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Especialistas compartilham experiências bem sucedidas na conservação de recursos genéticos animais
Foto: Fernanda Diniz
Da esquerda para direita: Harvey Blackburn, Carlos Mezzadra, Rafael Nuñez e Arthur Mariante
Pesquisadores da Argentina, México e Estados Unidos apresentaram ações concretas de reinserção de raças rústicas de animais no mercado.
Uma mesa redonda realizada no dia 27 ro durante o 10° Simpósio de Recursos Genéticos para América Latina e Caribe (10° Sirgealc), em Bento Goçalves, RS, apresentou experiências bem sucedidas de três países – Argentina, México e Estados Unidos – na reinserção de raças de animais localmente adaptadas no mercado produtivo. As ações foram relatadas pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuaria (INTA) da Argentina, Carlos Alberto Mezzadra; da Universidad Autónoma Chapingo, México, Rafael Nuñez, e do National Center for Genetic Resources Preservation, EUA, Harvey Blackburn, e são desenvolvidas a partir de parcerias com associações de criadores. A mesa redonda foi coordenada pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Arthur Mariante.
Todos esses pesquisadores têm em comum o fato de atuarem na conservação de raças de animais de interesse zootécnico, classificadas pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) como localmente adaptadas. São raças de bovinos, caprinos, ovinos, suínos, galinhas e equinos, entre outros, muitas vezes remanescentes dos animais trazidos pelos portugueses e espanhóis no período de colonização. Ao longo dos séculos, foram sendo substituídas ao longo por outras consideradas mais produtivas e hoje, muitas estão ameaçadas de extinção. Só que, além de serem fontes de genes de interesse para programas de melhoramento genético, pela adaptação ao longo do tempo, são animais rústicos capazes de produzir em condições de escassez de comida e de clima adverso. Por isso, a sua conservação é premente, especialmente para pequenos criadores.
Conservação participativa: Argentina mantém bancos vinculados
Uma das ações de êxito, descrita pelo pesquisador do INTA/Argentina são os bancos de conservação chamados de "vinculados", mantidos em parceria entre o Instituto e os produtores. Esses bancos conservam raças de animais, especialmente ovelhas, a partir de ações participativas. "Essa é a melhor forma de garantirmos a conservação desses animais, reinserindo-os no mercado produtivo", ressalta Mezzadra.
Graças a esses programas de conservação participativa, a raça de ovelha argentina Linca, da Patagônia, já está livre do risco de extinção.
Além disso, resultou também na independência financeira de mulheres artesãs dessa região que vivem da renda oriunda da lã dessas ovelhas e, atualmente, ganham mais do que seus maridos. Já criaram até uma ONG e garantiram seu lugar no roteiro turístico da Patagônia com a venda de ponchos e outros produtos artesanais. "A ovelha é hoje o símbolo de uma cultura que seria invisível, não fosse pela sua preservação", complementou o pesquisador argentino, lembrando que é este é um forte exemplo de valorização de um recurso genético.
No México, o exemplo de sucesso é com o porco Pelón Mexicano
Sob a mesma filosofia, a da conservação participativa, o representante da Universidade de Chapingo, Rafael Nuñez, falou sobre o caso de sucesso do porco Pelón Mexicano, na Península de Yucatã. "Investimos em estudos de vconservação, a partir da identificação de nichos de mercado", afirmou Nuñez.
O porco Pelón Mexicano é a base de um prato muito tradicional na gastronomia de Yucatã, a Cochinita pibil, composto de carne de porco temperada com laranja e cebola roxa, cozida num forno debaixo da terra.
Estados Unidos: raças não comerciais agregam valor ao produto final
Harvey Blackburn falou sobre o programa de conservação de recursos genéticos desenvolvido pelo ARS/USDA (Agricultural Research Service/United States Department of Agriculture) que hoje abrange cerca de 800 mil amostras de 25 mil animais.
Segundo ele, o êxito desse programa, que envolve bois, cabras, perus, bisões, ovelhas e animais aquáticos, entre outros, não teria sido possível sem a participação dos mais de três mil criadores parceiros representantes de várias regiões norte-americanas.
Blackburn destaca que os animais não comerciais e os produtos "farm to table" estão conquistando cada vez mais o interesse do consumidor norte-americano. Assim como os brasileiros, eles atendem ao perfil do consumidor contemporâneo, que cada vez mais busca uma alimentação saudável, com menos produtos industrializados, menos agrotóxicos e conservantes.
Para se ter uma ideia, no dia de ação de graças, que é uma data comemorativa de grande importância no calendário norte-americano, um peru, que é o alimento tradicional da festa, custa cerca de US$ 10 a 15. "Este mesmo produto pode chegar a custar US$ 100, se vier direto da fazenda de um produtor", enfatiza o especialista americano.
Nicho de mercado: esse é o caminho para garantir a conservação desses recursos genéticos
Ao final do evento, o coordenador da mesa-redonda, Arthur Mariante constatou que o ponto em comum nas apresentações dos três palestrantes foi a importância dada à identificação de nichos de mercado. Segundo ele, esse é de fato o caminho para garantir a sobrevivência dessas espécies seculares, além de gerar renda para os criadores de comunidades tradicionais e pequenos produtores.
"Por sua rusticidade, esses animais são capazes de produzir muito com pouco. E, por isso, são opções muito importantes para os criadores de vários países latino-americanos", ressalta Mariante, lembrando que nenhuma instituição, seja ela pública ou privada, consegue desenvolver ações de conservação sozinha. "É fundamental contar com o apoio de criadores, associações e cooperativas, além de instituições de pesquisa e ensino na preservação desse tesouro genético. Não podemos esquecer que a história desses animais se confunde com a própria história das Américas", finalizou.
Fernanda Diniz (MTB 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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