Arroz
Produção de sementes
Autores
Sérgio Vaz da Costa - Embrapa Arroz e Feijão
Rodrigo Sérgio e Silva - Embrapa Arroz e Feijão
Ariano Martins de Magalhães Junior - Embrapa Clima Temperado
A semente é o insumo com maior valor agregado, pois contém a constituição genética da variedade. O potencial máximo de produtividade agrícola é determinado pelo potencial genético. A semente comercial é produzida dentro de padrões rigorosos de qualidade que garantem ao produtor o melhor desempenho no campo, maximizando os benefícios de outros insumos, como fertilizantes e defensivos.
Nesta seção, é abordada a produção de semente de arroz tradicional, tipo branco, e as de arroz-vermelho e arroz-preto. Os respectivos padrões para produção e comercialização dos diferentes tipos de arroz, encontram-se no final deste tópico.
Cuidados na produção de sementes
O estabelecimento de campos de produção de sementes requer, além de planejamento criterioso, alguns cuidados especiais e imprescindíveis.
Origem da semente
A escolha da categoria de sementes depende da categoria a ser produzida, pois o plantio deverá ser sempre de uma categoria superior, de acordo com a legislação que estabelece o controle de geração para preservar a qualidade genética das sementes (Instrução Normativa nº 45, do Mapa, de 17 de setembro de 2013).
Podem ser produzidas as seguintes categorias: semente genética, semente básica, semente certificada de primeira geração – C1, semente certificada de segunda geração – C2, semente de primeira geração da certificada – S1 e semente de segunda geração da certificada – S2. A critério do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção de sementes das classes não certificadas S1 e S2, sem origem genética, pode ser feita, enquanto não houver tecnologia disponível para a produção de sua semente genética.
Com a criação da Lei de Proteção de Cultivares (LPC), o governo brasileiro deu o primeiro passo para assegurar os direitos dos obtentores de novas variedades vegetais, mediante a concessão de um certificado de proteção de cultivar.
São consideradas obtentoras as empresas públicas e privadas que desenvolvem programas de melhoramento vegetal e obtêm, como resultado final, uma nova cultivar. Cultivares protegidas são aquelas que, após a promulgação da lei, receberam o certificado de proteção.
Cultivares de domínio público são aquelas que foram lançadas anteriormente à nova legislação ou cujos direitos de proteção foram extintos. Antes da LPC, os produtores de sementes tinham livre acesso às cultivares para multiplicação. Após essa lei, a multiplicação de cultivares protegidas só é possível mediante a autorização de sua obtentora.
O lote de semente a ser multiplicada deve ser criteriosamente selecionado, atendendo aos seguintes aspectos:
- origem e classe conhecida;
- alta pureza genética;
- alta qualidade sanitária, ou seja, livre de doenças;
- boa qualidade fisiológica;
- livre de sementes de plantas daninhas; e
- livre de sementes de outras espécies e material inerte.
Escolha da área
Na escolha da área, deve-se analisar o seu histórico e considerar a cultura antecessora.
Entre os fatores a serem considerados, destacam-se os seguintes:
- Cultivo anterior: o campo não deve ter sido cultivado com a mesma espécie na safra anterior, exceto se for da mesma cultivar. Esse cuidado justifica-se pelo fato de que as sementes caídas ao solo sobrevivem de um ano para outro ou, às vezes, por mais de um ano, podendo ocasionar contaminação varietal. Outros problemas relacionados com a cultura anterior são as doenças e pragas, uma vez que seus restos culturais podem se constituir em fonte de contaminação para a cultura atual.
- Espécies silvestres: o conhecimento das plantas daninhas auxilia na escolha da área, pois se pode prever a dificuldade de seu controle, conforme o grau de infestação, e também da retirada das sementes nocivas e silvestres no processo de beneficiamento. Um exemplo é o caso da presença de arroz-vermelho ou preto, que pode comprometer a qualidade do campo para produção de sementes de arroz e levar à condenação de todo o lote de sementes.
