Manejo de doenças

Conteúdo migrado na íntegra em: 01/10/2021

Autor

Cley Donizeti Martins Nunes - Embrapa Clima Temperado

 

A cultura do arroz irrigado é atacada por várias doenças, mas a adoção de um conjunto de práticas de manejo cultural recomendadas para reduzir seu controle nas lavouras normalmente é suficiente para induzir resistência na cultivar plantada e aumentar a eficiência dos fungicidas, quando for necessária a sua aplicação. Na tomada de decisão para aplicação ou não do fungicida, é importante que se tenha conhecimento do histórico de ocorrência da doença na área cultivada, associado ao monitoramento e também ao acompanhamento de sua progressão na região circunvizinha.

Brusone

Brusone é a principal doença do arroz, cujos danos podem comprometer até 100% da produtividade de grãos. O agente causal é denominado de Pyricularia oryzae Cav. e pode infectar várias gramíneas, tais como: arroz vermelho, arroz preto, trigo, aveia, azevém, cevada, centeio, capim-arroz (Echinochloa spp.), grama-boiadeira (Leersia hexandra) e Brachiaria mutica. A enfermidade se desenvolve rapidamente quando há condições adequadas, como períodos longos de orvalho, nublados e associados a chuvas leves, as quais mantêm a umidade sobre as folhas. O cultivo de cultivares suscetíveis torna ainda mais favorável a epidemia com a aplicação de maiores doses de nitrogênio, associada à época de semeadura tardia, à ocorrência de plantas daninhas e aos danos elevados da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae), principalmente nas cultivares de ciclo curto.

Sintoma

O sintoma mais típico ocorre nas folhas (Figura 1). As lesões possuem um formato alongado, com bordos irregulares, de coloração marrom, centro grisáceo, onde aparecem as frutificações do fungo (esporos). Nos colmos (Figura 2), as lesões são localizadas na região dos nós, com coloração semelhante à observada nas folhas. A infecção no primeiro nó, abaixo da panícula, é conhecida pelo nome de brusone de pescoço ou da panícula (Figura 3).

Fotos: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 1. Sintomas de brusone nas folhas. Figura 2. Sintomas de brusone nos nós dos colmos. Figura 3. Sintomas de brusone no pescoço da panícula.

 

Controle

A inundação contínua no período entre 20 dias após a emergência e 15 dias após a floração pode minimizar a maioria dos casos de brusone na região subtropical. Nos casos restantes, as medidas recomendadas abaixo contribuirão para maior resistência das cultivares e eficácia dos fungicidas:

  • Dimensionamento adequado das fontes de água, canais de irrigação e realização da irrigação no momento necessário.
  • Destruição dos restos de cultura.
  • Uso de sementes de boa qualidade fitossanitária.
  • Semeaduras na época recomendada.
  • Uso de cultivares resistentes ou tolerantes.
  • Troca de cultivares suscetíveis a cada 3-4 anos.
  • Adubação equilibrada, sem provocar crescimento vegetativo muito vigoroso das plantas.
  • Controle de plantas daninhas.
  • Uso de fungicidas relacionados na Tabela 1.

 

Escaldadura

O organismo causador da doença é conhecido pelo nome de Gerlachia oryzae (Hashioka & Yologi) W. Gams (Gams & Müller, 1980). A severidade dessa enfermidade no Brasil tem sido agravada nas últimas décadas em decorrência do cultivo de cultivares modernas e mais suscetíveis e de adubações em doses elevadas de nitrogênio.

Sintomas

As folhas apresentam manchas oblongas, em faixas, em sucessão, com a formação típica de áreas concêntricas, com coloração mais escura e mais clara, dando um aspecto franjado às lesões (Figura 4). O aumento dessas lesões causa a morte da folha. As lavouras atacadas apresentam amarelecimento geral, com as pontas das folhas secas.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 4. Sintomas de escaldadura nas folhas.

 

Controle

  • Evitar adubação com dose elevada de nitrogênio.
  • Usar variedades resistentes ou tolerantes.
  • Usar sementes de boa qualidade fitossanitária.

Queima da bainha

Nos últimos anos, a queima da bainha, causada pelo fungo Rhizoctonia solani Kühn, vem aumentando no Rio Grande do Sul. A expansão da doença pode ser em decorrência do plantio do arroz irrigado em rotação com culturas de soja, das pastagens consorciadas de azevém com trevo e da introdução das cultivares modernas suscetíveis. Os danos tornam-se mais severos, quando ocorre na folha bandeira, antes do enchimento dos grãos.

Sintomas

A doença ocorre nas bainhas das folhas e colmos das plantas de arroz. Os sintomas são caracterizados por manchas não bem definidas, com aspecto de queimado, sobre as quais surgem esclerócios de coloração escura (Figura 5). Nas lavouras, os ataques intensos formam grandes reboleiras, com morte precoce das plantas.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 5. Sintomas de queima da bainha nos colmos.
 

Controle

  • Destruição dos restos de cultura e drenagem das áreas durante a entressafra.
  • Rotação de cultura.
  • Uso equilibrado da adubação nitrogenada para evitar crescimento muito vigoroso das plantas.
  • Controle biológico natural com Trichoderma sp. – prática que em algumas situações tem-se mostrado mais eficiente no controle da doença do que as aplicações de fungicidas (Tabela 1).
  • Uso de cultivares tolerantes ou resistentes.

