10/10/24 |   Produção vegetal  Transferência de Tecnologia

Embrapa mostra cultivares e técnicas de produção sustentáveis de mandioca em Dia de Campo no DF

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Dia de campo reuniu mais de 80 produtores, técnicos e estudantes

Dia de campo reuniu mais de 80 produtores, técnicos e estudantes

As principais cultivares de mandioca de mesa desenvolvidas pela Embrapa para o Cerrado, bem como a tecnologia da cobertura plástica do solo (mulching), irrigação e alternativas de uso na alimentação animal foram apresentadas por pesquisadores da Embrapa Cerrados no “1º Dia de Campo: Tecnologias da produção sustentável de mandioca no Distrito Federal”, realizado na Fazenda Água Limpa, no Park Way (DF). O evento contou com mais de 80 produtores, técnicos e estudantes e fez parte da programação da III Feira do Produtor Rural da Universidade de Brasília (UnB), promovida de 26 a 28 de setembro.

O pesquisador Eduardo Alano e o professor Filipe Bittencourt, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), da UnB, destacaram as vantagens das cultivares de mandioca de mesa desenvolvidas pela pesquisa da Embrapa Cerrados em melhoramento genético nas últimas três décadas, com foco na biofortificação (aumento nos teores de carotenoides) e no aumento da produtividade e das qualidades sensoriais das raízes.

Eles apresentaram os dados de ensaios de com 28 produtores do DF e Entorno, como produtividade  média de raízes e de carotenoides nas raízes das cultivares de polpa amarela BRS Moura (22,8 t/ha e 7,3 µ/gms), BRS Japonesa (23,5 t/ha e 7,6 µ/gms), ambas da primeira geração de variedades da Unidade; BRS 396 (35,8 t/ha e 11,5 µ/gms), BRS 397 (36,6 t/ha e 10,7 µ/gms), BRS 399 (40,9 t/ha e 10,8 µ/gms), e de polpa creme BRS 398 (31,5 t/ha e 7,7 µ/gms), todas da segunda geração; e a BRS 429 (51,1 t/ha). 

Todas as cultivares apresentam produtividade média de raízes bem acima da média nacional (cerca de 14 t/ha) e foram comparadas com a BGMC 753 (IAC 756-70/Japonesinha) (média de 24,9 t/ha, 30,3 t/ha e 36,1 t/ha conforme o ensaio e 6,4 µ/gms), variedade tradicionalmente cultivada na região. Também mostraram dados de ensaios com as cultivares de polpa rosada BRS 400 (28,5 t/ha e 35,3 µ/gms) e BRS 401 (29,1 t/ha e 22,1 µ/gms). 

Eles comentaram sobre as particularidades das cultivares, que foram desenvolvidas de forma participativa, junto com os produtores e a extensão rural. Alano apontou que as variações de produtividade observadas entre os produtores que utilizam uma mesma cultivar se devem à forma de manejo. “A genética ajuda, mas o manejo é determinante para a produtividade de raízes. Manejo é plantar na época certa, capinar, aplicar os herbicidas da maneira correta, usar o 'mulching', a irrigação e, junto, a genética. É preciso utilizar todas as tecnologias disponíveis”, explicou. 

O pesquisador também falou sobre o clone de mandioca de polpa amarela 54/10, ainda em fase de avaliação junto com 48 produtores da região. Ele explicou que o trabalho de melhoramento participativo consiste na realização de cruzamentos e seleção de plantas na Embrapa. Os materiais com potencial para se tornarem cultivares são então plantados nas áreas dos produtores, chamadas de unidades de validação participativa. “No final, a última palavra é a dos produtores”, disse, acrescentando que o clone em teste, se aprovado pelos produtores, deve chegar ao mercado em 2026 para compor o sistema de produção com a BRS 429, devendo ter ciclo mais precoce.

 

Cobertura plástica do solo e irrigação

O uso de cobertura plástica do solo (mulching) no cultivo da mandioca de mesa, associado à irrigação, proporciona elevadas produtividades de raízes e economia em mão de obra. Foi o que mostraram os pesquisadores Josefino Fialho e Jorge Antonini.

