Arroz
Manejo de insetos-praga
Autores
José Francisco da Silva Martins - Embrapa Clima Temperado
Jaime Vargas de Oliveira - Instituto Riograndense do Arroz - IRGA
Jose Alexandre Freitas Barrigossi - Embrapa Arroz e Feijão
Juliano de Bastos Pazini - Consultor autônomo
Diversas espécies de insetos destacam-se entre as pragas que reduzem a economicidade da cultura do arroz irrigado, pois podem causar perdas de 10% a 30% na produção. Associados à ocorrência de insetos-praga, ainda existem os riscos de impacto ambiental decorrentes do crescente uso irracional de inseticidas químicos aplicados para controle. Há estimativa de que 75% da área orizícola do Rio Grande do Sul anualmente é tratada com inseticidas e é também intensivo o uso desses produtos em Santa Catarina. O sistema de semeadura ou cultivo da cultura é um dos fatores que mais influenciam os níveis de danos. As principais diferenças são detectadas entre lavouras implantadas em solo seco com posterior inundação, cultivo mínimo e convencional, e lavouras de arroz pré-germinado, com tendência de estas últimas serem as mais prejudicadas por alguns grupos de insetos mais adaptados a ambientes aquáticos.
Aqui são abordados, conforme a época de ocorrência nos arrozais irrigados, somente os insetos que, nos últimos anos, têm sido mais prejudiciais, como o gorgulho-aquático, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae), cujas larvas são conhecidas por bicheira-da-raiz; o percevejo-do-colmo, Tibraca limbativentris Stal (Hemiptera: Pentatomidae); e a lagarta-da-panícula, Mythimna (= Pseudaletia) spp. (Lepidoptera: Noctuidae). O conhecimento e a adoção de bases e técnicas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) são essenciais para o controle eficaz de insetos na busca por maior rentabilidade e menor risco de impacto ambiental negativo. Destaca-se o conhecimento sobre níveis populacionais de controle econômico (NCE), os quais servem de indicativo da necessidade ou não de adoção de medidas de controle.
Gorgulho-aquático
O gorgulho-aquático (O. oryzae) é praga-chave e crônica do arroz nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Apresentam cerca de 3,2 mm de comprimento e coloração pardo-escura com pontuações branco-acinzentadas, que tende à coloração preta quando estão molhados. Este inseto (Figura 1A) surge no arrozal quando ocorre acúmulo da água das chuvas ou entre 2 e 3 dias após a irrigação por inundação. Alimenta-se do parênquima foliar causando lesões longitudinais (“raspagens”) (Figuras 1B e 1C), acasala e oviposita em partes submersas da bainha foliar, onde os ovos são colocados um a um (Figuras 1D e 1E). As larvas, ápodas e de coloração branco-amareladas, quando recém-eclodidas, inicialmente se alimentam dos tecidos internos da bainha foliar, durante 1 ou 2 dias (Figura 1F). Após esse período, as larvas abandonam as bainhas em direção às raízes da planta, onde se alimentam e danificam o sistema radicular por aproximadamente 25 dias, até atingirem o último instar (8,5 mm) (Figuras 1G e 1H) e se transformarem em pupas no interior de casulos de barro (Figuras 1H e 1I).
Os adultos somente provocam danos econômicos em arroz pré-germinado quando destroem significativa quantidade de plântulas. As larvas sempre são mais prejudiciais, independentemente do sistema de plantio. Ao danificarem as raízes (Figuras 1J e 1K), reduzem a capacidade de absorção de nutrientes e induzem a perdas de 10% a 18% na produção, podendo chegar a 70% sob elevada população larval (+ 25 larvas/amostra-padrão de solo e raízes). As lavouras instaladas mais cedo são sempre mais prejudicadas. Nas lavouras de arroz, os sintomas do ataque das larvas caracterizam-se pelo amarelecimento e desenvolvimento reduzido das plantas, que ocorrem, geralmente, em reboleiras, nas regiões onde a lâmina d’água é mais espessa e nas bordas dos talhões. Nesses locais, observam-se plantas com as extremidades das folhas eretas e pouco perfilhadas, não “fechando” o dossel. Os danos das larvas muitas vezes são atribuídos erroneamente a deficiência de nitrogênio, toxidez por ferro e salinidade (Figura 1L).
