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Pimenta
Correção do solo
Conteúdo atualizado em: 18/02/2022
Autor
Juscimar da Silva - Embrapa Hortaliças
As hortaliças de maneira geral são muito exigentes em nutrientes, por isso, a adição ou restituição ao solo dos nutrientes exportados pela cultura por meio de técnicas agrícolas convencionais, como calagem e uso de fertilizantes, é crucial para atingir altas produtividades e deve ser realizada de maneira equilibrada visando atender a demanda da planta, evitando excessos já que esses insumos podem representar, em alguns casos, até 50% do custo de produção.
A análise química do solo é, portanto, uma ferramenta-chave para avaliar a disponibilidade de nutrientes do solo a ser cultivado, auxiliar na tomada de decisão referente às quantidades de nutrientes a serem adicionadas e corrigir os desequilíbrios nutricionais causados pelo uso excessivo de fertilizantes, muito comum em áreas de cultivo de hortaliças. Conhecer os atributos físicos do solo é, também, de fundamental importância para o manejo adequado da adubação, evitando perdas dos nutrientes por lixiviação que podem causar passivos ambientais.
Para uma correta avaliação da fertilidade do solo deve-se ter cuidado com a amostragem do solo, procurando realizá-la da forma que melhor represente a fertilidade média da área amostrada, porque os laboratórios não conseguem minimizar ou corrigir os erros cometidos nessa etapa. A unidade de amostragem (talhão, gleba, etc.) deve ser uniforme em relação à vegetação, à posição topográfica, às características perceptíveis do solo e ao histórico da área.
A correção da acidez do solo, pela calagem, faz-se necessária para ajustar o pH do solo, reduzir a atividade do Al trocável, promover maior eficiência de absorção de água pelas planta e, principalmente, para atingir o suprimento de Ca e Mg para a máxima eficiência econômica da pimenteira.
A necessidade de calagem pode ser estimada por dois métodos bem distintos: um baseado na Neutralização do Al trocável e elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+ (adotado em Minas Gerias) e o da Saturação por Bases (adotado em São Paulo). Não obstante a determinação da quantidade de corretivos, para obter os efeitos desejáveis da calagem deve-se considerar ainda à época de aplicação, o tipo e a forma de incorporação do calcário.
Método de neutralização do Al3+ e elevação dos teores de Ca2+ e Mg2+
Neste método utiliza-se uma equação matemática composta por duas semi-equações que se somam para definir a necessidade de calcário (NC) para um determinado solo. Na primeira parte da equação é considerada a acidez do solo ocasionada pela presença de Al3+ na solução do solo, bem como as características do solo e a saturação de alumínio tolerada pela pimenteira, cerca de 5%. A segunda parte da equação procura atender a exigência em Ca e Mg da cultura. Assim, a NC por esse método pode ser obtido a partir da seguinte fórmula:
NC = Y x [Al3+ - (mt x t/100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)], onde:
NC = Necessidade de calcário, em t ha-1;
Y = variável relacionada à capacidade tampão do solo e que pode ser definida de acordo com a textura do solo (Tabela 1);
Al3+ = acidez trocável, em cmolc dm-3;
mt = saturação máxima por Al tolerada, m = 5%;
t = capacidade de troca catiônica efetiva (CTCefetiva), em cmolc dm-3;
X = disponibilidade de Ca e Mg requerida pela pimenteira, X = 3;
Ca2+ + Mg2+ = teores trocáveis de Ca e Mg, em cmolc dm-3.
O resultado negativo nos colchetes deve ser substituído por zero para dar continuidade ao cálculo.
Considerando que as solanáceas são, em geral, sensíveis a presença do Al3+ e respondem muito bem a adubação com Ca e Mg, pode-se adotar o valor m = 0 e X = 3. Assim, a fórmula poderá ser escrita da seguinte maneira:
NC = Y x Al3+ + [3 – (Ca + Mg)]
Tabela 1. Valores de Y em função da textura e porcentagem de argila do solo
Textura do solo | Teor de Argila (%) | Y |
Arenosa | 0-15 | 0,0 - 0,0 |
Média | 15-35 | 1,0 - 2,0 |
Argilosa | 35-60 | 2,0 - 3,0 |
Muito Argilosa | > 60 | 3,0 - 4,0 |
Fonte: Alvarez V. e Ribeiro (1999)
Método da saturação por bases
Esse método fundamenta-se na relação existente entre o pH e a saturação por bases. Procura-se elevar a saturação por bases (V) a valores recomendados para cada cultura, que para a pimenta é de 70% do valor da CTC a pH 7,0, a partir da seguinte formula:
NC = [T x (V2 – V1)] / 100, onde:
NC = Necessidade de calcário, em t ha-1;
T = capacidade de troca catiônica a pH 7,0, estimada pela soma de bases e acidez potencial [SB + (H+Al)], determinadas pela análise do solo, em cmolc dm-3;
V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada, para pimenta V2 = 70%;
V1 = saturação por bases atual do solo, em %, estimado por: V1 = (100 x SB/T); sendo SB = Ca2+ + Mg2+ + K + Na, em cmolc dm-3
A forma mais simples para estimar a NC por este método é:
NC = (V2/100) x T – SB, sendo V2 = 70% para a pimenteira a fórmula fica:
NC = 0,7 x T – SB
Independente do método utilizado para estimar a NC, o resultado obtido refere-se à quantidade de materiais corretivos, carbonato de cálcio (CaCO3) ou calcário com poder relativo de neutralização (PRNT) de 100%, a serem incorporados por hectare de solo, na camada de 0 a 20 cm de profundidade. Nesse sentido, em razão da grande variação de fontes de materiais corretivos da acidez, na escolha do corretivo deve ser levado em conta o PRNT, que deve ser de no mínimo 45% conforme legislação vigente, o preço do transporte e o tipo de equipamento disponível de aplicação.
Em geral, deve-se optar por calcários com teores mais elevados de Mg, como os dolomíticos, uma vez que é recomendado um teor de Mg2+ superior a 0,9 cmolc dm-3. Em situações favoráveis ao uso de calcário calcítico, o Mg pode ser complementado por outras fontes, como sulfatos, carbonatos e óxidos. Para solos onde apenas o teor de Mg é baixo (Mg2+ < 0,8 cmolc dm-3) recomenda-se aplicar de 100 a 120 kg ha-1 de sulfato de Mg, no sulco, junto dos outros fertilizantes.
O calcário deve ser aplicado, a lanço, cerca de 90 dias antes do plantio para permitir que as reações de solubilização se processem e o propósito da calagem seja atingido. Depois de aplicado, o calcário deve ser incorporado por meio da gradagem, considerando sistema de cultivo conservacionista. Para melhor efeito da calagem, o solo deve estar com umidade superior a 80% da capacidade de campo.