Equipamento que utiliza espectrometria no infravermelho próximo (NIR) está sendo adaptado para compor uma unidade de análise portátil. Tecnologia permitirá aos produtores analisar o teor e a qualidade do óleo com os cachos ainda na palmeira, auxiliando a identificar a melhor época para a colheita. Aparelho portátil também poderá ser usado por usinas de processamento de dendê para remunerar fornecedores de acordo com a qualidade do óleo. As informações que poderão ser obtidas vão da acidez ao perfil de ácidos graxos presentes nas amostras de diferentes espécies de dendê, importantes indicadores de qualidade para a indústria. A análise convencional de teor de óleo leva seis horas de extração com solvente mais o tempo de secagem, que pode levar algumas horas. Novo método agilizará com leitura e resposta quase instantâneas e dispensa químicos. Um método de análise rápida ajudará os produtores de dendê (óleo de palma) a prever qual será o teor e a qualidade do óleo no fruto na recepção dos cachos na indústria ou antes mesmo da colheita. A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria entre a Embrapa e a empresa Spectral Solutions e prevê a criação de uma plataforma analítica de fenotipagem química rápida da Palma de Óleo com o auxílio de uma metodologia chamada Espectrometria no Infravermelho Próximo, ou Near-Infrared Spectroscopy (NIR), em inglês. Em comparação aos métodos convencionais de análise de óleo, o método que utiliza a NIR tem a vantagem de levar apenas alguns segundos e de não destruir a amostra. Além disso, dispensa o uso de solventes e outros equipamentos de laboratório. “Dentro do laboratório, o número de amostras que pode ser analisado gira em torno de 10 a 15 por dia, enquanto utilizando a técnica NIR poderia se estimar algo em torno de 300 amostras por dia com um único equipamento”, compara Simone Mendonça, pesquisadora da Embrapa Agroenergia (DF) responsável pela pesquisa. A Unidade de Pesquisa já havia desenvolvido um método utilizando equipamento de bancada. No atual projeto, que teve início em julho passado com previsão de término em dezembro de 2022, a ideia é adaptar o método em equipamentos portáteis e mais baratos que os de bancada. De acordo com Mendonça, apesar de a tecnologia portátil ter menor capacidade de captação de detalhes espectrais, isso poderá ser compensado com a ampliação da base de dados para que a performance se torne equivalente. “Para isso, contamos com a parceria da Spectral Solutions, que entrou no projeto propondo dois equipamentos portáteis e dando apoio na análise quimiométrica e no desenvolvimento do software de apoio aos equipamentos”, conta a pesquisadora. Como funciona o método NIR na análise do dendê A metodologia de análise se baseia na interação entre radiação eletromagnética na região do infravermelho emitida pelo equipamento NIR com a amostra que está sendo analisada. Quando essa luz incide sobre um objeto, certas cores são absorvidas e outras refletidas ou transmitidas. A base física de absorção de luz é relacionada à natureza das ligações moleculares que, por sua vez, são definidas pelos vínculos entre átomos dentro de moléculas. A frequência da vibração entre essas moléculas provoca determinada absorção de luz na região infravermelha. O aparelho então mede as diferenças entre a quantidade de luz emitida pela NIR e a refletida pela amostra. Nessa reflexão, cada comprimento de onda gera um espectro (gráfico de respostas), que funciona como uma impressão digital de uma amostra. “Nosso trabalho consiste em fazer as análises químicas convencionais de laboratório, e ’ensinar‘ ao equipamento quais comprimentos específicos estão associados às variações de teor de determinado componente químico. A partir disso, partimos para a quimiometria, que é a aplicação da matemática à química analítica”, detalha a pesquisadora Simone Mendonça. A técnica é uma integração entre espectroscopia, estatística e computação de dados. “Ao fim desse trabalho teremos um equipamento calibrado e então será possível que, apenas apertando um botão, tenhamos em poucos segundos os resultados químicos como teor de óleo, acidez, perfil de ácidos graxos, etc. do fruto do dendê na tela do celular ao qual o equipamento estará acoplado”, prevê. A análise é feita no fruto inteiro ou cortado ao meio, captando o espectro