A época e a forma de monitoramento de O. oryzae, se de adultos ou de larvas, dependem do sistema de plantio. Em sistemas de plantio em solo seco, o monitoramento de adultos deve iniciar cerca de 3 dias após a inundação, inspecionando-se a folha mais nova de 20 plantas quanto à presença de raspagens em pelo menos dez pontos selecionados aleatoriamente no talhão. Havendo mais de 50% das plantas com folhas lesionadas, o controle de adultos é recomendado. Em arrozal pré-germinado, o monitoramento de adultos deve iniciar cerca de 3 dias após a semeadura. Nesse caso, a decisão sobre a adoção de medidas de controle deve ser baseada na necessidade de se obter uma população de 300 plântulas por metro quadrado, considerando que 20 fêmeas por metro quadrado danificam 20% de plântulas. A presença de larvas deve ser avaliada a partir de 10 dias após a inundação, em sistemas de plantio em solo seco, ou da emergência das plantas, em arroz pré-germinado, em, no mínimo, dez locais escolhidos ao acaso na lavoura. Em cada local, devem ser retiradas quatro amostras-padrão de solo e raízes, usando uma seção de cano de PVC com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, aprofundando-a de 6 cm a 8 cm no solo. Agitar as amostras sob água, em uma peneira apropriada, para liberação e contagem das larvas. A cada larva a mais que 5 larvas por amostra-padrão, em média, podem ser esperadas reduções de 1,1% e 1,5% na produção de grãos de cultivares de ciclo médio e precoce, respectivamente. É importante considerar que, inicialmente, há maior concentração de larvas ao longo das margens ou nas primeiras partes inundadas da lavoura.
O controle do gorgulho-aquático pode ser efetuado por meio das seguintes táticas:
Controle cultural: a) destruição de restos culturais após a colheita e limpeza de canais de irrigação, valas e estradas internas para eliminar a vegetação que abriga a população de adultos hibernantes e que serve de alimento antes da colonização do arrozal; b) eliminação de depressões do talhão em áreas sistematizadas e construção de taipas baixas para reduzir a probabilidade de formação de locais com maior profundidade de lâmina d’água de irrigação, onde o inseto tende a se concentrar; c) manejo da água de irrigação, por meio de drenagem ou adiamento da inundação, visando interferir na dinâmica populacional do inseto; no entanto, tais medidas restringem-se a pequenas áreas de cultivo e devem ser tomadas com cautela, pois favorecem a incidência generalizada de plantas daninhas; d) suplementação de adubação nitrogenada, no máximo até a fase de diferenciação das panículas, para recuperação do sistema radicular danificado pelas larvas.
Controle varietal: Genótipos promissores quanto à resistência a O. oryzae e com outras características agronômicas de interesse têm sido selecionados por meio do programa de melhoramento genético de arroz da Embrapa. Maior espessura de tecidos do esclerênquima radicular aliada à maior concentração de compostos fenólicos e de lignina foram recentemente descritos como alguns fatores de resistência de arroz às larvas. Além disso, cultivares de ciclo médio e tardio constituem importantes características para resistência do tipo tolerância, devido a sua maior capacidade de recuperação de raízes danificadas pelas larvas.
Controle químico: a) Tratamento de sementes: adoção em áreas em sistemas de plantio em solo seco que possuem histórico de ocorrência do inseto. Recentemente, comprovou-se que o residual do fipronil (ingrediente ativo mais usado no tratamento de sementes de arroz) que permanece após um primeiro cultivo com sementes tratadas é eficaz para o controle de larvas de O. oryzae em até três safras consecutivas, ao ponto de evitar perdas de produção. Com isso, no primeiro cultivo de arroz, a utilização de semente tratada com fipronil deve ser baseada no histórico de ocorrência do inseto. A partir do segundo cultivo na mesma área, é possível optar pelo uso de semente não tratada com o inseticida, contando com o efeito do residual acumulado no solo sobre o inseto. Em lavouras de arroz pré-germinado, porém, o tratamento de sementes apresenta baixa eficiência, devido à lavagem dos ingredientes ativos que ocorre no processo de pré-germinação das sementes. b) Pulverização foliar: aplicação curativa visando controlar os adultos antes da atividade de oviposição nas plantas em áreas em sistemas de plantio em solo seco. Deve ser efetuada cerca de 3 a 4 dias após a inundação dos arrozais. c) Distribuição de inseticidas granulados na água de irrigação: aplicação curativa visando controlar as larvas, quando o tratamento de sementes ou a pulverização foliar para o controle de adultos não tenham sido praticados (ou na hipótese de não terem apresentado eficiência satisfatória). Atualmente, inexistem opções de produtos comerciais disponíveis para essa finalidade.
