Manejo de doenças

Conteúdo migrado na íntegra em: 02/10/2021

Autores

Valacia Lemes da Silva Lobo - Embrapa Arroz e Feijão

Marta Cristina Corsi de Filippi - Embrapa Arroz e Feijão

Anne Sitarama Prabhu - Consultor autônomo

 

Brusone

A brusone, causada pelo fungo Magnaporthe oryzae (Herbert) Barr, forma imperfeita Pyricularia oryzae (Cooke) Sacc., é considerada a doença mais destrutiva do arroz e ocorre em todo o território brasileiro. Os prejuízos são variáveis, sendo maiores em arroz de terras altas, na região Centro-Oeste, e podem comprometer em até 100% a produção nos anos de ataques epidêmicos. Ocorre também em diversas gramíneas comuns em campos de arroz e trigo, como: Cenchrus echinatus, Eleusine indica, Digitaria sanguinalis, Brachiaria plantaginea, Echinochloa crusgalli, Rhynchelytrum roseum, Hyparrhenia rufa, Pennisetum setosum.

As principais fontes de inóculo primário são sementes infectadas e restos culturais. Já a infecção secundária tem como fonte as lesões esporulativas das folhas infectadas.

Todas as fases do ciclo da doença são altamente influenciadas pelos fatores climáticos. A deposição de orvalho ou gotas de chuva nas folhas é essencial para a germinação dos conídios e para o início da infecção. De maneira geral, são necessárias altas temperaturas (de 25 °C a 28 °C) e umidade acima de 90%.

Sintomas 

A doença ocorre desde o estádio de plântula até a fase de maturação da cultura. Os sintomas nas folhas iniciam-se com a formação de pequenas lesões necróticas de coloração marrom, que aumentam em tamanho e se tornam elípticas, de margens marrons e centro cinza ou esbranquiçado (Figura 1). Em condições favoráveis, as lesões coalescem e causam a morte das folhas e, muitas vezes, da planta inteira (Figura 2). Os sintomas característicos nos nós são lesões de cor marrom (Figura 3), que podem atingir as regiões do colmo próximas aos nós atacados. A infecção do nó da base da panícula é conhecida como brusone do pescoço (Figura 4), pois uma lesão marrom circunda a região nodal e provoca o estrangulamento. Pode apresentar chochamento total dos grãos. As panículas ficam esbranquiçadas, sendo facilmente identificadas no campo. Diversas partes da panícula, como ráquis, ramificações primárias e secundárias e pedicelos, também são infectadas.

Fotos: Sebastião Araújo e Antônio Pereira da Silva Filho
Figura 1. Brusone nas folhas.

 

Foto: Sebastião Araújo
Figura 2. Folhas e plantas mortas afetadas pela brusone.

 

Foto: Sebastião Araújo              Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 3. Brusone no nó. Figura 4. Brusone no pescoço.

 

Controle

Os danos causados pela brusone podem ser reduzidos pelo uso de cultivares resistentes, práticas culturais e fungicidas, utilizados de forma integrada no manejo da cultura, quais sejam: adequado preparo do solo; adubação equilibrada, evitando o crescimento vegetativo exagerado da planta; uso de sementes de boa qualidade fitossanitária e fisiológica; plantio feito em um período mínimo de tempo e iniciado no sentido contrário à direção predominante do vento; incorporação dos restos culturais; profundidade de plantio uniforme; densidade de semeadura recomendada para a cultivar ou sistema de plantio; controle de plantas daninhas; destruição de plantas voluntárias e doentes; bom nivelamento do solo; manutenção no nível adequado de água de irrigação durante o ciclo da planta; dimensionamento adequado dos sistemas de irrigação e drenagem; troca de cultivares semeadas a cada 3 ou 4 anos; plantio no início do período das chuvas; emprego de fungicidas aplicados em tratamento de sementes e em pulverização da parte aérea. A proteção contra a brusone na panícula é feita de forma preventiva, por meio de pulverizações com fungicidas sistêmicos: uma aplicação deve ser realizada no final do período de emborrachamento e a outra com até 5% de emissão de panículas. Os fungicidas recomendados estão relacionados em Insumos na Pré-produção. A escolha pode ser feita de acordo com a eficiência do fungicida, sua disponibilidade no mercado, registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e economicidade (Tabela 1).

