Arroz
Manejo de insetos-praga
Autores
Jose Alexandre Freitas Barrigossi - Embrapa Arroz e Feijão
José Francisco da Silva Martins - Embrapa Clima Temperado
As plantas de arroz estão sujeitas ao ataque de muitas pragas, sendo que as mais importantes são insetos. Das muitas espécies de insetos e outros artrópodes que se alimentam nas plantas de arroz, poucas causam danos que justificam economicamente o seu controle. No entanto, algumas espécies são muito prováveis de causar injúrias às plantas o suficiente para reduzir economicamente a produção da lavoura. Para evitar ou minimizar as perdas econômicas causadas pelos insetos, é essencial que se conheça tais espécies e, de posse de sua identificação, realizar o seu controle no momento adequado.
Embora os insetos-praga do arroz que ocorrem na região tropical do Brasil sejam os mesmos que ocorrem na região Sul do Brasil, a importância de cada espécie pode variar em razão das condições climáticas e das práticas de cultivo adotadas. A seguir, são apresentadas as espécies que mais predominam no ambiente irrigado por inundação ou nas áreas de baixadas inundáveis da região tropical do Brasil.
Broca-do-colo
Também conhecida como lagarta-elasmo, é mais comumente encontrada no ambiente de terras altas. Por não tolerar ambiente de elevada umidade, como solos de baixadas inundáveis no verão, essa espécie apresenta pouca importância para o arroz irrigado. Quando o arroz é semeado em solo seco, caso não chova logo após a emergência das plântulas, é possível que ocorra ataque especialmente ao longo das bordas da lavoura. Os adultos dispersam dos arredores ocupados por lavouras ou áreas cobertas por gramíneas, para os campos de arroz recém-implantados. As plantas de arroz são mais vulneráveis à praga até os primeiros 20 dias de idade. As mariposas são pequenas e realizam voos curtos e próximos da superfície, justificando seu ataque nas bordas da lavoura. Os ovos são colocados na superfície do solo, próximos da base das plantas. As posturas são de ovos isolados ou eventualmente em pequenos grupos, difíceis de serem encontrados por se assemelharem muito às partículas de solo, principalmente aos grãos de areia. As lagartinhas penetram no colmo da planta de arroz bem próximo à superfície do solo, abrindo um orifício transversal ao colmo. Ligado ao orifício de entrada no colmo, a lagarta se abriga em um tubo construído de teia, solo e detritos vegetais o qual permanece ligado ao colmo da planta de arroz. A larva passa por seis instares antes de se transformar em pupa (Figura 1).
As altas temperaturas do ar que predominam na época de plantio do arroz influenciam também a temperatura do solo. Com temperaturas do solo mais elevadas, o desenvolvimento do inseto (ovo-adulto) ocorre mais rapidamente. Com a morte de plantas, a temperatura do solo pode aumentar ainda mais e contribuir para diminuir a duração do ciclo do inseto. Isso justifica a ocorrência simultânea de ovos, larvas, pupas e adultos em uma mesma lavoura de arroz.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||||
Figura 1. Broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus). Da esquerda para a direita: mariposa, larva, colmo com a parte central morta (coração morto), orifício no colmo e lavoura com falhas devido a danos na lagarta. |
Manejo – Não existe nível de controle determinado para esta espécie. Em locais com histórico frequente de ocorrência de danos significativos, recomenda-se tratar as sementes com inseticidas. Importante enfatizar que a prática do tratamento de sementes é uma forma preventiva de controle de pragas e deve-se recorrer a ela somente se houver histórico de ataques severos em cultivos anteriores.
Mosca minadora
Várias espécies de moscas minadoras (Diptera: Ephydridae) pertencentes ao gênero Hydrellia já foram descritas e relatadas como pragas de arroz, em vários países, como Estados Unidos, Cuba e Suriname, dentre outros. Estas moscas possuem um grande número de hospedeiros e são consideradas pragas esporádicas do arroz. No Brasil, os ataques em lavouras de arroz são conhecidos na região do Baixo São Francisco (AL), em Flores de Goiás (GO) e em Santa Catarina.