As opções de formulações comerciais de inseticidas registrados para tratamento de sementes ou aplicação curativa com base em NCE estão relacionados na Tabela 1.
Foto: Paulo Luiz Lanzetta Aguiar | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(A) Inseto adulto. | (B) Machos “acoplados” no dorso das fêmeas (em cópula ou comportamento de guarda). | (C) Lesões causadas por adultos às folhas. |
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(D) Ovos nas bainhas foliares. | (E) Ovos nas bainhas foliares. | (F) Larvas de primeiro instar na bainha foliar. |
Foto: José Francisco da Silva Martins | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(G) Larva em instares finais. | (H) Larvas e pupas nas raízes. | (I) Pupa em casulo de barro. |
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: José Francisco da Silva Martins |
(J) Danos causados por larvas às raízes. | (K) Danos causados por larvas às raízes. | (L) Sintomas do ataque de larvas. |
Figura 1. Fases do ciclo biológico de Oryzophagus oryzae e sintomas de ataque às plantas de arroz. |
Percevejo-do-colmo
O percevejo-do-colmo é uma praga crônica do arroz nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Os adultos do percevejo-do-colmo são de coloração marrom, com a margem do abdome de coloração amarelada. Medem cerca de 15 mm de comprimento e 7 mm de largura (Figura 2A). Localizam-se na base dos colmos, próximo ao colo das plantas (Figura 2B), principalmente em partes do arrozal não atingidas pela lâmina da água de irrigação, onde acorre a reprodução. Os ovos são cilíndricos e medem cerca de 0,8 mm de diâmetro. São colocados nas folhas ou na base dos colmos, em grupos de 20 a 60 ovos dispostos, em duas (mais comum) ou até seis fileiras de ovos (Figura 2C). São esverdeados, escurecendo em tonalidade avermelhada próximo à eclosão das ninfas. O período ninfal compreende cinco instares. No primeiro instar, as ninfas recém-eclodidas permanecem agrupadas nas proximidades das “cascas” dos ovos por até 3 dias, não se alimentando; são de coloração marrom-avermelhada e muito pequenas, medindo cerca de 1,5 mm de comprimento e 1,0 mm de largura (Figura 2D). Nos demais instares, já se assemelham aos adultos e são ativas, deslocando-se para os colmos, próximo ao solo, para iniciar a alimentação (Figura 2E). Porém, são menores que os adultos, medindo de 2,3 mm de comprimento e 1,5 mm de largura (segundo instar) a 9,5 mm de comprimento e 6,5 mm de largura (quinto instar), e possuem coloração que varia do marrom-claro ao marrom-escuro, com manchas acinzentadas na cabeça e no tórax ou manchas circulares alaranjadas no abdome (Figuras 2F e 2G). Adultos e ninfas de quarto e quinto instar são facilmente observados no topo das plantas de arroz, em horários de temperatura mais elevada.
Na entressafra, durante o inverno no Sul do Brasil, os adultos do percevejo-do-colmo abrigam-se em restos culturais e na vegetação nativa em torno da lavoura, onde permanecem em diapausa (hibernação) por um período entre 7 e 10 meses. O fotoperíodo é o principal fator regulatório da diapausa; um período de horas de luz inferior a 12 horas e 35 minutos estimula os percevejos a buscar os refúgios de hibernação, enquanto um período de horas de luz superior a 12 horas e 35 minutos estimula os percevejos a abandonar esses refúgios, sendo o arrozal o principal destino. Os adultos hibernantes invadem as novas lavouras cerca de 20 dias após a emergência das plântulas de arroz, o que ocorre próximo ao estádio V4. Nesse momento, a população do percevejo é baixa, com indivíduos de pouca mobilidade e desgastados do período de hibernação, cujo estabelecimento se dá nas proximidades da bordadura da lavoura, em agregados populacionais. No entanto, a população do percevejo pode crescer rapidamente com o desenvolvimento das gerações ao longo do ciclo da cultura. A partir da colonização da área, as ninfas originadas não apresentam grande movimentação, permanecendo concentradas próximo aos locais de postura e estabelecimento inicial dos adultos. A maior ocorrência do inseto na lavoura compreende os períodos a partir do início do perfilhamento à floração.
