Embrapa Alimentos e Territórios
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Agroecologia, territórios e cultura alimentar no Semiárido são temas de rodas de diálogos
Foto: Nadir Rodrigues
Geize Holanda, Moacir Haverroth, Josilene Magalhães, Alexandre Pires e Ricardo Elesbão na abertura do evento
Uma diversidade de agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais do Nordeste compartilhou suas práticas agrícolas, culturais e sociais durante o seminário Diálogos sobre Agroecologia, Territórios e Cultura Alimentar, realizado em Piranhas (AL), em 31 de agosto. O evento organizado pela Embrapa Alimentos e Territórios como parte das celebrações dos 50 anos da Embrapa ocorreu no Centro de Convenções Miguel Arcanjo de Medeiros, com transmissão ao vivo pelo YouTube.
O principal objetivo foi mostrar as experiências dos municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Sergipe, Piauí e Pernambuco, que integraram o projeto Segurança alimentar e nutricional, e geração de renda para agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais do Semiárido brasileiro. Desenvolvido no âmbito do Projeto Dom Helder Câmara, segunda fase (PDHC II), é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e cofinanciado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).
“As atividades seguiram um percurso metodológico baseado na interculturalidade, interdisciplinaridade e na construção e intercâmbio de conhecimentos”, de acordo com o analista da Embrapa Fabrício Bianchini. Essa troca entre os pesquisadores, gestores, agentes públicos e as comunidades também permitiu um diálogo sobre as políticas de manejo e conservação da biodiversidade, redução da pobreza rural e das desigualdades de gênero, geração e etnia, fortalecendo a capacidade de organização e empoderamento dos públicos beneficiários do projeto, em especial os jovens e as mulheres.
Entre as várias metas estabelecidas, estavam as capacitações junto aos atores sociais envolvidos, construídas de forma participativa, priorizando a partilha de conhecimentos e a troca de informações e tecnologias. Além disso, foram realizadas diversas ações para a valorização de iniciativas inovadoras de agregação de valor e reconhecimento de experiências locais ligadas à cultura alimentar. Essas ações ainda estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), em especial para redução da fome e da pobreza, igualdade de gênero, aumento da eficiência do uso dos recursos naturais, produção sustentável de alimentos e consumo responsável.
Durante o seminário, houve seis rodas de diálogos, que contaram com a participação de pesquisadores da Embrapa e de representantes das comunidades, associações e instituições parceiras, além de uma feira da sociobiodiversidade e apresentações culturais. Os temas das rodas estão relacionados aos eixos de atuação do projeto: Manejo da sociobiodiversidade e da agrobiodiversidade, Produção orgânica e agroecológica, Reconhecimento de iniciativas de valorização de Sistemas Agrícolas Tradicionais e alimentação escolar, Valorização do patrimônio ambiental e cultural para agregação de valor a iniciativas de geração de renda, e Gestão do conhecimento e comunicação.
Representando todas as comunidades presentes na abertura, Geize Holanda da comunidade Quilombola Custaneira, reafirmou a importância do Prêmio Dom Helder Câmara, concedido a sistemas tradicionais do Semiárido, na luta de cada comunidade. “Sem dúvida é um fortalecimento muito grande dentro da nossa história, uma forma de visibilizar aquilo que nós somos, aquilo que nós temos de melhor e dizer que nós existimos. Por mais que a sociedade colonizadora, por mais que o racismo esteja presente em nossa vida ainda, infelizmente, nós estamos aqui fazendo cultura, espalhando o nosso saber, a nossa forma de ser, a nossa forma de fazer”, destacou.
Para ela, é fundamental que o prêmio seja só mais um importante passo, já que há muito ainda a ser feito pelos quilombos, aldeias, fundos de pasto e comunidades tradicionais como um todo. “É importante que órgãos como a Embrapa, como os demais parceiros, continuem a ter esse olhar carinhoso para nossas comunidades, para que consigamos mostrar que não só vocês podem nos ajudar, mas a gente pode ajudar vocês com o nosso conhecimento, com aquilo que nós aprendemos com os nossos ancestrais e que temos orgulho de perpetuar”, disse.
A coordenadora do Projeto Dom Helder Câmara pelo MDA, Josilene Magalhães, comemorou emocionada os resultados. Ela lembrou das dificuldades enfrentadas desde 2014, quando começou a segunda etapa do projeto, mas que graças à força dos parceiros está sendo finalizado com sucesso. Para a coordenadora, uma razão desse êxito foi a aproximação com a Embrapa, por meio da parceria estabelecida com cinco Unidades: Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Meio-Norte, Embrapa Agroindústria Tropical, Embrapa Semiárido e Embrapa Alimentos e Territórios, a última a formalizar o convênio.
“Estamos alcançando as 74 mil famílias propostas, executamos o último dólar e euro desse contrato, graças a essas parcerias”, celebrou, demonstrando orgulho em ver tudo que foi executado pela Embrapa Alimentos e Territórios e parceiros num tema que é valioso para o projeto, trabalhar a alimentação saudável e a questão da cultura. Magalhães informou que hoje o projeto é prioridade do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já aprovou a terceira fase com mais de 45 milhões de dólares para serem investidos no Semiárido. “As parcerias com a Embrapa foram algo muito positivo e, para dar continuidade, a gente precisa fortalecer essas parcerias, trazer novos parceiros, ampliar, trazer mais as comunidades”, frisou.
