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02/02/21 |   Agroindústria  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção vegetal

Manejo integrado não usa químicos para controlar o bolor verde da laranja

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 - O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo. Significativa parcela da produção se perde devido a doenças na pós-colheita, como o bolor verde

O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo. Significativa parcela da produção se perde devido a doenças na pós-colheita, como o bolor verde

  • Um método que integra tecnologias limpas e sustentáveis mostrou bom desempenho no controle do bolor verde da laranja.

  • Causada pelo fungo Penicillium digitatum, essa é a pior doença na fase de pós-colheita.

  • O novo modelo, que alia sustentabilidade e eficiência, atende às demandas do mercado internacional de frutas frescas por produtos sem resíduos químicos.

  • Quatro tecnologias são utilizadas de forma integrada no controle da doença: tratamento hidrotérmico por aspersão e escovação (Thae), radiação ultravioleta C, agentes de biocontrole e uso de compostos bioativos.

  • A agregação compensa as limitações individuais e reforça a sinergia entre os métodos.

  • Inovador em relação aos tratamentos hidrotérmicos utilizados no Brasil, o Thae reduz ainda a necessidade de água e energia elétrica.

Uma combinação de tecnologias é a solução apresentada pela Embrapa Meio Ambiente (SP) para controlar o fungo causador do bolor verde da laranja, doença responsável pelas piores perdas na fase de pós-colheita. Testes comprovaram que a agregação de quatro métodos - tratamento hidrotérmico por aspersão e escovação (Thae), radiação ultravioleta C, agentes de biocontrole e uso de compostos bioativos - conseguiu obter desempenho similar ao do controle químico por fungicidas, em um processo limpo e sustentável de manejo integrado da doença.

O Brasil é hoje o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo. Uma significativa parcela da produção se perde devido a doenças na pós-colheita, sendo o fungo Penicillium digitatum, que provoca o bolor verde, o principal causador dessas perdas. O bolor verde se caracteriza, inicialmente, por uma podridão mole na casca, que ganha tonalidade verde com a produção dos esporos do fungo. Esses esporos se desprendem facilmente quando a fruta é movimentada durante o armazenamento e transporte, resultando em rápida disseminação da doença, contaminação e comprometimento de todo o lote.

“A tecnologia que estamos propondo vem ao encontro do aumento na demanda de produtores e comerciantes do setor de citricultura por métodos eficazes e alternativos ao uso de fungicidas. O setor está dependente de apenas uma molécula química de fungicida para tratamento pós-colheita, que está gradativamente perdendo a eficiência no controle de doenças. Além disso, o tratamento hidrotérmico atualmente usado não tem apresentado eficácia no controle. Existe, também, uma demanda crescente do consumidor, cada vez mais esclarecido, por alimentos livres de resíduos de agroquímicos. A nossa tecnologia é limpa e não deixa nenhum resíduo tóxico”, explica Daniel Terao, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.

A adoção desse modelo agrega sustentabilidade à cadeia da citricultura e contribui com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS 12), que prevê assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Mais especificamente, reduzir o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e também reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas na pós-colheita.

Modelo sustentável favorece exportação

O método desenvolvido pela Embrapa favorece, em especial, o setor de exportação de citros, uma vez que nesse segmento o tempo necessário para que a fruta chegue à mesa do consumidor aumenta significativamente. A laranja precisa estar sadia, sem nenhum sintoma, por aproximadamente 20 dias após a colheita. Normalmente, os fungos presentes na fruta aparentemente sadia no momento do embarque, de maneira quiescente, manifestam sintomas durante esse longo período de armazenamento. Portanto, é necessário que a fruta receba um eficiente tratamento na pós-colheita para que se mantenha saudável. 

Além disso, existem medidas cada vez mais restritivas impostas pelos importadores de frutas com relação à presença de resíduos químicos. “O processo de pós-colheita que estamos apresentando não deixa resíduos químicos”, pontua o pesquisador.