Escolha da cultivar
A cultivar deve atender à recomendação técnico-científica. O produtor deve conhecer as características agronômicas mais favoráveis, pois o programa de melhoramento genético das empresas de pesquisa oferece aos produtores uma série de opções. Entre as características desejáveis de uma cultivar, destacam-se as seguintes: tolerância às doenças, principalmente brusone (Pyricularia grisea Sacc.) e mancha-de-grãos (Dreschslera sp., Phoma sp., Cercospora sp., Gerlachia sp., Curvularia sp., Fusarium sp., Nigrospora sp.); resistência ao acamamento; alta produtividade; boa qualidade industrial dos grãos; classificação comercial; e qualidade culinária, exigida pelos consumidores.
Semeadura
Época de semeadura
A época adequada de semeadura é determinada pelas condições climáticas favoráveis para uma boa produção, que, de modo geral, é idêntica à cultura destinada para fins comerciais. Os equipamentos usados na semeadura merecem cuidados prévios especiais na sua limpeza, para evitar a presença de sementes de outras espécies ou cultivares e, assim, preservar a pureza varietal do campo. A correta regulagem da semeadora e a adequada velocidade de semeadura são essenciais para uma distribuição homogênea das sementes e do adubo, o que propicia emergência e desenvolvimento uniformes das plantas. Menores espaçamentos determinam aumento de produtividade, mas elevam os riscos de doenças, acamamento e estresse hídrico no cultivo em terras altas.
Deve-se, portanto, seguir as recomendações estabelecidas para cada cultivar. O tratamento de sementes com os inseticidas e fungicidas recomendados é primordial, pois visa dar proteção às plantas durante a fase inicial de desenvolvimento.
Densidade de semeadura
Para produção de sementes certificadas (categoria C2), utilizam-se sementes da categoria básica ou certificada de primeira geração (C1). Nessas condições, recomenda-se utilizar baixas densidades de semeadura, de modo que cada planta resultante produza mais sementes.
Para cultivares de arroz irrigado que emitam muitos perfilhos, recomendam-se 100 kg/ha de sementes viáveis. Para cultivares que emitam poucos perfilhos, a densidade de semeadura deve ser aumentada.
Preparo do solo
No plantio convencional, o solo deve ser bem preparado para que as sementes tenham profundidade adequada para o desenvolvimento posterior das plantas, com reflexos na emergência e uniformidade do estande. Os sistemas de plantio utilizados para produção de sementes são o convencional, o plantio direto, o cultivo mínimo, o sistema pré-germinado e o de transplante de mudas.
Manejo da cultura
A adubação, os tratos culturais e a irrigação devem seguir as mesmas orientações dadas para uma lavoura de produção comercial.
Isolamento do campo
A contaminação de um lote de sementes caracteriza-se pela presença de sementes de plantas da mesma espécie, mas de outras cultivares, sementes de outras culturas, sementes de plantas silvestres e sementes que contenham agentes patogênicos. A contaminação de um lote de sementes pode ser de origem genética ou física.
A contaminação genética é decorrente da presença de plantas de outras cultivares, da mesma espécie ou de espécies similares, que podem polinizar a cultura, resultando na produção de sementes atípicas. Esse cruzamento altera a constituição genética do lote de sementes produzido, que deixa de ser representante da cultivar em produção. Dessa forma, é muito importante evitar as possibilidades de ocorrência de polinização cruzada no campo de produção de sementes. A forma mais simples para evitar que ocorra a polinização cruzada é promover o isolamento do campo de produção de sementes, que deverá ser, no mínimo, suficiente para manter o campo livre de polinização indesejada. O isolamento dos campos de produção de sementes pode ser realizado no espaço, no tempo, ou por meio da adoção de barreiras físicas à polinização.
Espaço
É o procedimento mais comumente empregado e o mais eficientemente aplicado pelo produtor de sementes, pois controla a distância do campo de produção de sementes de outras fontes de contaminação de pólen.
Para cultivares de arroz irrigado, o isolamento físico deve ser de, no mínimo, 3 m para cultivo em linha e 15 m para cultivo a lanço, tanto no plantio como na colheita. Com isso, evitam-se possíveis cruzamentos e preserva-se a qualidade genética. O isolamento minimiza a possibilidade de mistura na colheita em áreas contíguas de diferentes cultivares e, assim, preserva a qualidade física.
