BRS Xingu é a nova variedade de amora-preta com tecnologia da Embrapa
08/12/15
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Agricultura familiar Melhoramento genético
BRS Xingu é a nova variedade de amora-preta com tecnologia da Embrapa
Foto: Paulo Lanzetta
Nova variedade é destinada aos pequenos agricultores e mesmo com espinhos suas vantagens de cultivo são muito atraentes como fonte de renda e agregação de valor. Fruta precisa ser mais divulgada, para ser mais consumida.
Cultivar tem maior tempo de prateleira, colheita estendida, com maior doçura. Sistema de cultivo é indicado para pequenos agricultores como fonte de renda e agregação de valor. Seu investimento inicial, tem retorno financeiro duplicado na primeira safra.
Nesta manhã de terça-feira, 8 de dezembro, depois de onze anos é lançada pela Embrapa a sétima variedade de amora-preta. A BRS Xingu, identificação de origem indígena do conjunto de variedades de amoreira-preta selecionadas e melhoradas pela unidade de pesquisas, traz como diferencial alta produtividade, colheita ampliada e com sabor mais doce. O ato de lançamento aconteceu na abertura da Jornada Técnica sobre o Cultivo da Amoreira-Preta, no auditório Ailton Raseira, da Embrapa Clima Temperado, na presença de acadêmicos e professores da Universidade Federal de Pelotas, extensionistas da Emater da região de Pelotas/RS e produtores e assentados.
Durante o ato, a pesquisadora responsável pelo melhoramento genético da nova cultivar, Maria do Carmo Bassols Raseira falou das características da amoreira-preta, onde o gênero rubus é muito rico. "Há muitas espécies nativas que se confundem com variedades melhoradas, por que elas acabam se intercruzando", explica a pesquisadora para diferenciar entre as espécies de mesa e as usadas em arborização urbana.
Segundo ela, o programa de melhoramento genético em amoreira-preta da unidade de pesquisas busca uma opção para produção de pequenos agricultores, que com pouca terra e recursos possam ter uma alternativa de geração de renda e agregação de valor. "Tomamos o exemplo do município de Canguçu, que tem capacidade para adotar essa cultura, pois ela tem boa adaptação à região e se pode aproveitar melhor o uso da terra", comenta Maria do Carmo.
Entre vantagens da BRS Xingu, a pesquisadora lista a produtividade que chegou a ultrapassar os 3kg, rendendo cerca de 800g a mais por planta, ao se comparar a cultivar BRS Tupy, a mais cultivada no mundo nos dias atuais, e ainda, a extensão da colheita para mais 15 dias. "Estamos trabalhando em alguns detalhes que são considerados desafios para o agricultor, no caso, plantas que não tenham espinhos e também uma cultivar que não se sobreponha ao mesmo período da colheita do pêssego na região sul, uma das principais culturas da economia da Metade Sul do país.
O chefe-geral, Clenio Pillon, falou na sessão de lançamento da cultivar, ao exaltar a importância de oferecer à sociedade mais uma opção de variedades em frutas vermelhas tão importante para saúde humana, além de aumentar as perspectivas de renda da propriedade rural. "Precisamos falar mais nas vantagens do cultivo da amoreira-preta, pois seus frutos são fonte de saúde e é necessário expandir sua área de produção, pois hoje, no país há cerca de 900 hectares apenas de amora", disse Pillon. O gerente adjunto da Emater Regional Pelotas, Ronaldo Maciel, participou da solenidade ao confirmar a importância da tecnologia para atender aos pequenos agricultores.
Logo após, foi feita a apresentação sobre as propriedades nutracêuticas da amora-preta pela pesquisadora Márcia Vizzotto, a qual defendeu que o mirtilo é uma fruta que ao ser comparada à amora-preta, contém todas propriedades funcionais para benefício da sáude. Numa escala de frutas com maior atividade antioxidante, estudos apresentam a amora-preta em terceiro lugar, acima do mirtilo, que está em quarto lugar, e ela está bem acima da popular maçã, que ocupa o décimo lugar em frutas com alta propriedade antioxidante.
