Cultivar

Conteúdo migrado na íntegra em: 30/09/2021

Autores

Ariano Martins de Magalhães - Embrapa Clima Temperado

Orlando Peixoto de Morais - In memoriam

Paulo Hideo Nakano Rangel - Embrapa Arroz e Feijão

 

No Brasil, no ano agrícola 2018, o arroz irrigado foi cultivado em cerca de 1.387 mil hectares e contribuiu com aproximadamente 10.605 mil toneladas de grãos em casca, o que equivale a 90,3% da produção nacional do cereal. A maior parte dessa produção de arroz veio da região Sul, principalmente dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que participam, respectivamente, com 71,6% e 9,3% da produção total brasileira de arroz. Os 9,8% restantes da produção de arroz irrigado vêm de 16 outros estados, ignorando os que cultivam menos de mil hectares por ano. Nesse conjunto de 13 outros estados, sobressai o Tocantins, que apresenta uma área de mais de 111 mil hectares de arroz irrigado.

A consolidação do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina como a principal região produtora de arroz do Brasil se deve às condições edafoclimáticas favoráveis (relação entre planta, solo e clima) e ao emprego da técnica de irrigação por inundação contínua. Isso tem possibilitado a obtenção de produtividade média acima dos 8 mil quilogramas por hectare, além de estabilidade anual de produção. O conhecimento e o espírito empreendedor do orizicultor têm demandado tecnologias mais apuradas de cultivo e a disponibilização frequente de cultivares de alto potencial produtivo e com características que atendem as exigências da cadeia agroindustrial do cereal. Nos demais estados, em geral, observa-se nas áreas de produção maior intensidade de ocorrência de pragas e doenças, mas mesmo assim há polos com produtividades médias elevadas, como o norte do Paraná, a região de Flores de Goiás, GO, e os estados de Mato Grosso do Sul e Roraima, em que a produtividade média das lavouras supera 6.600 kg/ha. Na região tropical, o arroz irrigado participa com cerca de 10% da produção total brasileira e concentra-se principalmente nos seguintes estados: Tocantins, Goiás, Maranhão e Roraima. Entre esses, destaca-se o estado do Tocantins, que é o terceiro maior produtor de arroz irrigado do Brasil com uma área de 111 mil hectares, produtividade média de 5.700 kg/ha e produção de 631 mil toneladas de arroz em casca. As principais demandas da cadeia produtiva do arroz irrigado no Tocantins são por novas cultivares de alta produtividade e com resistência às doenças, e por práticas sustentáveis que visam à redução do custo de produção, ao uso e à conservação dos recursos naturais, em especial os hídricos.

As constantes mudanças nas condições de cultivo, incluindo a evolução das práticas de manejo, e na preferência de mercado têm exigido criatividade e dinamismo no desenvolvimento de novas cultivares que atendam os anseios do agronegócio do arroz no País.

Em vista disso, os programas de pesquisa em melhoramento genético de arroz irrigado conduzidos no Brasil utilizam estratégias metodológicas que visam desenvolver genótipos de alta e estável produtividade; resistentes às doenças e pragas; tolerantes ao frio, à salinidade, à toxicidade por ferro e, mais recentemente, resistentes a herbicidas não seletivos. Ademais, devem possuir qualidade de grãos que atenda a preferência do mercado interno, bem como do comércio externo. A relação de cultivares de arroz irrigado pode ser encontrada no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) (disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/cartas-de-servico/defesa-agropecuaria-sementes-e-mudas/registro-nacional-de-cultivares-rnc. Acesso em: 23 jun. 2020) e as suas principais características podem ser encontradas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) (disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/protecao-de-cultivar/protecao-de-cultivares. Acesso em: 23 jun. 2020).

Características das cultivares de arroz irrigado

Um dos fatores que mais contribuem para elevar a lucratividade via aumento da produtividade de grãos na lavoura de arroz é o conhecimento, por parte do produtor, das exigências e peculiaridades das cultivares. Isso permite a escolha do material genético mais adequado à realidade de sua lavoura. Diversas características são consideradas para classificar as cultivares de arroz irrigado. Entre elas, podem ser destacadas características agronômicas importantes relacionadas aos seguintes fatores: ciclo, potencial produtivo, arquitetura de plantas, qualidade de grãos, além de resistência e tolerância a estresses bióticos e de caráter abiótico, como herbicidas.