Observações de campo indicam que as lesões às plantas ocorrem em arroz jovem, das fases de emergência até o perfilhamento. A lesão é causada por estágios imaturos do inseto (larvas), e são lesões grandes e alongadas ao longo das margens de folhas emergentes. A larva mina ou raspa a superfície da folha antes que ela se desenrole completamente. À medida que a folha se expande, áreas danificadas amarelas tornam-se mais visíveis. As folhas jovens afetadas geralmente se dobram ou exibem uma aparência irregular (Figura 2).
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi (adulto e pupas) e Raimundo Ricardo Rabelo | |||
Figura 2. Mosca minadora – Hydrellia sp. Adulto e pupas e lavoura com sinais de ataque. |
A larva continua se alimentando no interior dos tecidos em formação e entra no perfilho em desenvolvimento. É possível encontrar mais de uma larva em um único perfilho. As plantas afetadas são mortas ou têm seu crescimento severamente retardado. A pupa ocorre dentro do colmo afetado, próximo à bainha da folha. É comum observar moscas adultas pousadas sobre as folhas das plantas afetadas.
Preferência por variedades ou efeito de práticas de manejo na incidência da praga ainda não foram estudados, bem como estimativas da perda de produção. No entanto, a perda de rendimento está relacionada à redução na população de plantas. Além disso, as plantas sobreviventes podem ter o crescimento retardado e desigual e reduzido número de perfilhos produtivos em relação às áreas não atacadas. Plantas novinhas muito debilitadas podem ser submersas pela lâmina d’água. As partes atacadas da lavoura são rapidamente ocupadas por plantas daninhas.
Manejo – Esforços devem ser empregados para reconhecer as espécies de moscas que ocorrem nos arrozais, especialmente no Baixo São Francisco e em Flores de Goiás, onde ataques são reportados com maior frequência. Inspeções devem ser feitas durante as safras para determinar a distribuição da praga nos campos, a época de maior incidência e avaliar impacto econômico do ataque da praga na produção de arroz. Pesquisas em manejo e controle também são essenciais e precisam ser conduzidas em condições de campo.
Gorgulho-aquático – Bicheira-da-raiz
O gorgulho aquático (Oryzophagus oryzae) é uma praga de ocorrência tradicional e crônica, restrita a áreas de arroz irrigado por inundação. Adultos e larvas causam injúria ao arroz, cujos prejuízos dependem da intensidade de infestação e do sistema de cultivo utilizado. O inseto adulto, conhecido por gorgulho-aquático (Figura 3) pode destruir plântulas de arroz no sistema pré-germinado, mas são as larvas, conhecidas por bicheira-da-raiz, que causam os principais prejuízos (reduções de 10 a 18% na produtividade), ao destruírem o sistema radicular das plantas.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi |
Figura 3. Adulto do gorgulho-aquático e folha de arroz com sinal de sua alimentação. |
Na região tropical do Brasil, esta praga tem sido economicamente pouco importante devido ao sistema de manejo cultural empregado. O estabelecimento do arroz na região tropical é feito pela semeadura direta em solo ainda seco. A lâmina de água, na maioria dos locais de produção, é estabelecida mais tarde. Assim, no caso de ocorrer a infestação do gorgulho aquático, quando as suas larvas, que são as causadoras dos danos às raízes das plantas, atingirem os estágios mais vorazes as plantas de arroz já estarão com o sistema radicular mais desenvolvido e, portanto serão mais tolerantes à injúria imposta pela alimentação das larvas.
O efeito das larvas de O. oryzae sobre a produção de grãos pode ser influenciado também pela época de plantio, havendo maiores infestações nos plantios realizados no início do período chuvoso. Apesar de ser possível a ocorrência de mais de uma geração durante o ciclo da cultura, a primeira geração é mais importante porque ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento das plantas, quando o sistema radicular da planta ainda é pouco desenvolvido. Após o início da diferenciação das panículas, as infestações já não afetam significativamente a produção. Os sintomas visuais de ataque às lavouras podem ser confundidos com deficiência de nitrogênio ou toxidez por ferro.