A produtividade, a qualidade sensorial e a regularidade de oferta de raízes são os fatores determinantes para o sucesso de quem cultiva mandioca de mesa comercialmente. Fialho apontou que esses fatores exigem, no entanto, cuidados básicos no sistema de produção, como a escolha da área de plantio (em rotação após uma hortaliça, por exemplo); calagem e adubação; a escolha da cultivar; a qualidade do material de plantio; e os tratos culturais, que são cruciais para o êxito da cultura, já que ela precisa estar livre da competição com o mato de 90 a 120 dias após o plantio.

Tecnologia desenvolvida pela Embrapa Cerrados para a cultura da mandioca de mesa no Cerrado, a cobertura plástica do solo contribui para o aumento da produtividade das raízes, diminui a perda de água por evaporação, além de reduzir a competição da cultura com o mato e a mão de obra com capina e aplicação de herbicidas. Para o plantio com o mulching, o pesquisador apontou os cuidados necessários com o preparo do solo; a correção e adubação do solo, conforme a análise química do solo; o preparo dos canteiros; a colocação do plástico; o plantio e a irrigação.

Os canteiros podem ser preparados com encanteiradoras, arados, enxada rotativa ou manual, conforme a disponibilidade de implementos do produtor. O plástico adequado é de polipropileno opaco, nas cores preta, dupla face preta e branca ou preta e prata, com espessura de 50 a 200 micra, conforme o sistema utilizado. Ele pode ser colocado juntamente com a mangueira de irrigação (se for o caso) manualmente ou mecanicamente com o uso de uma plastificadora de canteiros. 

As manivas-sementes devem ter 20 cm de comprimento e precisam ser bem selecionadas. “Isso é de fundamental importância. Não adianta plantar uma cultura de mandioca com manivas ruins, porque você terá perdas e não vai conseguir sequer pagar os custos de produção”, alertou Fialho. Elas podem ser plantadas na vertical ou inclinadas, em fileiras simples ou duplas, de modo que se tenha cerca de uma planta por metro quadrado. O plantio pode ser feito em sistema de rotação ou sucessão de culturas (hortaliças) para reaproveitamento do plástico, em área com ou sem irrigação suplementar.

Já Antonini falou sobre o manejo da irrigação, destacando que a aplicação de água no momento e na quantidade adequados proporciona vantagens como o escalonamento da época de plantio; a viabilização de culturas em áreas com déficit hídrico; o aumento da produtividade e da qualidade do produto agrícola; o aumento da geração de emprego e renda; além de proporcionar o desenvolvimento socioeconômico da região. 

Os métodos de irrigação recomendados são a irrigação por aspersão (aspersão convencional, linear ou lateral móvel e pivô central) e localizada (gotejamento). “A vantagem da irrigação por aspersão é que ela ajuda a controlar, com a ação mecânica das gotas, determinadas pragas que aparecem principalmente na época de seca, como o percevejo-de-renda e ácaros. Já quem utiliza o gotejamento vai precisar de um pulverizador (para controle de pragas) e terá um custo maior”, disse o pesquisador.

Ele explicou que o manejo da irrigação proposto para a cultura da mandioca é baseado no balanço de água no solo e na questão climática. A capacidade de água disponível (CAD) no solo representa a quantidade total de água que o solo consegue disponibilizar às plantas e varia conforme o tipo de solo. O percentual consumido da CAD é um dos parâmetros de manejo da irrigação, que também leva em conta a profundidade efetiva do sistema radicular e o coeficiente da cultura, observados nas diferentes fases da cultura ao longo do ciclo.

“À medida que essa ‘caixa d’água’ do solo vai se esvaziando, aumenta a dificuldade da planta em retirar água, até chegar ao ponto em que a dificuldade será tão grande que ela começa a diminuir a produtividade. Esse é o momento em que temos que reiniciar a irrigação”, explicou, mostrando os dados definidos pela pesquisa para o manejo da irrigação na mandiocultura, conforme a fase da cultura e o tipo de solo. As orientações estão disponíveis no folder Mandioca no Cerrado: irrigação em mandioca de mesa.