 

Mancha-de-grãos

A mancha-de-grãos está associada com mais de um patógeno fúngico ou bacteriano e pode ser considerada um dos principais problemas da cultura do arroz. Além de depreciar a aparência e reduzir a qualidade dos grãos, a doença provoca redução da massa dos grãos e consequentemente perda no rendimento industrial.

Os principais patógenos causadores da mancha-de-grãos são os seguintes: Bipolaris oryzae, Phoma sorghina, Alternaria padwickii, Pyricularia oryzaeFusarium spp., Coniothyrium sp., Epicoccum sp., Rhynchosporium oryzae, Sarocladium oryzae, Nigrospora sp., Curvularia spp., Phythomyces sp. e Chaetomium sp. As bactérias que causam descoloração de grãos incluem Pseudomonas fuscovagina e Erwinia spp. Os fungos predominantemente associados com a mancha-de-grãos em arroz irrigado, no estado do Tocantins, são B. oryzaeA. padwickii e Curvularia lunata

Sintomas 

As manchas aparecem desde o início da emissão das panículas até o seu amadurecimento. Os sintomas são variáveis e dependem do patógeno predominante, do estádio de infecção e das condições climáticas. A olho nu é difícil identificar os patógenos envolvidos no complexo mancha-de-grãos apenas pelo sintoma (Figura 5).

A doença é favorecida pela ocorrência de chuva e alta umidade durante a formação dos grãos. O acamamento, por provocar o contato das panículas com o solo úmido, contribui também para aumentar a descoloração dos grãos, bem como os danos causados por insetos, principalmente o percevejo, que predispõem os grãos à infecção por microrganismos.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 5. Mancha de grãos.

 

Controle

O tratamento de sementes com fungicida diminui o inóculo inicial, aumenta o vigor e o estande inicial. O uso de cultivares resistentes, quando disponíveis, e o uso de fungicidas sistêmicos no início da emissão das panículas também são medidas efetivas de controle (Tabela 1).

 

Mancha-parda

A mancha-parda, causada pelo fungo Bipolaris oryzae (anamorfo, Breda de Haan) Shoem, anteriormente referido como Helminthosporium oryzae var. Breda de Haan e hoje considerado sinônimo de Cochliobolus oryzae (teleomorfo), é uma doença comum no Brasil e assume grande importância econômica em arroz. Esse fungo é um dos principais patógenos que causa a mancha de grãos.

As sementes infectadas e os restos culturais são considerados inóculo inicial da doença. A disseminação de conídios pelo ar é responsável pela infecção secundária. O fungo pode sobreviver nas sementes infectadas de 1 a 4 anos, dependendo das condições de armazenamento. O principal fator que influencia a incidência da mancha-parda no cultivo irrigado é a baixa fertilidade do solo, com baixos níveis de adubação, especialmente em potássio, manganês, magnésio, silício, ferro e cálcio. O estresse hídrico aumenta a suscetibilidade da planta. No ecossistema várzeas, a planta torna-se mais suscetível à doença sob condições de falta da lâmina d'água. A temperatura ótima para infecção varia entre 20 °C e 30 °C, a umidade relativa deve ser superior a 89%, além de ser favorecida pelo molhamento das folhas.