Ciclo

Quanto ao ciclo de desenvolvimento, as cultivares de arroz irrigado variam, no Rio Grande do Sul, entre superprecoce, com ciclo menor que 100 dias; precoce, de 110 a 120 dias; médio, de 121 a 130 dias; e semitardio, maior que 130 dias. Em Santa Catarina, o ciclo é definido como precoce, menor que 120 dias; médio, de 121 a 135 dias; semitardio, de 136 a 150 dias; e tardio, maior que 150 dias.

Quanto ao ciclo de desenvolvimento, as cultivares de arroz irrigado podem ser classificadas em muito precoces (ou superprecoces), precoces, de ciclo médio, tardias e muito tardias, quando atingem a maturação completa em menos de 105 dias, 105 a 120 dias, 121 a 135 dias, 136 a 150 dias e em mais de 150 dias após a emergência das plantas, respectivamente (REUNIÃO..., 2018). A duração do ciclo é afetada pelas condições do ambiente, notadamente pela duração do dia e variação de temperatura, que diminui e aumenta, respectivamente, com a redução da latitude, para uma mesma época de plantio. Para uma mesma latitude, sabe-se também que a temperatura aumenta com a redução da altitude. E esse efeito na redução do ciclo é maior nas cultivares de ciclo mais longo e menor nas de ciclo mais curto. Dessa forma, uma cultivar de ciclo médio no Rio Grande do Sul pode se revelar precoce na região tropical e duas cultivares de ciclos distintos nas condições gaúchas podem apresentar ciclos similares em latitudes menores.

Produtividade

De modo geral, quanto menor o ciclo de uma cultivar menor é o potencial produtivo, mas esse comportamento pode variar de acordo com o local, o manejo utilizado na lavoura e a constituição genética da cultivar. Outro aspecto a considerar é que as cultivares atuais apresentam elevado potencial produtivo, algumas delas apresentam produtividades semelhantes ao do arroz híbrido.

No entanto, os híbridos de arroz tendem a apresentar maior produtividade e maior capacidade de adaptação aos distintos ambientes e, em consequência, maior estabilidade produtiva do que as cultivares convencionais, pela exploração da heterose ou pelo vigor híbrido, que se expressa de várias formas, notadamente em características morfológicas, como sistema radicular vigoroso, grande capacidade de perfilhamento, maior número de grãos por panícula e grãos com maiores massas.

As cultivares de ciclos precoce e muito precoce são muito importantes para a economia de uso de água, maior flexibilidade na época de semeadura, escalonamento da colheita e auxílio no controle de arroz-vermelho, pela realização da colheita antes que essa planta daninha complete o ciclo.

Resistência a herbicidas não seletivos 

As cultivares podem ser classificadas ainda em resistentes a herbicidas não seletivos ou não. O sistema de produção denominado Clearfield baseia-se na resistência genética a alguns herbicidas do grupo químico das imidazolinonas e foi desenvolvido para auxiliar no controle de arroz-vermelho. Todas as cultivares ou híbridos recomendados para esse sistema são identificadas com o sufixo “CL”. Também estão sendo buscadas cultivares resistentes a herbicidas de outros grupos químicos como os da ACCase, que poderão auxiliar no controle de plantas daninhas já resistentes ao IMI.

Arquitetura

Há quatro tipos de arquitetura de plantas de arroz nas lavouras orizícolas do Brasil: tradicional (plantas altas), intermediária, semianã/filipina (moderna/filipina) e semianã/americana (moderna/americana). A distinção de grupos de plantas auxilia o produtor, pois facilita a tomada de decisões quanto às práticas de manejo a serem adotadas, ao diagnóstico de estresses bióticos e abióticos e à suscetibilidade ou não ao acamamento de plantas.

