Ativo econômico apresenta retorno ambiental, com geração de energia, emprego e renda. O biogás pode ser obtido através do aterro sanitário e Pelotas pode contribuir no futuro com 700 ton/dia/gás. 
  
    O segundo dia de programação da VI Reunião Técnica de Agroenergia e do IX Simpósio de Energia e Meio Ambiente, numa realização a Embrapa Clima Temperado (Pelotas,RS) e do Centro de Engenharias da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) concentrou-se no aproveitamento energético de resíduos como a utilização do biogás nas práticas agrícolas e no uso de estratégias biotecnológicas para cultura da cana-de-açúcar com organismos geneticamente modificados em situações de estiagem. O evento se encerrou na última terça-feira, dia 31 de outubro, tendo como resultado o lançamento da publicação da Embrapa Sistemas de Produção de Cana-de-açúcar para o Rio Grande do Sul como uma ferramenta de forte contribuição ao setor e mais de 120 participantes interessados no assunto vindos de várias localidades do Estado e de fora do Rio Grande do Sul.

    "O lançamento da publicação da Embrapa trouxe um impacto para o setor, visto que foram apontadas cinco vezes mais demandas de assuntos a serem tratados em um próximo material, contando com a possibilidade de parceria futura com a Emater", comentou o coordenador do evento, pesquisador Sergio Delmar dos Anjos e Silva.

    Segundo ele, os eventos se destacaram pela atualidade dos assuntos trazidos à discussão como a questão da valorização de resíduos energéticos como o uso de biogás, oriundo de aterro sanitário, visto que o município de Pelotas está em planejamento do seu próprio aterro. "Foi uma forma de esclarecer qual a importância de se utilizar um aterro sanitário e quais são os seus benefícios, especialmente, o que trará de retorno à população", explicou o pesquisador. 

    O evento é considerado bianual e a definição do próximo local de realização será decidido somente em março de 2018.

Sobre o programa do segundo dia

O palestrante Luiz Thiago Lucio, engenheiro ambiental do Centro Internacional de Energias Renováveis -CIBiogás Itaipú abriu os trabalhos da manhã, do segundo dia de evento, ao apresesentar as condições favoráveis do Estado gaúcho por concentrar atividades voltadas ao agronegócio, que podem gerar cerca de 900 milhões de m³ de biogás/ano. Com esta perspectiva, após estudos de viabilidade econômica, em 2013, foi realizada a Constituição do CIBiogás, em Foz do Iguaçu/PR. Durante a sua fala, ele mostrou o planejamento estratégico do Centro, a parceria de mais de 20 instituições brasileiras e internacionais e o potencial de produção de biogás pelo Brasil, além de nove projetos corporativos, utilizando como fonte de energia os resíduos da suinocultura, da avicultura, da bovinocultura de leite, da silvicultura (florestas), da energia fotovoltaica (solar) e da cultura da mandioca. Os projetos impulsionaram também a criação de novas e importantes políticas públicas para o país: Resolução 08/2015 – 685/2017 Especificação e regulação de biometano; Mapeamento do potencial do biogas para matriz energética; e o RenovaBio-Programa para expandir a produção de biocombustíveis dentro da matriz energética Brasileira.

    O segundo palestrante foi Luiz Antonio Leão, da empresa Enerbio - Energia e Meio Ambiente, que apresentou o projeto da Usina Termelétrica de Biomassa de São Sepé, no Rio Grande do Sul, programada para iniciar suas atividades a partir de dezembro, ainda, deste ano. A fonte de energia que será usada é a casca do arroz, que  irá produzir 8 MW de Potência, o equivalente a 57.800 Kwh/ano.

    A palestra sobre Aproveitamento Energético do Biogás de Aterro Sanitário foi apresentada por Tiago Silva e Rafael Salamoni, da Unidade de Valorização Sustentável - UVS – Biotérmica e CRVR, que já trabalham com alguns municípios gaúchos na instalação de aterro sanitários e quais são os benefícios para os cidadãos de cada localidade. Esta apresentação mostrou subsídios, especialmente para Pelotas, no momento em que se prepara para instalar seu próprio aterro.

Aterros Sanitários CRVR em Operação: 

Região Noroeste – Giruá – 500 toneladas/dia 
Região Central – Santa Maria – 500 toneladas/dia 
Região Metropolitana – Minas do Leão – 4.000 toneladas/dia 
Região Metropolitana/Serra – São Leopoldo – 1.000 toneladas/dia

Aterros sanitários CRVR em licenciamento: 

Região Sul – Pelotas – 700 toneladas/dia 
Região Norte – Victor Graeff – 700 toneladas/dia 
Região Metropolitana/Litoral – Viamão – 1.000 toneladas/dia 

    O tempo restante do dia foram tratadas melhorias para a cadeia produtiva da cana-de-açúcar. A palestra do pesquisador Hugo Corrêa Molinari, da Embrapa Agroenergia (Brasília,DF), mostrou estratégias biotecnológicas para o melhoramento genético da cultura como a tecnologia CANA-GE, que pode ser empregada na cana-de-açúcar para geração de variedades não Geneticamente Modificadas; e a tecnologia FLEXCANE, por meio de duas técnicas diferentes, a qual diminui a barreira de lignina através da alteração genética da planta.

    Ao final dos eventos foram organizados dois paineis que se centraram na temática da cultura da cana-de-açúcar: o primeiro sobre a Cadeia da Cana-de-Açúcar no RS, onde se apresentou o sistema comercial de mudas feito pela Associação dos Fumicultores do Brasil- Afubra (Rio Pardo, RS) e a indústria de equipamentos Limana, que atua na fabricação de equipamentos para a beneficiamento de bebidas e alimentos de pequenas agroindústrias (açúcar mascavo, melado, rapadura, cachaça, malte, destilados diversos e álcool), e o segundo, sobre Ativos Biológicos como promotores de crescimento e biocontroladores de fitonematoides em cana-de-açúcar apresentado pelos pesquisadores Cesar Bauer de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado (Pelotas,RS) e Verônica Massera Reis, da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), contando com a experiência do professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Sandro Giacomini.

Mini Curso de Biodigestores

    Durante os dois dias de evento foi oferecido aos participantes, paralelamente, um  treinamento sobre o Projeto de Biodigestores - Uma alternativa sustentável para o meio rural, ministrado pela engenheira ambiental e sanitária, Káren Bes, da Bioter Proteção Ambiental Ltda (Santa Maria,RS). Os participantes puderam identificar os passivos apresentados pelas atividades agropecuárias da região e ver como se dá o processo de tratamento adequado dos resíduos da produção, com saneamento rural, ao utilizar o biodigestor para purificar os dejetos e produzir biogás, um ativo econômico com capacidade de gerar energia, emprego e renda e diminuir os gases de efeito estufa no meio ambiente. A ministrante também tratou de mostrar como é feito o dimensionamento dos biodigestores - como calcular o valor  para realização do procedimento até chegar ao produto final - A primeira parte do Mini Curso foi teórica, e o segundo dia foi dedicada à prática.

Sessão de Posters Técnico-científicos

    Como forma de enriquecer os eventos, a comissão organizadora planejou as sessões de posters durante o período, ocorrendo sempre no início de cada tarde. Dos mais de 50 trabalhos inscritos, quatro deles foram selecionados como destaque no evento. Os agraciados foram Vinícius Soares, Adilson Kaster, Ester Matoso e Juliana Lemons. Os trabalhos acadêmicos representaram a Furg, IFSul, UFPel, UFPR, UFRGS e Unipampa.