Na visão do diretor de combate à desertificação da Secretaria Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Alexandre Pires, esse recorte de trabalho com as comunidades tradicionais, os povos indígenas, as comunidades quilombolas, de fundo e fecho de pasto, pode ser entendido como uma evolução do projeto Dom Helder Câmara.
“Temos várias agendas muito complexas no contexto da emergência climática, da produção de alimentos saudáveis, da segurança e soberania hídrica, mas as respostas, elas não estão nos nossos laboratórios de pesquisa. As respostas estão exatamente nas comunidades, com os povos de comunidades tradicionais, com os povos indígenas que vivem e convivem com esse território que é o Semiárido. Então acho que o grande desafio nosso, como gestores públicos, dos próprios centros de pesquisa, da academia, é buscar fazer esse diálogo com as comunidades tradicionais, com os povos indígenas”, afirmou Pires.
O diretor lembrou “o desafio que é fazer o diálogo sobre soberania, segurança alimentar e nutricional no contexto do combate à desertificação. Porque a degradação dos solos, a supressão das nossas matas, da nossa mata branca, que é a caatinga, certamente impacta de forma grandiosa a garantia da segurança alimentar, dos modos de produção e de consumo dos alimentos pelas comunidades tradicionais”, alertou.
No encerramento do seminário, o chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios, João Flávio Veloso Silva, agradeceu aos presentes por receberem as equipes da Embrapa em seus territórios e por trazerem seus conhecimentos, além dos representantes das instituições parceiras. Ele falou da atuação do centro de pesquisa da Embrapa, que procura fortalecer a cultura alimentar do Brasil a partir dos territórios e pauta-se pelo olhar do consumidor para os alimentos, valorização do patrimônio alimentar e apoio ao fortalecimento das políticas públicas alimentares.
A diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler, ressaltou a importância de se valorizar o patrimônio alimentar brasileiro, que é único em sua diversidade. Ela também citou a necessidade de se estabelecer um diálogo com a sociedade sobre a Embrapa dos próximos 50 anos, lembrando que a Empresa foi criada quando o País era importador de alimentos, mas que hoje os desafios são colocar o alimento no centro de uma agenda de transição ecológica, energética, alimentar e digital, para responder a um mundo em crise. “Se o mundo está em crise é porque a forma como nós nos relacionamos economicamente com o planeta não é sustentável. E, nesse sentido, o nosso desafio não é mais só produzir mais alimentos. É produzir alimentos saudáveis”, reforçou.
Segundo ela, a nova diretoria da Embrapa entende que esses desafios só vão ser superados estando muito próximos do público, tanto dos agricultores familiares como dos consumidores e de todas as pessoas que estão nessa cadeia produtiva e nesses sistemas alimentares. Euler disse que é um orgulho ver que a Embrapa está dialogando, como diz a presidente Silvia Massruhá, com os pequenos, os médios e os grandes produtores. “A gente tem que fazer mais pela agricultura familiar; eu não tenho dúvida, temos que estar mais próximos, mas, historicamente, nós sempre trabalhamos com a agricultura familiar e queremos fazer mais e melhor” finalizou.
Para o professor Carlos Alberto Dayrell, colaborador do Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o seminário permitiu conhecer a riqueza da biodiversidade presente nas comunidades, a capacidade delas de se atualizar frente a novos desafios e a relevância da construção de políticas públicas. O chef de cozinha Max Jaques, pesquisador do Instituto Brasil a Gosto e membro do Comitê Assessor Externo da Embrapa Alimentos e Territórios, destacou a importância de se reconhecer também o saber popular das merendeiras e nutricionistas, valorizando essas profissionais como agentes de contribuição e transformação social pelo papel relevante que desempenham na alimentação escolar.
A programação contou, ainda, com a participação, como debatedores, dos pesquisadores da Embrapa Alimentos e Territórios João Roberto Correia, Moacir Haverroth, Paola Cortez e Priscila Bassinello e vários representantes das comunidades, associações e instituições parceiras. São eles: Aline Oliveira da Silva, do Assentamento Lameirão, Ana Paula da Silva, do Assentamento Nova Esperança, Anna Luna e Maria Helena Silva, da Bioativo Consultoria, Cristiana Purcell, do Senac Alagoas, Denise Cardoso, da Central da Caatinga, Eliel Leobino, da Comunidade Andorinhas, Franklin Melo Freitas, da Terra Indígena Ilha de São Pedro/Caiçara - Povo Xokó, Genilda de Brito, da Creche Cria, Juliana Duarte, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai Alagoas), Maria Eunice de Jesus, da Associação de Agricultores Alternativos (Aagra), Maquisuel Soares da Silva, da Terra Indígena Tingui-Botó, Pedro Duarte da Conceição, da Comunidade Cachoeirinha, Rute Barbosa, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan Alagoas), Salete Barbosa e Vera Lúcia Félix de Brito, da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do Estado De Alagoas (Coopcam), Iran Xukuru (IPA) da Terra Indígena Xukuru de ororubá, Pesqueira, PE, Israel Kapinawá da Terra Indígena Kapinawá em Buíque, PE.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
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