Chave para a escolha de cultivares e de híbridos de arroz irrigado

Para auxiliar na escolha de cultivares de arroz irrigado, para os estados produtores de arroz irrigado foi elaborada uma tabela classificatória contendo como entrada o estado (UF) o tipo de cultivar (convencional ou híbrida), a resistência aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, a duração do ciclo e o sistema de cultivo (Tabela 1). As cultivares indicadas pela Embrapa e parceiros são mencionadas na Tabela 2. Assim, o usuário poderá acessar diretamente a lista de cultivares de seu interesse, com base nas informações essenciais que definem a(s) cultivar(es) que deverá(ão) ser usada(s). Por exemplo, se a principal limitação da lavoura for a alta infestação de arroz daninho, têm-se duas alternativas de cultivares: a) as resistentes aos herbicidas do grupo das imidazolinonas; e/ou b) as adaptadas ao sistema de cultivo pré-germinado. Em outra situação, por exemplo, no caso em que a semeadura estiver atrasada (a partir da segunda quinzena de novembro), deve-se optar por cultivares de ciclo mais curto (precoces ou muito precoces). Por sua vez, se houver interesse em antecipar a data de semeadura para o início de setembro, devem-se escolher cultivares de ciclo médio ou tardio, conforme estabelece o zoneamento agrícola. Em razão da variabilidade genética entre cultivares, representada por diferenças nas reações a doenças e a estresses ambientais, é aconselhável utilizar no mínimo duas cultivares com características distintas para garantir maior estabilidade da produtividade e facilitar o escalonamento da colheita. Outra medida que pode ser tomada para escalonar a colheita é semear a mesma cultivar em datas distintas, desde que obedecida a época de semeadura recomendada. Para cada estado, foram relacionadas nessa publicação apenas aquelas cultivares que têm a unidade federativa contemplada dentro da sua área de adaptação no seu registro no RNC/Mapa.

 

 

 

Descrição de cultivares de arroz irrigado

São apresentadas, a seguir, algumas características agronômicas das principais cultivares de arroz irrigado em utilização nas lavouras. Maiores detalhes poderão ser obtidos na publicação: Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil (2018). Para tanto, são considerados os últimos lançamentos da pesquisa e a descrição baseia-se, fundamentalmente, em informações fornecidas pelas instituições detentoras das cultivares. 

a) Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e parceria Embrapa/Epagri

 

Epagri 106 - Cultivar precoce, medianamente resistente ao acamamento e à toxidez indireta de ferro. Destaca-se por ser resistente às raças de brusone atualmente prevalentes em Santa Catarina.

Epagri 108 - Apresenta ciclo tardio, resistência ao acamamento e à toxidez indireta de ferro. Destaca-se pela excelente qualidade de grãos e pelo alto potencial produtivo.

Epagri 109 - Muito semelhante à Epagri 108, apresenta ciclo tardio, resistência ao acamamento e à toxidez indireta de ferro. Tem excelente potencial produtivo e boa qualidade de grãos.

SCSBRS Tio Taka - Cultivar de ciclo tardio, resistente ao acamamento, medianamente suscetível à toxidez indireta de ferro, medianamente resistente à brusone, tem alta capacidade de perfilhamento, excelente qualidade de grãos e bom rendimento industrial.

SCS116 Satoru - Cultivar de ciclo tardio, adaptada às diversas regiões produtoras de Santa Catarina, com alto potencial produtivo, grãos com excelente qualidade culinária e alto rendimento industrial tanto para arroz parboilizado como para branco polido. É medianamente resistente à toxidez indireta por ferro.

SCS118 Marques - Esta é a segunda cultivar de arroz irrigado da Epagri obtida por mutação induzida. A cultivar original de SCS118 Marques é a SCSBRS Tio Taka. É uma cultivar de ciclo tardio, adaptada ao cultivo em sistema pré-germinado e indicada para todo o estado de Santa Catarina. Produz grãos de excelente qualidade para arroz parboilizado bem como para arroz branco.

SCS121 CL - É a primeira cultivar de arroz irrigado da Epagri de segunda geração com elevado grau de tolerância a herbicidas do grupo das imidazolinonas, destinada ao sistema Clearfield® (herbicidas Only® e Kifix®). É adaptada para o cultivo em todas as regiões produtoras de arroz irrigado do estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, tanto no sistema pré-germinado como em solo seco. Produz grãos adequados ao processamento para parboilização semelhantes às demais cultivares recomendadas para Santa Catarina.

SCS122 Miura - Esta é a trigésima cultivar de arroz irrigado desenvolvida e lançada pela Epagri e a vigésima segunda para Santa Catarina. Seus principais atributos (em SC) são os seguintes: alto potencial produtivo, ciclo longo, tolerância ao acamamento e excelente perfilhamento, além da boa resistência à brusone. Quanto à toxidez direta e indireta por ferro, é médio suscetível. O degrane é intermediário, recomendando-se não tardar a colheita demasiadamente. Suscetível à escaldadura. Seus grãos são adequados à parboilização.

BR-IRGA 409 - Foi a primeira cultivar do tipo agronômico moderno de planta lançada em parceria entre a Embrapa e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) no ano de 1979. Possui ciclo médio e destaca-se pela excelente qualidade de grãos e alta produtividade. As principais limitações são as suscetibilidades à brusone e à toxidez por ferro. É uma cultivar que possui alta abrasividade nas folhas e na casca e possui arista de tamanho variável em alguns grãos da extremidade da panícula.

