Colheita

Conteúdo migrado na íntegra em: 27/09/2021

Autor

Elbio Treicha Cardoso - Embrapa Clima Temperado

Daniel Fernandez Franco - Embrapa Clima Temperado

 

A colheita é a etapa que marca o final do processo produtivo na lavoura do arroz. Essa etapa deve ser planejada e executada com toda atenção, de forma a manter a qualidade do grão produzido. Assim sendo, na colheita mecanizada, devem-se tomar cuidados para que essa se processe de forma a colher o arroz com um mínimo de danificações mecânicas, no menor prazo possível, mantendo-se em níveis aceitáveis tanto as perdas decorrentes de fatores naturais, como as decorrentes da operação da colhedora (Alonço et al., 1997; Alonço et al., 1999; Franco et al., 2005).

Ponto de colheita

O ponto ideal de colheita do arroz é determinado basicamente pelo aspecto da panícula, pela duração de estádios de desenvolvimento da cultura e monitorado principalmente pelo teor de umidade dos grãos. O teor de umidade que proporciona maior rendimento de grãos inteiros no beneficiamento varia, principalmente, com a variedade cultivada e com o tipo de colheita empregado, mas a variação ocorre entre 18% e 24% na média da lavoura. Se colhido com teor muito elevado, acima de 24%, haverá grãos em formação e por consequência elevado percentual de gessados. Por sua vez, se a colheita for muito tardia, com valores de umidade abaixo de 18%, haverá maior danificação mecânica dos grãos e, consequentemente, aumento do percentual de grãos quebrados no beneficiamento. Além disso, quando se destina a semente, a qualidade fisiológica poderá ser afetada.

Colheita mecânica

A operação de colheita é realizada por diversos tipos de máquinas, desde as de pequeno porte tracionadas por trator, até as colhedoras automotrizes, dotadas de barra de corte de até 6 m de largura, as quais realizam, em sequência, as operações de corte, recolhimento, trilha e limpeza (Reti, 1995; Franco et al., 1999; Silva, 1999; Franco et al., 2004).

 

Foto: Alcides Severo

Foto: Alcides Severo

Figura 1. Colheita do arroz irrigado no Rio Grande do Sul. 

 

Funções de uma colhedora

Podem-se distinguir as seguintes funções em uma colhedora: corte das plantas e direcionamento para os mecanismos de trilha, que consiste na separação dos grãos de suas envolturas e de partes de suporte na planta; separação do grão e da palha; e limpeza.

O mecanismo de trilha das colhedoras recebe as plantas da plataforma de corte e realiza o desprendimento e a separação dos grãos. Mais de 90% dos grãos são separados da palha no ato da trilha. Os componentes responsáveis pela trilha são o cilindro trilhador e o côncavo, providos de pinos ou dentes. A velocidade tangencial do cilindro deve ser de 20 m a 25 m por segundo, variável em razão do teor de umidade dos grãos, e a velocidade rotacional de cerca de 500 rpm a 700 rpm.

Após a trilha, as plantas são conduzidas para o mecanismo de separação, composto por batedor traseiro, extensão do côncavo, saca-palha e cortinas. O batedor traseiro bate as palhas pela segunda vez contra a extensão do côncavo e, em seguida, as distribui sobre o saca-palha para a separação final dos grãos remanescentes. As cortinas auxiliam na uniformização do material sobre o saca-palha, que descarrega os grãos sobre uma bandeja coletora e a palha sobre o terreno, em leira. Para evitar a formação de leira, que sempre prejudica as operações mecanizadas futuras, as colhedoras de arroz devem ser equipadas com espalhador de palhas.

Algumas máquinas realizam a separação dos grãos por meio de rotor, em substituição ao saca-palha. Elas são caracterizadas por possuir mecanismo de trilha tangencial e sistema de separação de grãos da palha por rotores. Nessa configuração, a colhedora dispensa o saca-palha convencional, provido de calhas com movimento alternativo, e utiliza rotores helicoidais para efetuar a separação por movimentos rotativos de compressão e expansão da palha, fazendo com que os grãos misturados à palha se desloquem para a superfície do côncavo e, daí, para a seção de limpeza da colhedora. Na presença dos rotores de separação, que também auxiliam na trilha das plantas, o cilindro tangencial pode ser regulado para ficar mais distante do côncavo, deixando a trilha menos agressiva. Normalmente, o uso dos rotores permite reduzir a velocidade rotacional do cilindro tangencial durante a colheita, elevar a capacidade de manipulação das plantas trilhadas, melhorar a eficácia da separação de grãos da palhada, danificar menos grãos de arroz e propiciar maior rendimento operacional da colhedora. Um esquema dos mecanismos de separação das colhedoras por saca-palha e por rotor são apresentados na Figura 2.

Ilustração: Daniel Pettersen, adaptado de Massey Ferguson s.d

Desenho: Daniel Pettersen (Embrapa Arroz e Feijão), adaptado de Massey Ferguson s.d

Figura 2. Mecanismos de separação das colhedoras por saca-palha e por rotor. 

