Comercialização

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Raquel Fernandes de Araújo Rodrigues - Embrapa Tabuleiros Costeiros

Dalva Maria Mota - Embrapa Amazônia Oriental

Josué Francisco Silva Júnior - Embrapa Tabuleiros Costeiros

Heribert Schmitz - Consultor autônomo

 

Oriunda predominantemente do extrativismo praticado por comunidades ditas tradicionais, a mangaba é item de consumo fundamental, principalmente, para a população litorânea nordestina, seja na tradicional forma de suco, seja como sorvete e picolé e, mais recentemente, como doces (mousse, pudim, balas, bombons, compotas, por exemplo) e bebidas (mangabaroscas e licores).

 Bastante perecível, a maior parte dos frutos é colhida ainda “de vez”, mangaba que ainda não completou a sua maturação, mas que já passou do estádio “verde”, em que pese a preferência dos consumidores pela “de caída”, fruta madura que se solta da planta e é colhida no solo. Considerada a mais saborosa, a mangaba “de caída” pode chegar a custar em torno de 10% a mais do que a “de vez”. No entanto, segundo comerciantes, em especial, os feirantes de mercados e feiras livres, esse diferencial não é suficiente para compensar o prejuízo causado por um cesto de mangaba desperdiçado no final de um dia de trabalho.

 Segundo dados do IBGE, em Sergipe, maior produtor de mangaba do país, além da venda direta aos consumidores em barracas, seja nos mercados e feiras livres seja em construções improvisadas, os catadores de mangaba também repassam o produto para intermediários que distribuem a fruta nos mercados centrais, Ceasas, fábricas de polpas, sorveterias e lanchonetes, localizadas, predominantemente, em Aracaju, Salvador, Recife e Maceió. Da mesma forma, é comum catadores de mangaba atuarem como intermediários no processo, estabelecendo elos entre outros catadores e os canais de comercialização do produto.

 Outra estratégia adotada por extrativistas de mangaba é a venda do fruto por meio de cooperativas e associações. Em Montes Claros, Minas Gerais, a mangaba é armazenada em caixas de colheita deixadas às margens das estradas próximas às áreas de coleta, por onde passam caminhões que levam os frutos para galpões, a posteriori, vendidos congelados para intermediários. Assim, além da garantia da venda de todo o produto coletado, esses extrativistas encontraram uma alternativa para superar a dificuldade de transporte, uma vez que as vias de acesso são de barro, esburacadas, com trechos de areia e travessias de córregos. Já no município de Indiaroba, Sergipe, mulheres catadoras membros de associações locais, vendem os frutos para o Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal (PAA), que repassa o produto para o hospital do município, onde o mesmo é processado e servido aos pacientes na forma de suco.

Foto: Raquel Fernandes Araújo Rodrigues

Figura 1. Pesagem dos frutos para entrega ao PAA, Indiaroba, SE. 

 

Essas estratégias não são excludentes entre si, pelo contrário, a maior parte dos extrativistas diversificam as formas de comercialização do fruto frente aos riscos e oportunidades de mercado, cada vez mais atrativo, aquecido pela demanda crescente por hábitos de consumo mais saudáveis. Além da utilização dos frutos para consumo, existem relatos de comunidades ditas tradicionais sobre o uso de partes da mangabeira (o látex, folhas, raízes e casca do tronco) para fins medicinais, o que pode despertar, a médio e longo prazo, a atenção da indústria farmacêutica.

Diante desse mercado cada vez mais promissor, nota-se um processo recente de formação de pomares por empresários atraídos pela valorização dos denominados produtos frescos. Em Aracaju, Sergipe, é possível encontrar mangabas embaladas em bandejas de isopor expostas em gôndolas refrigeradas nas principais redes de supermercado. Essa forma de apresentação aumenta o tempo de prateleira do produto, garantindo uma melhor aparência dos frutos, uma vez que aqueles expostos em locais sem refrigeração tendem a escurecer e amadurecer bem mais rápido.

 Em contrapartida, a maior parte dos extrativistas têm sido os menos beneficiados pela valorização econômica da mangaba no mercado, em especial, pela baixa inserção da mangaba na economia local (no Tocantins, Pará, Chapada Diamantina e norte de Minas Gerais as comunidades coletam o fruto quase que exclusivamente para o consumo familiar), oscilações da oferta e demanda e uso frequente de intermediários no processo de comercialização.

Foto: Raquel Fernandes Araújo Rodrigues

Figura 2. Venda da mangaba em feira livre, Diamantina, Minas Gerais

 

Em Sergipe, vendidas em baldes ou latas, durante o ano, o preço do “litro” (unidade de medida) varia de R$ 1,00 a R$ 3,00. A falta de infraestrutura adequada para armazenamento, dificuldades com transportes, ausência de locais adequados para comercialização nas feiras livres (por não possuírem barracas legalizadas, alguns extrativistas vendem a mangaba em cestos e baldes, sempre fugindo da fiscalização) são os principais gargalos apontados pelos catadores de mangaba sergipanos.

 Foto: Ana Veruska Cruz da Silva

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. Acondicionamento de frutos de mangaba em baldes.