo plano ou suave ondulado onde geralmente ocorrem, favorecem sua utilização mecanizada para as mais diversas culturas climaticamente adaptadas à região. Esses solos, por serem ácidos e distróficos, requerem correção de acidez e adubação com corretivos e fertilizantes. Os solos argilosos e muito argilosos têm melhor aptidão agrícola que os de textura média, tendo em vista que estes últimos são mais pobres e retêm menos nutrientes da adubação e umidade da chuva por maiores períodos, além de serem mais facilmente erodidos sobre uso inadequado e intensivo de equipamentos agrícolas. A deficiência de micronutrientes também pode ocorrer, sobretudo nos solos de textura média.

 

  • Latossolos Amarelos

Apresentam muito baixos teores de Fe2O3. São bem drenados, muito profundos, com predominância de textura média. Apresentam pouco aumento do conteúdo de argila em profundidade e pequena diferenciação entre os horizontes. Uma das características mais marcantes de algumas variações desses solos, os Latossolos Amarelos distrocoesos, é a presença do caráter coeso, ou seja, seus horizontes subsuperficiais (entre 20 cm e 70 cm de profundidade) são muito adensados e duros quando secos, mas tornam-se macios (friáveis) quando úmidos, o que torna a avaliação da condição de umidade desses solos uma regra para garantir o mais adequado preparo do terreno. Suas principais limitações químicas decorrem da forte acidez, alta saturação por alumínio e baixa fertilidade natural. Portanto, são muito pobres em nutrientes, o que inevitavelmente implicará num investimento inicial elevado, com o uso intensivo de adubos e corretivos.

 

  • Nitossolos Vermelhos

Solos argilosos ou muito argilosos, de argila de atividade baixa; muitos deles são originados de rochas básicas. Nesses casos, apresentam teores elevados de Fe2O3. Antes eram conhecidos como Terra Roxa Estruturada. São profundos ou de profundidade média, bem drenados, com pequena variação de cor entre os horizontes e reduzido aumento de argila em profundidade. A saturação por bases é variável, sendo predominantemente distróficos, com menores ocorrências de solos eutróficos. São solos com boas condições físicas, que apresentam como principais limitações a baixa saturação de bases naqueles distróficos e, no caso de relevo ondulado, a susceptibilidade à erosão e a possibilidade de ocorrência de pedregosidade e rochosidade que dificultam a mecanização. Quando eutróficos e em condições de relevo plano e suave ondulado, são considerados um dos melhores solos para cultivo.

 

  • Chernossolos Argilúvicos

Esses solos se caracterizam por apresentar argila de atividade alta e saturação por bases também alta. Antes eram designados de Brunizéns Avermelhados. São moderadamente profundos a rasos, com distinta diferenciação entre os horizontes, normalmente com textura média nos horizontes superficiais e argilosa nos subsuperficiais. Apresentam boa permeabilidade no horizonte superficial A, que é reduzida no horizonte subsuperficial Bt, sendo, portanto, muito susceptíveis aos processos erosivos.

Solos que apresentam características químicas excelentes para o uso agrícola, principalmente por sua boa fertilidade, alta saturação por bases e capacidade de troca de cátions, além de apresentarem acidez praticamente nula. No entanto, geralmente ocorrem em locais onde o relevo é mais acidentado, prevalecendo as limitações devidas aos fortes declives, com alto risco de erosão e dificuldade ou impossibilidade de mecanização. Nesses casos, são geralmente usados e indicados para pastagens.

 

  • Argissolos Vermelho-Amarelos

Solos que geralmente apresentam aumento expressivo do conteúdo de argila em profundidade, com nítida separação entre horizontes quanto à cor, textura, estrutura e consistência. Os teores de Fe2O3 são baixos. São profundos a pouco profundos, moderadamente a bem drenados, com textura muito variável, porém com predomínio de textura média na superfície e argilosa em subsuperfície. Devido à grande diversidade de suas características na paisagem, as quais interferem no uso agrícola, além da ocorrência nos mais variados relevos, é difícil generalizar suas qualidades e limitações ao uso agrícola para a classe como um todo. De uma maneira geral, pode-se afirmar que os Argissolos são muito susceptíveis à erosão, sobretudo quando o gradiente textural é bastante acentuado (textura arenosa/argilosa) em condições de relevo mais movimentado. Nesse caso, não são recomendados para agricultura, com o uso direcionado à pecuária e ao reflorestamento ou às áreas de preservação da flora e fauna. Quando localizados em áreas de relevo plano e suave ondulado, esses solos têm aptidão para diversas culturas, desde que sejam realizadas correção da acidez, principalmente quando se tratar de solos distróficos, e sejam utilizados sistemas de cultivos conservacionistas com pouca movimentação do solo e/ou práticas de conservação de solo e água.