Manejo –
O manejo do gorgulho aquático pode ser feito por meio de práticas, como limpeza dos canais de irrigação; melhoria das condições de nivelamento do solo para evitar a agregação da praga; adubação nitrogenada suplementar em lavoura atacada, para favorecer a recuperação do sistema radicular danificado; e destruição dos restos da cultura, para combater a praga e seus hospedeiros. Em áreas com histórico da ocorrência de níveis populacionais elevados do inseto, recomenda-se o uso de sementes tratadas com inseticida.
Em lavouras que não receberam tratamento químico preventivo, o controle pode ser realizado com base nos dados de amostragens das cicatrizes nas folhas deixadas pela alimentação dos gorgulhos na última folha desenvolvida ou com base no número de larvas. As amostras devem ser retiradas em linhas paralelas às bordas ou canais de irrigação, afastadas de 10 a 20 m, e distantes, aproximadamente, 50 m dentro das linhas. A amostragem das folhas com cicatrizes de alimentação dos gorgulhos na folha mais nova deve ser feita três a quatro dias após a inundação da lavoura, considerando 20 plantas por amostra. Recomenda-se realizar o controle se mais de 50% das plantas amostradas apresentarem folhas lesionadas.
A amostragem para larvas nas raízes deve iniciar 10 a 15 dias após o início da irrigação. Para a amostragem é usado um cilindro de metal ou plástico de 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura (Figura 4). Recomenda-se efetuar o controle químico quando for encontrada uma média de cinco larvas entre as raízes e a terra, contidas no cilindro de amostragem (Martins et al., 2009). Contudo, não existem inseticidas recomendados para o controle de larvas em lavouras de arroz irrigado.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||
Figura 4. Cilindro para amostrar larvas de bicheira-da-raiz e plantas com larvas do inseto. |
Percevejos-do-colmo
A principal espécie que ataca o colmo do arroz é Tibraca limbativentris (Figura 5), chamado simplesmente de tibraca. Trata-se de uma espécie reconhecidamente importante para os cultivos irrigados ou de várzeas úmidas, como predominam em muitas regiões produtoras de arroz principalmente nas baixadas inundáveis do estado do Maranhão.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||
Figura 5. Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris): posturas, ninfas e adultos e panícula branca em planta de arroz resultante do seu ataque ao colmo. |
Existem outras espécies que se alimentam no colmo das plantas de arroz causando injúria e danos semelhantes aos provocados pelo tibraca. Entre as espécies, destacam-se as do gênero Glyphepomis. Nas lavouras irrigadas do estado do Tocantins, predomina Glyphepomis spinosa. No estado do Maranhão, Glyphepomis dubia foi identificada como espécie nova atacando o arroz (Figura 6).
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Figura 6. Percevejo-pretinho (Glyphepomis spinosa): posturas, adulto e planta de arroz exibindo panícula branca resultante do seu ataque ao colmo. |
Ao se alimentarem nos colmos das plantas de arroz, os percevejos injetam saliva contendo proteínas digestivas que agem nas plantas como toxinas que provocam a morte da parte interna do colmo. A injúria nos vasos (floema e xilema) interrompe a translocação de assimilados. Quando o ataque ocorre na fase vegetativa da planta, o perfilho atacado murcha e origina o sintoma conhecido como "coração morto". Na fase reprodutiva, formam-se panículas brancas ou panículas com grande número de espiguetas vazias.
Manejo – Os percevejos infestam os campos de arroz a partir de 35 dias após a semeadura. Inicialmente, passam uma ou mais semanas se alimentando antes de iniciar a oviposição. Recomenda-se iniciar o monitoramento dos campos cerca de 40 dias após a semeadura e a partir de então, realizar as amostragens semanais. A amostragem pode ser feita utilizando um quadro de arame medindo 0,5x0,5m ou simplesmente observando e contanto os percevejos em 1,5 m na fileira de plantas. O procedimento deve ser repetido em pelo menos dez locais distintos iniciando a partir das bordas da lavoura. O controle é recomendado quando for encontrado, na média dos dez pontos amostrados, 0,2 percevejo por quadrado (0,5 x 0,5m) ou por um metro de fileira. É importante iniciar as amostragens no período recomendado, pois, no caso de ser necessária a intervenção com inseticida, é interessante que esta seja feita antes de que os insetos efetuem a postura nas plantas. Como os insetos se alojam na base dos colmos, à medida que as plantas crescem, fica mais difícil de os insetos serem atingidos pelos inseticidas aplicados via pulverização.