diretamente na polpa. Com a NIR, será possível determinar de forma rápida o teor e a qualidade do óleo em diferentes espécies de dendê (Elaeis spp.). As informações que poderão ser obtidas vão da acidez ao perfil de ácidos graxos presentes nas amostras. A metodologia foi desenvolvida a partir de demanda verificada na agroindústria da Palma de Óleo, cujo pagamento aos fornecedores se dá por peso da carga, sem avaliar o teor de óleo e a qualidade do material que está sendo entregue. “Muitas vezes, os cachos são colhidos no momento errado de maturação, o que acarreta rendimento de óleo inferior ao seu potencial e resulta em um óleo mais ácido”, conta a cientista da Embrapa. Além disso, em geral, o cacho da Palma de Óleo tem que ser processado em no máximo 48 horas, pois após esse período o óleo começa a ser degradado no fruto, o que diminui a sua qualidade. Outro desafio constatado pela equipe de pesquisa foi a morosidade nas análises de laboratório para determinar o teor de óleo, acidez e outros parâmetros de qualidade, já que para que isso seja feito é preciso que o fruto seja destacado do cacho, despolpado, moído, seco em estufa por muitas horas e só então encaminhado para análise. “A análise de teor de óleo, por exemplo, leva seis horas de extração com solvente, e ainda tem o tempo de secagem que pode levar algumas horas. Ou seja, dentro da dinâmica de colheita ou recepção de amostras, fica inviável associar análises químicas importantes para melhor rendimento e qualidade de produção do óleo”, explica Mendonça. Portanto, o método convencional é mais demorado, o que acaba impactando no tempo de processamento do fruto, altamente degradável no pós-colheita. “A plataforma analítica a ser desenvolvida será portátil, o que permitirá o uso em campo pelo produtor. Além disso, a indústria poderá bonificar o fornecedor pela qualidade do cacho que está entregando”, conta o CEO da Spectral Solutions, Luiz Felipe Aquino. A entrega da primeira versão do equipamento está prevista para o segundo semestre de 2022. Controle de qualidade na colheita e na usina Para o produtor, o uso do equipamento significará melhores rendimentos e qualidade de óleo. “A NIR portátil poderá ajudar na colheita, pois pretendemos criar um mecanismo de levar o equipamento até o cacho ainda na planta, obtendo uma sinalização se aquele cacho está ou não no ponto ideal para ser colhido”, explica o CEO da Spectral Solutions, Luiz Felipe Aquino. A aplicação também pode ser feita na usina, para o controle de qualidade de materiais que estão sendo entregues por terceiros, podendo gerar precificação diferenciada de acordo com a qualidade dos cachos. Outro uso possível é no controle do tempo de pátio antes do processamento, priorizando a entrada no processamento daqueles lotes que já estejam apresentando algum sinal de acidificação indesejada. A Spectral Solutions é uma startup sediada em Embu das Artes (SP) dedicada ao desenvolvimento de soluções inovadoras voltadas à indústria 4.0. Atua com espectroscopia, ciência de dados e tecnologias IoTs (Internet das Coisas). Óleo de dendê com baixa acidez Pesquisadores da Estação Experimental Lemos Mariano da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Esmai/Ceplac), em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental (AM), desenvolveram o Unaué, um óleo de dendê quase desprovido de acidez. Com menor presença de ácidos graxos saturados e maior de ácidos oleicos, se comparados ao azeite de dendê tradicional (de origem africana), o Unaué é um óleo de altíssimo valor alimentar. Isso porque apresenta uma acidez de 1%, enquanto no azeite de dendê artesanal essa percentagem varia entre 3% e 5%, a depender da qualidade na produção. Se for extravirgem, a acidez do artesanal cai para 0,8%. O Unaué é derivado do fruto do dendezeiro híbrido conhecido como HIE OxG, criado a partir do cruzamento das espécies de origem africana (Elaeis guineensis) e do Caiaué, de procedência americana (Elaeis oleifera). A primeira cultivar de HIE OxG foi lançada pela Embrapa em 2010 e recebeu o nome de BRS Manicoré. Além da baixa acidez, a BRS Manicoré também apresenta resistência ao Anel Vermelho (AV - causado pelo nematoideBursaphelenchus cocophilus Cobb) e crescimento lento em altura, o que reduz o custo da colheita devido ao maior rendimento da mão de obra.
Foto: iStock
Em comparação aos métodos convencionais de análise de óleo, o método que utiliza a NIR tem a vantagem de levar apenas alguns segundos e de não destruir a amostra
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Equipamento que utiliza espectrometria no infravermelho próximo (NIR) está sendo adaptado para compor uma unidade de análise portátil. -
Tecnologia permitirá aos produtores analisar o teor e a qualidade do óleo com os cachos ainda na palmeira, auxiliando a identificar a melhor época para a colheita. -
Aparelho portátil também poderá ser usado por usinas de processamento de dendê para remunerar fornecedores de acordo com a qualidade do óleo. -
As informações que poderão ser obtidas vão da acidez ao perfil de ácidos graxos presentes nas amostras de diferentes espécies de dendê, importantes indicadores de qualidade para a indústria. -
A análise convencional de teor de óleo leva seis horas de extração com solvente mais o tempo de secagem, que pode levar algumas horas. Novo método agilizará com leitura e resposta quase instantâneas e dispensa químicos. |
Um método de análise rápida ajudará os produtores de dendê (óleo de palma) a prever qual será o teor e a qualidade do óleo no fruto na recepção dos cachos na indústria ou antes mesmo da colheita. A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria entre a Embrapa e a empresa Spectral Solutions e prevê a criação de uma plataforma analítica de fenotipagem química rápida da Palma de Óleo com o auxílio de uma metodologia chamada Espectrometria no Infravermelho Próximo, ou Near-Infrared Spectroscopy (NIR), em inglês.
Em comparação aos métodos convencionais de análise de óleo, o método que utiliza a NIR tem a vantagem de levar apenas alguns segundos e de não destruir a amostra. Além disso, dispensa o uso de solventes e outros equipamentos de laboratório.
“Dentro do laboratório, o número de amostras que pode ser analisado gira em torno de 10 a 15 por dia, enquanto utilizando a técnica NIR poderia se estimar algo em torno de 300 amostras por dia com um único equipamento”, compara Simone Mendonça, pesquisadora da Embrapa Agroenergia (DF) responsável pela pesquisa.
A Unidade de Pesquisa já havia desenvolvido um método utilizando equipamento de bancada. No atual projeto, que teve início em julho passado com previsão de término em dezembro de 2022, a ideia é adaptar o método em equipamentos portáteis e mais baratos que os de bancada.
De acordo com Mendonça, apesar de a tecnologia portátil ter menor capacidade de captação de detalhes espectrais, isso poderá ser compensado com a ampliação da base de dados para que a performance se torne equivalente. “Para isso, contamos com a parceria da Spectral Solutions, que entrou no projeto propondo dois equipamentos portáteis e dando apoio na análise quimiométrica e no desenvolvimento do software de apoio aos equipamentos”, conta a pesquisadora.
Como funciona o método NIR na análise do dendê A metodologia de análise se baseia na interação entre radiação eletromagnética na região do infravermelho emitida pelo equipamento NIR com a amostra que está sendo analisada. Quando essa luz incide sobre um objeto, certas cores são absorvidas e outras refletidas ou transmitidas. A base física de absorção de luz é relacionada à natureza das ligações moleculares que, por sua vez, são definidas pelos vínculos entre átomos dentro de moléculas. A frequência da vibração entre essas moléculas provoca determinada absorção de luz na região infravermelha. O aparelho então mede as diferenças entre a quantidade de luz emitida pela NIR e a refletida pela amostra. Nessa reflexão, cada comprimento de onda gera um espectro (gráfico de respostas), que funciona como uma impressão digital de uma amostra. “Nosso trabalho consiste em fazer as análises químicas convencionais de laboratório, e ’ensinar‘ ao equipamento quais comprimentos específicos estão associados às variações de teor de determinado componente químico. A partir disso, partimos para a quimiometria, que é a aplicação da matemática à química analítica”, detalha a pesquisadora Simone Mendonça. A técnica é uma integração entre espectroscopia, estatística e computação de dados. “Ao fim desse trabalho teremos um equipamento calibrado e então será possível que, apenas apertando um botão, tenhamos em poucos segundos os resultados químicos como teor de óleo, acidez, perfil de ácidos graxos, etc. do fruto do dendê na tela do celular ao qual o equipamento estará acoplado”, prevê. A análise é feita no fruto inteiro ou cortado ao meio, captando o espectro diretamente na polpa. |
Com a NIR, será possível determinar de forma rápida o teor e a qualidade do óleo em diferentes espécies de dendê (Elaeis spp.). As informações que poderão ser obtidas vão da acidez ao perfil de ácidos graxos presentes nas amostras.