BR-IRGA 410 - Cultivar também do tipo moderno de planta e com ciclo médio. Destaca-se pelo alto potencial de rendimento de grãos e pela boa adaptação a todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul. As principais limitações são as suscetibilidades à brusone e à toxidez por excesso de ferro no solo, ao alto índice de centro branco nos grãos e ao baixo rendimento de grãos inteiros, notadamente quando a colheita é realizada tardiamente.

 

c) Embrapa

 

BRS 6 Chuí - Tem bom potencial produtivo, ciclo precoce e grãos do tipo patna (longo, fino e cilíndrico) e com casca lisa. Apresenta moderada resistência à toxicidade por ferro e pode ser semeada mais tarde, com possibilidade da fase reprodutiva das plantas escaparem do frio.

BRS 7 Taim - Destaca-se pela elevada capacidade produtiva, tem ciclo médio, grãos do tipo patna, de casca lisa, clara e sem aristas. BRS 7 Taim possui genes da cultivar TE-TEP, que confere reação medianamente resistente às raças de brusone predominantes no Rio Grande do Sul.

BRS Atalanta - É uma cultivar de ciclo muito precoce, que apresenta plantas com folhas lisas. Possui grãos longos e finos e de casca lisa e clara. Apresenta alto potencial produtivo, boa qualidade de grãos e moderadamente resistente à bicheira-da-raiz.

BRS Firmeza - Possui adaptação a todos os sistemas de cultivo, especialmente ao sistema pré-germinado. Apresenta colmos vigorosos e baixo perfilhamento e necessita de maior densidade de semeadura que as demais cultivares. Seu ciclo biológico é precoce. O rendimento industrial de grãos pode ser superior a 65% de grãos inteiros e polidos. O baixo grau de esterilidade indica que a cultivar apresenta alguma tolerância genética ao frio na fase reprodutiva.

BRS Querência - Cultivar de ciclo precoce, apresenta plantas do tipo agronômico “moderno-americano”, de folhas e grãos lisos, com colmos fortes e alta capacidade de perfilhamento. Destaca-se pela panícula longa e pelo grande número de espiguetas férteis. Seus grãos são longo-finos, com elevado rendimento industrial, translúcidos e de ótima qualidade culinária. Apresenta moderada resistência às doenças.

BRS Sinuelo CL - É oriunda do retrocruzamento entre a cultivar comercial BRS 7 Taim e 93AS3510, fonte de tolerância aos herbicidas do grupo das imidazolinonas. Avaliações moleculares apontam para uma recuperação de cerca de 88% do genoma da BRS 7 Taim. Apresenta ciclo médio, plantas do tipo moderno, com boa tolerância ao acamamento e às doenças, folhas lisas e grãos longo-finos de casca lisa. Cultivar indicada para o sistema de produção Clearfield®, por possuir resistência ao herbicida Only®.

BRS Pampa - Apresenta planta do tipo “moderno”, de folhas pilosas, estatura média e ampla adaptação no Rio Grande do Sul. Destaca-se pelo elevado potencial produtivo, precocidade e resistência às principais doenças predominantes. Seus grãos são longo-finos, de casca pilosa e clara, com baixa incidência de centro branco e alto rendimento industrial de grãos inteiros. Apresenta excelentes atributos de cocção comparados às melhores cultivares destacadas pela indústria gaúcha, com textura solta e macia após a cocção.

BRS Pampeira - Possui ciclo biológico de 133 dias da emergência à maturação, sendo classificada como cultivar de ciclo médio para o RS. Apresenta estatura de 95 cm. As plantas são do tipo moderno, de alta capacidade de perfilhamento e folhas pilosas. Os grãos são longo-finos, do tipo agulhinha, com rendimento de inteiros superior a 62%, baixa incidência de centro branco e textura solta e macia após a cocção. Essa linhagem sempre se destacou nos ensaios de valor de cultivo e uso (VCU), quanto à produtividade de grãos, tolerância ao acamamento e resistência a doenças. Apresenta excelente qualidade de grãos no que tange às características industriais e culinárias. 