Sintomas

A doença afeta a emergência das plântulas nas lavouras semeadas em outubro, logo no início do período chuvoso, e as plantas adultas próximas da maturação. As sementes infectadas apresentam redução na germinação e, em geral, os grãos manchados causam perdas no rendimento de grãos no beneficiamento. Na fase da emergência das plântulas, o fungo causa lesões no coleóptilo de cor marrom e formato circular ou oval. Nas folhas, os sintomas geralmente manifestam-se logo após a floração, com lesões circulares ou ovais com margem parda ou avermelhada e centro acinzentado ou esbranquiçado (Figura 6). As lesões nas bainhas são semelhantes às lesões típicas nas folhas. Nos grãos, as glumas apresentam manchas marrom-escuras que, muitas vezes, coalescem cobrindo o grão inteiro. Quando se manifesta, logo após a emissão das panículas, a infecção provoca a esterilidade das espiguetas.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 6. Mancha-parda nas folhas.

 

Controle

O tratamento de sementes com fungicidas reduz o inóculo inicial. Uso de cultivares resistentes, quando disponíveis, e de fungicidas sistêmicos no início da emissão das panículas também são medidas efetivas de controle (Tabela 1). 

 

Escaldadura

A escaldadura, causada pelo fungo Monographella albescens (Thüm.) Parkison et al., estado imperfeito Rhynchosporium oryzae, está entre as principais doenças do arroz. A epidemia da doença é comum nas lavouras plantadas em rotação com soja. Em geral, é uma doença importante em ambientes com alta precipitação pluvial. Em arroz irrigado, a escaldadura é endêmica principalmente em condições tropicais, e se manifesta na fase de emborrachamento.

As fontes de inóculo primário são sementes infectadas e restos culturais. As condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da escaldadura das folhas são alta pluviosidade, temperatura média entre 24 °C e 28 °C, períodos prolongados de orvalho, alta densidade de semeadura e adubação nitrogenada em excesso. Danos causados por insetos constituem uma porta de entrada para o patógeno.

Sintomas

A escaldadura das folhas exibe mais de um tipo de sintoma. O mais característico é identificado nas extremidades apicais das folhas mais velhas ou nas bordas das lâminas foliares, onde se observa o aparecimento de manchas de coloração verde-oliva, sem margens bem definidas. As lesões evoluem formando sucessões de faixas concêntricas, com alternância das cores marrom clara e escura (Figura 7A). As lesões coalescem e causam necrose e morte da área foliar. Uma incidência severa de escaldadura, ao causar perdas de área foliar, paralisa o crescimento das plantas em pleno estádio de emborrachamento e afeta a quantidade e a qualidade dos grãos. Normalmente, as lavouras afetadas apresentam um amarelecimento generalizado, com as pontas das folhas secas e altura irregular das plantas. Outro tipo de sintoma é caracterizado por pontuações de cor marrom ao longo das folhas, semelhantes aos sintomas iniciais da mancha de grãos (Figura 7B). A escaldadura também pode afetar as bainhas e provocar sintomas parecidos com os das folhas. Nos grãos o fungo causa pequenas manchas do tamanho da cabeça de alfinete e, em casos severos, provoca descoloração das glumelas, tornando-as marrom-avermelhadas.

Fotos: Sebastião Araújo
Figura 7A. Escaldadura nas folhas.

 

Foto: Sebastião Araújo
Figura 7B. Escaldadura nas folhas.

 

Controle

Devem ser usadas sementes de boa qualidade fitossanitária. A aplicação de fungicidas em tratamento de sementes e em pulverização é indicada para o controle doença (Tabela 1). O manejo adequado da água e a rotação de cultura ajudam a diminuir a incidência da doença.

 

Mal-do-pé

A doença, que é causada por Gauemannomyces graminis (Sacc.) von Arx & D. Oliver var. graminis., foi constatada nos seguintes países: Brasil, EUA, Japão, Filipinas e Índia. A doença tem grande potencial para causar danos em lavouras de arroz irrigado. O fungo sobrevive em restos culturais e é disseminado pela chuva e pelo vento. Na cultura do trigo, a doença é favorecida pelo excesso de chuvas.