Época de semeadura
É o tipo de isolamento realizado de maneira que o florescimento de cada cultivar presente na área de produção de sementes ocorra em épocas diferentes. Para arroz, uma defasagem de 20 dias entre as cultivares é suficiente.
Barreiras
A distância mínima de isolamento pode ser reduzida se for realizada a semeadura de plantas de bordadura, que irão se constituir em barreiras vegetais.
Roguing - erradicação de plantas indesejáveis
Durante a fase de multiplicação do material genético, todo e qualquer indivíduo destoante da população, tais como plantas silvestres, plantas de outras cultivares e plantas atípicas, deverá ser eliminado (roguing) (Figura 1), como condição para a aprovação do campo de produção de sementes.
Roguing, chamado também de purificação ou erradicação, é o procedimento principal que diferencia um campo de produção de sementes de um de produção de grãos. Essa prática consiste num exame cuidadoso e sistemático do campo, com o objetivo de remover, manualmente, as plantas indesejáveis (Figura 1) e, assim, preservar a pureza genética, varietal e física. O conhecimento dos descritores da cultivar auxilia na identificação das plantas atípicas. Em algumas fases de desenvolvimento da cultura, o trabalho de erradicação dessas plantas é facilitado pela visualização das diferenciações físicas existentes entre as cultivares. Essa atividade, por ser manual, exige disponibilidade de mão de obra.
Fotos: Sérgio Vaz | |
Figura 1. Erradicação de plantas indesejáveis (roguing). |
Plantas atípicas
Plantas atípicas são aquelas que destoam das outras da mesma espécie por uma ou mais características, tais como tipo de planta, ramificações, hastes ou folhas pilosas, cor, forma, tamanho, etc. Essas plantas devem ser eliminadas dos campos de produção de sementes em qualquer época do seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo.
Plantas libertadoras de pólen
Todas as plantas indesejáveis da mesma espécie que possam polinizar por meio do cruzamento natural.
Plantas daninhas
Plantas que são difíceis de controlar pelas práticas culturais ou utilização de herbicidas.
Sementes inseparáveis
São aquelas consideradas de difícil separação por meio de equipamentos mecânicos.
Inspeções em campos de produção
As vistorias periódicas no campo de produção de sementes têm por finalidade proceder à comparação da qualidade do campo em relação aos padrões estabelecidos pelas normas (Instrução Normativa nº 45, do Mapa, de 17 de setembro de 2013).
O número de inspeções, para cada cultura, representa o mínimo aceitável, entretanto inspeções adicionais poderão ser executadas. Os períodos de inspeção devem ser realizados nas seguintes fases de desenvolvimento da cultura:
- Período de prefloração: compreende todo o período de desenvolvimento vegetativo que precede o florescimento das plantas. Para efeito de inspeção de campo, ele abrange desde a emergência das plântulas até o início do florescimento.
- Período de floração: este período é caracterizado pela fase em que as flores estão abertas, o estigma está receptivo, e a antera liberando pólen. Nessa fase, é possível identificar diferenças nas características agronômicas e morfológicas entre as plantas.
- Período de pós-floração: nesse período a receptividade do estigma e a liberação do grão de pólen das anteras terão cessado. O óvulo já deverá estar fertilizado e desenvolvendo-se em semente.
- Período de pré-colheita: nessa fase, a semente torna-se mais dura e alcança a maturidade fisiológica. Este é o período mais importante para a descontaminação, pois vários tipos de plantas indesejáveis e misturas varietais podem ser identificados facilmente.
- Período de colheita: nessa fase, a semente está fisiologicamente madura e suficientemente seca, permitindo uma colheita fácil e segura; ou, então, fisiologicamente madura e úmida, podendo, no entanto, ser colhida e seca artificialmente para armazenamento.
Cabe ressaltar que, no processo de certificação de sementes, é obrigatória a realização de, no mínimo, duas inspeções, que devem ocorrer nos períodos de floração e pré-colheita.
