Cultivar

Conteúdo migrado na íntegra em: 29/09/2021

Autores

Orlando Peixoto de Morais - in memoriam

Adriano Pereira de Castro - Embrapa Arroz e Feijão

Flávia Barbosa Silva Botelho - Universidade Federal de Lavras

 

As características agronômicas e fenológicas das cultivares de arroz de terras altas constam na relação desse sistema de cultivo, em Cultivares, na Pré-produção.

As cultivares de arroz de terras altas indicadas para cada estado, registradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) e habilitadas para cultivo em 2020-2021, são apresentadas na Tabela 1.

 

Descrição das cultivares de arroz de terras altas

São apresentadas, a seguir, algumas características agronômicas das principais cultivares de arroz de terras altas em utilização nas lavouras. São considerados os últimos lançamentos da pesquisa, e a descrição baseia-se, fundamentalmente, em informações fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. 

 

BRS A502

As principais características da cultivar BRS A502 são a elevada resistência ao acamamento, ciclo médio, alto potencial produtivo e grãos de excelente qualidade industrial e culinária. Pode ser utilizada em diversas condições de cultivo, incluindo a rotação e a sucessão de culturas em áreas sob agricultura intensiva, principalmente a soja. A nova cultivar também demonstrou excelente desempenho em áreas irrigadas sob pivô central. É adaptada a sistemas produtivos de semeadura direta ou convencional.

A nova cultivar têm desempenho destacado quanto à resistência ao acamamento, característica fundamental para a obtenção de um produto de boa qualidade industrial. A altura média de plantas da 'BRS A502' é de 98 cm, mais baixa que as principais concorrentes, tornando-a menos propensa ao acamamento. Outra característica da cultivar, também correlacionada com a maior resistência ao acamamento, é a persistência da coloração verde das folhas ou senescência tardia (stay green), na fase de maturação de grãos.

Possui produtividade média de grãos de 4.025 kg/ha, com potencial produtivo de 9.075 kg/ha (ensaios de valor de cultivo e uso – VCU). Possui ciclo médio com floração média de 76 dias. Em relação à resistência a doenças, a 'BRS A502' apresenta baixa incidência de brusone nas folhas e nas panículas, escaldadura das folhas e da mancha de grãos. Quanto à mancha-parda, a cultivar mostrou-se moderadamente suscetível, recomendando-se a aplicação de fungicidas como uma estratégia complementar de controle.

A cultivar BRS A502 apresenta potencial de rendimento máximo de grãos inteiros com a colheita realizada entre 20% e 22% de umidade (chegando a 68% de inteiros). Mesmo em colheitas realizadas com a umidade dos grãos entre 15% e 25%, o rendimento de grãos inteiros é muito alto e sempre superior às cultivares concorrentes.

Os grãos beneficiados da 'BRS A502' são da classe longo-fino, têm aparência translúcida, com baixa intensidade de grãos gessados. Os testes de panela demonstram que os grãos, ao serem cozidos, apresentam-se soltos e macios, como exigido pelo consumidor brasileiro.

 

BRS A501 CL

A 'BRS A501 CL', desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Basf, é a primeira cultivar de arroz de terras altas não transgênica com resistência ao herbicida de ação total do grupo químico das imidazolinonas.

Destaca-se por apresentar ciclo médio, com a floração média aos 77 dias, boa sanidade geral a doenças, elevada estabilidade de grãos inteiros no beneficiamento e produtividade média de grãos em torno de 4.000 kg/ha, podendo atingir até 8.000 kg/ha.

A nova cultivar apresenta baixa incidência de brusone, nas folhas e nas panículas, de escaldadura das folhas, de mancha-parda e de mancha de grãos, classificando-se como moderadamente resistente. Entretanto, recomenda-se o controle químico preventivo como estratégia complementar de controle da brusone, protegendo o potencial produtivo da cultivar.