 

Sistema de cultivo irrigado por inundação

Os Planossolos, Gleissolos, Plintossolos, Vertissolos, Organossolos, Cambissolos Flúvicos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos e Espodossolos Hidromórficos ocupam, em geral, áreas sedimentares baixas, de várzeas ou terraços, o que lhes confere melhores condições ao cultivo do arroz irrigado. No entanto, nem todos apresentam potencial para o cultivo de arroz irrigado por inundação, como veremos a seguir.

 

  • Planossolos

Essa classe apresenta como característica principal a presença de um tipo especial de horizonte B textural, denominado de B plânico, com incremento considerável de argila do horizonte A (ou E), geralmente de textura arenosa, para o horizonte B, de textura média ou argilosa, associado a cores acinzentadas ou esbranquiçadas que refletem uma baixa permeabilidade do solo. São de fertilidade muito variada, de baixa a alta, apresentando normalmente baixos teores de matéria orgânica e deficiência em fósforo. Seu elevado gradiente textural pode ser um fator favorável à manutenção da água no sistema.

 

  • Gleissolos

Caracterizam-se por apresentar horizontes de cores cinzentas ou esbranquiçadas imediatamente abaixo do horizonte A, geralmente com mosqueados avermelhados ou amarelados (horizontes glei). Essas cores e condições (hidromorfismo) se manifestam dentro de 50 cm da superfície do solo e são indicativas de formação em ambiente de redução devido à saturação por água durante um longo período do ano. São de textura muito variável, inclusive entre horizontes de um mesmo perfil de solo, de fertilidade baixa a alta e não apresentam horizonte B associado à mudança textural abrupta, o que os diferencia dos Planossolos. Normalmente, apresentam grande variação de seus atributos na paisagem, o que ocorrer a pequenas distâncias devido ao ambiente deposicional em que foram formados.

 

  • Chernossolos

Os Chernossolos em áreas de várzea com drenagem imperfeita em relevo plano a suave ondulado são bastante aptos para o cultivo do arroz irrigado por inundação.

São solos que apresentam horizonte A chernozêmico (escuros, espessos, com elevada matéria orgânica e saturação por bases) seguido por horizonte B textural ou incipiente com argila de atividade alta e saturação por bases elevadas (eutróficos) em todo o perfil. Apresentam, normalmente, fertilidade natural de moderada a alta. Junto com alguns Vertissolos, constituem os melhores solos para serem cultivados com arroz irrigado, proporcionando altas produtividades.

 

  • Plintossolos

São solos geralmente profundos, imperfeitamente ou moderadamente drenados, formados sob condições de restrição à percolação de água, embora muitos deles ocorram hoje em posições mais elevadas da paisagem em condições de melhor drenagem. Basicamente há dois tipos de Plintossolos: aqueles que apresentam mosqueados avermelhados de redução e concentrações de óxidos de ferro na forma de nódulos, denominados de plintitas, e os que apresentam petroplintita, também na forma de nódulos individualizados. Enquanto as plintitas são macias, podendo ser quebradas com as mãos e facilmente separadas e individualizadas da matriz do solo ao manuseio, o que as diferencia dos mosqueados, as petroplintitas são nódulos extremamente duros que não se rompem com as mãos. Os mosqueados na matriz do solo são originados pela mobilização do ferro presente nos horizontes do solo em condições de oscilação do lençol freático, segregando em determinados locais dos horizontes, que favorecem à sua precipitação na forma de hematita e goethita. À medida que os mosqueados evoluem, concentrando cada vez mais ferro e as condições de hidromorfismo se tornam menos frequente nos locais onde ocorrem por motivos diversos, tornando os solos menos úmidos ou mais secos, os mosqueados evoluem para nódulos plínticos (ou plintitas), os quais endurecem irreversivelmente, formando nódulos petroplínticos (ou petroplintita). Essas transformações podem ocorrer em menos de um século, em período muito inferior ao necessário para originar os solos a partir da decomposição das rochas. Em termos gerais, estima-se que são necessários 1.000 anos para se formar 1 cm de solo a partir da decomposição da rocha. Os Plintossolos com plintita (Plintossolos Háplicos e Argilúvicos) geralmente localizam-se em áreas baixas e planas, sujeitas a hidromorfismo temporário. Por isso, os Plintossolos são cultivados com arroz, comuns nas várzeas do Rio Grande do Sul e de outras áreas também cultivadas com a cultura no País. A grande maioria dos Plintossolos são de baixa fertilidade natural. Aqueles com petroplintita (Plintossolos Pétricos) encontram-se hoje nas condições mais elevadas da paisagem, livre da influência do lençol freático. São muito comuns no Brasil central e, apesar de suas inúmeras limitações ao cultivo até então apregoadas por técnicos como insuperáveis, estão sendo atual e amplamente cultivados com soja, quer devido à expansão da cultura incentivada pelos preços internacionais favoráveis, quer devido ao mais baixo preço das terras a eles associados. As produtividades, no entanto, são muito variadas, possivelmente devido à grande variabilidade de seus atributos na paisagem onde ocorrem e entre diferentes classes de Plintossolos: aqueles com elevados conteúdos de nódulos petroplínticos, em relação à matriz terrosa, por exemplo, ocorrendo desde a superfície do solo, são bem menos produtivos em relação aos Plintossolos em que o horizonte com petroplintita (horizonte concrecionário) ocorre abaixo de 20 cm de profundidade e com menos nódulos petroplínticos em relação à matriz terrosa. A textura da matriz terrosa dos horizontes concrecionários é outro fator que interfere na produtividade das culturas, o que, juntamente com a quantidade de nódulos petroplínticos, interferem na retenção e disponibilidade de água para as plantas cultivadas.

