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15/12/15 |   Gestão ambiental e territorial

Café de qualidade superior resiste à expansão da cana-de-açúcar

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Foto: Carlos Alberto Meira

Carlos Alberto Meira -
Na região conhecida como Mogiana Paulista, que abrange 25 municípios, observou-se o crescimento das áreas cultivadas com café nos últimos 27 anos, contrariando a tendência observada na maior parte do estado, onde a cana-de-açúcar ganhou espaço competindo com outras culturas. É o que mostra o mapeamento elaborado pela Embrapa com base em imagens de satélite de 1988 e 2015. Mais de 50% da produção de café no Estado de São Paulo está concentrada nessa região, localizada próximo à divisa com o sul de Minas Gerais.
 
De acordo com estudo da Embrapa, a área dedicada à cafeicultura nos 25 municípios estudados dobrou, passando de 57,9 mil para 111 mil hectares. A cana também teve forte crescimento nesses mesmos municípios, aumentando a área cultivada de 60,5 mil para 234,7 mil hectares. "Houve uma expansão conjunta das duas atividades, diferentemente do que ocorreu em outras regiões onde o cultivo da cana-de-açúcar cresceu sobre áreas de culturas agrícolas tradicionais, como o citros, com fortes impactos sociais e econômicos", explica o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, coordenador do estudo. Pedregulho, Franca e Cristais Paulistas são exemplos de municípios onde as áreas cultivadas tanto com cana quanto com café aumentaram expressivamente. Com uma área total estimada em mais de 215 mil hectares, São Paulo ainda é o segundo maior produtor de café arábica do País, atrás de Minas Gerais.
 
Além de mapear o crescimento das duas atividades em toda a região da bacia Mogi-Pardo, entre 1988 e 2015, o projeto da Embrapa avaliou em especial a dinâmica de uso e cobertura da terra dos 25 municípios da Mogiana Paulista. Além do café e da cana, foram mapeados os cultivos de citros, reflorestamento com eucalipto, pastagem, culturas anuais e matas nativas. Os municípios estudados foram agrupados em: Alta Mogiana (Pedregulho, Franca, Cristais Paulista, Altinópolis, Ribeirão Corrente, Patrocínio Paulista, Itirapuã, Batatais, Jeriquara, Santo Antônio da Alegria, Cajurú, Restinga, São José da Bela Vista, Cássia Coqueiros) e Média Mogiana (Caconde, Espirito Santo do Pinhal, São Sebastião da Grama, Tapiratiba, Santo A. Jardim, São João da Boa Vista, Mococa e São José Rio Pardo, Itapira, Amparo, Socorro).
 
Mercado para cafés especiais
 
O cultivo de cafés de qualidade superior, com maior retorno financeiro para o produtor, é a principal razão para o crescimento e a valorização da cafeicultura na região. O mapeamento mostra que os 25 municípios que se destacam na produção de café ocupam áreas montanhosas, com altitudes mais elevadas que favorecem a qualidade natural da bebida. "O café produzido [na região] é mais valorizado no mercado, possibilitando que o cafeicultor tenha uma margem de lucro maior e reúna condições para permanecer na atividade e até expandir as áreas cultivadas", completa Ronquim. 
 
Além do valor diferenciado dos grãos de qualidade superior, outro fator contribui para o café não ceder lugar à cana: os morros. "A presença de um relevo mais declivoso, presente na região da Mogiana Paulista, dificulta as operações de colheita mecanizada da cana-de-açúcar e limita a sua expansão", afirma Ronquim. De acordo com o pesquisador, as declividades acima de 12% tornam a colheita mecanizada da cana-de-açúcar pouco viável, devido a questões de ordem técnica. Como atualmente quase toda a cana-de-açúcar no Estado de São Paulo é colhida mecanicamente, essas áreas deixam de ser atraentes para o setor sucroenergético.
 
O Valor da Produção Agropecuária (VPA) do café em todo o Estado de São Paulo, em 2014, foi de 1,86 bilhão, de acordo com o cálculo do Instituto de Economia Agrícola (IEA) sobre este índice, que mede o desempenho econômico das principais atividades agrícolas. Somente na região da Mogiana Paulista, esse número chega a quase um bilhão de reais. O VPA do Estado de São Paulo é calculado pelo Instituto de Economia Agrícola vinculado à Secretaria estadual de Agricultura. Hoje, a produção de café com qualidade é tão importante que uma das microrregiões produtoras, a da Alta Mogiana de Franca, obteve o registro de Indicação de Procedência – classificação que atesta boa reputação e ainda confere maior valor de mercado ao café produzido.
 