A 'BRS A501 CL' apresenta elevado rendimento de grãos inteiros (65%) e renda total (73%), aspectos muito importantes na comercialização do produto colhido. Outra característica de grande importância para o produtor é a estabilidade de rendimento de grãos inteiros, em razão da época de colheita. A cultivar BRS A501 CL apresentou rendimento de grãos inteiros nunca inferior a 60%, quando realizadas colheitas em cinco épocas, espaçadas em 7 dias, entre 25 e 53 dias após a floração média. Isso permite que a cultivar seja colhida com diferentes teores de umidade nos grãos, sem afetar substancialmente o rendimento dos grãos inteiros, aumentando a janela de colheita para o agricultor. O pico do rendimento de inteiros é atingido quando a umidade dos grãos estiver entre 19% e 22%.

Os grãos beneficiados são da classe longo fino, com baixa intensidade de grãos gessados e aparência translúcida. Apresenta teor intermediário de amilose e alta temperatura de gelatinização, resultando em grãos soltos após a cocção.

 

BRS Esmeralda

A 'BRS Esmeralda' possui como principais características a alta produtividade, boa sanidade geral a doenças, possui plantas vigorosas com boa arquitetura e senescência tardia (stay green). Seus grãos são longo-finos e apresentam ótima qualidade de cocção.

A 'BRS Esmeralda' é uma cultivar de ampla adaptação e estabilidade de cultivo nas principais regiões produtoras do Brasil, apresentando tolerância a veranicos superior às demais cultivares do mercado. A Embrapa recomenda observar sempre o zoneamento agroclimático da cultura (SILVA et al., 2013). Destaca-se pela alta produtividade com potencial produtivo de 7.525 kg/ha.

É moderadamente resistente às principais doenças e possui maior tolerância ao estresse hídrico e bom stay green, o que lhe confere moderada resistência ao acamamento.

A 'BRS Esmeralda' tem seus grãos classificados como longo-finos, com boa qualidade de cocção (panela) e período de maturação pós-colheita curto, ou seja, após 30 dias. Após o cozimento, os grãos se apresentam soltos e macios.

 

BRSGO Serra Dourada

É uma cultivar de arroz especialmente desenvolvida para sistemas agrícolas com uso menos intenso de tecnologias e em pequenas propriedades. Fruto de uma parceria entre Embrapa, Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) e Universidade Federal de Goiás (UFG), destaca-se pela qualidade de grãos e moderada resistência à brusone.

Possui alto rendimento de grãos inteiros, baixa ocorrência de gessamento e grãos soltos e secos após a cocção. 

 

BRSMG 355

Cultivar desenvolvida pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e Embrapa. Destaca-se pela precocidade, com ciclo total de aproximadamente 95 dias. Tem elevado potencial produtivo, boa qualidade industrial e culinária de grãos, resistência moderada ao acamamento e às principais doenças do arroz.

O alto potencial produtivo e o ciclo curto demonstram a grande eficiência na conversão de energia e nutrientes em grãos, tornando-se uma excelente opção para os produtores de arroz de sequeiro e irrigado por aspersão.

Apresenta produtividade média de 3.620 kg/ha, superando nos ensaios estimativas obtidas por cultivares recomendadas no estado de Minas Gerais, como 'BRSMG Curinga' e 'BRSMG Conai'.

O teor de amilose intermediário (24,60%) e a temperatura de gelatinização intermediária (nota 4,2) conferem aos grãos da 'BRSMG 355' boa soltabilidade e maciez após o cozimento. Possui grãos do tipo agulhinha, preferidos e valorizados no mercado, além disso mantém alto rendimento de grãos inteiros no beneficiamento (58,8%).

 

BRS Pepita

É precoce e se caracteriza pela alta produtividade, plantas vigorosas e arquitetura de planta intermediária em relação à moderna e à tradicional. Seus grãos são de boa qualidade após a cocção. É de ampla adaptação aos ambientes de cultivo com indicação de plantio para o Centro-Oeste, Norte, Meio-Norte, além de Minas Gerais. Em áreas sujeitas à brusone, não dispensa, contudo, controle químico preventivo.

Apresenta grande vigor inicial, altura mediana e é bastante eficiente nos sistemas de renovação de pastagens e de integração lavoura-pecuária, onde a competição com as forrageiras é intensa. Pode ser também empregada na agricultura familiar, por ter característica de plantas favoráveis à colheita manual. Oferece mais segurança ao agricultor quando comparada à 'BRS Primavera', devido à maior resistência ao acamamento, menor suscetibilidade à brusone e maior rendimento de grãos inteiros.