BRS A701 CL - É oriunda do retrocruzamento entre a cultivar comercial BRS 7 Taim e Cypress CL, fonte de tolerância aos herbicidas do grupo das imidazolinonas. É recomendada exclusivamente para o sistema de produção Clearfield do Rio Grande do Sul, que tem como principal objetivo o controle de arroz daninho. Apresenta ciclo médio, atingindo a maturação completa aos 130 dias após a semeadura, plantas do tipo moderno, com boa tolerância ao acamamento e às doenças, folhas lisas e grãos longo-finos de casca lisa. Cultivar indicada para o sistema de produção Clearfield®, por possuir excelente tolerância aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo considerada de segunda geração. Apresenta elevado potencial produtivo, principalmente na região da Fronteira Oeste.

BRS Pampa CL - É oriunda do retrocruzamento entre a cultivar comercial BRS Pampa e Puitá Inta CL, fonte de tolerância aos herbicidas do grupo das imidazolinonas. É considerada essencialmente derivada da BRS Pampa. Ambas apresentam as mesmas características agronômicas, industriais e culinárias. Possui ciclo precoce, em média 118 dias. As plantas são do tipo moderno, de alta capacidade de perfilhamento. Os grãos são longos e finos, do tipo agulhinha, com rendimento de inteiros superior a 62%, baixa incidência de centro branco e textura solta e macia após a cocção, semelhante à BRS Pampa classificada como arroz premium pela indústria.

BRS Catiana - É uma cultivar de ciclo médio, com 120 dias da emergência à maturação completa na região tropical. Os grãos são da classe longo-fino, como preferido pelo mercado brasileiro. Os grãos beneficiados apesentam 6,8 mm de comprimento (C) e 2,0 mm de largura (L), com uma relação C/L de 3,4 e aparência translúcida, ou seja, com baixa incidência de centro branco ou áreas gessadas. Outra característica industrial importante é o seu alto rendimento de grãos inteiros, 62,3% na média das avaliações realizadas. Apresenta elevado potencial produtivo (15.535 kg/ha), com uma produtividade média de 7.253 kg/ha, ampla adaptação e senescência tardia (stay green). É recomendada para cultivo em 17 estados do Brasil.

BRS A702 CL - É oriunda do retrocruzamento entre a cultivar comercial BRS Formoso e Cypress CL, fonte de tolerância aos herbicidas do grupo das imidazolinonas. É a primeira cultivar tolerante a herbicida recomendada para cultivo na região tropical do Brasil. Apresenta ciclo curto com 100 dias da emergência à maturação completa. Apresenta plantas do tipo moderno, com boa tolerância ao acamamento e resistência às principais doenças do arroz. Os grãos beneficiados são da classe longo-fino, com rendimento de grãos inteiros de 60%. Cultivar indicada para o sistema de produção Clearfield®, por possuir excelente tolerância aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo considerada de segunda geração. A produtividade média nos estados do Tocantins e de Roraima de 7.650 kg/ha.

 

d) Instituto Rio Grandensse do Arroz

 

IRGA 417 - Foi a primeira cultivar do tipo agronômico moderno derivada de cruzamento entre genitores das subespécies índica e japônica. Destaca-se pela precocidade, alta produtividade, ótima qualidade de grãos, alto vigor inicial de plântulas e boa adaptabilidade a todas as regiões orizícolas do RS. Apresenta reação de suscetibilidade à toxidez por ferro e à brusone na panícula.

IRGA 423 - Cultivar de ciclo precoce que se destaca pela excelente qualidade industrial de grãos. Apresenta estatura de planta baixa, folhas pilosas, resistência à brusone e tolerância à toxidez por ferro. É indicada para cultivo em todas as regiões orizícolas do RS, porém apresenta-se mais adaptada às regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste e Planícies Costeiras Interna e Externa.

IRGA 424 - Destaca-se pelo alto potencial produtivo e pela boa qualidade industrial e de cocção dos grãos, exceto o índice de centro branco, que é considerado intermediário. Apresenta ciclo médio, porte baixo e folhas pilosas. É tolerante à toxidez por excesso de ferro e é resistente à brusone. Essa cultivar é especialmente indicada para cultivo nas regiões da Zona Sul e Campanha, onde apresenta boa adaptação às condições de temperatura média baixa, porém mostra excelente desempenho também nas demais regiões do estado do RS. É uma cultivar que apresenta alta resposta à adubação.