Sintomas

A doença apresenta como sintoma característico uma coloração marrom-escura ou preta na bainha, na base do colmo, no primeiro e segundo nós e entrenós (Figura 8). Pode causar a morte de folhas e dos colmos. Micélio grosso e escuro pode ser observado no interior dos colmos e das bainhas e é possível visualizar também os peritécios formados. As raízes apresentam coloração preta. Pode-se observar a morte dos perfilhos e o amadurecimento rápido dos grãos, dependendo da fase de crescimento e desenvolvimento em que a planta é infectada. Os sintomas do mal-do-pé são muitas vezes confundidos com os da podridão-do-colmo, causada por Magnaporthe salvinii.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 8. Sintomas de mal do pé em plantas de arroz.

 

Controle

As cultivares variam quanto à suscetibilidade, devendo-se evitar o plantio de cultivares muito suscetíveis.

 

Mancha-estreita

A mancha-estreita, causada por Sphaerulina oryzina K. Hara [Cercospora oryzae Miyake; syn. C. janseana (Racib) O. Const.], constitui um problema quando ocorre em alta severidade nas folhas superiores logo após a emissão das panículas, pois pode reduzir a área foliar fotossintetizante, provocar a redução de massa dos grãos e sua rápida maturação, além da diminuição do rendimento final. Nas cultivares suscetíveis, a doença pode causar a senescência prematura e comprometer a produtividade e a qualidade dos grãos. Nas condições brasileiras, a doença tem pouca importância, porque geralmente ocorre no final do ciclo da cultura. O hospedeiro mais importante do patógeno é o arroz-vermelho.

Sintomas

Os sintomas típicos são manchas estreitas, finas, necróticas, alongadas no sentido das nervuras, de coloração marrom-avermelhada, que aparecem mais frequentemente nas folhas (Figura 9). Sintomas semelhantes podem ocorrer nas bainhas, nos colmos, nos pedicelos e nas glumelas. A doença é favorecida por umidade alta e temperatura elevada (28 °C). A sobrevivência do fungo ocorre nos restos culturais e a disseminação dos conídios é feita pelo vento.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 9. Mancha-estreita.

 

Controle

O uso de variedades resistentes é a medida mais indicada para evitar ou diminuir as perdas. O controle químico com fungicidas registrados para a cultura e para a doença (Tabela 1) também é indicado, além do uso de sementes sadias ou tratadas.

 

Podridão-da-bainha

Essa doença tem alto potencial para causar perdas em produtividade e em qualidade de grãos. No Brasil, a incidência da podridão-da-bainha vem aumentando, principalmente na região Centro-Oeste. É causada pelo fungo Sarocladium oryzae (Sawada) Gams & Hamksworth (syn. Acrocylidrium oryzae Sawada). A sobrevivência do patógeno se dá na forma de micélio nos restos culturais e nas sementes. Os danos causados por insetos servem de porta de entrada para o fungo. Alta densidade de semeadura e deficiência de nitrogênio favorecem a ocorrência da doença.

Sintomas

Os sintomas típicos da doença ocorrem na última bainha, abaixo da folha-bandeira. As lesões são oblongas, com centro cinza ou levemente marrom, com margens de coloração vermelha a marrom. Em estádio mais avançado da doença, as lesões coalescem e cobrem a bainha inteira, o que dificulta a emissão da panícula (Figura 10). As espiguetas apresentam coloração marrom a vermelha e podem apresentar esterilidade. Em caso de alta severidade, as panículas não emergem e as espiguetas apodrecem dentro da bainha.

Controle

Recomenda-se o uso de cultivares resistentes. Não há informação quanto à eficiência do controle químico.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 10. Sintomas de podridão da bainha.

 

Carvão-da-folha

A doença, causada pelo fungo Entyloma oryzae Syd. & P. Syd., foi registrada em diversos países. O desenvolvimento da doença ocorre nas folhas maduras na fase final do ciclo da cultura do arroz e raramente causa prejuízos significativos para a produtividade. É favorecida especialmente por altas doses de nitrogênio. O fungo sobrevive na entressafra, nos restos culturais, e sua disseminação ocorre pelo vento.