Ninfas e adultos, ao perfurarem colmos em formação, na fase vegetativa, ou já desenvolvidos, na fase reprodutiva, provocam os sintomas de “coração morto” (Figura 2H, I) e “panícula branca” (Figuras 2J e 2K), respectivamente. Os prejuízos são maiores quando atacam na fase de prefloração e de formação de grãos, o que causa perdas quantitativas e qualitativas na produção de grãos. Plantas debilitadas pelo ataque do inseto produzem grãos com a casca manchada (Figura 2L).
O percevejo-do-colmo é mais prejudicial na região da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, onde há maior concentração de lavouras implantadas em terrenos inclinados, com grande quantidade de plantas de arroz sobre as taipas, condição altamente favorável ao seu crescimento populacional. Em Santa Catarina, há maior ocorrência na região do Alto Vale do Itajaí. A incidência desse inseto tende a aumentar em situações específicas de áreas com safras sucessivas de arroz, sob irrigação por aspersão ou em casos de drenagem no período de perfilhamento do arroz (sistema pré-germinado).
O monitoramento populacional de T. limbativentris deve ser efetuado em intervalos semanais, do início do perfilhamento das plantas à floração, tendo como referência os pontos de entrada dos percevejos adultos pós-hibernantes e de maior concentração do inseto, que ocorrem às margens do arrozal. Deve-se realizar a contagem direta dos percevejos entre os colmos e as folhas, em 30 pontos equidistantes, no mínimo, preferencialmente em zonas da lavoura não atingidas pela lâmina d’água, como no topo das taipas. A contagem deve ser feita em 1,5 m de linha de plantio ou numa área imaginária de 0,25 m2. A cada inseto adulto por metro quadrado, em média, é esperada uma redução de 1,2% na produção de grãos.
O controle do percevejo-do-colmo pode ser efetuado por meio das seguintes táticas:
Controle cultural: a) eliminar os restos culturais após a colheita (por exemplo: a incorporação/destruição da resteva poucos dias após a colheita reduz em mais de 90% a população de adultos e ninfas remanescentes na área) e limpar canais de irrigação, valas e estradas internas circundantes das lavouras para remover a vegetação ou qualquer outro elemento que abrigue a população de adultos hibernantes na entressafra, que são potenciais colonizadores do arrozal na safra seguinte (por exemplo: a roçada da vegetação nativa aos arredores de áreas de arroz pode eliminar cerca de 70% da população dos adultos nos abrigos hibernais); b) evitar, quando possível, plantio escalonado de arroz em áreas com histórico de ocorrência de elevados níveis populacionais do percevejo-do-colmo; c) evitar o excesso de adubação nitrogenada, já que a incidência do inseto aumenta com o incremento de doses de adubos nitrogenados; d) favorecer a concentração do percevejo em determinados pontos da lavoura, preferencialmente às margens, atraindo-os para plantas de arroz mais viçosas, que podem ser obtidas por meio da aplicação de doses mais elevadas de adubos nitrogenados (“cultura armadilha”), visando ao controle localizado.
Controle biológico: Propiciar a preservação e até o incremento do controle biológico natural nas áreas de arroz. Por exemplo: os ovos do percevejo-do-colmo são intensamente parasitados por microvespas da espécie Telenomus podisi (Hymenoptera: Platygastridae), sendo comum verificar taxas de parasitismo de 40% a 80% no campo. Para isso, deve-se empregar, quando possível, inseticidas seletivos ou táticas de aplicação seletiva (aplicação localizada) para produtos não seletivos.
Controle químico: Aplicação curativa de inseticidas com base em NCE com formulações comerciais registradas para esse fim, cujas opções estão relacionadas na Tabela 1. É frequente a aplicação aérea de inseticidas em mistura com fungicidas calendarizada a partir do “emborrachamento” das plantas (~70 dias), quando o percevejo já causou danos. Com isso, caso houver indicação do monitoramento, alerta-se que o controle do percevejo-do-colmo pode ser efetuado pela aplicação de inseticidas em período anterior, na fase intermediária do perfilhamento, que coincide com o período crítico de incidência da praga (30 a 45 dias). Nessa fase, as plantas possuem poucos perfilhos e folhas esparsas (lavoura “aberta”), sendo maior a probabilidade de o inseticida atingir o terço inferior da planta, onde os percevejos se concentram. Tal aspecto é fundamental para alcançar taxas satisfatórias de controle, uma vez que não há inseticidas registrados para o percevejo-do-colmo com translocação basipetal (do ápice para baixo) eficiente. Além disso, há potencial para aplicação localizada de inseticidas na bordadura, local onde os percevejos preferencialmente se estabelecem.
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(A) Inseto adulto. | (B) Localização de adultos e ninfas na base dos colmos. | (C) Postura. |
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(D) Ninfas de primeiro instar (comportamento gregário em torno da postura). | (E) Localização de adultos e ninfas na base dos colmos. | (F) Ninfa de terceiro e quinto instares. |
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini |
(G) Ninfa de terceiro e quinto instares. | (H) Sintoma “coração morto”. | (I) Sintoma “coração morto”. |
Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Juliano de Bastos Pazini | Foto: Jaime Vargas de Oliveira |
(J) Sintoma “panícula branca”. | (K) Sintoma “panícula-branca”. | (L) Mancha nos grãos. |
Figura 2. Fases do ciclo biológico de Tibraca limbativentris e sintomas de ataque às plantas de arroz. |
Lagarta-da-panícula
É o inseto-praga de ocorrência mais recente na cultura de arroz irrigado por inundação no Sul do Brasil. Encontra-se distribuído em toda a área orizícola dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, sua ocorrência é maior na Depressão Central. Duas espécies têm ocorrido, Mythimna (= Pseudaletia) adultera e Mythimna sequax, com predominância de 80% da primeira. As mariposas do gênero Mythimna apresentam o corpo na cor pardo-acinzentada. As asas anteriores são de coloração amarelo-palha, com um sombreado que varia entre as cores parda e preta, e apresentam um traço apical e outro longitudinal. As manchas orbicular e reniforme são bem nítidas. Adultos de M. sequax possuem no centro da asa anterior duas manchas amarelo-claras, enquanto adultos de M. adultera possuem no centro da asa anterior um pequeno ponto esbranquiçado com halo escurecido. As asas posteriores de ambas as espécies são acinzentadas com bordas mais claras. Quando pousadas, as asas protegem o corpo em forma de “telhado” (Figura 3A). Adultos de M. sequax são ligeiramente maiores, medindo cerca de 25 mm de comprimento e 30 mm a 40 mm de envergadura, enquanto os adultos de M. adultera medem cerca de 20 mm de comprimento e 30 mm a 35 mm de envergadura. As lagartas apresentam coloração que pode variar tanto durante o seu desenvolvimento quanto de acordo com a alimentação. De maneira geral, a cor varia do esverdeado ao quase preto, predominando a coloração pardo-acinzentada com listras longitudinais claras e escuras. Quando completamente crescidas, atingem cerca de 40 mm de comprimento (Figura 3B).
A lagarta-da-panícula é percebida na lavoura a partir da fase vegetativa da cultura, cerca de 60 dias após a emergência das plântulas, quando se alimentam de folhas, mas sem causar danos econômicos. Seu período crítico de ocorrência se dá a partir da fase de emissão das panículas, quando as lagartas mais desenvolvidas destroem parcial ou totalmente os ramos da raque, que caem ao solo com o peso dos grãos (Figuras 3C e 3D), o que provoca reduções na produção de até 20%. Durante o dia, as lagartas se mantêm protegidas na parte baixa do dossel, sob torrões e entre os colmos de plantas de arroz (Figuras 3E e 3F). Somente no início da noite migram para a parte apical das plantas para atacar panículas. Em razão disso, são difíceis de ser observadas durante o dia. Os sintomas do ataque, como panículas danificadas ou ramos da raque e grãos caídos no solo, são os principais indícios da ocorrência do inseto na área. Geralmente, os surtos da lagarta ocorrem em focos, causando danos, inicialmente, em áreas restritas, como bordaduras, taipas e partes mais secas da lavoura, mas que tendem a se expandir. Maior concentração de lagartas ocorre em locais com vegetação mais densa e, principalmente, com plantas acamadas.
O monitoramento da lagarta-da-panícula deve iniciar na fase de emissão das panículas, compreendendo intervalos semanais até a colheita. As amostras, de 0,5 m2 a 1,0 m2, devem ser tomadas ao final da tarde, em pontos da lavoura determinados ao acaso, tendo como referência as bordaduras, taipas, partes mais secas e de vegetação mais densa/acamada da lavoura. A presença das lagartas deve ser averiguada entre os colmos, na base da planta, e nas fendas ou torrões do solo das partes não inundadas. Por se tratar de um inseto de ocorrência recente em arroz irrigado por inundação, ainda não existe um método detalhado e preciso para o monitoramento. A cada lagarta por metro quadrado, em média, é esperada uma redução de 3% na produção de grãos.