Mancha de grãos

A mancha de grãos geralmente ocorre nas lavouras semeadas em épocas tardias (dezembro), porém pode surgir em menor frequência nas demais épocas. A doença está associada com mais de um patógeno fúngico ou bacteriano. Os principais patógenos são os fungos: Drechslera oryzae, Bipolares sp., Pyricularia grizea, Alternaria padwickii, Phoma sp., Nigrospora spp., Epicocum spp., Curvularia lunata e Fusarium sp.

Sintomas

As glumas mostram sintomas caracterizados por manchas marrom-avermelhadas ou escurecimento total (Figura 6). Em alguns casos, as manchas restringem-se à parte superior ou inferior das glumas e apresentam centro mais claro.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 6. Sintomas de mancha de grãos.

 

Controle

Efetuar a semeadura na época adequada e usar cultivares tolerantes.

 

Mancha-parda

O agente causador da mancha-parda é referido pelos nomes de Bipolaris oryzae (Breda de Haan) Shoem. Em lavouras situadas em solos mais arenosos ou degradados ou em área de corte, devido à sistematização, os ataques de mancha-parda podem ser mais severos e comprometer a produção e a sanidade dos grãos.

Sintomas

A doença é caracterizada pelo aparecimento nas folhas de manchas de forma oval, de cor castanho-escura com bordos lisos, logo após a floração e, mais tarde, nas glumas e nos grãos. Posteriormente, com manchas maiores, desenvolve-se um centro mais claro, acinzentado (Figura 7). Nos grãos, manchas marrom-escuras muitas vezes coalescem e cobrem as glumas.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 7. Sintomas de mancha-parda nas folhas.

 

Controle

Usar medidas preventivas e fungicida de espectro de ação ampla para o controle da brusone, que também atuam no controle da mancha-parda (Tabela 1).

  • Semear cultivares tolerantes. 
  • Tratar as sementes quando for necessário.
  • Corrigir a fertilidade do solo, principalmente em potássio.

Podridão do colmo

A doença é causada por Sclerotium oryzae Catt., atualmente conhecido por Nakataea sigmoideum (Cav.) Hara. Nos últimos anos, na região Fronteira Oeste no Rio Grande do Sul, essa doença tem ocorrido com frequência. Os danos são mais sérios quando a doença está associada com a queima das bainhas.

Sintomas

Na bainha externa, próximo à linha da água, apresenta uma pequena lesão, irregular, de cor marrom-escura. Com o progresso da doença, a bainha e o caule apodrecem, a planta pode acamar e tornar as panículas chochas. Quando o ataque é parcial, aumenta o número de espiguetas estéreis, com floração desuniforme. Nas lesões velhas do entrenó do caule, pode-se encontrar micélio cinzento-escuro e pequenos esclerócios negros no interior (Figura 8). 

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 8. Sintoma de podridão-do-colmo. 

 

Controle

O controle da podridão do colmo deve ser feito de maneira preventiva para evitar a contaminação do solo. Assim recomenda-se a drenagem das lavouras na entressafra, o uso de densidade de semeadura adequada, controle para evitar o crescimento vegetativo excessivo das plantas e rotação com culturas, como milho e sorgo.

 

Mancha da bainha

A doença é causada pelo fungo Rhizoctonia oryzae Riker & Gooch e foi constatada pela primeira vez em 1967 no estado de São Paulo e, nos anos 1970, no Rio Grande do Sul, depois da introdução da cultivar Bluebelle.

Sintomas

As manchas são caracterizadas pela forma oval, elíptica ou arredondada, de coloração cinza-esverdeado. Com sua evolução, podem adquirir centro branco-acinzentado, com bordas marrons bem definidas (Figura 9). 

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 9. Sintomas de mancha da bainha.

Controle

A doença é transmitida por fungo de solo e, por essa razão, devem ser adotadas medidas de controle de drenagem do solo na entressafra e outras que já foram citadas para a podridão do colmo e queima da bainha.

 

Mancha-estreita

A doença encontra-se de forma endêmica em todas as regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, com danos econômicos muito reduzidos e com maior intensidade em solo pobre e degradado. O potencial de inóculo nas lavouras foi reduzido nos últimos anos, a partir de 1993, ao ponto de a ocorrência do fungo Cercospora janseana Racib. O. Const. nas sementes de arroz ter se tornado raro.

Sintomas

As manchas foliares possuem formato alongado e estreito, linear, não atingindo mais do que 1 ou 2 espaços internervuras, no sentido transversal. Normalmente possuem em média de 2 mm a 10 mm de comprimento e 1 mm de largura. As lesões possuem colorações pardo-avermelhadas, podem ocorrer em grande número numa mesma folha (Figura 10) e podem coalescer.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes

Figura 10. Sintomas de mancha-estreita nas folhas.

Controle

O uso de medidas preventivas para o controle de brusone e de mancha-parda e a aplicação de fungicidas de espectro de ação ampla relacionados na Tabela 1 (Fungicidas, em Insumos, na Pré-Produção) são suficientes no controle dessa doença.

 

Informações complementares