Sintomas

Os sintomas típicos são pequenas lesões lineares ou retangulares, em forma de pústulas, entre as nervuras nas folhas superiores (Figura 11). Essas lesões podem ser encontradas também nas bainhas e nos colmos. Quando a severidade da doença é alta, as folhas apresentam coloração amarela e secamento nas extremidades das folhas.

Foto: Sebastião Araújo
Figura 11. Carvão da folha em planta de arroz.

 

Controle

A doença é de baixa importância e de pouca ocorrência nas lavouras, não exigindo nenhuma medida de controle.

 

Falso-carvão

É conhecida também como carvão-verde. Sua ocorrência é esporádica e afeta poucas panículas dentro da lavoura. No Brasil, ocorre principalmente em terras férteis e no cultivo intensivo de arroz irrigado. A doença chama a atenção do produtor devido à sintomatologia apresentada. É causada pelo fungo Ustilaginoidea virens (Cooke) Takah., que sobrevive em restos de cultura e é disseminado pelo vento e pela água. As sementes podem veicular estruturas fúngicas. A alta umidade, chuvas contínuas durante a emissão das panículas, altas temperaturas e excesso de adubação nitrogenada favorecem a incidência do falso-carvão.

Sintomas

Os sintomas se manifestam na fase de maturação. A doença é observada tipicamente nos grãos, na forma de uma massa arredondada de coloração verde-olivácea e aspecto pulverulento. Seu diâmetro varia entre 4 mm e 10 mm (Figura 12). Também se manifesta como uma massa de tamanho reduzido contida pelas glumelas.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 12. Falso-carvão em arroz.

 

Controle

Não há necessidade de controle químico. Recomenda-se que, nas lavouras destinadas à produção de sementes, as panículas infectadas sejam coletadas e imersas em querosene.

 

Cárie ou carvão-do-grão

Essa doença apresenta ocorrência ocasional e causa pequenos danos, porém, em algumas safras ou ano e em algumas regiões, os danos podem ser mais elevados, causando prejuízos na produção. É observada no campo durante a fase de maturação fisiológica dos grãos. O agente causal da doença é Tilletia barclayana Tak (Bref.) Sacc. & P. Syd., 1899 [Neovossia horrida (Takah.) Padwick & A. Khan, 1944]. A disseminação dos esporos do fungo é feita pelo vento. A doença é favorecida pelo excesso de nitrogênio, alta luminosidade, baixa precipitação pluvial e temperaturas entre 25 °C a 30 °C, especialmente durante o estádio de antese.

Sintomas

A doença caracteriza-se por apresentar pequenas pústulas pretas, em decorrência da ruptura das glumas ou do aparecimento sobre o grão (Figura 13), que fica quebradiço como se fosse um dente cariado. O grão pode ficar inteiramente substituído pela massa negra de esporos. Uma das particularidades da doença é o fato de ela não ser sistêmica, ou seja, não é transmitida pela semente. Os teliósporos permanecem viáveis por até 3 anos em grãos armazenados.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 13. Cárie ou carvão do grão.

 

Controle

Algumas práticas de manejo podem ser adotadas para diminuir os danos, tais como: alternância de cultivares, adubação nitrogenada equilibrada, rotação de cultura e escalonamento da data de plantio.

 

Queima-da-bainha

Essa doença vem assumindo importância econômica na cultura do arroz nas várzeas tropicais. É componente essencial do complexo de doenças fúngicas do colmo e da bainha em arroz irrigado, em todo o mundo, tanto em clima temperado como tropical. Atualmente, a doença ocorre em todas as lavouras em maior ou menor grau de severidade, com potencial para causar danos expressivos na produtividade, principalmente no estado do Tocantins, onde o arroz é plantado em rotação com a soja, que é hospedeira de Thanatephorus cucumeris (A. B. Frank) Donk (Rhizoctonia solani Kühn), agente causal da doença. O inóculo primário é constituído pelos esclerócios e pelo micélio presentes em restos culturais e que sobrevivem no solo. O fungo infecta diversas gramíneas e leguminosas, inclusive a soja. É disseminado rapidamente pela água de irrigação e pelo movimento do solo durante a aração. Os esclerócios sobrevivem até 2 anos e aumentam no solo com o tempo, flutuam na água, acumulam-se ao redor da planta de arroz e causam infecção inicial nos colmos, na altura do nível da água. As condições climáticas ideais são baixa luminosidade, umidade em torno de 95% e temperatura entre 28 °C e 32 °C.

