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Pragas Quarentenárias: potenciais invasoras que ameaçam nossas lavouras
Ainda hoje encontramos discussões polêmicas sobre o forte surto epidêmico da praga vassoura-de-bruxa ocorrido em plantações de cacau. Alguns dizem até que a decadência da produção cacaueira no País foi resultado de um suposto plano de sabotagem. Na década de 1990, o fungo responsável pelo desenvolvimento dessa doença, que existia de forma endêmica na região Norte, proliferou-se pelo sul da Bahia, apodreceu os frutos, derrubou a produção e levou os fazendeiros à falência. O problema nunca foi superado e a doença continua a representar um desafio para pesquisadores da área.
O bicudo-do-algodoeiro, praga exótica originária do México, atravessou fronteiras e foi identificado no Brasil em 1983. Pouco tempo depois, havia se disseminado pelas principais áreas produtoras de algodão, causando perdas de até 75%. A praga mudou toda a geografia da produção da fibra no País.
Nos últimos dez anos, 35 novas pragas atacaram nossas lavouras. Atualmente, cerca de 500 espécies de pragas quarentenárias apresentam potencial para causar danos significativos à agricultura brasileira. Delas, 221 já ocorrem em pelo menos um país da América do Sul, segundo estimativas de 2015 da equipe da pesquisadora Regina Sugayama, diretora da Agropec Consultoria, empresa brasileira que atua em pesquisa, inovação e comunicação em defesa agropecuária.
Isso significa que, a qualquer momento, uma nova praga pode chegar ao Brasil sem ser percebida. A atenção deve ser redobrada durante eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos programados para este ano no Rio de Janeiro. As pragas podem "viajar" de um continente a outro levadas pelo vento ou ainda em roupas, sapatos e objetos transportados por turistas.
Prevenção é a arma - As pragas quarentenárias podem ser plantas, animais ou microrganismos, que, mesmo sob controle permanente, constituem ameaça à economia agrícola. Sua simples presença em determinado local pode comprometer a comercialização de produtos, por danificar ou destruir cultivos, plantações e colheitas, e implicar impedimento de exportações.
Elas podem ser classificadas como presentes e ausentes. As pragas presentes já estão registradas no País (apesar de não estarem amplamente distribuídas) e possuem programa oficial de controle, como o ácaro-hindustânico-dos-citros e o ácaro-vermelho-das-palmeiras. As ausentes são as que não estão no País, porém representam potencial para causar importantes danos econômicos, caso venham a ser introduzidas.
Um programa de defesa vegetal é imprescindível para organizar ações que reduzam a possibilidade de entrada ou diminuam os impactos negativos causados por esses organismos, sejam eles insetos-praga, nematoides, fungos, bactérias, vírus, plantas invasoras ou outros. Para o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Luis Rangel, esse tipo de prevenção pode significar economia de bilhões de dólares em medidas de controle, na manutenção de empregos no campo e na agroindústria e na minimização de impactos ambientais.
Arranjo para prevenção e manejo de pragas quarentenárias
Um conjunto de 40 projetos de pesquisa voltados à prevenção de entrada e ao manejo de pragas quarentenárias no Brasil vai viabilizar métodos e tecnologias para reduzir os riscos de entrada e dispersão e os impactos econômicos dessas pragas quarentenárias no País.
Trata-se de um arranjo de pesquisa da Embrapa iniciado em 2016 com o objetivo de organizar e priorizar esforços técnicos e científicos nessa área e apoiar as políticas públicas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os trabalhos envolverão 25 Centros de Pesquisa da Embrapa, além de parceiros internacionais e consultores do setor privado.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Roraima Elisângela Fidelis, coordenadora do arranjo, serão quatro os eixos de atuação: Conhecimento – obtenção de informações sobre as pragas quarentenárias; Priorização – estabelecimento de método que permita priorizar, entre as pragas quarentenárias vigentes, aquelas que serão alvo de ações de detecção, contenção e/ou mitigação; Detecção – desenvolvimento de metodologias e técnicas de identificação rápida para agilizar a detecção precoce de pragas; Mitigação – busca por métodos e ações para minimizar os impactos de pragas quarentenárias pós-entrada e erradicação da praga-alvo.
Há dois anos, a Empresa se dedica ao estudo da sanidade vegetal por meio de outro conjunto de pesquisas, que visa a ampliar as soluções para problemas relacionados a pragas. "A geração de tecnologias embasadas em ciência de alta qualidade, no comprometimento com a intensificação sustentável e no aprofundamento do diálogo e alianças com o setor produtivo é diretriz fundamental desse trabalho", explica o coordenador Francisco Laranjeira, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Com participação de nove centros de pesquisa, o portfólio Sanidade Vegetal tem quatro vertentes de atuação: inteligência quarentenária, com uso de técnicas para evitar que uma praga invada e se dissemine em uma região; técnicas avançadas de melhoramento aplicadas à sanidade vegetal; visão multitrófica dos agroecossistemas, que considera a complexa interação entre as plantas e outras espécies de seres vivos e toda a diversidade incluída em cada situa- ção; e manejo em paisagens agrícolas.
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Rose Lane César
Secretaria de Comunicação da Embrapa - Secom
Clarice Rocha
Embrapa Roraima
Alessandra Vale
Embrapa Mandioca e Fruticultura
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/