Muricato é estudado em projeto sobre plantas alimentícias não convencionais
Muricato é estudado em projeto sobre plantas alimentícias não convencionais
Parente do tomate e da berinjela, que fazem parte da família botânica das solanáceas, o muricato é uma hortaliça-fruto que vem sendo estudado por pesquisadores da Embrapa Hortaliças do ponto de vista dos aspectos agronômicos, da vida útil e das características nutricionais.
Como tem origem na América do Sul, mais especificamente na região andina, o muricato é uma espécie bem adaptada às nossas condições ambientais e, além disso, enquanto planta não convencional tem como características importantes a rusticidade e a resistência. Os frutos são alongados como um tomate do tipo italiano e eles apresentam um sabor levemente adocicado por conta do teor de açúcares solúveis que pode chegar até 12%.
“O muricato é fonte de vitamina C e de compostos fenólicos com propriedades antioxidantes”, assinala a agrônoma Neide Botrel, pesquisadora da área de pós-colheita, ao determinar que a vida útil dos frutos, quando mantidos em temperatura próxima a 10ºC, gira em torno de três a quatro semanas. Ela lembra que é o muricato é um fruto não climatérico, ou seja, ele não amadurece depois de colhido, assim como o melão e, portanto, a colheita deve ser realizada somente quando o fruto já estiver maduro e mais adocicado.
Em nossos países vizinhos, como Chile e Peru, o muricato recebe o nome de melão-andino, provavelmente pela tonalidade da casca que vai do verde bem claro ao amarelo e da polpa, também amarela. Porém, as listras púrpuras na casca diferenciam o muricato de quaisquer outras espécies de sua família botânica. Quando se cruza o Atlântico, ele é mais conhecido, principalmente na Espanha, pelo nome de pepino-doce, devido ao hábito de consumo nesse país, geralmente com os frutos fatiados em saladas.
No Brasil, essa hortaliça ainda é bem desconhecida pelo público mais amplo, tendo inserção apenas em alguns mercados – concentrados nas regiões Sul e Sudeste – como fruto exótico com alto valor agregado, geralmente importado, já que não existe em nosso país cultivos em escala comercial. Contudo, o muricato apresenta potencial para plantio em qualquer época do ano em nosso país, especialmente em regiões de clima ameno.
Experimento avalia produção no Cerrado
Para averiguar como seria o comportamento do plantio de muricato em condições mais quentes, como no Cerrado brasileiro, os pesquisadores fizeram um ensaio como uma iniciativa exploratória de experimentação dessa espécie no Brasil, com testes em diferentes espaçamentos entre plantas e sistemas de condução – livre; tutorado por arame e por rede, todos utilizando cobertura de palhada nos canteiros para evitar a podridão dos frutos pelo contato com o solo.
Nos ensaios, realizados entre junho de 2016 a fevereiro de 2017, nos campos experimentais da Embrapa Hortaliças, em Brasília/DF, foi possível observar que plantios em linha dupla tiveram melhor produtividade que o espaçamento em linha simples, apesar de também ter tido uma taxa mais alta de frutos não comerciais, fato que o pesquisador credita à necessidade de uma adubação mais adequada para obtenção de frutos maiores.
Em todo caso, ficou demonstrado que o muricato permite a transição de uma escala pequena, apenas para conservação da espécie, para um escala comercial, com boa produtividade, como vem sendo feito em alguns países com consumo mais amplo como a Espanha que, inclusive, utiliza cultivo protegido e alto nível tecnológico na produção.
“A proposta foi dar um pontapé inicial e estabelecer uma base de estudo para o futuro”, registra o pesquisador Raphael Melo ao salientar a importância de antecipar cenários e propor a oferta de espécies menos suscetíveis às altas temperaturas que podem advir com a concretização das mudanças climáticas.
Por ser mais rústico e nativo do continente americano, por exemplo, o muricato exige menor aporte de insumos para produzir igual às outras espécies de solanáceas e, além disso, oferece composição nutricional semelhante. Entretanto, o caminho para percorrer entre ser um fruto exótico, com mercado bem restrito, até ser uma escolha cotidiana do consumidor ainda é muito longo. “Essa hortaliça possui características que podem atrair o agricultor, mas porteira afora o gargalo ainda é grande e passa por ações de promoção dessa espécie como um possível nicho, até mesmo para exportação”, reflete Melo.
Projeto
O muricato está sendo estudado no âmbito do projeto “Avaliação agronômica, caracterização nutricional e estudo da vida útil de hortaliças não convencionais”, da Embrapa Hortaliças, que busca tornar acessíveis as informações sobre essas espécies com o intuito de fomentar a produção, o consumo e a comercialização. Outras espécies estudadas são: almeirão-de-árvore, amaranto, anredera, azedinha, beldroega, bertalha, capuchinha, cará-do-ar, caruru, fisális, jambu, major-gomes, mangarito, maxixe-do-reino, ora-pro-nóbis, peixinho, serralha, taioba e vinagreira.
Paula Rodrigues (MTB 61.403/SP)
Embrapa Hortaliças
hortalicas.imprensa@embrapa.br
Telefone: (61) 3385.9109
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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