Manejo do solo

Conteúdo migrado na íntegra em: 29/09/2021

Autor

Jose Geraldo da Silva - Embrapa Arroz e Feijão

 

No sistema de plantio convencional (SPC) do arroz de terras altas, a operação de preparo do solo é realizada para propiciar condições satisfatórias para as fases de semeadura, germinação das sementes, emergência das plântulas, desenvolvimento e produção das plantas; bem como para eliminar plantas daninhas, controlar a erosão e descompactar o solo. Existem diversos equipamentos agrícolas, que preparam o solo numa só ou em várias operações. Geralmente, o preparo do solo é realizado com diferentes combinações de equipamentos ou sistemas de preparo, que resultam em diferentes consumos de energia. Na escolha de um sistema de preparo do solo para a cultura do arroz, além dos gastos com combustíveis, devem ser considerados os fatores relacionados à qualidade do preparo, à conservação do solo e ao tempo demandado.

No sistema de plantio direto (SPD), a operação de preparo do solo consiste no controle químico das plantas daninhas com herbicidas e no manejo da palha com máquinas roçadoras e rolo facas. A semeadura é realizada diretamente no solo não revolvido, por meio de semeadoras especiais.

 

Época de preparar o solo

O preparo do solo deve ser feito no ponto de friabilidade, ou seja, no momento em que possuir um certo teor de água que o deixa moldado após ser comprimido com as mãos e esboroado, após cessar a força de compressão. Quando a operação de preparo é feita em solo muito úmido, ocorre dano na estrutura do solo e a sua aderência nas peças dos implementos, o que pode inviabilizar a operação. Por sua vez, o preparo de solo muito seco resulta em muitos torrões que demandam mais operações para fracioná-los, mais gastos com combustível e tempo de trabalho.

A época de preparo do solo pode variar de acordo com os objetivos da operação. Se o objetivo principal for o controle de plantas daninhas ou a incorporação de resíduos vegetais, o preparo pode ser realizado com bastante antecedência em relação à semeadura. Nesse caso, a aração deve ser feita após a última colheita; e a gradagem leve, imediatamente antes da semeadura da nova cultura. Pode-se também incorporar o material vegetal no solo com grade aradora e realizar a aração depois de 10 dias. A aração deve anteceder o plantio em pelo menos 20 dias para permitir a decomposição dos restos vegetais. A gradagem leve, de nivelamento final do solo, deve ser feita próxima da semeadura.

No sistema de plantio direto, a preparação do solo, feita com a dessecação química da vegetação existente na área, deve ser realizada próxima da semeadura, podendo ser feita antes ou depois.

 

Equipamentos de preparo do solo

Arado de aiveca

É o mais antigo implemento fabricado para a realização do preparo do solo. A aiveca é a peça que identifica esse tipo de arado e ela serve para inverter a leiva do solo. A leiva é cortada por outra peça denominada de relha. Portanto, a relha corta e a aiveca inverte a leiva de solo e incorpora os restos vegetais. Nas condições normais de trabalho, o arado de aiveca apresenta vantagens sobre os demais arados, pelo fato de realizar o tombamento das leivas do solo com maior eficiência, o que proporciona melhor incorporação dos resíduos de colheita e melhor controle das plantas daninhas, além de exigir menor esforço de tração, pois é mais leve que os demais.

Existem aivecas específicas para cada situação, dependendo do tipo, da umidade e do grau de tombamento do solo. Assim, para solos pesados é recomendada a aiveca “rompedora”, caracterizada por ser mais comprida, estreita, de pouca curvatura e grande facilidade de penetração; para solos leves, a “pulverizadora”, que é mais curta, larga, com grande curvatura e baixa capacidade de penetração. A aiveca “recortada” é mais indicada para solos pegajosos. Comumente, a aiveca mais encontrada no mercado é a de “uso geral”, com dimensões intermediárias entre a “rompedora" e a "pulverizadora". São comuns os arados fixos e também os reversíveis, de uma a quatro aivecas, que trabalham na profundidade de 20 cm a 40 cm e na largura de corte de 20 cm a 200 cm. Apesar das características favoráveis desse implemento, ele possui limitações de uso, não sendo recomendado para solos pedregosos, turfosos, arenosos, pegajosos e recém-desmatado.