 

  • Vertissolos

Em relação à utilização, esses solos são adequados do ponto de vista de seus atributos químicos, porém não apresentam atributos físicos favoráveis ao manejo, sendo muito duros quando secos, formando torrões compactos, e muito plásticos e pegajosos quando molhados, aderindo fortemente aos implementos agrícolas. O intervalo de tempo que esses solos apresentam com a umidade adequada para o preparo do terreno é bastante estreito.

A maior parte dos Vertissolos é utilizada com pastagens naturais de boa qualidade e, em menor escala, com culturas anuais como trigo, milho e sorgo. Em áreas planas e sazonalmente inundadas, são cultivados com arroz irrigado.

 

  • Organossolos

Na sua maior parte, são fortemente ácidos, com baixa saturação por bases e frequentemente com altos teores de alumínio extraível. Quando drenados e cultivados, podem ficar sujeitos a uma acentuada subsidência (rebaixamento da superfície) devido à oxidação gradativa e rápida no conteúdo de matéria orgânica. A baixa fertilidade natural e os impedimentos à mecanização constituem importantes limitações ao uso desses solos com arroz irrigado.

 

  • Cambissolos Flúvicos

Os Cambissolos Flúvicos ocorrem em terraços de várzea em posições na paisagem ligeiramente superiores e de melhor drenagem em relação aos Gleissolos. Suas partes mais planas são frequentemente sistematizadas e utilizadas com arroz irrigado. São muito variáveis quanto à textura e à fertilidade natural.

 

  • Neossolos Flúvicos, Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos e Espodossolos Hidromórficos

Essas classes de solos apresentam aptidão muito restrita para o uso com arroz irrigado, pois, devido à presença da textura arenosa (sempre presente nos Neossolos Quartzarênicos e Espodossolos, podendo ocorrer os Neossolos Flúvicos), possuem baixa fertilidade, além de estarem propensos aos processos erosivos mesmo em relevos planos, mais especificamente nos momentos de sistematização hidrológica e construção dos tabuleiros, tão necessários no manejo do arroz irrigado por inundação. Devido à textura arenosa, as quais ensejam baixa estabilidade aos taludes, é comum se deparar com processos de solapamento ou até de colapsamento do dreno final coletor, incorrendo em sérios prejuízos ambientais. Ademais, há sempre a eminente possibilidade de contaminação do lençol freático devido à pequena capacidade de retenção iônica desses solos em razão de sua localização na paisagem - próximo de rios - combinados à sua textura arenosa.

A plotagem de arrozeiras nessas classes de solos, sobretudo quando se encontram muito próximos a rios, é considerada um investimento de alto risco, pois essas áreas estão sujeitas a inundações recorrentes, com diferentes tempos de permanência.

Pelos motivos expostos, tais solos devem ser destinados à preservação ambiental, até porque o regime hidrológico comumente encontrado para essas classes de solos determina funcionalidades ecológicas muito específicas: sobre eles encontram-se arbóreas e herbáceas altamente adaptadas à saturação hídrica, muitas vezes materializando o caráter endêmico.

Quanto à ocorrência, os Neossolos Flúvicos, os Neossolos Quartzarênicos e os Espodossolos Hidromórficos estão presentes em planícies de orla marítima, assim como em planícies de rios. Nessas últimas, quanto maior a envergadura fluvial, sobretudo para os padrões de leito meandrante e entrelaçado, maiores serão as planícies, o que necessariamente incorre em maior extensão territorial desses solos. Encontram-se presentes em todos os estados brasileiros, porém com grande variação de área. Sem dúvida, uma das áreas de maior ocorrência fluvial contínua está no Pantanal.

 

Referências

IBGE.  IBGE/DGC. Base Cartográfica Contínua do Brasil, escala 1:250.000 – BC250: versão 2019. Rio de Janeiro, 2019.

IBGE. Mapa de Solos. Rio de Janeiro, 2018. 1 mapa, color. Escala 1: 250.000. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/pedologia/10871-pedologia.html?=&t=downloads>. Acesso em: 16 ago. 2023.

SANTOS, H. G. dos; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. dos; OLIVEIRA, V. A. de; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M. R.; ALMEIDA, J. A. de; ARAÚJO FILHO, J. C. de; OLIVEIRA, J. B. de; CUNHA, T. J. F. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 5. ed. rev. ampl. Brasília, DF: Embrapa, 2018. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/181677/1/SiBCS-2018-ISBN-9788570358172.epub>. Acesso em: 16 ago. 2023