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Sistemas agroflorestais geram emprego e renda na Amazônia

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Foto: Mauricilia Pereira da Silva

Mauricilia Pereira da Silva -

Produtores familiares da cidade de Tomé-Açu (PA) encontraram na diversificação da produção o caminho para superação da adversidade advinda da fusariose - doença causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. piperis-, que dizimou lavouras de pimenta-do-reino na década de 1970.  Os Sistemas Agroflorestais (SAFs), inicialmente adotados por aqueles produtores como uma estratégia de sobrevivência, colocam hoje o município paraense em destaque como modelo de produção sustentável, organização e geração de emprego e renda.

Esses sistemas permitem aos produtores a redução ou a eliminação do uso de insumos externos, como adubos ou defensivos agrícolas, pois, ao imitarem a dinâmica da floresta, com um modo de produzir biodiverso, provêm a fertilidade do solo necessária à produção e favorecem o controle biológico de pragas e doenças, além de safras de diversos produtos que podem garantir renda durante todos os meses do ano.

Distante cerca de 200 km da capital paraense, Belém, a cidade tem cerca de 60 mil habitantes e já foi conhecida como a "Terra da Pimenta-do-Reino", cultura cultivada principalmente pelos imigrantes japoneses que nos anos 1930 fundaram uma colônia no local. No período pós-Segunda Guerra, a tradição agrícola dos orientais ajudou a dar ao município o título de maior produtor mundial, com colheitas anuais que ultrapassavam as cinco mil toneladas.

Com a contaminação das plantações pela fusariose, muitos produtores migraram para outras cidades em busca de novas terras, porém centenas de famílias não tiveram como deixar o local e buscaram alternativas de sobrevivência, como conta o produtor Michinori Konagano, presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta). A inspiração na diversificação, segundo ele, veio da observação dos quintais dos ribeirinhos amazônicos que possuíam, em uma mesma área, frutíferas, mandioca, açaí e até pequenos animais.

A pimenta continuava nos planos dos japoneses, mas não mais como monocultivo. Há cerca de 30 anos, passaram a cultivar também cacau e andiroba. Depois vieram o açaí, o cupuaçu e outra gama de espécies frutíferas e florestais com o aproveitamento total das terras.

Os resultados foram positivos:  segurança alimentar e diversificação de renda. "Fazíamos consórcios de várias espécies, tudo muito intuitivamente e não conhecíamos a expressão SAF", lembra Michinori. A nomenclatura para as experiências que os produtores já desenvolviam se fortaleceu há cerca de 20 anos, por meio de parcerias com a Embrapa Amazônia Oriental. 

SAF tipo exportação

A pesquisa aliada à experiência dos produtores rurais transformou o município em referência em Sistemas Agroflorestais, não apenas no Pará, mas dentro e fora do Brasil. 

A Embrapa levou tecnologias, como o melhoramento das espécies cultivadas, composições mais eficientes dos sistemas e análises para correção dos solos degradados, e encontrou nos produtores parceiros ideais.  Mais que uma vitrine dos SAFs, a cidade é, atualmente,  um grande "laboratório aberto", como define o pesquisador Osvaldo Kato. 

Os produtores, de sua parte, abrem as propriedades para visitas técnicas, dias de campo, cursos e capacitações ministradas em parceria com a Embrapa, a exemplo do Curso Internacional de Tecnologias Agroflorestais, realizado há cerca de dez anos para técnicos de Colômbia, Brasil, Equador, Peru e Venezuela.

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Kelem Cabral
Embrapa Amazônia Oriental

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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