Intercâmbio do açaí: representantes do Acre visitam Humaitá, no Amazonas
Intercâmbio do açaí: representantes do Acre visitam Humaitá, no Amazonas
Comitiva acreana, formada por produtores, técnicos, extensionistas e pesquisadores de diferentes municípios foi conhecer de perto os modos de cultivo, as técnicas de plantio e os mecanismos de processamento do fruto adotados em agroindústrias e por agricultores da cidade de Humaitá (AM). O intercâmbio, realizado entre os dias 25 e 29 de novembro, faz parte das atividades do Projeto Bem Diverso, desenvolvido pela Embrapa em parceria com organismos internacionais.
Banhada pelo Rio Madeira, Humaitá está entre os principais polos produtores de açaí do Amazonas, ao lado de cidades como Codajás e Lábrea. De acordo com dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (Idam), cada amazonense consome 10 litros de açaí por ano e, para dar conta dessa demanda, o estado produziu 69 mil toneladas em 2018.
A atividade teve a participação de 26 pessoas, que percorreram mais de 700 quilômetros, partindo da capital Rio Branco, até a cidade amazonense, por via terrestre. Para o analista da Embrapa Acre, Daniel Papa, coordenador do intercâmbio, a consolidação da cadeia produtiva do açaí depende da articulação entre todos os seus distintos elos, desde o produtor rural, no momento do plantio, até a vigilância sanitária, para aval da comercialização do produto final. “Do plantio da muda até a chegada à mesa do consumidor, o açaí percorre vários caminhos e diferentes profissionais podem atuar para melhoria da qualidade do produto e bom funcionamento dessa cadeia produtiva”, explica.
Para proporcionar a interação entre distintos atores, participaram da viagem representantes da Secretaria de Produção e Agronegócio, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de Feijó e Universidade Federal do Acre. Em Humaitá, além da equipe acreana as atividades integraram produtores rurais, técnicos do Idam e pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas.
Troca de experiências
O primeiro ponto de encontro foi o auditório da Universidade Federal do Amazonas para abertura oficial do intercâmbio, onde os participantes sinalizaram suas motivações e expectativas para a viagem. “Grande parte da produção de açaí de Humaitá provém do extrativismo e cada produtor tem seu próprio experimento, que embora seja empírico, pode contribuir com a realidade do Acre”, afirma Gisely Mello, gerente da unidade local do Idam.
Na comunidade do Alto Crato, a comitiva conheceu experiências de agricultores familiares que têm investido no cultivo do açaí de touceira, como o produtor Fioravante Simões, que tem quatro mil plantas e está no início da colheita. A safra rende, em média, 100 latas de frutos a cada dois meses. Nos próximos anos, a tendência é chegar a 400 latas por bimestre, comercializadas por um preço entre 25 e 35 reais.
Em sua propriedade, sob a orientação de um engenheiro agrônomo, Fioravante plantou três mudas de açaí por cova e, dessa forma, as mudas nascem a partir da matriz. “As plantas crescem juntas e, no momento da produção, soltam os cachos na mesma idade. Do contrário, o nascimento dos perfilhos demoraria dois anos”, ressalta o produtor.
Uma das principais preocupações que afetam a cadeia produtiva do açaí é a contaminação pelo barbeiro, portador do protozoário trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas. Para evitar a contaminação do produto, uma série de cuidados e boas práticas deve ser adotada a fim de garantir a qualidade ao produto, principalmente nas etapas de coleta e processamento. Os participantes também conheceram uma agroindústria familiar processadora de açaí, para conferir estes procedimentos no processamento artesanal.
O proprietário Rones Nogueira aposta na qualidade do produto para buscar novas mercados. “Primeiro, é preciso verificar o tempo entre a coleta e o processamento, pois isso influencia a vida útil e o rendimento do fruto na agroindústria. Depois, realizamos a seleção manual para retirar as impurezas e os frutos que estão chochos. Toda essa classificação é importante para evitar danos à saúde. Por fim, o açaí passa pelo processo de choque térmico, que consiste em mergulhar os frutos em água quente a 90ºC e, depois, em água fria próxima a 0ºC”, diz.
Em um cenário ideal, a meta é que todos os produtores de açaí realizem o choque térmico dos frutos de açaí, adotando boas práticas e obedecendo critérios de segurança no processo. Desse modo, é possível prevenir a ação de fungos, bactérias, insetos e outros microrganismos que podem tornar o produto impróprio para consumo.
Sistema de cultivo
Assim como no Acre, o açaí nativo de Humaitá pertence à espécie Euterpe precatória, popularmente conhecido como açaí solteiro. Nos últimos dez anos, a cidade tem investido no plantio ordenado do açaí de touceira (espécie Euterpe oleracea) para aumentar a produção e já conta com 700 hectares plantados. Durante a viagem, a equipe visitou propriedades que utilizaram o cultivo de açaí para recuperar áreas de pastagem de 20 a 100 hectares.
“Levamos para o Acre o exemplo e a importância de implementar projetos de que contemplem pequenos cultivos, mas com técnicas adequadas de implantação e manejo como preparação do solo, adubação, seleção e espaçamento das mudas. A conjunção desses fatores garante a qualidade do cultivo e do produto”, defende Daniel Papa.
O plantio de açaí de touceira em áreas de ocorrência do açaí solteiro tem sido uma estratégia dos produtores rurais de Feijó, cidade acreana conhecida como “a terra do açaí”, para melhorar o potencial produtivo das comunidades rurais. Entre 2012 e 2017, a produção do município saltou de 600 para 1.600 toneladas, representando 34,7% de todo o açaí produzido no Acre. O produtor José Jevanis de Lima vê nesse modelo de cultivo uma alternativa para intercalar a sazonalidade da safra de cada espécie e contar com renda o ano todo.
“A nossa grande expectativa é continuar cultivando as duas espécies. Temos planos de plantar 300 hectares de açaí solteiro até 2030. Depois desse intercâmbio em Humaitá, pretendemos introduzir metade desse plantio com açaí de touceira, justamente para acabar com a sazonalidade”, conta o produtor.
De acordo Romeu Andrade, pesquisador da Embrapa Acre, o sistema de produção estabelecido em Humaitá mostra que a cultura do açaí, apesar de ser nativa da Amazônia, precisa de cuidados especiais como o uso de cultivares melhoradas, técnicas de irrigação, sombreamento e manejo de plantas invasoras. “Daqui a gente leva aprendizado, demandas de pesquisa e transferência de tecnologia, e a importância de validar a nova cultivar lançada pela Embrapa Amazônia Oriental, BRS Pai d’Égua (Euterpe oleracea), que poderá ser utilizada na região”, recomenda.
Os resultados do intercâmbio foram tão positivos que a equipe de Humaitá intenciona fazer o caminho inverso para conhecer as experiências do Acre e provar o famoso açaí de Feijó.
Bem Diverso
O Projeto Bem Diverso desenvolve ações para a conservação da biodiversidade e manejo sustentável dos recursos naturais em paisagens florestais e sistemas agroflorestais nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga, denominados Territórios da Cidadania. Fruto da parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a iniciativa, executada com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), busca assegurar os modos de vida das comunidades tradicionais e agricultores familiares, proporcionando renda e qualidade de vida, com foco na conservação ambiental.
Diva Gonçalves (Mtb - 148/AC)
Embrapa Acre
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Telefone: (68) 3212-3250
Colaboração: Bleno Caleb
Bem Diverso
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