Sintomas

A queima da bainha ocorre geralmente nas bainhas e nos colmos (Figura 14A) e é caracterizada por manchas ovaladas, elípticas ou arredondadas, de coloração branco-acinzentada e bordas marrons bem definidas. Em ataques severos, observam-se manchas semelhantes nas folhas (Figura 14B), porém com aspecto irregular. A incidência da doença resulta em seca parcial ou total das folhas, o que pode provocar acamamento da planta. Elevados teores de matéria orgânica e doses de nitrogênio e fósforo, acompanhados de uma alta densidade de semeadura, contribuem para o aumento da severidade da doença. Os danos causados por insetos, como broca do colmo e percevejo, predispõem a planta à infecção por R. solani.

Fotos: Valácia L. S. Lobo
Figura 14A. Queima da bainha nos colmos. Figura 14B. Queima da bainha nas folhas.

 

Controle

Boa drenagem na entressafra, utilização de adubação nitrogenada equilibrada, densidade de semeadura recomendada e uso racional de herbicidas. A rotação do arroz com outras gramíneas, como milho e sorgo, pode reduzir a incidência da doença. O controle químico deve ser feito em duas aplicações: a primeira entre as fases de elongação dos entrenós do colmo e a iniciação da panícula e a segunda no estádio de 80% a 90% das panículas emitidas (Tabela 1). A fertilização com silício (Si) tem se mostrado um método promissor de controle de queima da bainha.

 

Mancha-da-bainha

A mancha-da-bainha apresenta sintomas semelhantes aos da queima da bainha. Ocorre em todas as lavouras de várzeas tropicais, mas os prejuízos não são significativos. A doença é causada por Waitea circinata Warcup & Talbot (Rhizoctonia oryzae Ryker Gooch).

Sintomas

Em contraste com os sintomas da queima-da-bainha, os sintomas da mancha-da-bainha são caracterizados por manchas ovais, levemente verdes, creme ou brancas, com bordas marrom-avermelhadas nos colmos (Figura 15). As lesões são isoladas e não formam as áreas contínuas de infecção típicas da queima-da-bainha. As folhas não são infectadas por R. oryzae. O inóculo primário é constituído pelos esclerócios e pelo micélio de R. oryzae presentes em restos culturais que sobrevivem no solo. O fungo é disseminado rapidamente pela água de irrigação e pelo movimento do solo durante o preparo. Os esclerócios sobrevivem até 2 anos e aumentam no solo com o tempo, flutuam na água, acumulam-se ao redor da planta de arroz e causam infecção inicial. As condições climáticas ideais são baixa luminosidade, umidade em torno de 95% e temperaturas entre 28 °C e 32 °C.

Foto: Valácia L. S. Lobo
Figura 15. Mancha da bainha.

 

Controle

Nas regiões brasileiras que cultivam arroz irrigado, a mancha-da-bainha não tem sido registrada como problema sério e não necessita de nenhuma medida de controle.

 

Podridão-do-colmo

A podridão-do-colmo é uma doença que pode causar prejuízos na produtividade e na qualidade dos grãos. No Brasil, apesar de ser uma doença comumente encontrada nas lavouras de arroz irrigado em todo o território, não existe informação quanto aos danos causados pela doença. A podridão-do-colmo é causada por Magnaporthe salvinii (Cattaneo) R. Krause & R. K. Webster (syn. Leptosphaeria salvinii Cattaneo). O patógeno, no campo, é normalmente encontrado na forma esclerodial, Sclerotium oryzae Cattaneo. O fungo produz também o estádio conidial, Nakataea sigmoidea (Cavara) K. Hara..