Arado de disco

Surgiu como alternativa ao arado de aiveca e teve como ponto de partida a grade de disco. É um implemento de preparo de solo que apresenta facilidade de operação e de adaptação às condições variadas de solos. Serve para solos secos, duros, pegajosos, com raízes e cascalhos. Apesar do movimento giratório e da disposição dos discos no chassi, esse tipo de arado requer peso para penetrar no solo e cortar a vegetação, já o arado de aiveca penetra no solo por causa da conformação de suas peças ativas. Além disso, o arado de disco não realiza o tombamento da leiva e a incorporação dos restos culturais com a mesma qualidade proporcionada pelo arado de aiveca. Em geral, os arados de discos podem ser providos de um a seis discos, lisos ou recortados, fixos ou reversíveis, com diâmetro aproximado de 61 cm a 81 cm e preparar o solo de 5 cm a 40 cm de profundidade com largura de corte por disco de 15 cm a 40 cm. O diâmetro do disco relaciona-se com o solo no qual o arado vai ser usado. Sob esse aspecto, Seguy et al. (1984) fazem recomendações de uso para o arado de acordo com o diâmetro do disco (Tabela1). 

 

Tabela 1. Recomendação de uso para o arado de acordo com o diâmetro do disco. 
Fonte: Seguy et al. (1984)

 

Grade aradora

A grade aradora realiza a aração e a gradagem na mesma operação. Os seus discos são montados em dois eixos, dispostos em ângulo com o sentido da operação. As grades possuem uma estrutura pesada, necessária à penetração dos discos no solo. As grades pesadas possuem mais de 130 kg de massa sobre cada disco; e as grades intermediárias ou médias, de 50 kg a 130 kg. Normalmente a grade opera no solo superficialmente, incorporando parcialmente os resíduos orgânicos e as sementes de plantas daninhas.

A profundidade de penetração no solo depende do peso da grade, do diâmetro e do ângulo de trabalho dos discos. Normalmente, a grade com maior poder de penetração no solo é a pesada, que prepara uma camada de solo de 10 cm a 20 cm de profundidade. A operação continuada das grades, com corte pouco profundo, pode ocasionar a formação de camada de solo compactada superficialmente ou pé-de-grade, que é muito prejudicial à infiltração da água e ao desenvolvimento das raízes das plantas de arroz. As grades aradoras comuns apresentam grande largura operacional, que resultam em elevada capacidade de trabalho, quando comparadas aos arados. As grades são recomendadas para incorporar resíduos orgânicos após a colheita, triturar e incorporar plantas daninhas ao solo e para preparar o solo.

Grade niveladora

Geralmente, a grade niveladora é utilizada após a aração, com o objetivo de destorroar, nivelar e adensar o solo. Recebe também a denominação de grade leve por possuir massa inferior a 50 kg sobre cada disco de corte. Existem grades de simples e de dupla ação. As de simples ação são constituídas de dois conjuntos de discos dispostos lado a lado, e as de dupla ação possuem quatro conjuntos em forma de duas parelhas. As de dupla ação podem ser destorroadoras ou niveladoras. Nas destorroadoras, os conjuntos de discos são dispostos em forma de "X" e nas niveladoras, de "V". As grades leves também podem ser usadas antes da aração para picar o material vegetal existente na superfície do solo; para destruir plantas daninhas em estádio inicial de desenvolvimento e para o enterro de sementes, adubos ou corretivos, distribuídos a lanço. Os modelos comuns de grades leves possuem de 26 a 48 discos, com borda lisa ou recortada e diâmetro de 18 a 22 polegadas. 