 

Perdas na colheita

Entre os grandes cultivos de grãos de verão, a lavoura de arroz é a que apresenta as maiores perdas. A maior parte desse desperdício se dá na colheita, que pode ser de 10% a 11%, seguida pelo processamento, com cerca de 12,6%. As perdas na colheita mecânica de arroz podem ocorrer antes da colheita, na plataforma da colhedora e nos mecanismos internos da colhedora.

Antes da colheita

As perdas ocorrem pelas seguintes razões: colheita realizada fora de época, ocorrência de chuvas em excesso, granizo e ventos, debulha ou degrane natural, bem como ataque de pássaros e roedores.

Na plataforma da colhedora

Esse é o local de maior perda de grãos na colheita e responde por até 85% do total.

Plataforma convencional

As perdas na plataforma ocorrem pelas seguintes razões:

  • Molinete: devido à baixa ou excessiva velocidade.
  • Barra de corte: navalhas quebradas, tortas, trincadas ou sem fio e/ou dedos tortos.
  • Velocidade da máquina: o operador deve conduzir a colhedora de maneira a aproveitar toda a largura da barra de corte.
  • Densidade de semeadura: uma baixa população de plantas dificulta o trabalho da plataforma e faz com que algumas plantas deixem de ser recolhidas pelo molinete.
  • Presença de plantas daninhas: a presença de plantas daninhas na lavoura de arroz contribui para aumentar as perdas.
  • Umidade dos grãos: quanto menor a umidade dos grãos maior será a perda devido à facilidade de quebra.

Mecanismos internos da colhedora

As perdas podem ocorrer nos seguintes mecanismos internos: no cilindro, no saca-palha e nas peneiras, bem como no rotor

  • Perdas no cilindro - Acontecem devido à pouca velocidade ou à maior distância entre o cilindro e o côncavo e se apresentam em forma de panículas sem debulhar.
  • Perdas no saca-palhas - As perdas no saca-palhas acontecem a semelhança do caso anterior.
  • Perdas nas peneiras - As perdas nas peneiras são causadas por trilha curta, furos das telas muito fechados e ar mal dirigido, insuficiente ou excessivo. As perdas nas peneiras ocorrem pelo fato de grãos soltos saírem juntamente com a palha miúda.

 

Regulagens da colhedora

São apresentados na Tabela 1 os pontos da colhedora nos quais ocorre o maior percentual de perdas, suas causas e as correções mais comuns.

 

Tabela 1. Alguns pontos da colhedora onde ocorrem perdas, suas causas e soluções.

Fonte: Adaptado de Franco et al. (2004).

 

Referências

ALONÇO, A. dos S.; REIS, A. V. dos. Perdas na colheita mecânica de grãos. Pelotas: EMBRAPA-CPACT, 1997. 27p. (EMBRAPA-CPACT. Documentos, 35).

ALONÇO, A. dos S.; MACHADO, A. L. T.; REIS, A. V. dos.; TILLMANN, C. A.; FRANCO, D .F.; TOESCHER, C. F. Perdas na colheita do arroz irrigado com a colhedora operando com dois tipos de plataforma. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 28.; Pelotas, 19 a 21 de jul. de 1999. Anais... Pelotas: Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 1 CD-ROM.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 1.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 23., 1999, Pelotas. Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o sul do Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 1999. 124p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 57).

FRANCO, D. F.; ALONÇO, A. dos S.; PETRINI, J. A. Plataformas de colheita e colheita manual com trilha mecânica sobre a qualidade de sementes de arroz (Oryza sativa L.). Ciência Rural, v. 29, n.2, maio/jun., p. 267 - 271, 1999.

FRANCO, D. F.; ALONÇO, A. dos S.; INFELD, J. A. Colheita do arroz irrigado. In: GOMES, A. da S.; MAGALHÃES JÚNIOR, A. M. de (Ed.). Arroz irrigado no Sul do Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. p. 727-744.

FRANCO, D. F.; AZAMBUJA, I. H. V.; MAGALHÃES JÚNIOR, A. M. de; SOARES, R. C.; PREVEDELLO, T. P. Perdas e reduções no volume de arroz colhido durante o processo de cultivo, colheita e processamento. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2005. 3 p. (Embrapa Clima Temperado. Comunicado técnico, 112).

GARCIA, A. M.  Cosechadoras de cereales: cosechas de granos y semillas. Santiago, FAO, 1989, 31 p.

RETI, J. Colheita e pós-colheita: pesquisas da Embrapa procuram diminuir desperdícios. Folha da Embrapa, Brasília, mar./abr. 1995, ano 4, n. 18, p 6-7

SILVA, J. J. C. da. Study on the blackbird (Agelaius ruficapillus Vieillot - Emberizidae, Aves) in the rice production areas of Southern Rio Grande do Sul, Brazil: basis for a population control management program. 1999. 116 p. Thesis (Doctor) - Wageningen Universiteit, Wageningen.