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Projeto alinha atividades ligadas à biodiversidade em comunidades de matriz africana
A partir de seu título, o projeto “Sustentabilidade em casas tradicionais de matriz africana do DF e entorno: segurança alimentar e nutricional, agroecologia e conservação dos recursos naturais” já sinaliza o grau de amplitude e de alinhamento entre as ações previstas ao longo de seu processo de execução e os objetivos do I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. Lançado em 2013, o Plano vem sendo executado por instituições governamentais, onde insere-se a Embrapa e algumas de suas Unidades Descentralizadas.
Com relação às diretrizes operacionais do Plano, a Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) vem coordenando, desde 2016, as atividades alinhadas no projeto e desenvolvidas em conjunto com as Unidades Cerrados (Planaltina-DF) e Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF), com a participação inicial de doze comunidades de matriz africana, a exemplo do terreiro de nação Ketu, Ilé Asé T’Ojú Labá, dirigido por Mãe Dora de Oyá. Localizado próximo à divisa do Distrito Federal com o Jardim ABC (Goiás), o terreiro é uma das casas participantes do projeto, e onde está sendo construído um sistema biodiverso de produção que vai de frutas a hortaliças, sob a coordenação do agrônomo Vinícius Freitas.
Nessa prática, as plantas cultivadas são introduzidas em consórcios, de forma a preencher os espaços entre elas ao longo do tempo. Também chamado de agrofloresta, o sistema combina plantas de diferentes espécies, idades e alturas para manter o espaço sempre ocupado, e diversificado – hortaliças, grãos, frutas e madeira numa mesma propriedade. “Procuramos manter como foco que o mais importante nesse trabalho é interpretar e teorizar a prática de agrofloresta para que a atividade de plantar florestas entre na dinâmica dos terreiros, e que é possível fazermos isso tanto em pequena escala como numa área maior”, explica o agrônomo.
BONS FRUTOS
No terreiro de Mãe Dora de Oyá um experimento consorciado está em fase de construção, mas já convivem harmonicamente, lado a lado, algumas árvores frutíferas com plantas de hortaliças, “alimentadas e nutridas” pela cobertura de folhas, madeira, pós de rocha e composto orgânico. E apesar dos plantios relativamente recentes, algumas plantas chamam a atenção pela produção de frutos, como é o caso dos mamoeiros. “Algumas transformações já são visíveis, como por exemplo com os mamoeiros, que estão produzindo frutos como nunca vi antes por aqui”, comemora mãe Dora, que defende a formação de uma rede entre as casas para “partilhar conhecimentos e experiências”.
“Se cada um fizer um pouquinho em cada casa e repassar uma tecnologia aprendida, e que deu certo, para outro terreiro, podemos criar uma rede de trocas que vai beneficiar todo mundo”, sublinha a Ialorixá, seguida em sua argumentação pelo coordenador. “São universos diferentes, cada um com suas peculiaridades, mas a ideia é que cada ação seja compartilhada entre as casas”, reforça Freitas.
Ele lembra que a construção da proposta incluiu os eixos da segurança alimentar, agroecologia, uso e conservação de recursos naturais e inovação social, a partir da decisão sobre a metodologia que seria usada. Segundo ele, no momento em que se começa a construir uma narrativa individual em cada casa, o ideal seria fazer paralelos, uma liga das experiências que até então têm ocorrido isoladas e com isso “atar os laços” com os conhecimentos técnicos-científicos acumulados sobre construção e manejo de agrossistemas.
“Essa liga leva algum tempo para ser formada”, reconhece o agrônomo, para quem o projeto pode ser o agente facilitador para a construção desse caminho. “Essa rede de intercâmbio de conhecimentos é parte dos objetivos do projeto, e já está sendo formada desde os primeiros encontros com o pessoal dos terreiros”.
TROCA DE SABERES
Para Francisco Phelipe Paz, historiador e professor de percussão nas oficinas musicais oferecidas pelo terreiro às crianças da região, e que vem participando de algumas das atividades elencadas no projeto, não existe nesse trabalho apenas uma via de mão única, apontando numa só direção, mas bifurcações no sentido de trocas entre os atores envolvidos.
“A Embrapa facilita acesso ao conhecimento que a gente não tinha, como o processo da agrofloresta, e do outro lado vivencia a experiência do terreiro, que agrega princípios de religião junto com a ideia de comunidade, e que tem como base o respeito à natureza. Um respeito que, segundo ele, se reflete no trato com os animais e as plantas: “Se brotou um pé de mamona junto com alguma outra planta não foi por acaso, ela tinha que estar ali, e a gente deve respeitar”, sentencia o professor.
Anelise Macedo (MTB 2.748/DF)
Embrapa Hortaliças
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Mais informações sobre o tema
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