IRGA 425 - Essa cultivar é adaptada ao sistema de cultivo de arroz pré-germinado e apresenta resistência ao acamamento das plantas. Além disso, apresenta bom potencial de rendimento de grãos, é tolerante à toxidez por excesso de ferro no solo e possui grãos com boa qualidade industrial e culinária. Essa é a primeira cultivar desenvolvida especificamente para o sistema de cultivo pré-greminado pelo Irga, podendo ser cultivada nos demais sistemas de semeadura em solo seco sem nenhuma restrição.

IRGA 426 - É adaptada às condições de temperatura média mais baixa, apresentando boa tolerância ao frio na fase de plântula. Apresenta elevada produtividade e estabilidade produtiva nas regiões mais frias do RS, porém está também adaptada para cultivo nas demais regiões orizícolas do estado. Como principais características destacam-se o alto vigor inicial das plantas, a resistência à debulha e à brusone da panícula, a moderada tolerância à toxidez por ferro no solo, além de possuir alto potencial de perfilhamento. Apresenta ainda alta qualidade industrial e de cocção dos grãos, bem como elevado rendimento de inteiros e grãos longo-finos com aparência vítrea.

IRGA 427 - Apresenta alto potencial produtivo e excelente qualidade dos grãos com baixo índice de centro branco e aspecto visual translúcido. Além disso, essa cultivar possui ciclo médio, tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo e plantas com colmos fortes e resistentes ao acamamento quando cultivadas com semeadura em solo seco. É moderadamente suscetível à brusone na folha e suscetível à brusone na panícula. É indicada para cultivo em todas as regiões orizícolas do RS.

IRGA 428CL - É essencialmente derivada da cultivar IRGA 420, sendo registrada como IRGA 428. Apresenta como característica principal a tolerância aos herbicidas Only® e Kifix®. Recomenda-se o uso desta cultivar em áreas que apresentem infestação com arroz daninho, onde o controle por meio de outras técnicas de manejo não seja eficiente. Apresenta ciclo médio, alto potencial de produtividade, boa arquitetura de planta, ausência de pilosidade nas folhas e grãos e tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo. É moderadamente suscetível à brusone na folha e suscetível à brusone na panícula.

IRGA 429 - Essa cultivar é adaptada ao sistema de cultivo de arroz pré-germinado e apresenta resistência ao acamamento das plantas. Pode ser cultivada nos demais sistemas de semeadura em solo seco sem nenhuma restrição. Além disso, apresenta bom potencial de rendimento de grãos. É moderadamente resistente à brusone na folha e moderadamente suscetível à brusone da panícula e tolerante à toxidez por excesso de ferro no solo, além de possuir grãos com boa qualidade industrial e culinária.

IRGA 430 - Pode ser cultivada nos sistemas de preparo de solo convencional, cultivo mínimo e plantio direto, com ampla adaptação nas diferentes regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, apresentando bom desempenho de produtividade dos grãos. É de ciclo precoce, moderadamente resistente à brusone na folha e moderadamente suscetível à brusone da panícula e resistente à toxidez por ferro no solo. Caracteriza-se por apresentar boa qualidade industrial e culinária dos grãos.

IRGA 424CL - Esta cultivar, registrada como IRGA 424RI, é essencialmente derivada da IRGA 424. Apresenta resistência aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo uma alternativa de manejo para o controle do arroz daninho. Possui ciclo médio com alto potencial de produtividade dos grãos e é resistente à brusone na folha e na panícula. Constitui excelente alternativa de cultivo em áreas com histórico de ocorrência de arroz daninho e incidência de brusone. Além disso, é resistente à toxidez por excesso de ferro no solo.

IRGA 431CL - Apresenta resistência aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo recomendada para o sistema de produção Clearfield®. Cultivar de ciclo precoce com alto potencial de produtividade de grãos, resistente à brusone na folha e na panícula, resistente à toxidez por excesso de ferro no solo. Por apresentar adaptação nas diferentes regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, está sendo recomendada para o cultivo em todo o estado.

 

Cultivares desenvolvidas pelas empresas privadas e/ou parcerias público-privadas

 

a) Basf S.A.

 

PUITÁ INTA-CL - Cultivar derivada da IRGA 417 por mutagênese. É recomendada exclusivamente para o sistema de produção Clearfield®, que tem como principal objetivo o controle de arroz daninho. Possui tolerância aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo considerada de segunda geração. Apresenta estatura de planta baixa, folha pilosa e média suscetibilidade à toxidez por ferro. Destaca-se pela excelente qualidade e alto rendimento industrial de grãos inteiros. É indicada para cultivo em todas as regiões orizícolas do estado do RS.

