Arroz
Manejo de plantas daninhas
Autores
Mábio Chrisley Lacerda - Embrapa Arroz e Feijão
José Alberto Noldin - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
As áreas de arroz irrigado caracterizam-se por altas infestações de plantas daninhas, resultado do seu uso intensivo, sem adoção de períodos de pousio ou devido às condições favoráveis de umidade e fertilidade da maioria desses solos. Outro fator que contribui para o aumento nas infestações de plantas daninhas é a dificuldade de utilização de outras culturas em sucessão ou em rotação, devido à excessiva umidade dessas áreas, ocasionada pela sistematização em nível e pelo elevado teor de silte e argila normalmente encontrados nesses solos. As elevadas infestações, bem como a diversidade de espécies de plantas daninhas, exigem que os produtores adotem medidas eficientes de manejo; caso contrário os danos causados à produtividade do arroz são extremamente elevados.
Principais espécies de plantas daninhas
Entre as plantas daninhas que ocorrem com maior frequência na cultura do arroz (Kissmann, 1997) irrigado na região tropical, destacam-se Echinochloa crusgalli (Figura 1), Echinochloa colonum (Figura 2), Cyperus ferax (Figura 3), Cyperus iria (Figura 4), Cyperus difformis (Figura 5), popularmente denominadas de junquinho, e Fimbristylis miliacea (Figura 6), denominada de culminho. Na fase inicial da cultura, são bastante competitivas; posteriormente, a competitividade diminui, em especial se a cultivar de arroz for de porte elevado, pois essas espécies não toleram sombreamento.
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 1. Echinochloa crusgalli. | Figura 2. Echinochloa colonum. | Figura 3. Cyperus ferax. |
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 4. Cyperus iria. | Figura 5. Cyperus difformis. | Figura 6. Fimbristylis miliacea. |
Ocorrem também Heteranthera reniformis (Figura 7), Sagittaria montevidensis (Figura 8), e semiaquáticas, como Ludwigia longifolia (Figura 9) e Ludwigia octovalvis (Figura 10).
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann | Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 7. Heteranthera reniformis. | Figura 8. Sagitaria montevidensis. | Figura 9. Sagitaria montevidensis. | Figura 10. Ludwigia longifolia. |
Outras espécies, como as do gênero Commelina e Ipomoea, além de serem altamente competitivas, dificultam a colheita e conferem altos teores de umidade ao grão. Entre as espécies do gênero Brachiaria, destacam-se a Brachiaria decumbens (Figura 11), capim-braquiária, e a Brachiaria plantaginea (Figura 12). O gênero Cenchrus é constituído por 23 espécies, sendo a Cenchrus echinatus (Figura 13), timbete, a mais importante. Das espécies do gênero Digitaria, destacam-se Digitaria horinzontalis (Figura 14), Digitaria insularis (Figura 15) e Digitaria sanguinalis (Figura 16). A diferenciação das espécies no campo é bastante difícil, sendo popularmente chamadas de milhã ou capim-colchão. Vale lembrar que o arroz daninho, que pertence à mesma espécie do arroz cultivado, Oryza sativa, também está presente nas várzeas da região tropical.
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 11. Brachiaria decumbens. | Figura 12. Brachiaria plantaginea. |
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 13. Cenchrus echinatus. | Figura 14. Digitaria horizontalis. |
Foto: Kissmann | Foto: Kissmann |
Figura 15. Digitaria insularis. | Figura 16. Digitaria sanguinalis. |
Métodos de controle
O controle de plantas daninhas consiste na adoção de práticas que resultam na redução da infestação, mas não necessariamente na sua completa eliminação. O controle tem como objetivos evitar perdas de produção devido à competição, beneficiar as condições de colheita e evitar o aumento da infestação das plantas daninhas.
A associação de métodos de controle deve ser utilizada sempre que possível, porém é conveniente que a estratégia de controle no momento oportuno esteja adaptada às condições locais de infraestrutura, disponibilidade de mão de obra e implementos e análise de custos.
O controle químico pelo emprego de herbicidas tem sido um dos métodos mais utilizados na cultura do arroz devido à maior praticidade e à grande eficiência. Esse método permite controlar plantas daninhas na época chuvosa, ou em áreas encharcadas, quando o controle mecânico e o manual são pouco exequíveis e, muitas vezes, ineficientes. Por se tratar de um método que envolve o uso de produtos químicos, subentende-se a existência de conhecimentos mínimos, principalmente para atender a requisitos fundamentais, como máxima eficiência com custo reduzido e com o mínimo de impacto ambiental. A viabilidade econômica da aplicação de herbicidas depende do nível tecnológico do produtor e da infestação das plantas daninhas.