Antonini apresentou dados médios de produtividade da parte aérea e das raízes em ensaios com a cultivar BRS 399 sem plástico e sem irrigação (9 t/ha e 18,8 t/ha); com plástico e sem irrigação (14,1 t/ha e 21,2 t/ha); sem plástico e com irrigação (18,2 t/ha e 29,1 t/ha); e com plástico e irrigação (26,7 t/ha e 35,6 t/ha). Os ganhos no rendimento das raízes foram, respectivamente, 12,8%, 54,8% e 89,1%. 

Essas e outras informações estão disponíveis na circular técnica Recomendação Técnica do Manejo de Irrigação da Mandioca de Mesa no Distrito Federal.

 

Possibilidades de uso na alimentação animal

O pesquisador Francisco Duarte e o extensionista da Emater-DF Hélcio Santos abordaram as formas de aproveitamento integral da mandioca na alimentação animal, com resultados de pesquisas da Embrapa Cerrados, e o cenário da alimentação animal no DF. 

A planta de mandioca apresenta bom valor nutritivo, podendo ser utilizada sob várias formas na alimentação animal. A raiz é rica em energia, porém pobre em proteína; já a parte aérea apresenta alto teor proteína. As principais formas de utilização da mandioca na dieta animal são raiz fresca, raiz desidratada ao sol (raspa ou farelo), ensilada ou peletizada; a parte aérea pode ser oferecida fresca, desidratada ao sol (feno) ou ensilada; a planta integral pode ser usada fresca ou ensilada. A utilização integral da mandioca fará com que o produtor reduza os gastos na alimentação dos animais, pois a raiz e a parte aérea podem substituir, em parte, a soja ou o milho. Também podem ser utilizados na dieta dos animais os resíduos do processamento da raiz de mandioca para a fabricação de farinha e amido, como cacas e bagaço.

Francisco Duarte ressaltou que a mandioca contém compostos químicos que ao serem hidrolisados liberam ácido cianídrico (HCN), substância considerada extremamente tóxica. “A ingestão de produtos e subprodutos da mandioca na forma in natura é perigosa à saúde do animal, podendo levar à morte. Entretanto, a exposição ao sol ou à sombra e a ensilagem são práticas simples e eficazes de eliminar o HCN a níveis seguros para consumo animal”, disse.

O pesquisador avaliou diferentes genótipos de mandioca da Embrapa quanto à produtividade e ao valor nutritivo da parte aérea total, do terço superior, além de folhas e pecíolos de mandioca de mesa com 12 meses, de mandioca de indústria com 18 meses e da parte aérea de mandioca de indústria aos seis meses após a poda, no momento da colheita das raízes. Ele destacou que alguns genótipos apresentam elevadas produtividades da parte aérea total e altos teores de proteína bruta na parte aérea com seis meses e no terço superior da planta, sendo promissores para a produção de forragem para feno e silagem. 

Duarte também avaliou as características fermentativas e nutricionais da silagem de capim-elefante BRS Capiaçu combinada com diferentes proporções de raiz fresca (0 a 40%), raspa integral de raiz (0 a 22,5%) de mandioca açucarada e amilácea e parte aérea total (0 a 75%) da cultivar BRS 418 colhida aos 120 dias após o plantio – segundo ele, uma combinação perfeita para produzir uma silagem da forragem do capim BRS Capiaçu de melhor qualidade.

O pesquisador mostrou, ainda, dados preliminares de uma pesquisa em andamento sobre cultivo adensado de mandioca de indústria BRS 418 que tem como foco a produção da parte aérea, considerando diferentes espaçamentos e alturas de colheita e números e intervalos entre cortes. 
A nova lógica de produção, baseada nos preceitos da bioeconomia e da economia circular – refletir, reduzir, reutilizar, renovar e recuperar – se baseia, segundo Duarte, na integração entre cadeias de produção. “Não devemos perder nada. Hoje ainda deixamos, na industrialização, muitas cascas e outros resíduos que contaminam o ambiente, mas que poderiam gerar renda se fossem aproveitados. As tecnologias estão disponíveis”, finalizou.

