Projeto de melhoramento genético de citros é apresentado na Câmara Setorial
O projeto de melhoramento genético de citros da Embrapa foi um dos temas da última reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Citricultura, realizada de forma virtual em 2 de junho. O chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Francisco Laranjeira, apresentou as principais linhas do projeto, que tem por finalidade a criação e seleção de variedades de citros mediante procedimentos clássicos e biotecnológicos, com ênfase no controle do huanglongbing (HLB), a doença mais destrutiva dos citros, e na mitigação de efeitos das mudanças climáticas.
Na introdução de sua fala, Laranjeira informou que, neste momento, estão em curso o processo de revisão do programa de melhoramento genético de citros e também o de renovação desse projeto específico, coluna vertebral do programa de melhoramento genético.
"Esse projeto tem ênfase no HLB e na mitigação de efeitos das mudanças climáticas, mais especificamente o déficit hídrico. Vou mostrar a estrutura da nova fase desse projeto de melhoramento e peço a todos contribuições, no espírito de transparência e profunda integração com o setor produtivo. A apresentação vai ficar disponível, solicito que vejam, avaliem e apontem o que está faltando e sobrando nessa estrutura para termos indicações se realmente estamos no caminho certo, se as ideias desenvolvidas pela nossa equipe estão fazendo sentido e alinhadas com o que o setor espera", salientou o pesquisador.
Conforme demonstrou Laranjeira, o objetivo geral do projeto é disponibilizar variedades copa (parte superior da planta) produtoras de frutos de alta qualidade e porta-enxertos (parte inferior que corresponde ao sistema radicular) adaptados ao convívio com estresses bióticos e abióticos, com ênfase no controle do HLB e na tolerância ao déficit hídrico. Após apresentar os objetivos específicos, ele pontuou as seis soluções propostas, as entregas específicas previstas para cada uma e os prazos.
Soluções e entregas
A solução 1 refere-se à criação de variedades adequadas a áreas de ocorrência do HLB e de outras doenças limitantes ao cultivo dos citros no Brasil. "A entrega prevista é a seleção de três ou mais variedades porta-enxerto promissoras que impeçam ou dificultem a multiplicação da bactéria causadora do HLB em seus sistemas radiculares", explicou.
Na solução 2, o foco são variedades porta-enxerto de citros tolerantes a estresses abióticos, com ênfase no déficit hídrico. "Nesse caso, as soluções passam pelo licenciamento de uso de variedades de porta-enxerto que já estão prontas adaptadas ao déficit hídrico, mas também a seleção de novos porta-enxertos promissores, que sejam passíveis de registros no Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento]", complementou.
As variedades copa produtoras de frutos de alta qualidade são o alvo da solução 3. As entregas apresentadas por Laranjeira passam pela seleção de cinco ou mais híbridos triploides, produtores de frutos tipo tangerina, sem sementes e com boa qualidade, e registro no Mapa de cinco ou mais variedades de laranjeira doce, produtoras de frutos de alta qualidade.
Já para solução 4, que trata de combinações copa/porta-enxerto de citros de menor tamanho (ananicantes e semiananicantes), que facilitem a colheita e a aplicação de tratos culturais, adaptadas ao uso de altas densidades de plantio, o pesquisador apontou como entregas o licenciamento, pela Embrapa, de uso de variedades porta-enxerto já existentes e a seleção de mais variedades porta-enxerto promissoras. "Muitos de vocês aqui são parceiros do nosso programa de melhoramento genético, sabem do que estamos falando. Então, vamos focar no licenciamento desses materiais para que de fato sejam utilizados pelo setor produtivo. Mas, paralelamente, pretendemos manter o trabalho de seleção contínua de novos porta-enxertos promissores", frisou.
As soluções 5 e 6 abordam a seleção de combinações específicas de variedades de citros, copa e porta-enxerto, para ambientes desafiadores, com olhar diferenciado para o Semiárido e para a região da Amazônia, respectivamente. Segundo Laranjeira, no caso do Semiárido, a solução envolve os perímetros irrigados especificamente e, no da Amazônia, os polos citrícolas que atendem às regiões metropolitanas de Manaus e de Belém.
No fim da apresentação, o presidente da Câmara Setorial, Lourival Monaco, perguntou sobre a possibilidade de utilização, no melhoramento genético de citros da Embrapa, da CRISPR, técnica revolucionária de edição gênica. "É importante mobilizarmos a Embrapa e o Fundecitrus [Fundo de Defesa da Citricultura] nesse sentido para que se consiga material resistente ao HLB e se crie uma nova etapa ao melhoramento da citricultura", afirmou Monaco. Laranjeira comentou que na Unidade não há especialistas trabalhando com edição gênica para citros e pontuou que já existem algumas ações com banana e mandioca. “Mas temos competências em outras Unidades da Embrapa. Importante termos o envolvimento de outras UDs com a citricultura, podemos chamar mais UDs para atuarem nesse projeto de melhoramento”, acrescentou.
Em seguida, o pesquisador Jefferson Luis Costa, supervisor de Relações Nacionais Institucionais na Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa, disse que será feita sim articulação nesse sentido e que essas chamadas da Câmara Setorial são muito importantes para identificação de pontos como esse. O pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Eduardo Girardi, coordenador da Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologia (UMIPTT) Cinturão Citrícola (SP), referendou a fala de Monaco sobre a importância da CRISPR. “Representa a mais rápida possível solução para obtenção da resistência genética ao problema do HLB. Certamente, alcançando esse sucesso, vamos mudar o melhoramento de citros no País e no mundo todo, inicialmente com o foco no HLB e abrindo para outras perspectivas.”
As demais apresentações da reunião foram de pesquisadores do Fundecitrus. Nelson Wulff falou sobre resistência ao HLB e Renato Bassanezi sobre zoneamento de risco e manejo do psilídeo. Em seguida, o manejo do canco cítrico em lima ácida Tahiti foi o tema de Franklin Behlau.
Alessandra Vale (Mtb-RJ 21.215)
Embrapa Mandioca e Fruticultura
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