 

Métodos de preparo do solo

Preparo do solo com arado de disco

Esse método consiste da aração com arado de disco, seguida de imediato por uma ou mais gradagens leves destorroadoras e de uma gradagem leve niveladora por ocasião do plantio. Na presença de muitos restos culturais e de plantas daninhas, a área arada pode ficar desnivelada, com leiva e torrões presos às raízes das plantas. Assim, é necessário realizar mais operações de gradagens. Isso é considerado ruim pelo fato de reduzir a porosidade do solo criada pela aração.

Preparo do solo com grade aradora

Esse método de preparo do solo tem sido muito utilizado, pois a grade aradora realiza a aração e a gradagem numa só operação e apresenta a melhor relação entre custo e área trabalhada. O perfil do solo preparado geralmente é superficial, da ordem de 10 cm a 20 cm de profundidade. O uso continuado da grade na mesma área adensa a camada próxima da superfície e forma pé-de-grade com 5 cm ou mais de espessura, o que dificulta o crescimento das raízes e favorece a erosão laminar. Normalmente, são necessárias duas passagens de grade aradora. Em alguns casos, a segunda gradagem é substituída por uma ou duas gradagens leves. Em todos os casos, a tendência é a formação de uma superfície ainda mais pulverizada e de um pé-de-grade mais denso, que varia com o número de passadas do implemento e com a umidade do solo.

Incorporação da resteva com grade, seguida de aração

Inicialmente é feita a gradagem do terreno com grade aradora intermediária ou com grade leve, dependendo da quantidade de plantas daninhas, dos restos culturais e do teor de umidade do solo. Depois de 10 dias ou mais da gradagem, é realizada a aração com arado de aiveca ou de disco. As principais vantagens desse método são as seguintes: incorporação mais homogênea dos restos culturais no perfil do solo, da superfície até a soleira da aração; formação de boa estrutura no solo; não forma o pé-de-grade superficialmente; maior eficiência no controle de plantas daninhas; promoção da recuperação da fertilidade do solo numa maior profundidade. Quando o solo é arado com teor de umidade adequado e com implemento bem regulado, a semeadura pode ser feita sem a necessidade de gradagem leve para o nivelamento ou pode ser feita com apenas uma gradagem, o que preserva a porosidade e a estrutura criada pela aração. Esse método tem auxiliado na obtenção de ganhos de produtividade do arroz de terras altas, pois melhora o armazenamento de água no perfil do solo, facilita o enraizamento mais vigoroso e profundo e melhora as propriedades físicas do solo.

 

Preparo mínimo

Consiste na passagem de implementos como o arado escarificador ou a grade leve niveladora, para romper apenas a camada superficial adensada e, no caso da grade, para também realizar o controle das plantas daninhas de pequeno porte. O preparo mínimo é recomendado para solos descompactados e com pouca incidência de plantas daninhas. Seu objetivo principal é a manutenção da estrutura do solo e a redução dos custos da operação. O arado escarificador prepara o solo numa profundidade de 20 cm a 30 cm e mantém grande parte dos resíduos vegetais na superfície, o que auxilia o solo a se proteger da erosão. Além disso, o escarificador permite preparar o solo com teor de umidade baixo. Nesse método de preparo, obtém-se elevado rendimento operacional e grande economia de combustível, além de redução de tempo de operação, quando comparado com os arados de disco e de aiveca.

 

Plantio direto

Neste sistema, as sementes e o adubo são colocados diretamente no solo não revolvido, empregando-se semeadoras adubadoras especiais. Na implantação do sistema de plantio direto, o solo deve estar corrigido sob os aspectos químicos e físicos. As práticas de revolvimento do solo com arados e grades são dispensadas. Por sua vez, o sistema demanda dessecar as plantas daninhas com herbicidas, usar máquinas de plantio com capacidade para cortar a palha e o solo não preparado e abrir sulcos para semear e adubar o arroz. O plantio direto deve ser recomendado para solos descompactados, com fertilidade homogênea no perfil de 0 a 30 cm, e que possuam uma camada de restos culturais na superfície. Essa cobertura vegetal tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica.