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Artigo - Pesquisa em óleos essenciais na Embrapa
A Embrapa herdou parte da tradição na pesquisa em óleos essenciais que foi construída décadas antes de sua fundação no Instituto de Química Agrícola, no Rio de Janeiro, inicialmente focado no estabelecimento de sistemas de produção de plantas aromáticas, tanto nativas quanto exóticas. Melhorar o rendimento e destilar óleos que atendessem aos parâmetros de qualidade necessários eram, então, os tópicos de maior interesse. A prospecção da rica biodiversidade brasileira era também uma frente de pesquisa importante naqueles dias, e continua sendo ainda hoje. A melhor forma de preservar essa riqueza é explorar este potencial de um modo sustentável, gerando renda para as populações locais.
A mega biodiversidade brasileira está espalhada em seis biomas diferentes. Qual a dimensão de se fazer pesquisa com plantas aromáticas em uma área tão grande e com tantas espécies? Qual a dimensão de tal tarefa? Bem, imagine por sua mão (mas não seu nariz) num pote com 50.000 doces diferentes e tentar encontrar os seus favoritos. Na prática é um pouco mais complicado que isso, já que o metabolismo vegetal muda o perfil de voláteis das plantas ao longo do ano, com a mudança das estações, mas a metáfora do pote dá uma ideia.
A floresta tropical amazônica é o bioma mais conhecido fora do Brasil, e também o mais diverso. A indústria explorou por muito tempo o pau rosa (Aniba rosaeodora Ducke), hoje uma espécie ameaçada. Com a sustentabilidade como guia, novos produtos têm sido prospectados (e alguns já comercializados), com retorno econômico para as comunidades locais. As unidades da Embrapa na Amazônia estão desenvolvendo aplicações de óleos essenciais a partir de espécies locais para enfrentar os desafios da agricultura e da pecuária.
Para citar alguns exemplos, um inseticida foi formulado com o óleo essencial de uma espécie de Piper nativa da região. É um produto de fonte renovável e biodegradável, planejado não apenas para substituir defensivos comerciais, mas também para resolver o problema da resistência que os insetos têm manifestado a esses produtos. A tecnologia está sendo transferida para uma empresa privada para a produção e comercialização do produto.
Outra matéria-prima da Amazônia em foco é o óleo essencial de sacaca (Croton cajucara Benth.), uma planta usada há muito tempo na medicina popular. Além de seu odor agradável, o óleo foi eficiente para controlar formas de leishmaniose cutânea, um problema endêmico na região. Sua atividade antimicrobiana foi testada com sucesso no controle de bacterioses em peixes, substituindo antibióticos regularmente usados na aquicultura. Para essas espécies, sistemas de produção foram desenvolvidos, de modo que a produção sustentável possa ser estabelecida como fonte matérias-primas.
Um outro grande, rico e ameaçado bioma é o Cerrado, no Brasil Central, com mais de 12.000 espécies de plantas documentadas. Recentemente, em um projeto da Embrapa, foram prospectadas novas fontes de matérias-primas para a indústria de fragrâncias, tendo sido coletadas mais de 340 amostras de óleos essenciais de 120 espécies vegetais. As amostras foram avaliadas por um perfumista de uma grande empresa de aromas e fragrâncias, parceira da Embrapa nesse projeto e, ao menos cinco delas foram consideradas interessantes, de um ponto de vista sensorial, para serem adicionadas à “paleta” dos perfumistas (em uma analogia com as cores na paleta de um pintor). Parte do trabalho pode ser encontrado aqui: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1073295/especies-nativas-da-flora-brasileira-de-valor-economico-atual-ou-potencial-plantas-para-o-futuro-regiao-centro-oeste
O trabalho, obviamente, não está concluído. O desafio agora é garantir a segurança no uso dos óleos essenciais, o atendimento de itens de regulação, selecionar os melhores materiais genéticos e desenvolver sistemas de produção sustentáveis, respeitando as características dos biomas locais, de tal modo que matérias-primas em quantidade e qualidade apropriadas possam estar disponíveis para fornecimento. Falar é fácil, já fazer...
Outro campo de aplicação que está crescendo é o de produtos veterinários. Nessa área, os óleos essenciais foram testados para o tratamento de parasitas internos e externos em animais de corte. Diferentes óleos essenciais foram aplicados com sucesso para tratar nematoides em ovinos, particularmente nos casos em que se havia registrado resistência aos anti-helmínticos usualmente prescritos. Também foi demonstrado que os óleos essenciais foram eficientes no tratamento de carrapatos, inibindo a eclosão dos ovos dos parasitas.
Outros estudos em andamento incluem o uso de micro e nanoencapsulamento de óleos essenciais para diferentes aplicações, como filmes e embalagens ativas. Suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes estão sendo exploradas para aumentar a vida de prateleira de produtos alimentícios, um problema relevante em países tropicais, onde as altas temperaturas e o acesso limitado à refrigeração aceleram os processos degradação.
Há muito espaço ainda para mais estudos e melhorias. Seja por suas próprias decisões estratégicas, seja respondendo a demandas de empresas internacionais, muitas conquistas no campo dos óleos essenciais ainda são esperadas. Então, por que você não se junta a nós?
A Embrapa
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundada em 1973, e está sob a égide do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Embrapa é uma empresa de inovação tecnológica com foco na geração de conhecimento e tecnologia, para tornar a agricultura brasileira em uma das mais eficientes do planeta. Esse padrão foi conseguido com a incorporação de vastas áreas anteriormente degradadas em uma região que contribui com quase 50% da produção de grãos. A produção de carne bovina e suína foi quadruplicada; de frangos, aumentou 22 vezes.
Com muitas outras conquistas, o Brasil passou de um importador de gêneros básicos para um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. A Embrapa apresenta soluções para grandes e pequenas propriedades, possuindo programas específicos para o desenvolvimento da agricultura familiar. A empresa também é responsável pela coleta e preservação dos recursos genéticos brasileiros. Todo acesso à biodiversidade é feito sob autorização estrita, de acordo com os termos do protocolo de Nagoya.
Agricultura sustentável é um tema importante para a Embrapa, uma empresa que segue os princípios da bioeconomia: todos os objetivos estratégicos estão ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável emitidos pela ONU. Os portfólios de pesquisa incluem mudanças climáticas, estratégias para redução do uso de pesticidas (controle biológico, cultivares resistentes a pragas obtidas por melhoramento convencional, agricultura orgânica), redução do uso de água na agricultura (melhoramento de sistemas de irrigação, desenvolvimento de cultivares resistentes à seca), agricultura de baixo carbono, fixação biológica de nitrogênio, redução de desperdício e perda de alimentos, integração lavoura-pecuária-floresta, entre outras. Para cumprir essas tarefas, 8.000 colaboradores (2.000 com doutorado) formam o time Embrapa. Parcerias com universidades, outras instituições de pesquisa e empresas públicas e privadas, no Brasil e no exterior, são importantes para o sucesso de tal empreendimento.
Para saber mais sobre a Embrapa, visite nosso site https://www.embrapa.br/ e navegue nos links.
** Artigo originalmente publicado na Revista IFEAT World Magazine, Dec 2020.
Humberto R. Bizzo - Pesquisador
Embrapa Agroindústria de Alimentos
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