Trata-se de uma tecnologia com potencial de reduzir, ou até mesmo eliminar o uso de agroquímicos no tratamento pós-colheita de laranjas. “A ausência de resíduos químicos nas frutas tem sido cada vez mais demandada no exigente mercado internacional de frutas frescas”, destaca Terao. 

Inovação no tratamento hidrotérmico conjuga eficiência e economia

O método desenvolvido pela Embrapa mantém a sustentabilidade ao longo de todo o processo. Além de eliminar o descarte de agroquímicos tóxicos, as tecnologias utilizadas reduzem ainda o consumo de água e a necessidade de energia elétrica.

No Brasil, o tratamento hidrotérmico mais comum é por imersão das laranjas em água aquecida, em torno de 52 ºC durante cinco minutos. No entanto, além de usar grande volume de água quente não renovável, e do alto consumo de energia elétrica, não tem apresentado bons resultados. Ademais, acumula grande quantidade de detritos, matéria orgânica e propágulos dos fitopatógenos ao longo do dia. 

Já o tratamento hidrotérmico por aspersão e com escovação (Thae) é um processo que trata as frutas, enquanto giram sobre escovas rolantes, com spray de água quente em temperaturas mais elevadas que a imersão (de 55 °C a 70 °C), por um período curto de tempo (de 10 a 30 segundos), seguido imediatamente de aspersão com água fria a 15 °C, para cessar o efeito do calor.

Nos estudos sobre Thae verificou-se que, usando o binômio temperatura x tempo, de 55 oC por 30 segundos , houve controle de aproximadamente 67% de bolor verde em laranja Valência, além de aumentar o tempo de vida útil de prateleira dos frutos tratados, prolongando a firmeza, sem alterar o sabor da fruta. 

Terao explica que esse tratamento proporciona, além da limpeza superficial da fruta, um espalhamento da cera natural da casca, cobrindo e selando estômatos, que servem como locais de penetração e infecção pelo fungo. 

A pesquisa: integração de métodos biológicos mostra controle similar ao químico 

A combinação do Thae com a levedura Candida membranifaciens, seguida da irradiação com luz UV-C a 1.5 kJ m−2, promoveu incremento no controle da doença, e aumentou a atividade de enzimas relacionadas à resistência natural da fruta, contribuindo na redução da intensidade da doença. Essa resistência natural está associada ao aumento da lignina, fitoalexinas e na manutenção de outros compostos antimicrobianos como as quitinases, que auxiliam na defesa natural da fruta ao ataque de fungos.

A estratégia para aumentar a eficácia dos controles alternativos é integrar diversos métodos a fim de obter um desempenho similar ao controle químico, pois além de compensar as limitações apresentadas no uso individual, reforça os efeitos aditivos e sinérgicos que ocorrem entre eles. Resultados de pesquisas têm demonstrado que o Thae é potencializado quando combinado com a radiação ultravioleta no controle de podridões em diversas espécies de frutas, como em citros, manga, maçã, mamão, morango e cereja.

No caso da laranja, Terao explica que foi avaliada a aplicação isolada de três doses de uma substância presente no extrato da planta daninha (foto) conhecida como buva (Conyza canadensis), aspergindo-se 2 mL da solução aquosa na epiderme da laranja. Essa substância controlou o bolor verde, aumentando a eficiência, gradativamente, com o aumento da dose, passando de 23% na dose de 10 µg mL-1 para 43% na dose de 100 µg mL-1. Além disso, a dose de 100 µg mL-1 retardou em dois dias o aparecimento de sintomas da doença. 

Observou-se também que quando a aplicação da substância foi combinada com a radiação UV-C, houve aumento na eficiência de controle. Aos 15 dias de armazenamento, constatou-se um nível de controle da doença ao redor de 70% com a dose de 100 µg mL-1, quando combinada à radiação UV-C. Além disso, retardou em sete dias a manifestação de sintomas do bolor verde. 

O estudo completo dos pesquisadores Daniel Terao, Sonia Queiroz, Kátia Nechet e Bernardo Halfeld-Vieira, da Embrapa Meio Ambiente, pode ser acessado aqui.

 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

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