Sintomas

Os sintomas primários são observados após o estádio de perfilhamento. Em princípio, as lesões aparecem nas bainhas, como lesões escuras, na altura da lâmina de água. Essas depois atingem o colmo, circundando-o e provocando acamamento da planta e chochamento das espiguetas. Nos colmos, podem-se observar vários escleródios pretos (Figura 16).

A severidade da doença aumenta quando se utilizam altas doses de nitrogênio. O fungo sobrevive na forma de escleródios em restos culturais.

Controle

Devem ser utilizadas práticas que reduzem a quantidade de escleródios, como eliminação dos restos culturais, rotação de culturas e preparo do solo. O controle químico apesar de eficiente é pouco utilizado.

Fonte: Lívia Teixeira
Figura 16. Podridão do colmo em arroz.

 

Ponta-branca

No campo, os sintomas da doença são evidenciados na fase adulta das plantas. A doença impossibilita o amadurecimento uniforme dos grãos. O agente causal da ponta-branca é o nematoide Aphelenchoides besseyi Christie.

Sintomas

O ápice das folhas exibe clorose bastante evidente, tornando-se esbranquiçada, e normalmente se estende por 3 cm a 5 cm. É comum ocorrer o enrolamento da extremidade apical, o que dificulta a emissão das panículas (Figura 17). Pode ocorrer o encurtamento das folhas, o amadurecimento tardio das panículas, a esterilidade e o retorcimento das glumas. As plantas podem apresentar subdesenvolvimento, panículas pequenas e menor número de grãos.

A disseminação do nematoide para as novas áreas pode ocorrer por meio de sementes infectadas, água de irrigação, solo aderido a máquinas e implementos agrícolas. O nematoide é inativado quando a umidade relativa do ar é menor que 70%. A temperatura ótima para o desenvolvimento do nematoide varia de 23 °C a 32 °C. O excesso de nitrogênio, fósforo e potássio aumenta a severidade da doença.

Foto: Cley Donizeti Martins Nunes
Figura 17. Sintoma típico de descoloração e distorção da ponta das folhas de arroz atacadas Aphelenchoides besseyi.

 

Controle

Uso de sementes livres de nematoides. Tratamento térmico e químico das sementes.

 

Nematoide-das-galhas

Os danos causados pela doença, principalmente no Brasil, são poucos, mas sua ocorrência contribui para a alta incidência do mal do colo. O agente causal da doença é o nematoide Meloidogyne javanica.

Sintomas

Aproximadamente duas semanas após a inundação da lavoura, no estádio de plântula, iniciam-se as manchas ou reboleiras, de vários tamanhos e formas. As plantas apresentam redução do crescimento do sistema radicular, raízes necrosadas e presença de galhas nas pontas das raízes (Figura 18), que é o sintoma mais seguro de identificação da doença. Nas raízes mais novas, as galhas são menores e brancas; nas raízes mais velhas, as galhas são marrons acompanhadas de necrose de tecidos. Observa-se acentuada redução do número de perfilhos. Sob ataque intenso ocorre o amarelecimento da parte aérea, que pode ser confundido com o ataque de bicheira da raiz ou fitotoxidez de ferro.

Os nematoides multiplicam-se nas raízes de muitas outras plantas e sobrevivem no solo em forma de ovos, na entressafra. As temperaturas ótimas para a invasão das raízes e reprodução do nematoide das galhas variam entre 25 °C e 30 °C.

Foto: Klaus Konrad Scheuermann
Figura 18. Galhas característica em raízes de plantas de arroz atacadas por Meloidogyne graminicola.

 

Controle

Algumas medidas podem ser empregadas, como: inundação do solo, rotação de cultura, uso de cultivares resistentes e controle químico.

