Encontro foi durante a 67ª Reunião Ordinária do Procisur. Global Panel apresentou novo relatório sobre alimentação no planeta. O presidente Celso Moretti defendeu maior aproximação entre as organizações Procisur e Global Panel on Agriculture and Food Systems for Nutrition (Painel Global em Agricultura e Sistemas Alimentares para Nutrição) para o fortalecimento de políticas públicas de promoção da segurança alimentar mundial. A proposta foi durante a 67ª Reunião Ordinária do Programa Cooperativo para o Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária do Cone Sul (Procisur), que aconteceu de forma virtual no último dia 10. A reunião teve como um dos objetivos compartilhar atividades e resultados de 2020 e discutir um Plano de Trabalho para 2021. Um dos aspectos discutidos foi a formulação de novas estratégias para alimentação saudável no planeta. O Procisur é uma iniciativa conjunta de instituições de pesquisa agropecuária de países do Cone Sul e tem como um de seus objetivos fortalecer a integração tecnológica e agroindustrial dos países que compõem o bloco, entre eles Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Bolívia. Já o Global Panel é um grupo internacional independente de líderes que ocupam, ou já ocuparam, altos cargos e mostram forte compromisso com a melhoria da nutrição. É uma instância que atua com alimentos, agricultura e nutrição, preenchendo lacunas e examinando sistemas alimentares em um contexto sócio-político e econômico mais amplo. O Brasil é o único país do cone sul a ter assento no Global Panel. Apresentada como a maior empresa de pesquisa agropecuária do Brasil, a Embrapa é reconhecida pelo Global Panel, desde a sua criação em 2013, como fundamental na definição do impacto global e regional do trabalho da instituição. Relatório do Global Panel Como membro convidado do Global Panel e membro da Comissão Diretiva do Procisur, representando o Brasil, o presidente da Embrapa promoveu a aproximação entre as duas instâncias internacionais, convidando representantes do Global Panel para apresentar, durante a 67ª reunião do Procisur, o seu mais recente relatório: Sistemas Alimentares Futuros: Para as pessoas, nosso planeta e prosperidade, lançado em setembro. O documento, a partir de estudos de prospecção e evidências, oferece soluções de políticas para melhorar a qualidade das dietas alimentares, considerando os sistemas alimentares, disponibilidade, acessibilidade, acessibilidade, desejo e dietas sustentáveis e saudáveis para todos. John Beddington, ex-conselheiro científico sênior do Reino Unido e presidente do Global Panel, apresentou aos membros do Procisur as principais conclusões do relatório. Entre elas, destacam-se: (1) as dietas continuam a prejudicar a saúde humana em uma vasta escala. (2) uma entre dez pessoas no mundo são cronicamente desnutridas, a maioria dos países não vai alcançar as metas globais de nutrição da Organização Mundial de Saúde; (3) a obesidade e as doenças não transmissíveis relacionadas à nutrição (N-NCDs) e os impactos nos sistemas públicos de saúde e financeiros crescem rapidamente; (4) países de baixa e média rendas são impactados de todas as formas com a má nutrição, (5) a covid-19 expôs a fragilidade dos sistemas alimentares O relatório aponta a produção sustentável como um dos caminhos para lidar com a má alimentação mundial: necessidade de mudanças nos subsídios da agricultura; reorientações das linhas de Pesquisa e Desenvolvimento que devem incluir a promoção da sustentabilidade dos sistemas alimentares (por exemplo: diversos sistemas de cultivo, sistemas agroecológicos, rotação complexa de culturas); promoção da produção de alimentos ricos em micronutrientes e biofortificação e de programas de diversificação alimentar; pesquisas que contribuam para o preenchimento das lacunas entre a inovação tecnologia e a adoção do agricultor, incluindo pagamento pelo mercado por abordagens agrícolas benéficas. O relatório também destaca a importância de novas tecnologias para garantir a produção sustentável de alimentos: sementes melhoradas, irrigação, fertilizantes, mecanização, tecnologias digitais para agricultura que considerem dados sobre solos, uso de agrotóxicos, uso se sensores para saúde animal e clima, agricultura de precisão. São destaques do relatório exemplos de novas tecnologias para a promoção dos sistemas sustentáveis: o uso de sementes geneticamente modificadas e a edição gênica de sementes e raças animais. Mais variedades resistentes de frutas e vegetais, assim como fazendas verticais foram apontadas como soluções para uma dieta alimentar saudável. O relatório recomendou o investimento urgente em políticas públicas .Acesse aqui o relatório completo De acordo com o Global Panel, existem, hoje, 690 milhões de pessoas cronicamente subnutridas em todo o mundo. Quase 3 bilhões de pessoas não conseguem pagar uma dieta saudável e dietas de baixa qualidade estão associadas a 11 milhões de mortes por ano. A redução de desperdício de alimentos foi apontada como caminho para o aumento da disponibilidade de alimentos no mundo. Para oferecer dietas sustentáveis e saudáveis para todos, os sistemas alimentares devem ser transformados pois permanecem profundamente disfuncionais. A maioria dos países não está no caminho certo para cumprir a maioria das metas de nutrição para 2025 da Assembleia Mundial da Saúde. Muito mais precisa ser feito, incluindo a mudança dos padrões alimentares globalmente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e os impactos sobre a biodiversidade. “Brasil, Argentina e Uruguai são grandes produtores de carne, mas também produzimos frutas e hortaliças. O Brasil é o terceiro produtor de frutas no mundo, mas participamos no mercado internacional com apenas 1%. Isso significa que a maior parte das frutas que produzimos fica no mercado interno. O Chile, grande produtor de frutas, exporta muito para os Estados Unidos, como pêssegos e hortaliças, com alta qualidade”, exemplificou Moretti ao fazer a mediação dos debates, após a apresentação do relatório. “Produzimos muito mais comida que o mundo precisa, no entanto, há uma diferença entre produzir mais e produzir melhor. Precisamos produzir mais alimentos de qualidade”, destacou José Bonica, presidente do comitê diretivo do Procisur. “É preciso considerar clima e alimentos para garantir um comércio internacional de qualidade, comércio e nutrição estão desconectados”, disse o presidente do Global Panel, John Beddington. De acordo com a FAO, cerca de 1 bilhão de pessoas sofrem com a fome no mundo, principalmente na África, mas também na Ásia e América Latina. “Precisamos discutir diferentes estratégias para prover uma alimentação saudável para cada um”, destacou Moretti em vídeo enviado ao Global Panel, ao comentar os resultados apontados pelo novo relatório gerado pela instituição. Para José Bonica, o diálogo estabelecido entre Procisur e Global Panel é uma oportunidade de somar esforços entre as duas instituições para o desenvolvimento de políticas públicas que possam contribuir para a mudança do contexto atual da alimentação mundial. Procisur Criado em 1980 com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Procisur é parte integrante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e é uma iniciativa conjunta de instituições de pesquisa agropecuária de países do Cone Sul. Desde 1998, é objetivo principal da instituição impulsionar a integração tecnológica agropecuária dos países participantes e assim fortalecer a competitividade do bloco no mercado mundial. Braço importante do IICA, o Procisur é formado atualmente por cinco organizações: Embrapa, pelo Brasil; Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (Inta); Instituto de Pesquisas Agropecuárias do Chile (Inia); Instituto Paraguaio de Tecnologia Agrária (IPTA) e Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária do Uruguai (Inia).