Lagartas desfolhadoras
Lagartas são os principais responsáveis pela remoção direta do tecido foliar em plantas de arroz. A espécie predominante é Spodoptera frugiperda (Figura 7). Esta espécie é considerada atualmente uma das principais pragas das culturas em nível mundial. Pode atacar a lavoura em qualquer etapa de desenvolvimento das plantas o que a torna uma espécie crítica para a cultura.
Infestações na fase inicial de desenvolvimento das plantas devem ser controladas quando as lagartas estiverem ainda nos primeiros instares. Lagartas grandes podem consumir totalmente as plantas jovens e diminuir a população de plantas na lavoura.
À medida que as plantas de arroz desenvolvem, a sua capacidade de recuperar da injúria imposta pela lagarta é maior. Do início da fase reprodutiva em diante, o impacto da remoção da área foliar tende a aumentar, principalmente quando as plantas se aproximam da floração (emborrachamento). Entende-se que a remoção da área foliar nesta etapa significa que os assimilados que seriam destinados ao desenvolvimento das panículas e formação das espiguetas (grãos), foram consumidos pelas lagartas. Nesta fase, as plantas não se recuperam da injúria e a produção de grãos será comprometida.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||
Figura 7. Spodoptera frugiperda: postura, larva e adulto. |
Manejo – Para o seu manejo, deve-se monitorar a lavoura, em intervalos semanais, iniciando logo após a emergência das plântulas. Para as amostragens pode-se usar um quadro de metal, medindo 0,5 m x 0,5 m, ao longo das linhas na lavoura. No início da fase vegetativa, uma lagarta de 3o instar, com ± 1 cm de comprimento, em média, por metro quadrado, pode causar uma redução em torno de 1% na produtividade de grãos. Nos estádios mais adiantados da fase vegetativa (30 até 60 dias), as plantas são mais tolerantes ao ataque da praga, pois ainda podem compensar a injúria emitindo novas folhas. Já a partir na fase reprodutiva, pouco antes da emissão das panículas, tornam-se mais suscetíveis. Além do monitoramento, recomenda-se: atentar para os plantios próximos de cultivos de milho e sorgo; adequar a fertilidade do solo para promover o rápido crescimento das plantas, reduzindo o período de maior suscetibilidade ao ataque do inseto e para que possam se recuperar da injúria sofrida.
Brocas-do-colmo
As espécies mais importantes de lagartas que broqueiam os colmos das plantas de arroz no Brasil são Diatraea saccharalis (Figura 8) e Rupela albina (Figura 9). Ambas possuem alto potencial de causar dano econômico em lavouras de arroz irrigado. Apesar de ocorrerem em baixas densidades na maior parte dos arrozais do Brasil, nos últimos anos as brocas vêm apresentando importância econômica em vários locais.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | |||
Figura 8. Broca-do-colmo (Diatraea saccharalis): postura, larva, pupa e adulto. |
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||
Figura 9. Noivinha-do-arroz (Rupela albina): adulto, postura, larva. |
Manejo –
As brocas sobrevivem na entressafra nos restos culturais do arroz ou em hospedeiros alternativos, tais como milho e sorgo. Em lavouras onde a colheita é mecanizada, uma considerável mortalidade de larvas e pupas é provocada pela ação mecânica da automotriz. Contudo, muitos indivíduos sobrevivem principalmente aqueles alojados na base do colmo, rente ao solo, onde a colhedora não os alcança. Isso é ainda mais evidente para a noivinha do arroz que já tem a preferência por se alojar nos internódios mais baixos das plantas do arroz. Em áreas onde os restos culturais não são destruídos após a colheita, ou sob plantio direto, a sobrevivência dos insetos de um plantio para o outro pode ser ainda maior. Como existem muitos inimigos naturais, o controle biológico natural se encarrega de manter a população da praga em nível inferior ao necessário para causar redução econômica na produção. Portanto, a preservação dos inimigos naturais é uma prática importante para manter a população das brocas em nível aceitável. Dentre os inimigos naturais que colaboram para manter a população das brocas sobre controle citam-se os himenópteros parasitóides de ovos, como o Trichogramma spp., cuja ocorrência é generalizada em todos os ambientes onde se produzem grãos. Além desses, existem espécies que parasitam lagartas, dentre elas a Cotesia flavipes e diversos dípteros, além de muitos predadores que atuam em conjunto.