 

BRS Sertaneja

De ciclo médio, caracteriza-se por possuir plantas vigorosas, de porte médio, moderadamente perfilhadora, moderadamente suscetível ao acamamento. De ampla adaptação, pode ser cultivada em todas as regiões orizícolas do estado de Mato Grosso. Especialmente em plantios de final de estação, é moderadamente suscetível à brusone no pescoço. Suas panículas são longas, com elevado número de grãos. O rendimento de grãos inteiros no beneficiamento é alto e estável, e os grãos beneficiados são translúcidos. Após a cocção, os grãos mostram-se soltos, enxutos e macios, de acordo com as exigências do mercado brasileiro.

 

BRSMG Caravera

A 'BRSMG Caravera' é uma cultivar de tipo moderno, com folhas eretas, de bom perfilhamento, de porte baixo e com boa resistência ao acamamento. Possui resistência moderada à brusone foliar, à mancha-parda, à mancha de grãos e à escaldadura; entretanto, é moderadamente suscetível à brusone da panícula, recomendando-se a pulverização preventiva com fungicidas.  

A 'BRSMG Caravera' possui grãos do tipo longo-fino. O rendimento de grãos inteiros, que, na média, é de 50,3%, é considerado razoável, entretanto pode ser melhorado quando a colheita é realizada com umidade adequada (20% a 23%). Outra característica importante é a qualidade culinária, que lhe confere excelente qualidade de cocção.

O potencial produtivo da 'BRSMG Caravera' é de 4.655 kg/ha. Possui ciclo de aproximadamente 110 dias.

 

BRSMG Relâmpago

Cultivar com boa sanidade geral às doenças, sendo moderadamente resistente à brusone foliar, à mancha-parda, à mancha de grãos e à escaldadura. Classificada como moderadamente suscetível à brusone de pescoço, recomenda-se o controle químico preventivo.

Em relação à qualidade de grãos, possui bom rendimento de grãos inteiros desde que a colheita seja realizada com 20% a 23% de umidade. Os grãos são translúcidos e, após a cocção, apresentam-se soltos, macios e enxutos.

A cultivar BRSMG Relâmpago possui alto potencial produtivo, com 4.232 kg/ha. A cultivar pertence ao grupo moderno, com folhas eretas, perfilhadora, mas moderadamente suscetível ao acamamento. Com ciclo de aproximadamente 109 dias, é considerada de ciclo médio.

 

BRSMG Curinga

A 'BRSMG Curinga' se destaca pela alta produtividade, podendo ser cultivada nas condições de terras altas e de várzea úmida ou drenada. Em relação à qualidade de grãos, apresenta boa qualidade culinária, os grãos ficam soltos e macios após o cozimento. Essa característica é conferida, principalmente, por valores intermediários de amilose e de temperatura de gelatinização. Além disso, possui alto rendimento de grãos inteiros. De porte baixo, é considerada moderadamente resistente ao acamamento.  

 

BRSMG Conai

A 'BRSMG Conai' é oriunda do cruzamento entre as cultivares Confiança e Aimoré, em que se procurou reunir em uma só cultivar as características de precocidade da Aimoré com a qualidade de grãos da 'Confiança'. A 'BRSMG Conai' se destaca pela precocidade e pelo alto potencial produtivo, tornando-se uma excelente opção para os produtores de arroz de sequeiro do estado de Minas Gerais. Possui produtividade de grãos superior ao das cultivares Carisma e Canastra.

Em relação à qualidade de grãos, após o cozimento, os grãos se apresentam soltos e macios. 

 

Carisma

A 'Carisma' é indicada para cultivo no estado de Minas Gerais em condições de sequeiro tradicional e irrigado por aspersão. Foi lançada em 1999, como nova cultivar para esses dois sistemas de plantio.

Apesar de ser uma cultivar de terras altas, apresenta plantas do tipo moderno (com alguma semelhança com as cultivares de várzeas), ou seja, com folhas estreitas, curtas e eretas, porte intermediário (92 cm), perfilhadora e moderadamente resistente ao acamamento. Seu ciclo é de, aproximadamente, 125 dias. Apresenta resistência moderada às principais doenças fúngicas do arroz: brusone, escaldadura foliar e mancha de grãos.

A cultivar Carisma possui alto potencial de produtividade de grãos (3.900 kg/ha). Além disso, demonstrou ser tolerante ao estresse por deficiência hídrica.

A 'Carisma' possui grãos classificados como dos tipos longo-fino ou agulhinha, os mais procurados e os mais valorizados pelo mercado brasileiro. A 'Carisma' foi a terceira cultivar lançada e recomendada para Minas Gerais com grãos agulhinha, tendo como antecessoras as cultivares Canastra e Confiança.

 

BRS Primavera

A BRS Primavera se destaca pelo bom desempenho produtivo, classe de grãos longo-fino e excelente qualidade culinária, com grãos soltos, macios e saborosos, após o cozimento. Essas características habilitaram-na para ser recomendada como nova cultivar apropriada ao cultivo em terras altas em diversos estados do Brasil.

A arquitetura de planta da BRS Primavera é do tipo tradicional, com porte intermediário (média de 100 cm), perfilhamento médio e baixa resistência ao acamamento (uma de suas deficiências), sobretudo em solos de boa fertilidade, ou quando o agricultor usa alta tecnologia, como doses elevadas de fertilizantes, associadas à irrigação suplementar. Seu ciclo é de, aproximadamente, 100 dias. É suscetível à brusone e mostra resistência moderada à escaldadura foliar e à mancha de grãos.

A média de produção de grãos da 'BRS Primavera' é de 3.482 kg/ha.

Deve-se ressaltar que a Primavera é bastante exigente quanto ao ponto de colheita, devendo ser colhida com umidade dos grãos entre 20% e 24%. O atraso da colheita pode aumentar o percentual de grãos quebrados no beneficiamento, o que constitui um de seus principais defeitos.

 

Confiança

A 'Confiança' se destaca pelo seu bom desempenho produtivo, aliado à boa qualidade de grãos. Essas características permitiram o seu lançamento em 1996 para cultivo em sequeiro tradicional e sob irrigação por aspersão em todo o estado de Minas Gerais.

A Confiança é uma cultivar de ciclo médio (140 dias para maturação) e apresenta grãos característicos de casca dourada, classificados como do tipo longo-fino. Possui rendimento de grãos inteiros no beneficiamento superior a 60%. Esta cultivar exibe porte em torno de 90 cm. Sua menor altura de plantas confere-lhe maior resistência ao acamamento, característica de grande importância, sobretudo para o cultivo sob pivô central, o que expõe as plantas de arroz a maiores riscos de tombamento.

A cultivar Confiança possui teor de amilose intermediário (próximo a 25%) e temperatura de gelatinização, também, intermediária (índice 4,0), conferindo-lhe excelente qualidade de panela. Essa alta qualidade de grãos da pode proporcionar a essa cultivar melhor remuneração na comercialização, compensando, assim, a menor produção de grãos.

 

Canastra

A cultivar Canastra foi lançada em Minas Gerais em 1996 para plantio em condições de sequeiro tradicional e sob pivô central.

No sistema de sequeiro tradicional, a cultivar Canastra apresentou produtividade semelhante à das cultivares Guarani e Douradão, que são precoces. Por sua vez, superou a 'Caiapó', que é de ciclo médio, em 17%. Cabe esclarecer que, em Minas Gerais, as cultivares precoces tendem a produzir mais que as de ciclo médio, em virtude de serem mais favorecidas pela distribuição de chuvas (SOARES,1992). Isso mostra o bom desempenho da ‘Canastra’, que, mesmo sendo de ciclo mais tardio (134 dias), foi tão eficiente quanto as testemunhas precoces. No sistema irrigado por aspersão, a 'Canastra' destacou-se como a mais produtiva (3.063 kg/ha), confirmando o seu bom desempenho em ambos os sistemas de cultivo.

Ainda hoje, é expressiva a área plantada com a cultivar Canastra no estado, devido ao seu alto potencial produtivo, sua adaptabilidade e estabilidade de comportamento nos diversos ambientes das lavouras de terras altas, além da tolerância às principais doenças fúngicas e da boa qualidade industrial e culinária dos grãos.