Mercado

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Dalva Maria Mota - Embrapa Amazônia Oriental

Josué Francisco Silva Júnior - Embrapa Tabuleiros Costeiros

Raul Dantas Vieira Neto - Consultor autônomo

 

Nos últimos anos, há um aumento substancial do uso de frutas frescas e processadas, dentre as quais, a mangaba para sucos, sorvetes, sobremesas, drinques e pratos sofisticados. A elaboração e o consumo desses produtos se concentram nas cidades e, normalmente, estão sob o domínio de profissionais atentos às novas exigências dos consumidores que, cada vez mais, são ávidos por novidades numa sociedade que parece caminhar para a homogeneização. Por tudo isso, as frutas nativas são revalorizadas e passam a fazer parte de uma estratégia de construção social do litoral nordestino como espaço diferenciado para os que querem viver a experiência de um turismo com fortes vínculos com a cultura local. Pousadas são construídas entre mangabeiras, cartazes produzidos com as frutas frescas, drinques estão disponíveis para aqueles que desejam experimentar, além de geleias nos cafés da manhã, etc. compondo uma pauta de originalidades com forte poder persuasivo.

Mesmo assim, é consenso que a fruta circula num mercado regional, muito embora venha ocorrendo uma ampliação da sua demanda a partir dos anos 90 e ainda não seja possível estimar as fronteiras da mesma, vez que novos hábitos de consumo se geram também pelo trânsito de pessoas que experimentam novos sabores nas regiões de origem destes e buscam continuar dispondo desses sabores nos seus lugares de moradia.

Novidade é a disponibilidade da mangaba na versão polpa em todas as épocas do ano, apesar dos produtos oriundos do extrativismo estarem disponíveis apenas nas épocas de safra. Se, por um lado, essa disponibilidade provocou a dinamização da cadeia, por outro, impulsionou o extrativismo que, em poucos meses do ano (cerca de quatro), tenta abastecer a demanda dos processadores para todo o ano. Assim, não restam dúvidas de que todos os elos da cadeia produtiva, inclusive o consumo, foram dinamizados semelhante ao ocorrido com as frutas domesticadas (manga, uva, banana, etc.). No entanto, para essas, todas as etapas da produção ao consumo foram “cientificizadas”, ao contrário, das nativas (cajá, pitanga, mangaba, umbu, araçá, etc.). Essas últimas estão na moda e atendem a novos padrões de consumo em que a qualidade está mais associada ao seu lugar de produção e à possibilidade de consumir algo de aparência e sabor diferentes, e que também portam uma identidade (p.ex., umbu do sertão, mangaba da praia, cajá da mata).

 Com tudo isso, essas frutas ainda são originárias do extrativismo e não têm uma qualidade e oferta regular, acarretando problemas para o processamento e para a intensificação da comercialização, seja porque não têm volume previsto, seja porque a qualidade (tamanho, cor, sabor, grau de maturação) é variável, ou ainda porque os procedimentos de pós-colheita têm uma outra lógica em que frutos com diferentes características são misturados. Exemplo disso é que a mangaba vermelha não é muito aceita para polpas e sorvetes, porque a cor interfere na aparência do produto, mesmo que não modifique o seu sabor. Algumas vezes, as catadoras misturam frutos verdes com maduros que alteram o sabor e fazem amargar o suco, polpas etc. Sem contar que há diferença entre o sabor da mangaba de inverno e a de verão, sendo que esta última tem melhor aparência.

Foto: Raquel Fernandes de Araújo Rodrigues

Figura 1. Comercialização por extrativistas em Sergipe. 

 

Se em outros setores os consumidores têm feito valer os seus desejos, no caso da mangaba isso apenas começa, e pela via das processadoras, que exigem frutos com cores mais claras e graus semelhantes de maturação para que as polpas e sorvetes tenham aparência suave e sabor aceitável.

Foto: José Roque de Jesus

Figura 2. Variação do amadurecimento de frutos comercializados no mercado municipal de Sergipe. 

 

Nas indústrias de polpa de Sergipe, verifica-se que esta fruta é a mais vendida dentre os mais de 20 sabores geralmente produzidos, sendo responsável por aproximadamente 25% das vendas. A polpa de mangaba, juntamente com as de cajá e graviola são os carros-chefes, impulsionando a venda dos demais sabores. O mesmo pode ser verificado nas sorveterias e lanchonetes, onde o sorvete e o suco de mangaba são os mais consumidos. A nível de  produtor, o preço desta fruta se mantém constante e em bom patamar ao longo dos anos, em torno de R$ 1,00 o quilo durante a safra; nos supermercados, verifica-se preços de R$ 3,00 o quilo do fruto “in natura” e R$ 5,00 o quilo da polpa congelada.