Caravana Tecnológica leva orientações aos produtores de juçara em Paraty
Caravana Tecnológica leva orientações aos produtores de juçara em Paraty
Foto: Aline Bastos
O produtor Eraldo Alves Filho recebe orientações da pesquisadora da Embrapa, Virgínia da Matta, e do analista de transferência de tecnologia, André Dutra, sobre o processamento dos frutos de juçara.
Nos dias 15 e 16 de março aconteceu a Caravana Tecnológica para a Agricultura Familiar no município de Paraty (RJ), voltada para produtores de juçara, uma planta nativa da Mata Atlântica, similar ao açaí. A ação atende a uma demanda de produtores da Associação Agroecológica de Produtores Orgânicos de Paraty e da Associação dos Moradores do Quilombo do Campinho da Independência, que pretendem regularizar a produção da polpa de juçara, a fim de fornecer o produto à merenda escolar, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Com a parceria da Emater-RJ (escritório de Paraty), pesquisadores e analistas da Embrapa Agroindústria de Alimentos levaram orientações técnicas sobre Boas Práticas de Fabricação (BPF), estrutura mínima de planta industrial, normas e legislações aplicadas e aspectos higiênico-sanitários do processamento de frutos da palmeira juçara. Um dos participantes foi Eraldo Alves Filho, da Associação Agroecológica de Produtores Orgânicos de Paraty, que processa os frutos de juçara há mais de cinquenta anos. “Consumo juçara desde os cinco anos, quando cheguei à Paraty, vindo do Espírito Santo. Aqui, todos me conhecem, porque aos 15 anos comecei a produzir a polpa para vender e até hoje, aos 67 anos, continuo realizando a coleta dos frutos e o processamento do produto”, diz Eraldo. O produtor comercializa a polpa natural e batida com banana, limão e cambuci (fruta típica da região) em feiras livres e, principalmente, em sua própria casa. “Tradicionalmente, a produção de polpa de juçara é realizada de forma artesanal, em um espaço anexo às cozinhas das casas dos moradores e produtores de Paraty. Então, o desafio é montar uma agroindústria de pequeno porte em endereço próprio e profissionalizar a produção”, afirma André Dutra, analista de transferência de tecnologia da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ). Os frutos da juçara são obtidos por extrativismo no período da safra entre os meses de março e junho e não são suficientes para suprir a demanda crescente do produto pelos consumidores.
Os moradores do Quilombo do Campinho também enfrentam o mesmo desafio para regularizar a sua produção de polpa. A bebida à base de juçara, banana e limão é produzida de forma doméstica e distribuída para o restaurante do Quilombo, que oferece comida típica da região. Atualmente, além do restaurante e da loja de artesanato, há um camping e quartos para alugar anexos às casas. Os moradores do quilombo agora querem realizar ajustes na cozinha industrial para fornecer produtos como polpa e doces à merenda escolar, e fomentar o turismo rural. “Os dois produtos típicos da região de Paraty são farinha de mandioca e polpa de juçara, que está ameaçada de extinção. A valorização dos frutos de juçara é fundamental para evitar a derrubada da palmeira para a produção de palmito e contribuir para a preservação da espécie”, diz Alda Janaína Ariston, extensionista rural do escritório da Emater-RJ e a articuladora da ação. Os quilombolas já reproduzem as mudas de juçara em viveiro e realizam manejo agroflorestal para a preservação da planta, nativa da Mata Atlântica. Os produtores da Associação Agroecológica de Produtores Orgânicos de Paraty também contribuem com programas de educação ambiental em escolas municipais, onde distribuem anualmente mais de 250 mudas de palmeira juçara.
Pesquisa desenvolve novos produtos com juçara
A equipe de pesquisa da Embrapa Agroindústria de Alimentos, liderada pela pesquisadora Flávia Gomes, trabalhou nos últimos três anos no desenvolvimento de novos produtos alimentícios e ingredientes à base de juçara, para atender demandas para indústrias de alimentos, de bebidas e de cosméticos. Foram desenvolvidas bebida mista ou smoothie de juçara, morango e banana, extrato concentrado e produto em pó rico em antocianinas, todos com elevada capacidade antioxidante. Os resíduos do processamento também geraram novos produtos como óleo de juçara e um concentrado de antocianinas, a partir das águas residuais do processamento. O aproveitamento desses efluentes poderá ser realizado também pelas indústrias processadoras de polpa de açaí. “Pretendemos agora aprofundar nossas pesquisas com a juçara por meio de análises in vitro e in vivo para avaliação de sua atividade biológica, pois são reportados dados de compostos bioativos em concentrações até três vezes maior que as do açaí”, conta Virgínia da Matta, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos e integrante da equipe.
A juçara, característica da Mata Atlântica, é um fruto muito semelhante ao açaí amazônico, no que diz respeito a características sensoriais e propriedades nutricionais. Sua composição química apresenta altos teores de minerais, fibras e compostos bioativos, dentre os quais, destacam-se as antocianinas, substâncias responsáveis por sua coloração característica e com reconhecido poder antioxidante. “O aproveitamento dos frutos para a alimentação humana apresenta-se como uma alternativa de grande potencial econômico e ambiental, ao agregar valor aos remanescentes florestais e, ao mesmo tempo, contribuir para a sua preservação”, conclui a pesquisadora Virgínia da Matta.
Aline Bastos (MTB 31.779/RJ)
Embrapa Agroindústria de Alimentos
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