Classes e categorias de sementes
As sementes de arroz são identificadas, segundo o processo de produção, pelas seguintes classes: genética, básica, certificada (C) e não certificada (S). As classes são constituídas por categorias. Essas são unidades de classificação que consideram a origem genética, a qualidade e o número de gerações. Como exemplo, têm-se as sementes certificadas de primeira e segunda geração (C1 e C2) e as não certificadas de primeira e segunda geração (S1 e S2).
- Semente genética: material de reprodução obtido a partir de processo de melhoramento de plantas, sob responsabilidade e controle direto do seu obtentor ou introdutor, mantidas as suas características de identidade e pureza genética.
- Semente básica: material obtido de reprodução de semente genética, realizado de forma a garantir sua identidade genética e pureza varietal.
- Semente certificada de primeira geração (C1): material de reprodução vegetal resultante da reprodução de semente básica ou de semente genética.
- Semente certificada de segunda geração (C2): material de reprodução vegetal resultante da reprodução de semente genética, de semente básica ou de semente certificada de primeira geração (C1).
- Semente não certificada de primeira geração (S1): material de reprodução vegetal resultante de reprodução de semente genética, básica ou certificada das categorias C1 ou C2.
- Semente não certificada de segunda geração (S2): material de reprodução vegetal resultante da reprodução de semente não certificada S1.
- Semente para uso próprio: toda pessoa física ou jurídica que utiliza sementes com a finalidade de semeadura deverá adquiri-las de produtor ou comerciante inscrito no Registro Nacional de Sementes (Renasem). O usuário poderá, a cada safra, reservar parte da sua produção como “semente para uso próprio”, que deverá observar o que segue o Anexo XXXIII, da Instrução Normativa nº 9 do Mapa:
1º A semente reservada deverá ser utilizada apenas em sua propriedade ou em propriedade cuja posse detenha e exclusivamente em sua safra seguinte.
2º A quantidade de semente reservada deve ser compatível com a área a ser semeada na safra seguinte, observados os parâmetros da cultivar no RNC e a área destinada à semeadura, para cálculo da quantidade de sementes a ser reservada.
3º As sementes deverão ser provenientes de áreas inscritas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, quando se tratar de cultivar protegida.
Padrões para produção e comercialização de sementes de arroz
A Instrução Normativa nº 45, do Mapa, de 17 de setembro de 2013, trata dos padrões para produção e comercialização de sementes de arroz, os quais são relacionados nas Tabelas 1, 2 e 3.
Colheita de sementes do arroz
Entre as operações agrícolas que desempenham papel importante na produção de arroz, destaca-se a da colheita. Essa operação influencia tanto a quantidade como a qualidade da semente de arroz. A colheita deve ser realizada cuidadosamente para evitar misturas varietais e danos mecânicos às sementes. A atenção na limpeza da colhedora e de todos os equipamentos envolvidos na operação deve ser redobrada para prevenir misturas, principalmente quando ocorrer mudança de cultivares.
Quando as sementes chegam à Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), encontram-se, normalmente, encontram-se com teor de umidade que não permite o seu armazenamento. Com isso, deve-se proceder à secagem imediata. O armazenamento de sementes com elevado teor de umidade gera o aquecimento na massa de grãos, por meio da fermentação e do desenvolvimento de fungos, que irão comprometer a qualidade fisiológica das sementes.
Na cultura do arroz, vários são os fatores que afetam a produtividade das sementes, os rendimentos no processo de beneficiamento e a qualidade do produto, entre os quais se pode considerar como de especial importância o ponto de colheita.
O ponto ideal de colheita do arroz é determinado basicamente pelo aspecto da panícula, pela duração de estádios de desenvolvimento da cultura e pelo teor de umidade dos grãos. Admite-se que uma observação visual cuidadosa permite determinar com bastante precisão o momento mais favorável para a colheita. O maior rendimento é obtido quando, aproximadamente, os dois terços superiores da ráquis estão amarelecidos, ocorrendo o encurvamento da panícula.
O teor de umidade da semente adequado para se realizar a colheita do arroz está entre 18% e 27%. Se colhido com teor muito elevado, haverá sementes em formação. No entanto, se a colheita for realizada em condições de baixa umidade a qualidade fisiológica, a germinação e o vigor poderão ser afetados.