Quanto as possibilidades de processamento da fruta, a pesquisadora Ana Cristina Krolow, seguiu a programação ao apresentar inúmeras possibilidades de produtos que surgem a partir da materia-prima da amora-preta como congelamento, através do produto in natura (inteiro e individual) e da sua polpa. Também é possível fazer sucos e néctar, geleias, coberturas e compotas, além da novidade da amora desidratada em pó. "Fizemos estudos sobre perdas de compostos funcionais após o processamento e são perdas muito pequenas", revela Ana Cristina.
E a partir destes produtos outros subprodutos são criados como iogurtes, bolos, cucas, tortas, musses, sorvetes e outras iguarias, as quais foram apresesentadas ao público do evento em uma mesa de degustação, onde estavam para apreciação as variedades BRS Tupy e BRS Xingu.
Degustação de Amora-preta
Durante a degustação das variedades de amora-preta BRS Tupy e BRS Xingu e seus subprodutos, o agricultor de amoras Flávio Herter, que tem cerca de hum mil plantas, da BRS Tupy, em sua pequena propriedade no Morro Redondo/RS, diz que contar com uma nova variedade que possui maior teor de açúcar e vida mais longa de apresentação na prateleira são vantagens para investir nesta cultura. "Eu ofereço sucos, polpa congelada, fruta in natura, entre outros subprodutos, em meu armazém na área urbana, é muito interessante ter essas garantias com esse novo produto da Embrapa", comentou Flávio. Atualmente ele dedica 1/3 de um hectare de sua propriedade ao cultivo da amoreira-preta, o que lhe rende 3 mil kilos nesta área. "Isso significa que podemos produzir em um hectare, 10 toneladas de frutos. No caso da BRS Xingu, é possível alcançar entre 13 e 14 toneladas/hectare", calculou o agricultor.
O negócio da amora-preta
O agronômo e empresário Claudiomar Fischer, da Frutplan Mudas Ltda, é o único licenciado para multiplicação de mudas da BRS Xingu (concorreu ao edital aberto em setembro pela Embrapa). "Já recebemos as matrizes da variedade, mas só teremos mudas disponíveis a partir de outubro de 2016", falou Claudiomar.
Para ele, apostar nesta variedade como negócio é pelo fato dela apresentar características interessantes para o mercado frutícola como ter a condição de aumentar o período de colheita. "Há uma janela de produção maior, a variedade que permanecer por mais tempo disponível, poderá agregar maior valor ao produto por um preço comercial superior, já que outras amoras-pretas estarão com oferta baixa", explica o agronônomo e empresário.
Segundo ele, um agricultor que queira se dedicar ao cultivo da amoreira-preta para fins comerciais, precisa adquirir 6.600 mudas para um hectare, usando um espaçamento superadenssado, o que significa investir inicialmente em um negócio entre 25 a 30 mil reais (plantas, infra-estrutura, manejo). "Vejo que entre os desafios no cultivo da amoreira-preta está a valorização da fruta como fonte de negócio e de alimento na dieta do consumidor", respondeu Claudiomar.
Como esta cultura é indicada para pequenos agricultores, ele considera que a mão-de-obra não seria uma dificuldade, pois acredita que com duas pessoas é possível fazer o manejo, no caso, com dedicação exclusiva ao cultivo da amoreira-preta.
Ele conta que nesta área de um hectare é possível colher 15 toneladas de frutos, sendo possível um retorno financeiro em 60 mil reais na primeira safra.
Durante o final da manhã e toda a tarde, aconteceu a Jornada Técnica sobre o cultivo da amoreira-preta onde foram abordados temas, em auditório e à campo, sobre sistema de cultivo, manejo da cultura e propagação, adubação, ocorrência e manejo de pragas e doenças, manejo da colheita e pós-colheita e seleções avançadas de amora-preta.
Cristiane Betemps (MTb 7418-RS)
Embrapa Clima Temperado
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