A metodologia foi desenvolvida a partir de demanda verificada na agroindústria da Palma de Óleo, cujo pagamento aos fornecedores se dá por peso da carga, sem avaliar o teor de óleo e a qualidade do material que está sendo entregue. “Muitas vezes, os cachos são colhidos no momento errado de maturação, o que acarreta rendimento de óleo inferior ao seu potencial e resulta em um óleo mais ácido”, conta a cientista da Embrapa.
Além disso, em geral, o cacho da Palma de Óleo tem que ser processado em no máximo 48 horas, pois após esse período o óleo começa a ser degradado no fruto, o que diminui a sua qualidade.
Outro desafio constatado pela equipe de pesquisa foi a morosidade nas análises de laboratório para determinar o teor de óleo, acidez e outros parâmetros de qualidade, já que para que isso seja feito é preciso que o fruto seja destacado do cacho, despolpado, moído, seco em estufa por muitas horas e só então encaminhado para análise.
“A análise de teor de óleo, por exemplo, leva seis horas de extração com solvente, e ainda tem o tempo de secagem que pode levar algumas horas. Ou seja, dentro da dinâmica de colheita ou recepção de amostras, fica inviável associar análises químicas importantes para melhor rendimento e qualidade de produção do óleo”, explica Mendonça. Portanto, o método convencional é mais demorado, o que acaba impactando no tempo de processamento do fruto, altamente degradável no pós-colheita.
“A plataforma analítica a ser desenvolvida será portátil, o que permitirá o uso em campo pelo produtor. Além disso, a indústria poderá bonificar o fornecedor pela qualidade do cacho que está entregando”, conta o CEO da Spectral Solutions, Luiz Felipe Aquino. A entrega da primeira versão do equipamento está prevista para o segundo semestre de 2022.
Controle de qualidade na colheita e na usina Para o produtor, o uso do equipamento significará melhores rendimentos e qualidade de óleo. “A NIR portátil poderá ajudar na colheita, pois pretendemos criar um mecanismo de levar o equipamento até o cacho ainda na planta, obtendo uma sinalização se aquele cacho está ou não no ponto ideal para ser colhido”, explica o CEO da Spectral Solutions, Luiz Felipe Aquino. A aplicação também pode ser feita na usina, para o controle de qualidade de materiais que estão sendo entregues por terceiros, podendo gerar precificação diferenciada de acordo com a qualidade dos cachos. Outro uso possível é no controle do tempo de pátio antes do processamento, priorizando a entrada no processamento daqueles lotes que já estejam apresentando algum sinal de acidificação indesejada. A Spectral Solutions é uma startup sediada em Embu das Artes (SP) dedicada ao desenvolvimento de soluções inovadoras voltadas à indústria 4.0. Atua com espectroscopia, ciência de dados e tecnologias IoTs (Internet das Coisas). |
Óleo de dendê com baixa acidez Pesquisadores da Estação Experimental Lemos Mariano da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Esmai/Ceplac), em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental (AM), desenvolveram o Unaué, um óleo de dendê quase desprovido de acidez. Com menor presença de ácidos graxos saturados e maior de ácidos oleicos, se comparados ao azeite de dendê tradicional (de origem africana), o Unaué é um óleo de altíssimo valor alimentar. Isso porque apresenta uma acidez de 1%, enquanto no azeite de dendê artesanal essa percentagem varia entre 3% e 5%, a depender da qualidade na produção. Se for extravirgem, a acidez do artesanal cai para 0,8%. O Unaué é derivado do fruto do dendezeiro híbrido conhecido como HIE OxG, criado a partir do cruzamento das espécies de origem africana (Elaeis guineensis) e do Caiaué, de procedência americana (Elaeis oleifera). A primeira cultivar de HIE OxG foi lançada pela Embrapa em 2010 e recebeu o nome de BRS Manicoré. Além da baixa acidez, a BRS Manicoré também apresenta resistência ao Anel Vermelho (AV - causado pelo nematoideBursaphelenchus cocophilus Cobb) e crescimento lento em altura, o que reduz o custo da colheita devido ao maior rendimento da mão de obra. |
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Agroenergia
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