Para obter maior aproveitamento do ponto de colheita, alguns cuidados preliminares devem ser levados em consideração: não prolongar a permanência do arroz na lavoura; evitar a colheita em horas do dia em que houver orvalho ou em que a umidade do ar esteja elevada; colher em separado a semente de arroz cultivado nas taipas; seguir rigorosamente as normas técnicas.
Os danos mecânicos às sementes determinam perda da sua qualidade fisiológica. Assim, é muito importante uma correta regulagem da colhedora. A operação de colheita é realizada, geralmente, por diversos tipos de máquinas, desde as de pequeno porte tracionadas por trator, até as colhedoras automotrizes, dotadas de barra de corte de até 6 m de largura, as quais realizam, em sequência, as operações de corte, recolhimento, trilha e limpeza.
Pré-limpeza
As sementes quando colhidas podem apresentar no lote vários materiais indesejáveis, como material inerte, sementes de outras cultivares, de plantas invasoras, daninhas ou não e sementes fora do padrão. Quando a contaminação com esses materiais for além do desejável, é necessário realizar um procedimento de pré-limpeza. Esse procedimento consiste basicamente na remoção de materiais bem maiores, bem menores e bem mais leves do que a semente. Para essa operação, utiliza-se uma máquina de ar e peneira regulada a fim de obter alto rendimento nessa etapa do beneficiamento das sementes. Esse procedimento apresenta as seguintes vantagens: facilidade na secagem; redução do volume a ser armazenado; facilidade de transporte por elevadores; melhora nas condições de armazenagem.
Entre as atividades tidas como de pré-limpeza, em sementes de arroz, pode-se citar o emprego de equipamento denominado de desaristador, que pode eliminar o problema das aristas, quando a cultivar apresentar, como, por exemplo, a BRS Bojuru, para que não ocorra interferência no processo de beneficiamento.
Beneficiamento de sementes
Após a colheita, as sementes não estão em condições de serem comercializadas. Com isso, são encaminhadas à UBS para a retirada de impurezas, materiais indesejáveis, a fim de favorecer a secagem, o armazenamento, bem como padronizar as sementes para plantio.
É importante salientar que a qualidade de um lote de sementes é função direta das condições de produção, ou seja, a semente é feita no campo e não na UBS. Por mais eficiente que seja o beneficiamento, este não poderá corrigir problemas do processo que ocorreram anteriormente.
Em sua definição mais ampla, o beneficiamento refere-se a todas as etapas de preparação da semente para comercialização realizadas após a colheita, tais como debulha, pré-limpeza, secagem, limpeza, classificação, tratamento e embalagem. Durante o processo de beneficiamento, a semente é submetida a uma série de operações que tem início na recepção e culmina com a embalagem e distribuição. Nessa fase, objetiva-se a obtenção de uma semente com excelente qualidade.
As sementes são beneficiadas para remover o material indesejável, como sementes silvestres, material inerte, sementes de outras espécies cultivadas, sementes da espécie, porém fora do padrão do lote de sementes. Há uma grande variedade de equipamentos disponíveis para o beneficiamento, os quais podem ser desde uma simples peneira até equipamentos complexos como separadores eletrônicos baseados na diferença de cor e translucidez. Embora os equipamentos possuam diversos tipos e formas, todos têm em comum que suas separações são baseadas nas diferenças físicas entre as sementes e o material indesejável. Algumas máquinas separam as sementes da maioria do material indesejável, entretanto para que essa separação seja eficiente, é necessária a utilização de uma série de máquinas, cada uma removendo parte do material indesejável.
Principais objetivos do beneficiamento
- Separação: remoção da maioria do material inerte presente no lote.
- Mínimo de perda de sementes: durante o processo de beneficiamento, algumas sementes boas são removidas junto com o material indesejável em todas as operações do processo, porém essa perda de sementes necessita ser reduzida ao mínimo.
- Aumento da qualidade: a melhoria da qualidade não deve ser restrita à remoção de impurezas, mas também de sementes chochas, quebradas e danificadas por insetos.
- Mão de obra: realizar todo o processo com um número indispensável de pessoal, lembrando que a mão de obra em excesso significa aumento de custo de produção.
