Pimenta
Sistema orgânico
Autor
Francisco Vilela Resende - Embrapa Hortaliças
Nos sistemas orgânicos de produção o equilíbrio ecológico entre as espécies vegetais e entre os micro e macro organismos é de fundamental importância. O produtor orgânico deve se preocupar prioritariamente com a diversificação da paisagem geral de sua propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até animais maiores. Desta forma procura-se atingir a sustentabilidade da unidade produtiva no tempo e no espaço. Para isto, deve-se, na medida do possível, incorporar ao manejo da propriedade características de ecossistemas naturais, como:
- reciclagem de nutrientes;
- uso de fontes renováveis de energia;
- manutenção das relações biológicas que ocorrem naturalmente;
- uso de materiais de origem natural, evitando àqueles oriundos de fora do sistema;
- estabelecimento de padrões de cultivos apropriados com espécies de plantas adaptadas às condições ecológicas da propriedade;
- ênfase na conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.
O condicionamento climático é conseguido com a delimitação dos talhões de cultivo por cordões de contorno ou cercas vivas. A cerca-viva funciona como um quebra-vento, reduzindo o impacto dos ventos frios ou quentes e a movimentação de algumas pragas e doenças. Cria-se uma sequência de microclimas, com maior ou menor sombreamento, umidade e temperatura. Os microclimas são aproveitados para a acomodação de diferentes espécies vegetais e animais, inclusive de pragas e de seus inimigos naturais. Por isso, a cerca-viva funciona também como um tampão fitossanitário e um componente da biodiversidade da propriedade orgânica. A composição destas barreiras pode ser com espécies de interesse econômico, como por exemplo, o café, espécies frutíferas, madeiras, etc. ou com outros fins como o capim napier, o guandu, a leucena, o hibiscus, o malvavisco, a primavera e a flor do mel (girassol mexicano) que tornam-se fontes de biomassa para as áreas de produção devido a necessidade de podas frequentes. A pimenta é uma planta rústica em comparação com as demais hortaliças e se adapta bem em sistemas orgânicos de cultivo.
1. PRODUÇÃO DE MUDAS
a. Local: estufa com tela clarite na lateral e irrigação por microaspersão preferencialmente. Importante aplicação de água com bastante cuidado para evitar lavar o substrato;
b. Recipientes: utilizar recipientes de maior volume (bandejas de 72 células ou copos de papel) devido menor capacidade de o substrato orgânico manter nutrição das mudas. Complementar nutrição com aplicação foliar de biofertilizantes (2 %, uma vez por semana);
c. Substrato: recomenda-se uma mistura de 50 % da mistura compostada fibra de coco verde mais cama de aviário (proporção 3:1 em volume) mais 50 g/L de rocha moída, 40 % de vermiculita, 5 % de húmus de minhoca e 5 % de composto de farelos (Bokashi®).
2. TRANSPLANTE
a. Época: aos 30 a 35 dias após a semeadura;
b. Espaçamento: preferir espaçamentos mais abertos em relação ao sistema convencional por questões nutricionais e fitossanitárias. Recomenda-se de 1,20 a 1,60 m entre linhas e 0,80 a 1,20 m entre plantas.
3. ADUBAÇÃO DE PLANTIO
De acordo com análise do solo a adubação de plantio é feita com 150 a 200 g/m2 de termofosfato e de 2,0 a 2,5 kg/m2 de composto orgânico. Esta adubação é recomendada para condições de solo do cerrado. Pode ser necessário incluir uma fonte de potássio em determinadas regiões. Composto orgânico Embrapa Hortaliças
São preparadas quatro camadas com a seguinte composição:
Materiais por camada | Quantidade |
Capim braquiária roçado | 15 carrinhos de mão |
Capim napier picado | 30 carrinhos de mão |
Cama de matrizes de aviário | 20 carrinhos de mão |
Fosfato natural ou termofosfato | 14 kg |
Rendimento | ~2.500 kg de composto curado |
Formar camadas de braquiária, napier, cama de matrizes e termofosfato. Os materiais devem ser colocados nessa ordem, até formar quatro camadas. Cada camada deve ser umedecida (60 a 80 % de umidade) sem deixar escorrer. As medidas recomendadas são: 1m de largura x 1,5 m de altura e 10 m de comprimento. O primeiro reviramento deve ser feito aos 10 dias e os demais a cada 15 dias durante 60 dias. Deve-se molhar a cada revirada para manter a temperatura em torno de 60 °C O composto estará pronto quando a sua cor estiver escura e a temperatura em torno de 30 ºC. Aproximadamente de 80 a 90 dias.
4. BIODIVERSIDADE
a. Barreiras de proteção: Uso de cordões de quebra ventos com girassol mexicano, bananeira, café, leucena, gliricídia, etc para proteção dos talhões. Internamente circundando a área de plantio, estabelecer cordões vegetados com espécies anuais e crescimento rápido. Combinar espécies como sorgo, milheto, milho, girassol, crotalária, feijão guandu, etc.
b. Associação com plantas repelentes e/ou atrativas. Usar nas divisões internas ou associadas às linhas de plantio espécies ornamentais (ex: cravo de defunto, crisântemo) e condimentares (ex: coentro, salsa, cebolinha, arruda, alecrim, manjericão, etc).