GURI INTA CL - Cultivar obtida do cruzamento das cultivares Camba INTA Proarroz e PUITÁ INTA-CL. É recomendada exclusivamente para o sistema de produção Clearfield®, que tem como principal objetivo o controle de arroz daninho. Possui excelente tolerância aos herbicidas Only® e Kifix®, sendo considerada de segunda geração. Destaca-se pela qualidade de grãos e produtividade. É indicada para todas as regiões orizícolas do estado do RS.

 

b)    Irga/Metropolitana

 

IRGAP H7CL (IRGAP H7RI) - Híbrido de ciclo precoce resistente aos herbicidas Only® e Kifix® utilizados no sistema Clearfield®, destacando-se pelo uso de baixa densidade de semeadura (40 kg/ha) e alto potencial produtivo, pela resistência ao degrane natural das panículas, pela boa resistência à brusone e pela tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo. Possui grãos longo-finos e características industriais e de cocção adequadas ao mercado nacional.

IRGAP H9CL (IRGAP H9RI) - Híbrido de ciclo médio resistente aos herbicidas Only® e Kifix® utilizados no sistema Clearfield®, destacando-se pelo uso de baixa densidade de semeadura (40 kg/ha) e alto potencial produtivo, pela resistência ao degrane natural das panículas, pela boa resistência à brusone e pela tolerância à toxidez por excesso de ferro no solo. Possui grãos longo-finos e características industriais e de cocção adequadas ao mercado nacional.

 

c) RiceTec Sementes Ltda.

 

Avaxi CL - Híbrido com ciclo precoce e indicado para o sistema de produção Clearfield®. Destaca-se pelo seu alto potencial produtivo com ampla adaptabilidade a zonas temperadas. Possui grande capacidade de emissão de perfilhos, o que permite a utilização de baixa densidade de semeadura (40 kg/ha). Apresenta alta rusticidade, boa tolerância à brusone e manchas foliares, além de alta tolerância à toxidez por ferro.

Inov CL - Híbrido com ciclo precoce e indicado para o sistema de produção Clearfield®. É adaptado a zonas temperadas e subtropicais, onde se destaca pela alta produtividade, aliada à alta qualidade industrial e culinária. Por causa de seu potencial de perfilhamento, indica-se a densidade de semeadura com 45 kg/ha. É um híbrido altamente responsivo à adubação.

Titan CL - Híbrido com ciclo precoce e indicado para o sistema de produção Clearfield®. Destaca-se pelo seu alto potencial produtivo com ampla adaptabilidade a zonas temperadas. Possui grande capacidade de emissão de perfilhos, o que permite a utilização de baixa densidade de semeadura (40 kg/ha). Apresenta elevada tolerância à brusone e às manchas foliares, além de alta tolerância à toxidez por ferro. Este híbrido se destaca pelo elevado percentual de grãos inteiros.

Lexus CL - Híbrido com ciclo médio e indicado para o sistema de produção Clearfield®. É adaptado a zonas temperadas e subtropicais, onde se destaca pela alta produtividade em função do tamanho de panícula. Devido ao seu potencial de perfilhamento, indica-se a densidade de semeadura com 45 kg/ha. Apresenta tolerância à brusone e às manchas foliares. É um híbrido altamente responsivo à adubação e apresenta alta qualidade industrial com elevado percentual de grãos inteiros e excelente qualidade culinária.

 

d) Oryza – Pesquisa e Desenvolvimento Rizícola Ltda.

 

Primoriso CL - É a primeira cultivar lançada pela empresa Oryza. É uma cultivar de ciclo médio, com genes de segunda geração de resistência a imidazolinonas do sistema Clearfield®. Destina-se ao cultivo nas regiões produtoras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Caracteriza-se por seu alto potencial produtivo, alto rendimento industrial de grãos inteiros e excelentes características culinárias. Ciclo de 134 dias para Santa Catarina e centro branco de 0,5%.

 

Cultivares de tipos especiais de arroz

 

IAS l2-9 Formosa - Esta cultivar, liberada pelo IAS (atual Embrapa), é também conhecida por 'Formosa' ou 'Formosinha' e pertence à subespécie japônica. Possui grãos curtos do tipo japonês ou cateto, com casca pilosa de cor ouro-claro e sem arista, com baixo teor de amilose e baixa temperatura de gelatinização. É utilizada na culinária oriental, sendo também classificada como arroz do tipo "cachinho". Possui ciclo médio (135 dias) e estatura de 105 cm, portanto, em determinadas situações, é sensível ao acamamento. Sem área de adaptação definida no RNC/Mapa, mas tradicionalmente cultivada no Rio Grande do Sul.