- Recepção: é o processo de caracterização e identificação dos lotes de sementes que são recebidos na UBS. Um lote pode ser definido como uma quantidade de sementes, identificada por letra ou número ou combinação dos dois, da qual cada porção é, dentro de tolerâncias permitidas, homogênea e uniforme para as informações contidas na identificação. Dessa forma, é indispensável manter a individualidade dos lotes, bem como proceder à caracterização desses, anotando, entre outras, as seguintes características no momento da recepção: abertura do lote; nome do produtor ou cooperante; local de produção; peso bruto; número do campo; data, espécie; cultivar; categoria; umidade; pureza. Esses acompanhamentos são necessários para possibilitar o monitoramento dos fatores que contribuem para a qualidade da semente que será destinada aos produtores.
Identificação dos lotes recebidos na Unidade de Beneficiamento de Sementes
A identificação compreende dos seguintes procedimentos:
- Registro de abertura do lote: deve ser efetuado para definir o momento a partir do qual a semente passa a existir fisicamente e assegurar a individualidade daquela quantidade de sementes que está chegando à UBS.
- Nome do produtor ou cooperante: sabe-se que a conduta do indivíduo, produtor ou cooperante, interfere na qualidade do acompanhamento da lavoura de produção.
- Local de produção: irá fornecer informações que possibilitam mapear as condições edafoclimáticas durante a produção.
- Peso bruto: informa que a balança está intimamente ligada à “caixa” da UBS, onde temos a entrada do produto.
- Número do campo: é proibido que haja na UBS sementes oriundas de campos que não foram previamente inscritos na Entidade certificadora, no caso o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
- Data de recepção: fornece informações quanto às condições ambientais durante a fase final de maturação e colheita das sementes.
- Indicação da espécie e cultivar: contribui para evitar ou minimizar as misturas varietais durante o manuseio das sementes na UBS.
- Categoria: a categoria deve ser anotada porque é possível que existam campos de uma mesma cultivar inscritos em diferentes categorias de produção de sementes.
- Teor de umidade: informa sobre os seguintes aspectos: necessidade de secagem, potencial de armazenagem antes do beneficiamento, suscetibilidade à danificação mecânica e desconto do teor de umidade a ser utilizado na compra do produto que estiver acima dos valores estabelecidos.
- Pureza física do lote: informará sobre os seguintes aspectos: perda no beneficiamento, máquinas a serem utilizadas e contaminação por sementes de plantas nocivas toleradas e proibidas.
Amostragem
O processo de amostragem se dá pela obtenção de uma fração de sementes, a qual irá representar todo o lote nos testes para avaliação de qualidade, tais como teor de umidade, pureza física e fisiológica. Considerando que o tamanho máximo do lote de arroz é de até 30 t, e que em média 1 g contém 40 sementes, então, no lote de tamanho máximo, há, aproximadamente, 1,2 milhão de sementes. Isso demonstra a importância da amostragem em arroz. Para efeito de análise de germinação, é utilizada uma amostra de 400 sementes puras, assim sendo cada uma dessas sementes deverá representar 3 milhões de sementes presentes no lote; o que demonstra a importância no processo de amostragem.
Além dos equipamentos exigidos nas Normas Específicas para Produção, Comercialização e Utilização de Sementes (Instrução Normativa nº 45 de 17 de setembro de 2013) definidas pelo Mapa, recomenda-se a utilização de equipamentos densimétricos, do tipo mesa de gravidade. De outra parte, sementes de qualidade, com ausência de sementes de qualquer espécie de invasoras, representam menor agressão ao meio ambiente, pela consequente redução no uso de herbicidas. A presença de arroz vermelho em quase toda a área cultivada com arroz irrigado, principalmente no estado do Rio Grande do Sul, tem sido a causa que mais contribui para redução da produtividade e é indiscutível que o uso de sementes contaminadas foi, e continua sendo, a razão maior da infestação das áreas de arroz por essa planta daninha. Sendo assim, deve-se optar pela utilização de sementes certificadas.