A cultura do café é altamente dependente de fatores relacionados ao clima. As condições de temperatura durante os estágios mais sensíveis da planta interferem na produtividade e na qualidade da cultura. Na Mogiana Paulista, características do relevo, com altitude que varia de 500 até 1.200 metros, influenciam o clima  e favorecem a produção de grãos com qualidade superior. Além disso, a tradição, a forte presença de assistência técnica, a profissionalização dos agricultores e a adoção de tecnologias, como o adensamento da cultura, o uso de variedades mais resistentes e produtivas e a mecanização, são fatores que ajudam a explicar o sucesso da atividade.
 
O café chegou à região no final do século XIX, como decorrência da expansão da cultura no interior paulista, conjugada com a instalação dos trilhos da extinta Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. Nos anos 1990, a diminuição do preço pago ao produtor, a ocorrência de geadas e o agravamento de problemas fitossanitários foram fatores que desestimularam muitos produtores a investir na atividade e provocaram uma redução significativa da área plantada em todo o Estado. Foi a partir dos anos 2000 que a demanda do mercado consumidor externo e interno por cafés especiais deu novo impulso à cafeicultura. Hoje, a Região da Mogiana é a principal produtora de cafés de qualidade superior do Estado de São Paulo. 
 
O avanço da cana na região nordeste de São Paulo
 
A expansão da cana-de-açúcar numa das principais regiões produtoras do País, o nordeste do Estado de São Paulo, é o foco do estudo conduzido pela Embrapa Monitoramento por Satélite (SP). O levantamento abrange 125 municípios que fazem parte das bacias dos rios Mogi-Guaçu e Pardo. As áreas de cana expandiram-se por todas as microrregiões, principalmente nos municípios detentores de usinas sucroenergéticas e cidades próximas. Atualmente, muitos municípios apresentam mais de 80% de sua área ocupada com canaviais.
 
Um dos resultados já concluídos pela Embrapa, divulgado no ano passado, mostrou o impacto do avanço da cana sobre a citricultura – de 1988 a 2014, a área cultivada com cana-de-açúcar na região estudada dobrou, passando de 1,0 milhão para 2,2 milhões de hectares, enquanto as áreas dedicadas ao citros reduziram-se quase pela metade, de 488,6 mil para 281,2 mil hectares.
 
Para o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, a cana-de-açúcar deve seguir em evolução no Estado de São Paulo, podendo ocupar áreas de outras culturas agrícolas, já que a demanda do mercado interno e externo por produtos como etanol e açúcar permanece em alta. "A velocidade e a dinâmica dessas mudanças estão ligadas a circunstâncias econômicas que afetam as culturas, pois todas dependem da rentabilidade para expandir ou retrair", explica. 
 
A agroindústria sucroalcooleira é bastante competitiva, com vantagens no acesso ao capital financeiro e a inovações tecnológicas. Ronquim acredita que terão mais potencial para crescer na região atividades com produção eficiente, como de grãos irrigados, com três ou quatro safras ao ano, e setores da pecuária que consigam investir na implantação do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
 
Difícil retorno
 
Na região da Mogiana Paulista, apesar da produção de café de qualidade superior ter resistido ao avanço da cana, ainda existem áreas que podem ser ocupadas pelos canaviais. Somente nos 25 municípios principais produtores de café, há 322,2 mil hectares de pastagens, ou 29,7% da área destes municípios de acordo com o mapeamento realizado pela Embrapa. 
 
 "Caso ocorra uma melhora econômica do setor sucroenergético, a cana-de-açúcar pode avançar ainda mais na região, ocupando essas áreas de pastagem, e competir até mesmo com áreas de café, dependendo de como estiver a rentabilidade da cafeicultura", completa o pesquisador. "Uma questão importante é que quando o agricultor arrenda suas terras para a cana ele perde o vínculo com a cultura que praticava, vende o maquinário e implementos agrícolas, e assim torna-se mais difícil retornar à atividade caso haja uma oportunidade no futuro".
 

Graziella Galinari (MTb 3863/PR)
Embrapa Monitoramento por Satélite

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