Para o manejo da broca-do-colmo, recomenda-se ainda monitorar a lavoura nos períodos de maior suscetibilidade do arroz à praga, iniciando a partir das fases de alongamento dos colmos até próximo à emissão de panículas. As amostras devem ser retiradas em pontos ao acaso, percorrendo-se o campo em sentido diagonal, iniciando a partir de 10 a 15 m das bordas. Recomenda-se examinar, em cada ponto, dez colmos, a uma distância de 1 m, aproximadamente. Cada colmo deve ser cuidadosamente examinado, e o número de posturas anotado. As posturas que apresentarem coloração cinza-escura estão parasitadas; aquelas que apresentarem manchas róseas irão produzir lagartas em dois a três dias; e aquelas que, durante dois a três dias, mantiverem coloração branca são estéreis. O controle é recomendado quando a porcentagem de colmos com posturas for igual ou superior a cinco e a porcentagem de posturas com sinais de parasitismo estiver abaixo de 50%.
Delfacídeos do arroz
Os delfacídeos do arroz são assim chamados por pertencerem à família Delphacidae. No Brasil são citadas duas espécies com pragas do arroz, Tagosodes orizicolus e T. cubanus. Até bem pouco tempo não havia registro de danos econômicos às lavouras. A incidência mais recente da praga nos arrozais tem sido atribuída à espécie T. orizicolus (Figura 10). Esse inseto é vetor do vírus da folha branca do arroz (VHB), que ainda não foi observado no Brasil. Ocorrência da praga é constatada em levantamentos realizados em várias regiões produtoras de arroz do Brasil, mas ainda não foi associada à presença de viroses. Altas populações de cigarrinhas foram registradas em 2018 a 2021 nos estados do Paraná, Santa Catarina Rondônia e São Paulo, causando perdas econômicas. Os insetos da família Delphacidae podem ser reconhecidos pela presença de um esporão móvel nas extremidades das tíbias posteriores. Os adultos de T. orizicolus medem de 2,7 a 4,0 mm de comprimento. O corpo é de coloração amarelada nas fêmeas e marrom escura nos machos, com uma faixa branca mediana na cabeça e no tórax. As asas são amareladas e transparentes e, nas fêmeas, podem ser curtas (braquípteras) ou longas (macrópteras). As ninfas têm duas faixas longitudinais, uma de coloração marrom-clara e outra marrom-escura, na parte dorsal do corpo (Figura 10). As populações de T. orizicolus crescem com a idade das plantas e atingem o máximo durante o período de florescimento e formação dos grãos.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | |
Figura 10. Delfacídeo do arroz Tagosodes sp. |
Manejo – Os surtos de sogata, no Brasil, são recentes e restritos a determinadas regiões produtoras. Não existem níveis de controle determinados para esta praga considerando as variedades brasileiras e também não existem inseticidas registrados para seu controle. Para reduzir a sobrevivência da cigarrinha na entressafra da cultura, recomenda-se a destruição dos restos culturais e eliminação das plantas de arroz que surgem voluntariamente de sementes que foram deixadas no campo em decorrência das perdas durante a colheita.