Cuidados fundamentais em uma Unidade de Beneficiamento de Sementes
Na operação de uma UBS, o momento da troca de cultivar a ser beneficiada requer cuidado fundamental. Nessa fase, qualquer descuido no processo de limpeza poderá comprometer todo o esforço despendido na produção de uma semente de qualidade, pela simples ocorrência de mistura de cultivares.
A redução do risco de ocorrência de misturas exige que vários fatores sejam considerados, tais como o número de cultivares a ser produzido, o período disponível entre a recepção das sementes e a comercialização dessas para a próxima safra, o número de pessoas disponíveis para a realização das tarefas de limpeza, bem como os equipamentos necessários para esse fim. Se o período entre a recepção das sementes para beneficiamento e comercialização é curto, recomenda-se trabalhar com número reduzido de espécies ou cultivares. Entretanto, se o período for longo, é possível aumentar o número de cultivares.
Na execução de um trabalho para a obtenção de sementes de qualidade, uma UBS deve possuir uma série de equipamentos, como balanças, caladores para retirada de amostras, determinadores de impurezas e umidade, além de compressores, aspirador e coletor de pó, os quais são essenciais no processo de limpeza de uma UBS.
Secagem de sementes
As condições de umidade relativa e temperatura do ar que ocorrem por ocasião da colheita do arroz irrigado exigem que se proceda à secagem artificial das sementes.
Após a pré-limpeza, as sementes deverão ser secas até a umidade adequada de 12% a 13% a fim de maximizar o período de conservação da qualidade fisiológica.
Nesse processo um dos fatores mais importantes a ser considerado é a temperatura de secagem. A temperatura das sementes não deve ultrapassar certos valores e o que define essa tolerância é o teor de água presente nas sementes. Em geral, sementes com elevado teor de água não suportam temperaturas elevadas na massa de sementes e, conforme o teor de água vai diminuindo essa tolerância passa a ser maior. Sementes de arroz com umidade acima de 18 % não devem ser submetidas a temperaturas na massa superiores a 35 °C e conforme a umidade diminui essa temperatura pode ser elevada até um limite de 38 °C a 39 °C, a fim de não comprometer a qualidade fisiológica das sementes. A relação entre a temperatura da massa de sementes e da entrada de ar deve ser variável entre os equipamentos de secagem, sendo necessária então a realização de um ajuste em cada secador.
Para realização da secagem existem diversos métodos, os quais podem ser divididos em naturais e artificiais, esses últimos, em função da movimentação da massa de sementes, em estacionário, contínuo e intermitente.
Secagem natural
As sementes dispostas em camadas de espessura variável são secas pela ação do calor do sol e do vento. Esse método de secagem é dependente de condições ambientais favoráveis, especialmente reduzida umidade do ar. É mais utilizada em pequenas propriedades. Entretanto, a secagem natural é insuficiente para uma redução completa da umidade das sementes, sendo necessária uma secagem complementar utilizando métodos artificiais.
Secagem artificial
No processo de secagem artificial pode se ter diferentes fontes de energia para o aquecimento do ar, desde a solar até a elétrica. O que caracteriza o método é que nesse processo a secagem é executada com o auxílio de aparelhos mecânicos, elétricos ou eletrônicos, como o aquecimento do ar, a insuflação na massa de sementes e, em alguns casos, a movimentação das sementes. As sementes expostas ao ar de secagem podem permanecer paradas, em movimento contínuo ou alternando fases de movimentação rápida com fases de movimentação lenta ou até paradas, o que resulta em três tipos de secagem artificial. Em função da movimentação da massa de sementes, a secagem artificial pode ser um processo estacionário, contínuo e intermitente.
Secagem estacionária
Nesse processo, uma determinada quantidade de sementes é colocada na câmara de secagem e aí permanece até que o teor de umidade desejado seja atingido; então essas sementes são removidas e substituídas por outras. Independentemente da sua capacidade, o sistema de secagem estacionário é composto pelas seguintes partes: fonte de aquecimento, a qual pode ser de diversas origens, e um ventilador para insuflar o ar aquecido na massa de sementes.