5. ADUBAÇÕES DE COBERTURA
a. Biofertilizante: Aplicações de biofertilzantes com frequência semanal, na concentração de 5 % por 30 dias após o transplante são importantes para o estabelecimento e fortalecimento das mudas. Estas aplicações podem ser estendidas até o inicio da frutificação dependendo do desenvolvimento e estado nutricional da cultura.
b. Composto de farelos (tipo Bokashi®). Recomenda-se três aplicações de 50 g/panta, sendo uma antes e duas após a frutificação. É importante a incorporação superficial deste adubo visando seu melhor aproveitamento.
Biofertilizante
Infredientes para 1000 L | Quantidade |
Inoculante EM | 10 L |
Farinha de sangue | 11 kg |
Farelo de arroz ou algodão | 44 kg |
Farelo de mamona | 11 kg |
Farinha de ossos | 22 kg |
Resíduos de sementes (trituradas) | 11 kg |
Cinzas | 11 kg |
Rapadura ou açúcar mascavo | 6 kg |
Polvilho de mandioca | 6 kg |
Água | Completar para 1000 L |
Misture todos os ingredientes em superfície plana e limpa. Coloque em um tambor ou bombona plástica. A mistura deve ser agitada três vezes ao dia durante cinco minutos ou aerada com auxílio de um pequeno compressor de ar com intervalo programado de hora em hora. Fica pronto em oito dias.
Inoculante EM
Ingredientes | Quantidade |
Melaço | 8 L |
Vinhoto (ou caldo de cana) | 4 L |
Rapadura ou açúcar cristal | 5 kg |
Polvilho ou batata cozida amassada | 0,5 kg |
Terra de mata (camada de cima) | 10 L |
Água não clorada | Completar para 200 L |
Composto de farelos (Bokashi® anaeróbico)
Ingredientes | Quantidade | Proporção |
Cama de matriz de aviário | 480 kg | 48 |
Calcário dolomítico | 40 kg | 4 |
Torta de mamona | 100 kg | 10 |
Farelo de trigo | 120 kg | 12 |
Farinha de ossos | 50 kg | 5 |
cinzas | 10 kg | 1 |
Solução inoculante | 65 L | 6,5 |
água | ~20 | |
Rendimento: | 1000 kg |
Solução inoculante
Ingredientes | Quantidade |
Água | 60 L |
Leite | 2 L |
Inoculante Shigeo Doi | 2 L |
Açúcar mascavo ou cristal | 1,5 kg |
Em local plano, limpo e protegido de chuva, começando pela cama de matrizes, coloque os ingredientes aos poucos e misture bem. Em um galão de plástico ou outro recipiente, coloque os ingredientes da solução e misture-os bem até dissolver o açúcar. Adicione a solução sobre a mistura, aos poucos, de maneira bem distribuída e uniforme. Acrescente água aos poucos e misture bem. Para encontrar a umidade ideal, aperte a mistura entre os dedos até moldar um torrão sem escorrer água. A decomposição do material que ocorre na ausência de ar leva de 15 a 20 dias para ficar pronto para o uso. O término do processo ocorre quando a temperatura diminui, podendo também ser observada uma camada de mofo na superfície do composto.
6. MANEJO CULTURAL
a. Tutoramento e amarrios. Usar tutores individuais. Evitar amarrio com cordões e materiais que provoquem ferimentos nas plantas. Preferir fitas plásticas (fitilhos) ou fibra vegetal (ex: palha de banana, imbira e cascas de arvores).
b. Podas e desbrotas. Lembrar que o sistema orgânico não há recursos agroquímicos (agrotóxicos e adubos de alta solubilidade) para manter a longevidade da planta. Desta forma a poda deve se feita em função do estado nutricional e fitossanitário da cultura. A desbrota deve ser feita de preferência com um objeto cortante (estilete ou tesoura) sempre desinsfestar estes objetos com álcool ou água sanitária ao mudar de uma planta para outra.
c. Cobertura morta: pode ser usada para manter a umidade do solo e controle de plantas espontâneas: Uso de palhas e capins secos são mais desejáveis do ponto de vista agroecológico.
d. Irrigação: microaspersão ou mangueiras perfuradas tipo santeno em baixa pressão. Sistemas que resultam em maior área molhada, portanto exploração de maior volume de solo pelo sistema radicular, aumentando eficiência de aproveitamento de adubos e por outro lado menor molhamento da parte aérea, reduzindo problemas fitossanitários.
7. CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS
a. Manejo ambiental:
- Instalar a lavoura em área mais distante possível de cultivos mais velhos de outras solanáceas, algodoeiro, soja, feijoeiro, quiabeiro e maxixe. Cultivar as bordas da área com barreiras físicas (ex: combinação sorgo/crotalária, milho/crotalária ou outra planta que forneça flores em abundância).
- Consórcio com plantas aromáticas (coentro, salsa, alecrim, manjericão, hortelã, cebolinha, etc)
- semear 15 a 20 dias antes do transplante em covas alternadas às do tomateiro ou em fileira paralela.
- Irrigação por aspersão, em baixa pressão para o controle mecânico (lavagem) de pragas.
- Doenças foliares: caldas bordalesa/sulfocálcica são recomendadas e podem ser usadas em alternância com óleo de nim (0,5%). Em situações de maior infestação alterna-se uma semana calda bordalesa ou sulfocálcica e outra semana óleo de nim.
b. Inspeção/monitoramento das pragas: Existem armadilhas que podem auxiliar o produtor a adotar um controle curativo.