Percevejos-do-grão
São várias as espécies de percevejos que se alimentam nas panículas do arroz, sendo Oebalus poecilus e O. ypsilongriseus as mais comuns no ambiente irrigado (Figura 11). Os campos de arroz são infestados no início da floração das plantas e os danos vão se intensificando à medida que as espiguetas desenvolvem. A fase mais crítica é quando as panículas estão na fase de grão leitoso, onde tanto a qualidade como a quantidade produzida pode ser comprometida. Ataques severos resultam na formação de sementes com manchas no endosperma, menor massa e reduzido poder germinativo. Os grãos atacados apresentam aparência “gessada”, de tamanho irregular e, geralmente, se quebram durante o beneficiamento.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | ||
Figura 11. Oebalus ypsilongriseus (esquerda), Oebalus poecilus (centro) e grãos de arroz com danos causados pela alimentação de percevejos (direita). |
Manejo – As lavouras de arroz devem ser amostradas para os percevejos- dos-grãos (Figura 12) a partir do início da floração até que as panículas estejam na fase de grãos pastosos. As amostragens devem ser realizadas no período da manhã (até às 10 horas), iniciando nas margens da lavoura e nas partes onde as plantas estiverem mais vigorosas, pois florescem mais cedo. Recomenda-se usar uma rede entomológica, retirando-se oito amostras, sendo em cada ponto de amostragem efetuar dez batidas de rede, contar e anotar o número de percevejos capturados na rede. O controle químico é recomendado quando forem encontrados, em média, cinco percevejos adultos, por dez redadas, no início da fase leitosa, e dez percevejos adultos, a cada dez redadas, na fase de grão pastoso.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | |||
Figura 12. Amostragem do percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) com rede entomológica. |
Ácaro
Os ácaros (Schizotetranychus oryzae) são pequenos artrópodes mais relacionados às aranhas do que aos insetos. Os adultos são muito pequenos, de coloração amarelo-esverdeada, com manchas escuras e cerca de 0,8 mm de comprimento. Localizam-se principalmente na face dorsal das folhas, onde também podem ser encontrados ovos e larvas entre fios de teia. Ao se alimentarem, introduzem o estilete nas células e provoca lesões características na face superior das folhas (Figura 13). Em cultivos irrigados, populações do ácaro da mancha branca ocorrem nos períodos de tempo seco e quente e podem causar danos severos às plantas de arroz (Figura 13) e comprometer a produtividade de grãos. Condições favoráveis a surtos de ácaro nos arrozais irrigados no estado do Tocantins não são frequentes.
Manejo – O manejo dos ácaros envolve cuidadosa observação das condições ambientais e do estádio de desenvolvimento da cultura. O monitoramento deve iniciar nas margens do campo onde as infestações são mais prováveis de iniciar. As folhas devem ser examinadas para verificar a presença de manchas. A injúria provocada pelo ácaro lembra outras produzidas por diversos estressores, podendo ser confundida com cloroses características de desequilíbrio de nutrientes e de toxicidade de herbicidas. Portanto, a presença de ácaro deve ser confirmada com auxílio de uma lente de aumento. O manejo dos ácaros em arroz é dificultado por não existirem acaricidas ou inseticidas com ação acaricida registrados para seu controle em arroz.
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi |
Figura 13. Folha de arroz com ovo, teia e sinal de alimentação do ácaro Schizotetranychus oryzae (A) e plantas com danos (seca das folhas) resultantes do ataque do ácaro (B). |
Lagarta-da-panícula
As lagartas das panículas alimentam-se de folhas e nas panículas, sendo esse tipo de ataque geralmente o mais significativo porque além das partes consumidas, elas derrubam grande parte das espiguetas. Completamente desenvolvidas, as lagartas medem cerca de 40 mm de comprimento (Figura 14A) e apresentam listas no sentido longitudinal do corpo, sendo a coloração geral marrom-clara em Pseudaletia sequax e marrom-escura em P. adultera. A fase de pupa ocorre no solo, sob torrões e sob restos vegetais ou entre os colmos do arroz. As mariposas de ambas as espécies colocam os ovos presos às folhas ou aos colmos por uma substância pegajosa que também serve para protegê-los dos inimigos naturais
Fotos: José Alexandre Freitas Barrigossi | |
Figura 14. Lagarta-da-panícula (Pseudaletia sp.) (A) e lavoura de arroz atacada (B). |
Manejo – O seu manejo tem sido dificultado porque as lagartas têm o hábito de se alimentarem preferencialmente à noite, permanecendo escondidas entre os colmos das plantas de arroz durante o dia. Sua infestação somente é notada pelos danos característicos pela quantidade de sementes que são derrubadas (Figura 14B). Existem poucas informações sobre a sua bioecologia e as formas de controle, tanto no ambiente irrigado como no de terras altas.