Chefs de cozinha buscam ingredientes nas espécies nativas brasileiras
Chefs de cozinha buscam ingredientes nas espécies nativas brasileiras
Foto: Acervo Internet
O Chef de cozinha Marcos Livi proferiu aula show com degustação sobre gastronomia do Sul
A valorização dos ingredientes 100% brasileiros por chefs de cozinha famosos, como o premiado chef paulistano Alex Atala, mostra que o uso de espécies nativas é uma tendência crescente na culinária brasileira. E o que o mercado procura? De acordo com Eduardo Campos Filho, do Instituto Socioambiental (ISA), existe uma tendência para a busca de produtos locais/frescos, ecologicamente sustentáveis, com pouco processamento, de marcas locais, legalizados e, se possível, de procedência conhecida.
O assunto foi tema da palestra "Alimentos de espécies nativas do Brasil: atualidades e tendências", proferida durante o Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial: Espécies nativas do Brasil, realizado nos dias 21 e 22 deste mês em Campinas (SP).
Outro tema abordado durante a palestra foi a importância da formação de arranjos regionais (também conhecidos como Food Hubs) para a organização e fortalecimento de toda a cadeia produtiva das espécies nativas, que vai da produção ao relacionamento final com os clientes. Ele lembrou que, nos negócios locais, a prioridade devem ser os benefícios socioambientais, que dão força aos econômicos.
É o caso da Rede de Sementes do Xingu, citada por Eduardo como exemplo de negócio social que nasceu com o objetivo principal de conservar as nascentes do rio Xingu mas que hoje gera 300 mil sementes de árvores nativas por hectare e envolve 5 povos indígenas e 15 comunidades de assentamentos rurais. "Em 2015, foram produzidas 17 toneladas de sementes, o que gerou renda e trouxe muitos benefícios sociais para as comunidades", afirmou.
Bancos de sementes da Embrapa guardam um tesouro em espécies nativas brasileiras
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 46 unidades de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa guarda em seus bancos genéticos mais de 120 mil amostras de sementes de 765 espécies vegetais, muitas delas espécies nativas do Brasil.
A chefe de Transferência de Tecnologia da Unidade, Isabela Barbirato, citou como exemplos os bancos de mandioca, abacaxi, maracujá, caju, cupuaçu e açaí, além de espécies aromáticas e medicinais na palestra "Pesquisa, conhecimento e tecnologias da Embrapa em recursos genéticos e biotecnologia de espécies nativas do Brasil". "Atualmente a Embrapa atua em mais de 100 projetos com espécies nativas que envolvem pesquisas nas áreas de coleta, domesticação, caracterização, busca por genes de resistência, entre outros", afirmou Isabela.
Entre os gargalos apontados por ela que impedem o crescimento do mercado de espécies nativas estão os hábitos culturais e alimentares da população e a necessidade de fortalecer a chamada "inovação aberta", no qual indústria e organizações promovem ideias, pensamentos, processos e pesquisas abertos, a fim de melhorar o desenvolvimento de seus produtos.
Das 20 frutas mais consumidas no Brasil, apenas três são nativas
Maracujá, abacaxi e goiaba são três das 20 frutas mais consumidas no Brasil, segundo dados apresentados pelo pesquisador Rodrigo Franzon, da Embrapa Clima Temperado. "Temos uma ampla variabilidade de frutas nativas, mas o conhecimento tecnológico ainda é limitado a poucas espécies", afirmou. Menos conhecidas ainda são, segundo Rodrigo, as espécies subtropicais, como o pinhão, a pitanga, o araçá e a jabuticaba.
Ele afirmou que a Embrapa possui mais de 50 bancos ativos de sementes de fruteiras, sendo que metade desses bancos é de espécies nativas. "As frutas nativas são uma oportunidade de renda adicional para os produtores, e de diversificação da dieta alimentar para os consumidores", afirmou. Franzon também lembrou que há muitas alternativas de uso de espécies nativas de fruteiras, além do consumo in natura, que incluem sucos e geléias, polpas e sorvetes, licores, doces em pasta e cristalizados, além do uso pelas indústrias de cosméticos e farmacêuticas.
Sítio do Bello abastece o mercado de SP com frutas nativas de qualidade
Há 14 anos, o químico Douglas Bello decidiu plantar espécies frutíferas na região de Paraibuna – SP. Atualmente, ele se tornou um dos principais produtores de frutas nativas para o mercado de São Paulo. São mais de 60 espécies de frutas espalhadas por 10 hectares, sendo sete plantados e três de mata atlântica preservada. Além do retorno econômico, Douglas ressalta que a produção de árvores nativas possibilitou a recuperação de áreas antes degradadas. "Produzir frutas nativas também é uma forma de preservá-las, pois não se preserva o que não se conhece", afirmou.
Entre as seis mil árvores plantadas no Sítio do Bello, estão espécies como uvaia, grumixama, feijoa, araçá, baru, jenipapo, biribá, cambuci, cambucá, gabiroba, cereja do rio grande, jaracatiá, pitanga entre outras. "Produzimos frutas que um dia você comeu e não encontra mais. Frutas que você já ouviu falar, mas nunca provou. Frutas que você nem conhece. Nós trazemos essas frutas até você", diz o site da empresa. Sobre a fruticultura, o produtor afirma que é uma opção com muito valor agregado, tecnologia, e ainda ajuda na fixação de populações e no incremento do consumo local. "A gastronomia brasileira tem que ser mostrada como potencial renovadora da cultura brasileira, através da valorização das espécies nativas", finalizou.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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