Sistema de cultivo

Conteúdo migrado na íntegra em: 19/10/2021

Autor

Alberto Baeta dos Santos - Embrapa Arroz e Feijão

 

O arroz é considerado o produto de maior importância econômica em muitos países em desenvolvimento, constituindo alimento básico para cerca de 2,4 bilhões de pessoas. É uma cultura que apresenta grande capacidade de se adaptar a diferentes condições de solo e clima. Cultivado e consumido em todos os continentes, o arroz se destaca pela produção e área de cultivo, desempenhando papel estratégico tanto em nível econômico quanto social para os povos das nações mais populosas da Ásia, África e América Latina. Comparado com as demais culturas, o arroz se destaca em segundo lugar em extensão de área cultivada e é superado apenas pelo trigo. 

 

Ecossistemas

São considerados dois grandes ecossistemas para a cultura, que são o de várzeas e o de terras altas, englobando todos os sistemas de cultivo de arroz no País, sendo os principais o irrigado por inundação e o de terras altas. Este último é caracterizado pela condição aeróbica de desenvolvimento da raiz da planta, ao passo que, sob condições de solo inundado, a consequente criação de uma condição anaeróbica implica uma série de transformações que influenciam não só o desenvolvimento da planta de arroz como também a absorção de nutrientes e o manejo do solo.

Ecossistema várzeas

A maior parcela da produção de arroz do Brasil é proveniente do ecossistema várzeas, onde a orizicultura irrigada é responsável por 75% da produção nacional, sendo considerada um estabilizador da safra nacional, uma vez que não é tão dependente das condições climáticas como no cultivo de sequeiro.

Na região subtropical do Brasil, na qual se localizam os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, nas últimas safras, foram cultivados cerca de 1,3 milhão de hectares de arroz irrigado por ano. Esses dois estados contribuíram com mais de 63% para a formação do estoque nacional de arroz, algo ao redor de 12,5 milhões de toneladas.

A orizicultura gaúcha caracteriza-se pela predominância do cultivo irrigado extensivo, dentro de um sistema empresarial, exercido principalmente por grandes e médios produtores, onde é tradicionalmente conduzida em rotação com pastagem. Além do sistema tradicional de cultivo, são empregados o cultivo mínimo, o plantio direto e o pré-germinado. No Rio Grande do Sul, o arroz irrigado é cultivado nas seguintes regiões: Fronteira Oeste, Depressão Central (Figura 1), Campanha, Sul, Costa Externa da Lagoa dos Patos e Costa Interna da Lagoa dos Patos.

 
Foto: José Francisco da Silva Martins
Figura 1. Vista geral de lavouras de arroz irrigado na região da Depressão Central do estado do Rio Grande do Sul, município de Agudo.

 

 

O cultivo no estado de Santa Catarina concentra-se no baixo e médio Vale do Itajaí e no litoral norte, ocupando o segundo lugar na produção de arroz irrigado. Contrária à orizicultura gaúcha, a catarinense caracteriza-se pela presença de pequenas propriedades e pelo sistema de plantio com sementes pré-germinadas (98%), que apresenta as seguintes vantagens: permite o preparo do solo e a semeadura mesmo em dias chuvosos; controle do arroz vermelho; menor requerimento de herbicidas devido ao melhor controle das plantas daninhas; maior eficiência no uso de máquinas; e redução dos tratos culturais pela sistematização e nivelamento do solo.

Na região tropical (Figura 2), a área cultivada com arroz irrigado é ao redor de 13% apenas, o que proporciona cerca de 11% da produção total brasileira nesse ecossistema. A planície sedimentar da Bacia do Araguaia, no Tocantins, ocupa cerca de 1,2 milhão de hectares. O Vale do Araguaia constitui uma das regiões mais promissoras para a expansão da orizicultura brasileira, com condições para atendimento do mercado das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. O cultivo da soca tem se mostrado como uma das alternativas viáveis para aumentar a produtividade de grãos na região tropical. Nos perímetros irrigados da região Nordeste, são empregados os sistemas de plantio com semente seca, pré-germinada e o transplantio (Figura 3).

 
Foto: Alberto Baêta dos Santos
Figura 2. Cultivo de arroz irrigado na região tropical, município de Lagoa da Confusão, no Tocantins.

 

Foto: Alberto Baêta dos Santos
Figura 3. Cultivo de arroz irrigado por transplantio na vazante do Açude de Orós, no Ceará.

 

Ecossistemas terras altas

No sistema de terras altas, o arroz pode ser cultivado com irrigação suplementar por aspersão (Figura 4) ou sem irrigação (Figura 5), ou seja, a disponibilidade de água para a cultura é totalmente dependente da ocorrência de chuva. O sistema de cultivo de arroz com irrigação por aspersão caracteriza-se pelo intenso uso do solo, com rotação de culturas e elevado uso de tecnologia. Os plantios feitos na estação chuvosa, durante os meses de outubro a maio, fazem uso da irrigação de forma suplementar. No início do período “das águas”, a ocorrência de chuva é incerta e, em janeiro e fevereiro, podem acontecer períodos de estiagem, denominados veranicos.
 
Foto: Sebastião Araújo
Figura 4. Cultivo de arroz de terras altas com irrigação por aspersão.

 

Foto: Emílio da Maia de Castro
Figura 5. Cultivo de arroz de sequeiro sem irrigação.