BRS 358 - Cultivar de arroz irrigado desenvolvida pela Embrapa com qualidade de grãos para culinária japonesa, apresentando baixo teor de amilose e temperatura de gelatinização intermediária. Essa cultivar, que é originária da linhagem GIZA 178, introduzida do Egito, possui ciclo médio de 125 dias, estatura média de planta de 86 cm, arquitetura de planta moderna, tolerância ao acamamento e boa resistência às doenças. Registrada para cultivo em GO, MS, RJ, RR, RS, SC e SP.

BRS AG - É a primeira cultivar de arroz irrigado, desenvolvida pela Embrapa para uso do grão como matéria-prima na produção de etanol ou para uso na alimentação animal. Também conhecida por arroz gigante, devido ao tamanho avantajado dos grãos (o peso de 1.000 grãos atinge 52 g). Tem ciclo médio de 126 dias e a estatura média das plantas é de 110 cm. A espessura do colmo é de 5,5 mm, o que lhe confere resistência ao acamamento. Apresenta resistência ao degrane, portanto não se enquadra no risco de tornar-se uma planta infestante da lavoura orizícola. Registrada para cultivo no Rio Grande do Sul.

SCS119 Rubi - Esta cultivar desenvolvida pela Epagri visa atender ao segmento de mercado culinário de grãos de pericarpo colorido. Possui como principal atributo diferencial grãos com pericarpo de cor vermelha e formato longo-fino. Esta cultivar possui ciclo médio de 125 dias, arquitetura de planta moderna, bom vigor e bom perfilhamento, estatura média de plantas (105 cm) e bom potencial produtivo. Foi desenvolvida para sistema de produção pré-germinado e apresenta tolerância à toxidez por ferro e à brusone. Seus grãos podem ser considerados alimentos funcionais por possuir médio teor de compostos fenólicos, tidos como poderosos agentes antioxidantes. Registrada para cultivo em Santa Catarina.

SCS120 Ônix - Esta cultivar desenvolvida pela Epagri também visa atender ao segmento de mercado culinário de grãos de pericarpo colorido, apresentando grãos com pericarpo de cor preta e formato longo-fino. Possui ciclo médio de 125 dias, arquitetura de planta moderna, estatura média de plantas (107 cm), bom vigor e bom perfilhamento. Foi desenvolvida para sistema de produção pré-germinado, onde apresenta tolerância à toxidez por ferro e à brusone. Sob certas condições edafoclimáticas, essa cultivar também pode apresentar espiguetas semiaristadas. Seus grãos também podem ser considerados alimentos funcionais por possuírem alto teor de compostos fenólicos.

SCS123 Pérola - Cultivar de arroz desenvolvida pela Epagri com qualidade de grãos para culinária italiana, especialmente para risoto. Os grãos pertencem à classe meio alongados, com amilose intermediária e 29% de área de grão gessado. A cultivar apresenta ciclo longo (135-144 dias), arquitetura moderna, excelente perfilhamento e vigor, além de resistência ao acamamento. Apresenta estatura média de 110 cm e alta produtividade. Foi desenvolvida para sistema de produção pré-germinado e apresenta tolerância médio-suscetível à toxidez por ferro e médio-resistente à brusone.

BRS 902 - Cultivar de arroz com grãos de pericarpo vermelho, com 6,24 mm de comprimento (C), 2,88 mm de largura (L) e relação C/L igual a 2,2, diferentemente do padrão longo e fino. Foi desenvolvida pela Embrapa a partir do cruzamento entre duas variedades paraibanas ‘PB 01’ e ‘PB 05’. Os grãos possuem excelente qualidade culinária para receitas tradicionais nordestinas e apresentam propriedades funcionais por terem flavonoides de elevada atividade antioxidante. No RS, a BRS 902 possui ciclo médio de 130 dias e estatura de 96 cm. Nos estados do RS e SC, a produtividade média é acima de 7.500 kg/ha, com elevado rendimento de grãos inteiros após beneficiamento industrial na forma de arroz integral.

 

Referências

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Boletim da safra de grãos. Safras 2018/19 e 2019/20 – junho de 2020. Disponível: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras>. Acessado em 29 de junho de 2020.

REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ Irrigado (32.:2016 : Farroupilha, RS). Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil / Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado. - Cachoeirinha: SOSBAI, 2018. 205 p.