Época e método de aplicação de herbicidas
Os herbicidas podem ser agrupados segundo a época e o método de aplicação:
a) Pré-semeadura: são aplicações realizadas para implantação do sistema de plantio direto e cultivo mínimo. Na pré-semeadura, são eliminadas as plantas daninhas e/ou cobertura verde de inverno antes da semeadura do arroz. Essa é uma operação-chave, pois é ela que substitui as operações de preparo do solo, na eliminação de espécies daninhas, além da formação da cobertura morta. Essa fase é chamada de manejo ou de dessecação, quando são empregados herbicidas não seletivos de ação total.
b) Pré-emergência: a aplicação é feita logo após a semeadura e antes da emergência das plantas daninhas e do arroz. Para uma boa performance dos herbicidas, é importante que o solo esteja úmido ou que ocorram chuvas para a incorporação do herbicida na camada superficial do solo.
c) Pós-emergência: a aplicação é feita após a emergência da cultura e das plantas daninhas. Os herbicidas devem ser aplicados quando as plantas daninhas se encontram no estádio inicial de desenvolvimento. Nessa fase, a plantas daninhas ainda não estão competindo com a cultura do arroz.
d) Pós-emergência após inundação (benzedura): Consiste na aplicação do herbicida sobre a lâmina de água, em pós-emergência. Pode ser feita por avião ou pelo método de benzedura. Nas aplicações aéreas, não é recomendada a aplicação tardia quando as plantas daninhas estiverem com mais de dois perfilhos, pois a cultura e as plantas daninhas dificultam o contato do produto com a água.
Manejo do arroz-vermelho
A similaridade do arroz-vermelho com o arroz cultivado torna difícil o uso de herbicidas seletivos ao arroz. Assim, um controle adequado do arroz-vermelho só pode ser obtido com o emprego de um conjunto de práticas integradas.
a) Controle preventivo
Emprego de sementes isentas de arroz-vermelho, limpeza de equipamentos de preparo de solo e a prática do roguing.
b) Preparo do solo e manejo da água
O sistema de semeadura em solo inundado com sementes pré-germinadas em áreas sistematizadas tem mostrado ser uma alternativa eficiente para supressão e controle do arroz-vermelho. No entanto, para êxito no sistema, é importante que o preparo do solo seja iniciado de 1 a 2 meses antes da época prevista para a semeadura. Geralmente o preparo é iniciado com gradagens com uso de enxada rotativa na primavera, e o solo é mantido com condições de umidade não saturada, as quais são adequadas para a germinação das sementes existentes no solo.
c) Plantio direto e cultivo mínimo
O sistema de plantio direto com cultivo mínimo do solo para o controle do arroz-vermelho foi iniciado no Rio Grande do Sul há cerca de 20 anos. Consiste na semeadura do arroz após a dessecação da vegetação com herbicidas não seletivos. Mais de uma alternativa de preparo de solo tem sido empregada no sistema de cultivo mínimo. O método mais usado consiste no preparo antecipado do solo, seguido de um período de pousio para posterior dessecação da vegetação estabelecida.
d) Rotação de culturas
A rotação com culturas, incluindo soja, milho ou sorgo, tem sido considerada um método eficiente para o controle de arroz-vermelho em muitas áreas de arroz irrigado. A principal vantagem desse método está na possibilidade de utilização de herbicidas seletivos a essas culturas, que têm boa eficiência no controle de arroz, incluindo os tipos daninhos e/ou as misturas provenientes da safra anterior.
e) Sistema Clearfield
Este sistema consiste na utilização de cultivares de arroz resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas, os quais controlam populações de arroz, comercial e vermelho não portadores do referido gene. Os genótipos resistentes foram obtidos pelo Dr. Timothy Crougan na Universidade da Louisiana, EUA. A resistência inicial foi alcançada com trabalho de mutação induzida em linhagens não comerciais de arroz. Essas cultivares são conhecidas como mutantes e não são geneticamente modificadas. No RS, o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) liberou, no ano de 2003, a primeira cultivar brasileira para o sistema Clearfield, designada Irga 422 CL. O sistema Clearfield prevê a utilização de uma cultivar mutante e do herbicida Only.
Aplicação de herbicidas
Controle das plantas daninhas, conforme herbicidas registrados no Mapa (Tabela 1).
Referência
KISSMANN, K. G. Plantas infestantes e nocivas. 2. ed. São Paulo:BASF, 1997. 825 p.