 

Vírus do enrolamento do arroz

Doença causada pelo vírus Rice stripe necrosis virus (RSNV), que é transmitido por Polymyxa graminis, um protozoário que infecta as raízes de gramíneas. Após se multiplicar no interior das células da planta, o polymyxa libera esporos flagelados (zoósporos), que se movem no solo através da água e levam o vírus de uma planta para outra. O polymyxa também produz esporos de resistência que podem permanecer dormentes por muitos anos, tanto no solo como nas células das raízes. Sob condições favoráveis, os esporos de resistência dão origem a novos zoósporos que reiniciam o ciclo da doença.

O RSNV não é transmitido por sementes, mas os esporos de resistência podem ser carregados como contaminantes de sementes de baixa qualidade sanitária.

Desde o primeiro registro da doença, em 1977, na Costa do Marfim, a ocorrência do enrolamento do arroz está restrita a poucos países. As maiores perdas são registradas na Colômbia, chegando a 50% em algumas áreas. No Brasil, a doença foi descrita pela primeira vez em 2002 no estado do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, plantas com sintomas da doença são observadas desde 2006, com expressivo aumento de incidência nas áreas que substituíram o sistema pré-germinado pela semeadura em solo seco. Recentemente, desde a safra 2018/2019, tem sido registrada a ocorrência da doença tanto no arroz tropical quanto subtropical.

Sintomas

Os sintomas podem ser observados a partir dos 20 dias após a semeadura. As plantas podem apresentar listras amarelas ou brancas no sentido das nervuras e encarquilhamento de folhas, resultando, em muitos casos, na morte da planta. As panículas também podem se apresentar retorcidas como as folhas (Figura 19). As raízes das plantas infectadas podem apresentar-se dobradas e tornarem-se necróticas. Além disso, podem apresentar falha no estande, amarelecimento e nanismo, os quais podem ser confundidos com toxidez por herbicida (Figura 20).

Controle

O controle da doença é realizado, principalmente, de forma preventiva.

Evitar o plantio de arroz em áreas com histórico da doença.

Evitar a entrada do RSNV na área utilizando sementes certificadas, priorizando a limpeza e a desinfestação de máquinas e implementos, bem como evitar o movimento de água entre áreas.

Se a doença já estiver instalada, manejar a adubação e a irrigação intermitente, a fim de aumentar o perfilhamento e compensar a redução do estande.

Resistência: Não há cultivares de arroz resistentes ao RSNV.

No Brasil, as áreas identificadas com a doença até o momento são irrigadas. Entretanto, na África, a doença ocorre em arroz de sequeiro e, no Brasil, um vírus parente do RSNV (e também transmitido pelo polymyxa) ocorre em trigo. Portanto, produtores de arroz de terras altas também devem estar atentos.

Foto: Douglas Lau
Figura 19. Sintomas de plantas de arroz infectadas por Rice stripe necrosis virus (RSNV).

 

Foto: Leandro Pimenta

Figura 20. Sintomas causados por Rice stripe necrosis virus (RSNV): redução de estande, amarelecimento e nanismo.

 

Controle biológico

O controle biológico para doenças vem se mostrando cada vez mais eficiente. Microorganismos benéficos, como fungos e bactérias, com múltiplas funções agem por diferentes mecanismos, como, por exemplo: atuam como antagonista em relação aos microrganismos patogênicos (causadores das doenças em plantas), ou protetor das plantas, despertando a defesa nata da planta. Para o controle biológico das doenças do arroz, resultados, em condições de campo, têm demonstrado que já se pode contar com mais esse componente para o manejo integrado das doenças do arroz. Um exemplo prático e recente foi obtido por Oliveira et al. (2020). Os autores observaram que os isolados bacterianos BRM 32111 ou BRM 32113, aplicados via sementes ou pulverização aérea, foram eficientes no controle da brusone das folhas e das panículas, além de proporcionarem um aumento de 55% da biomassa. Os tratamentos que receberam a aplicação dos isolados bacterianos apresentaram um aumento na produtividade de 481 kg/ha, 424 kg/ha, 688 kg/ha e 427 kg/ha.