O ar aquecido (Tabela 4) e insuflado pelo ventilador caracteriza-se por ter uma temperatura superior à do ambiente e umidade relativa baixa e, ao passar pela semente faz com que a água contida nos seus tecidos se evapore. Assim, à medida que o ar se afasta do ponto de entrada da massa de sementes, fica mais úmido e mais frio, reduzindo a capacidade de secagem. Durante o processo de secagem ocorre a formação de uma frente de secagem, a qual vai avançando à medida que o ar seco vai atravessando a camada de sementes. Se essa for muito espessa, a frente demorará muito tempo para atravessá-la e teremos uma situação em que as sementes de cima não serão secas o suficiente e as de baixo passarão por um processo de supersecagem. O deslocamento da frente de secagem é determinado pelo fluxo de ar que atravessa a massa de sementes, o qual é determinado pela potência do ventilador e pela resistência da massa de sementes.
Outros fatores na resistência oferecidos pela massa de sementes à passagem do ar são mais fáceis de identificar e solucionar, entre os quais podem ser citados os seguintes: tamanho, forma, teor de água e espessura da camada de sementes.
Secagem contínua
Nesse tipo de secador as sementes entram com um determinado teor de água e devem sair na outra extremidade com o teor de água que se deseja e com a temperatura a mais próxima do ambiente. Na prática, é frequente a passagem das sementes pela câmara de secagem mais de uma vez (atuando como secador do tipo intermitente), quando o teor de umidade inicial está acima de 18% a 20% para evitar danos fisiológicos às sementes pelo prolongado contato com o ar aquecido, o qual é necessário para reduzir a umidade até os níveis necessários para o armazenamento. O mais adequado seria regular o fluxo de sementes para que não fosse necessária a passagem de mais de uma vez pela câmara de secagem. Se essa providência aumentar o tempo de contato das sementes com o ar aquecido e houver risco de supersecagem, a alternativa é aumentar a vazão do ar a ser insuflado na massa.
Secagem intermitente
Nesse tipo de secagem, as sementes passam várias vezes pela câmara de secagem e resfriamento. A cada passagem pela câmara de secagem (Tabela 4), as sementes perdem certa quantidade de água até que atinjam o teor que se deseja. Essa alternância entre as câmaras de secagem e resfriamento é feita de modo que a passagem pela câmara de secagem seja rápida e pela câmara de resfriamento seja lenta. A relação entre os dois períodos é chamada de relação de intermitência (Tabela 5). Isso é feito para que a água que está no interior da semente tenha tempo de migrar para as regiões periféricas e ser evaporada na próxima passagem pela câmara de secagem. É a secagem mais utilizada em espécies que tenham problema de sofrer dano mecânico pela movimentação das sementes, como é o caso do arroz.
Após a secagem, é realizada a limpeza, que é um processo de separação, por meio de máquinas, de materiais com características físicas semelhantes entre si. As características principais utilizadas para a separação das sementes são tamanho (largura, comprimento e espessura), massa e peso específico.
Tabela 4. Limites de temperatura do ar de secagem (°C) na entrada do secador para diferentes sistemas de secagem de sementes de arroz irrigado. |
* Não é recomendável a secagem de sementes em sistema contínuo. |
Tabela 5. Controles operacionais e limites de temperaturas do para secagem intermitente de sementes de arroz irrigado |
Armazenamento
Compreende o período, após o beneficiamento, em que as sementes permanecem no armazém até a época adequada para a sua comercialização ou semeadura. Se os devidos cuidados no processo de armazenagem não forem seguidos, a qualidade das sementes pode ser comprometida. O adequado armazenamento de sementes requer baixa temperatura e baixa umidade. Os armazéns devem ser ventilados e as sacarias dispostas sobre estrados de madeira para evitar o contato direto com o piso. Por serem higroscópicas, as sementes absorvem umidade do ar atmosférico, por isso, em locais de clima úmido, a armazenagem deve ser mais cuidadosa. Em caso de infestação por insetos durante o período de armazenamento, deve-se fazer o expurgo com produtos à base de fosfina, que não interferem na germinação das sementes.
Para análise, a validade dos testes para germinação é de 10 meses e para reanálise de 8 meses, excluído o mês em que o teste de germinação foi concluído.