O controle da lagarta-da-panícula pode ser efetuado por meio das seguintes táticas:
Controle cultural: a) destruir os restos culturais após a colheita e limpeza de canais de irrigação, valas e estradas internas no entorno das áreas de arroz; b) evitar o excesso de adubação nitrogenada e realizar o adequado suprimento de potássio (por exemplo: o excesso de nitrogênio aumenta a suscetibilidade das plantas ao ataque de desfolhadores e causa o acamamento de plantas, condição altamente favorável para surtos da lagarta-da-panícula, enquanto o potássio atua na lignificação dos tecidos vegetais, tornando as plantas menos atrativas).
Controle biológico: Propiciar a preservação e até o incremento do controle biológico natural nas áreas de arroz (por exemplo: a ocorrência de surtos da lagarta-da-panícula é evitada pela ação de parasitoides e predadores de ocorrência natural na lavoura arrozeira. Dessa forma, deve-se utilizar inseticidas somente quando necessário, evitando, quando possível, aqueles de amplo espectro de ação, tendo como preferência, ainda, o controle nos focos de infestação).
Controle químico: Aplicação curativa de inseticidas com base em NCE com formulações comerciais registradas para esse fim, cujas opções estão relacionadas na Tabela 1. Controlar os surtos iniciais, quando as lagartas estão nos primeiros instares, preferencialmente com inseticidas reguladores de crescimento. O controle de surtos durante a fase de maturação dos grãos, quando predominam lagartas grandes (< 2 cm), devem, preferencialmente, ser controlados com inseticidas de ação mais rápida. Nesse caso, recomenda-se aplicar os inseticidas nos focos de infestação, visto que o efeito sobre as lagartas é maior via ação de ingestão do que via ação de contato. O aumento da ação por contato pode ser alcançado por meio de pulverizações em dias nublados ou ao entardecer. Atentar-se para os períodos de intervalo de segurança dos inseticidas.
Foto: Jaime Vargas de Oliveira | Foto: Thais F. Stella de Freitas | Foto: Daniele Almeida |
(A) Mariposa adulta. | (B) Lagarta-da-panícula em tamanho máximo. | (C) Lagarta alimentando-se dos ramos da raque. |
Foto: Jaime Vargas de Oliveira | Foto: Gilberto Dotto | Foto: Gilberto Dotto |
(D) Ramos e espiguetas caídos no solo após ataque às panículas. | (E) Localização das lagartas durante o dia. | (F) Localização das lagartas durante o dia. |
Figura 3. Fases do ciclo biológico de Mythimna (= Pseudaletia) spp. e sintomas de ataque às plantas de arroz. |
Além das três espécies de insetos-praga citadas, insetos de solo, que ocorrem na fase inicial da cultura, como o pulgão-da-raiz Rhopalosiphum rufiabdominale (Sasaki) (Hemiptera: Aphididae) e o cascudo-preto Euetheola humilis (Coleoptera: Scarabaeidae), têm causado danos severos às raízes das plantas de arroz, na fase que antecede a inundação, sendo a primeira relatada com maior frequência em áreas de arroz. São pragas típicas de arrozais implantados em solo seco (não são pragas no sistema pré-germinado).
Formulações comerciais de inseticidas registrados para o controle desses insetos-praga encontram-se disponíveis para consulta no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) (https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). Alguns produtos registrados para controle da bicheira-da-raiz, quando utilizados via tratamento de sementes, também podem exercer algum efeito sobre o pulgão-da-raiz e o cascudo-preto. Em situações de ataque severo desses dois insetos, uma alternativa consiste na antecipação da inundação. Isso, porém, depende da disponibilidade de água por ocasião do ataque e é mais eficiente em lavouras planas do que em lavouras instaladas em áreas inclinadas, onde há maior densidade de taipas, as quais servem de refúgio para os insetos. Excepcionalmente, o cascudo-preto pode ocorrer ao final do ciclo da cultura, após a retirada da água de irrigação (drenagem) da lavoura, cortando a base de quantidade expressiva de plantas de arroz, o que causa acamamento e, portanto, dificulta a colheita mecanizada. Não existe qualquer método recomendável para controle do inseto nessa fase da cultura.