A alimentação, assim como os demais pilares da produção (genética, sanidade e manejo), depende da gestão, composta de objetivo e planejamento a partir do conhecimento do cenário do mercado, como explicou Hélcio Santos. No DF, há 1.163 produtores de mandioca e 914,17 ha cultivados com a planta, média de 0,78 ha por produtor, de acordo com a Emater-DF e a Seagri/DF, e 84 mil cabeças de bovinos, 22,2 mil de ovinos e caprinos, 32,6 mil de suínos e 389,3 mil aves.

O extensionista apontou que a escolha da espécie e da categoria animal a ser alimentada com mandioca está relacionada à afinidade do produtor ou a que ele já cria na propriedade. A mandioca pode ser fornecida a esses animais in natura, como feno ou silagem, forma menos comum, porém útil para armazenamento de grandes volumes. A parte aérea pode ser transformada com o uso de trituradores, conforme o estágio de maturação da planta, ou de ensiladeiras. 

“Se você descascar as raízes, pode fornecer a casca diretamente a suínos. Para bovinos ou aves, é preciso fazer o murchamento das folhas para eliminar o ácido cianídrico. Sobram cerca de 15 t/ha/ano de matéria natural em um sistema convencional de plantio. Isso dá para engordar 4 cab/ha durante 120 dias. Quem não está fornecendo esse material para bovinos está deixando de ganhar dinheiro”, disse Santos, mostrando aos participantes exemplos das diferentes formas de fornecimento da mandioca aos animais, tanto da parte aérea como das raízes (raspas e aparas secas).

 

Manejo de plantas daninhas com herbicidas

Na última estação, Marcelo Fagioli e Nicolau da Cunha, professores da (FAV/UnB), abordaram o manejo de plantas daninhas na cultura da mandioca, comentando sobre os diferentes herbicidas atualmente registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e que podem ser consultados no Agrofit, bem como sobre modelos de equipamentos para a pulverização dos produtos.

Fagioli explicou que a planta da mandioca cresce lentamente até o quinto mês após o plantio, quando então é iniciado o enchimento de amido nas raízes e o crescimento é acelerado, fechando a entrelinha e promovendo o sombreamento, que maneja naturalmente as plantas daninhas. Ele apontou que mesmo com o uso da cobertura plástica, que controla as plantas daninhas nas linhas de plantio, é preciso fazer o manejo nas entrelinhas, que ficam descobertas.

Para evitar a competição do mato por água, nutrientes e luz com a cultura da mandioca durante a fase de crescimento das plantas, podem ser feitos a capina, o cultivo com trator ou animais ou o uso de herbicidas. “O ideal é que, desde o início, já existam associadas ao manejo integrado de plantas daninhas duas ou mais estratégias de controle para diminuir a chance de as plantas daninhas interferirem negativamente na cultura”, disse Cunha.

Segundo o professor, a maioria dos produtos químicos recomendados para o controle de plantas daninhas na mandiocultura são de pré-emergência da cultura e das plantas daninhas, devendo ser aplicados em até dois dias após o plantio. Ele comentou sobre os mecanismos de ação e as recomendações de uso dos herbicidas atualmente recomendados.

Para o uso de herbicidas pós-emergência, o professor Fagioli apresentou três tipos de equipamentos que realizam a aplicação localizada disponíveis no mercado – um pulverizador convencional elétrico com dispositivo antideriva “chapéu de Napoleão”; o pulmipur, que permite a aplicação do produto puro e é alimentado por baterias; e uma carriola pulverizadora manual. “Esses equipamentos evitam a deriva do herbicida na pós-emergência da mandioca. São fáceis de usar e podem ser utilizados em outras culturas”, disse.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

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